ECOS DA EVOLUÇÃO DE CORRÊAS (1930) Antonio Machado Corrêas, o retiro aprazível de Petrópolis que os mais fantasistas costumam considerar a dádiva mais preciosa da natureza ao território fluminense, não passando de simples vilarejo do interior, possui, contudo, configuração topográfica de cidade, espraiando-se a povoação em todas as direções, comunicando-se por diversas estradas, e desdobrando-se em bairros residenciais fadados a infalível progresso, por terem a irmaná-los o mesmo traço forte de união, que é a igualdade do clima. Nada tem que se assemelhe a esses clássicos lugarejos da roça desenvolvidos ao longo de um arruamento ou nas vizinhanças da estação da linha férrea, tão tristes na sua rusticidade. Corrêas não tem, nem de longe, esse aspecto. As moradias humildes ficam ocultas aos visitantes, localizadas em bairros afastados. Tem-se por isso a impressão de que ali só mora gente dinheirosa. A localidade já dispõe de todos os recursos de iniciativa privada, apta portanto a acudir às necessidades dos que a procuram como estância de veraneio ou de cura. … quando se reorganizou o Derby Petropolitano por iniciativa de um consórcio empreendedor chefiado por Inácio Ratton, predominavam ainda ali as moradias de condição modesta, havendo apenas umas três ou quatro famílias de certa importância social. Quem procurasse ali morar, chegava a desanimar, porque, sendo o comércio insuficiente e as comunicações difíceis, havia falta de quase tudo. O Sr. Joaquim Zeferino de Souza procurava, entretanto, por todos os meios, fazer desaparecer todas essas dificuldades. Proprietário do melhor núcleo de terras, que eram as da sede da fazenda, ele contribuiu de modo eficaz e decisivo para os primeiros surtos do progresso local. Construiu e animou a construção com facilidades especiais oferecidas aos compradores, vendendo-lhes os terrenos a baixo preço e mediante o regime de prestações. Abriu estradas à sua custa, hoje enfileiradas de prédios que fornecem ótimos impostos à Prefeitura; canalizou águas; manteve durante largo tempo uma linha de bondes puxados a burro, entre Corrêas e o Pic-Nic, mais com o objetivo de facilitar a vida dos moradores do que com a mira em lucros, que primaram sempre pela ausência; empenhou-se sempre com denodo por medidas tendentes a beneficiar a terra de sua adoção. O funcionamento do hipódromo de Corrêas representou período áureo para o lugarejo. Milhares e milhares de pessoas foram ter àquelas paragens pela primeira vez. Imensa romaria se encaminhava todos os domingos para ali. A casa das apostas registrou algumas […] Read More
IMPRESSÕES DO PRETO GETÚLIO
IMPRESSÕES DO PRETO GETÚLIO Antonio Machado Figura evocativa de um passado que vem de muito longe, tem sempre uma passagem interessante a referir o velho Getúlio Gonçalves, cujo tipo vetusto, inconfundível, resistindo ao tempo, isolado no mundo, faz lembrar um pouco o velho buriti solitário, perdido na campina, último sobrevivente da floresta. Abordamo-lo uma vez, há tempos, em sua casa de negócio, – especialidade em caldo de cana, quitanda e cestos de taquara, – quando ele acabava pacientemente de trançar as varetas de bambu dando por concluído mais um samburá. Avivando-lhe a memória, provocando recordações, fomos recolhendo pouco a pouco casos velhos da sua longa existência. – Então, tio Getúlio, é certo que conheceu o padre Luís Corrêa, da Samambaia, o primeiro vigário de Petrópolis? – Não cheguei a conhecê-lo, que ele morreu no ano em que eu nasci; mas fui criado na Samambaia e só ouvia falar dele com louvores. Não era um padre santo, isso não; mas foi um santo homem, um verdadeiro padre pela bondade do coração. Conheci seus irmãos Tomaz Goulão, da Engenhoca, e D. Brígida, da Arca. Esses, é verdade que os conheci já velhos, mas conheci-os bem. D. Brígida comportava em seu todo pequenino uma alma grande e dera sempre provas de muita valia. Seu marido tinha sido fidalgo da côrte de D. Pedro I; era ele quem, nos dias de grande gala, ia a cavalo guardando o lado direito do coche do imperador. Encarregado de limpar estas serras de uma horda de ladrões audazes, que eram então o flagelo das fazendas e das estradas, morreu baleado num tiroteio. D. Brígida montava a cavalo feito homem e andava sempre armada de chicote; ai daquele que lhe faltasse com o respeito devido. Lembro-me bem que, quando ela morreu, vieram de carruagem uns parentes de Petrópolis, que pararam aqui nos Corrêas, e o Padre Siqueira lhes forneceu cavalos para continuarem a viagem, porque os caminhos para a Arca eram maus e só a cavalo se podia chegar à casa da família. (…) Se conheci o general Barbosinha! Pois se ele era meu padrinho! Morava ali pra baixo num sítio onde muitos anos antes vivera um carpinteiro velho que era conhecido por Pai Amaro e que legou o nome ao lugar. Há também quem trate esse ponto de Praia-mar, por causa de uma volta que o rio faz ali. Quando a Grão-Pará atravessou os Corrêas para […] Read More
D. ARCHÂNGELA E D. PEDRO I
D. ARCHÂNGELA E D. PEDRO I Antônio Machado, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 05 (…) D. Archângela, não tendo podido conservar a situação agrícola da fazenda no estado de prosperidade anterior, manteve entretanto as tradições de fidalguia instituídas por seu irmão. Era a esse tempo senhora de mais de sessenta anos; dispondo de muita energia de vontade, tornara-se notável a benignidade com que tratava os escravos. Impôs-se à gratidão da família reinante. A veneranda fazendeira se extremara sempre em cuidados com a pequena princesa enferma. O imperador Pedro I consagrava-lhe sincera estima. As duas imperatrizes tratavam-na com muita intimidade. O pequeno Pedro II brincou no Corrêa com os netos de D. Archângela. (…) Encontra-se, nas “reminiscências de família” que o dr. Horácio Moreira Guimarães passou para o papel e conserva inéditas, o relato de um episódio que revela o forte caráter de D. Archângela. É pena esse livro não tenha sido publicado; suas páginas dispõem de um estilo tão primoroso que se lêem com impressões de verdadeiro encantamento. Certa vez o imperador pedira a D. Archângela permissão para trazer sua amante a marquesa de Santos a fim de passar uma temporada no Corrêa. A deliberação do monarca chocou em alto grau seus rígidos princípios de moral; e sua resposta, dada com desassombro, valeu por uma formal recusa. Foi durante a sua viuvez de três anos que se tornaram mais freqüentes as visitas do imperador, enquanto esperava outra esposa, que só lhe convinha nova e formosa, e quando já iam arrefecendo seus entusiasmos pela marquesa de Santos. Estávamos então na época em que o ardoroso Bragança amofinava-se deveras com a viuvez prolongada. O marquês de Barbacena, encarregado de arranjar-lhe noiva, fraquejava na difícil tarefa, tão eriçada de embaraços em razão dos deploráveis precedentes matrimoniais do pretendente. Circularam até boatos, nas cortes européias, do próximo casamento do imperador com a célebre marquesa… Por isso mesmo, o imperial amante compreendera já a conveniência de afastá-la da Corte; e não lhe repugnaria a possibilidade de um definitivo afastamento. E, sem dúvida, o primeiro passo seria aquele, fazê-la passar uma temporada no exterior, a pretexto de tomar ares, e a excelente casa de Corrêas, onde fôra sempre bem acolhido, estava positivamente a calhar… Andava ele a ensaiar-se para a conversa, até que, acercando-se, atencioso, da velha fazendeira, ter-lhe-ia feito sentir o desejo de hospedar ali, por alguns meses, pessoa que muito lhe merecia, ilustre […] Read More
AÇORIANOS EM PETRÓPOLIS
AÇORIANOS EM PETRÓPOLIS Antônio Machado, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 05 Alguns anos após o estabelecimento dos colonos alemães nas terras imperiais, destinadas a serem base de uma das mais lindas cidades brasileiras, tornava-se muito intenso o número de portugueses das ilhas, principalmente de São Miguel, que demandavam as regiões do interior. Radicaram-se por todo o vasto território do vale do Piabanha desde os Corrêas até além de Pedro do Rio e espalharam-se pelas terras de quase todas as grandes propriedades rurais que existiam nos vales dos rios tributários daquele. Essas antigas propriedades agrícolas, pertencentes então quase todas a herdeiros abastados que preferiam a vida da Côrte à vida ingrata dos campos, entravam já a desagregar-se, passando a constituir melhor negócio o rendimento cobrado a foreiros e a arrendatários. A corrente de imigrantes açorianos, excelentes colonos de ânimo resoluto e robustez de atletas, fôra aliás provocada pelo Governo provincial, sempre empenhado em desprezar o braço escravo, e que mandara vir dos Açores 150 trabalhadores, contratando-os para as obras da ponte metálica de Paraíba do Sul. As levas se sucederam e dedicavam-se à lavoura e à criação de gado bovino e suíno; mantinham extensas plantações de cana, produto que negociavam a meias, por aguardente, nos engenhos das fazendas. Se nem a todos sorriram os fatores da sorte, muitos prosperaram e atingiram não raro a abastança e a fortuna. É tradição corrente que quase todos os lugarejos chegaram a ter população ilhôa muito superior à natural; tudo eram sítios por eles arrendados e onde se erguiam casas ladrilhadas de tijolo e cobertas de telha-vã. Infensos ao escravagismo, os laboriosos portugueses de meia-viagem não utilizavam o elemento servil nos seus trabalhos. Eles representaram por muito tempo elemento preponderante e imprimiram usos e aspectos de cunho todo original, hoje quase por completo desaparecidos. Se a terra exigia trabalho tenaz, era também pródiga e fecunda, e seus esforçados ocupantes eram lutadores cheios de saúde e ambição; as estrelas, quando esmaeciam no firmamento, já os deixavam com o cabo da enxada na mão, e quando voltavam a luzir vinham ainda encontrá-los na sua faina. Terminada a tarefa, esqueciam as durezas da vida passando horas a fio nos seus descantes ao som da viola; quando não davam largas ao coração, vibrando em canções sentimentais e nos queixumes saudosos da santa terra distante, empenhavam-se nos cantares ao desafio. E os humildes poetas repentistas revelaram-se donos de um […] Read More
CASA DO BARÃO PEDE SOCORRO (A)
A CASA DO BARÃO PEDE SOCORRO Ruth Judice Rua Souza Franco 590. É o meu endereço. Sou a casa comprada pelo Barão de Oliveira Castro, em Petrópolis. A República já estava estabelecida. Os imperadores estavam exilados na Europa. Foi quando me engalanei. Virei vip. Passei a ser a “casa do barão”; das reuniões festivas, das noites iluminadas a lampiões. Casa, com as varandas concorridas, onde a baronesa servia chás e biscoitos nas tardes amenas de verão. O Barão fazia questão de exibir-me, mostrando minha arquitetura que era o que de mais novo se fazia na Europa. Eu era o seu orgulho, pois era o progresso entrando na construção civil. – C’est le dernier cri – dizia ele, com um sorriso maroto por sentir-se o proprietário de solar de construção tão avançada. O Barão, que trabalhava no Rio e que subia de trem todos os dias, vinha sempre com amigos. Todos com guarda-pós para protegê-los do carvão que a “Maria Fumaça” expelia com intensidade, na sua morosa subida para Petrópolis. Chegava na pequena Estação, onde um coche já o esperava para conduzi-lo até a Souza Franco. Nos fins de semana, os elegantes veranistas, de cartola e bengala, desfilavam a pé ou o nas vitórias ainda com suas rodas de madeira, onde uma parelha de cavalos bem nutridos conduzia damas enluvadas que vinham sempre acompanhadas. O desfile era contínuo. Não só para verem a mim, como a outros bens da cidade, que fora o abrigo da Família Imperial no verão e que nesse fim de século ainda se mantinha intacta. E como eu era bem tratada! Pensei que fosse durar a vida toda, tal era o empenho em conservar-me, nas pinturas das paredes, na proteção aos lambrequins de ferro, verdadeiras rendas que decoram minhas varandas, nas duas escadas em curva, à moda do Renascimento. Por elas, o barão recebia suas visitas. Naquela época eu era um mimo, coquete, cheirosa, enfeitada, pois representava o máximo da Arquitetura Belle Époque ou Anos Dourados! Era o chique da Europa e em Petrópolis era o progresso na Rua Souza Franco. Dizem os entendidos, que sou o melhor protótipo da Revolução Industrial na cidade, aplicada às residências. Venho atrás do Palácio de Cristal, nosso exemplo máximo. Como todas as construções petropolitanas, sou híbrida. Meu inspirador conhecia bem a Arquitetura do século XIX, da qual Petrópolis é uma das poucas cidades no Brasil que ainda possui grande […] Read More
MENS SANA IN CORPORE SANO
MENS SANA IN CORPORE SANO Ruth Judice Ainda em São Paulo onde nasci e estudei tive a boa sorte de ser interna num colégio excepcional; Colégio Stafford. Eduquei-me sob esse lema: “Mente sã em corpo são”! Já faz muito tempo, ainda nos anos 40. A máxima de Juvenal (Sátiras, X, 356) lembrava que o homem sábio só pede aos céus a saúde da alma aliada à saúde do corpo. Atualizando, hoje diríamos: que a saúde do corpo é essencial para a saúde do espírito. Estudávamos muito, todo o alicerce do que sou hoje surgiu ali. Ao mesmo tempo praticávamos esportes. Numa época em que as alunas de alguns colégios de freira ainda eram obrigadas a tomar banho de camisola, nós aprendíamos a nadar numa piscina nossa. Jogávamos tênis, fazíamos atletismo com competições, dentro do interesse de cada aluno. Mas a ginástica, três vezes por semana, era obrigatória. Porque os colégios fugiram dessa diretriz? Quando a educação, no Brasil, voltará a ser o principal esteio da formação dos jovens? É neles que o país tem que investir. A intenção primordial deveria ser ilustrar a mocidade, mas ao mesmo tempo introduzir o esporte no seu currículo. O esporte preenche o vazio que faz o jovem procurar a droga. Estamos acompanhando, com maior ou menor atenção as Olimpíadas que estão acontecendo na Grécia, onde elas nasceram em 776 a.C. Quem está mais atento e já acompanha há mais tempo, já se perguntou alguma vez, porque os Estados Unidos conseguem tantas medalhas. De onde vem essa pujança? Para mim a resposta é uma só. Vem dos colégios, das high schools, e amadurece nas Universidades. E não pára por aí. As Universidades se confrontam, nas diversas modalidades de esportes. Daí, é um pulo para os Campeonatos do Mundo e deles para o maior confronto entre os desportistas – As Olimpíadas. (Por favor, sempre no plural e não no singular como ouvimos a cada minuto nas transmissões de televisão!) Olimpíadas são sinônimos de: os Jogos Olímpicos. Olimpíada no singular, é o espaço compreendido entre duas Olímpiadas. Consulte seu Houaiss ou Buarque de Holanda. Como dizia, o segredo americano vem daí. E por que não começar por Petrópolis, onde já temos tantas Faculdades? Senhores candidatos a prefeito. Vamos estimular o hábito do esporte nos colégios públicos. Criar nossas próprias Olimpíadas, com competições constantes. Novos dirigentes da U.C.P, não seria talvez mais um recurso para levantar nossa […] Read More
TOPONÍMIA PETROPOLITANA: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
TOPONÍMIA PETROPOLITANA: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE Manoel de Souza Lordeiro, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 24 – Patrono Henrique Pinto Ferreira, falecido Topônimo (do grego topos, lugar, e onyma, nome) é nome próprio de lugar: identifica acidentes geográficos, povoações, logradouros, cidades, estados e países, por exemplo. A toponímia vem a ser o estudo lingüístico ou histórico da origem dos topônimos. Trata-se, em suma, da ciência dos nomes dos lugares e acidentes. No dizer de J. Romão da Silva a toponímia não é um elemento subsidiário da História, mas um apoio de inegável valor para a ciência geográfica. Para Camille Vallaux, que a elegeu como uma das partes mais atraentes da Geografia Descritiva, a nomenclatura deveria ter precedência sobre qualquer outro procedimento, já que a “toponímia pode se constituir em um fio condutor de grande utilidade”. Da mesma forma que datas e fatos são importantes para o conhecimento histórico, uma base nomenclatural é indispensável para o conhecimento geográfico. Um exemplo significativo é o dos topônimos de origem tupi-guarani que tornaram possível tirar conclusões sobre determinados fatos a partir de sua etimologia. Segundo J. Romão, os topônimos indígenas possuem, geralmente, uma impressionante força descritiva, proporcionando definições sintéticas e expressivas dos acidentes e lugares a que se aplicam. Técnicos que projetaram usina atômica em uma praia de Angra dos Reis, não teriam sido surpreendidos com a instabilidade do solo se tivessem atentado para o significado do topônimo tupi Itaorna: pedra que afunda… Existe uma prática generalizada de se criar ou substituir topônimos – ignorando-se a denominação original – ao sabor de preferências pessoais e até de modismos. Tal procedimento tem sido explicado – mas não justificado – pela carência de informações confiáveis, mas o que ocorre, na maioria das vezes, é que não se faz o menor empenho em apurar a verdade. Não precisaríamos buscar exemplos em outros países, eis que aqui mesmo são incontáveis os topônimos, de origem indígena ou não, que vêm desde o descobrimento. Ainda assim, parece exemplar o que ocorreu com o famoso Cabo Cañaveral, que cidadãos bem intencionados, sem sombra de dúvida, tentaram rebatizar como Cabo Kennedy. Ainda que incontestável o mérito da homenagem, após algum tempo prevaleceu a denominação original: o nome do presidente que pretendiam homenagear acabou sendo atribuído ao centro espacial lá existente. Um exemplo de desprezo aos topônimos foi o que aconteceu, em Petrópolis, com a Pedra da Lagoinha (1.520m), que passou a ser conhecida, […] Read More
MORRO DO CRUZEIRO (O)
Atualização e nota abaixo, em 2004, por Joaquim Eloy Duarte dos Santos. O “Morro do Cruzeiro” não teve, a partir daí, seus projetos concluídos e acabou tornando-se um loteamento que fracionou o terreno em lotes, cujos proprietários construíram muitas residências servidas pela rua Oscar Weinschenck que corta a elevação desde a rua Dr. Nelson de Sá Earp até a rua Irmãos D´Ângelo, passando pelos fundos da Avenida Koeler. O povo, em razão das construções de prédios residenciais de grande porte apelidou o morro de “Bairro dos Milionários”. O MORRO DO CRUZEIRO Walter João Bretz, Fundador, Patrono Cadeira n.º 39 Está em voga, nestes últimos dias, falar-se do “Morro do Cruzeiro”, o aprazível monte contornado pelas avenidas 15 de Novembro (hoje rua do Imperador), Koeler, Tiradentes e 7 de Setembro (hoje rua da Imperatriz). Nos últimos anos, o “Morro do Cruzeiro” perdeu a sua antiga utilidade de ponto predileto dos petropolitanos, para a realização de excursões e convescotes, como acontecia nos tempos primitivos da colônia. Os colonos alemães e seus descendentes denominavam-no “Morro do Imperador” ou “Coroa do Imperador”, tradução esta que aqueles lhe davam do idioma natal de “Kaiserkopf”. A Superintendência da Fazenda Imperial preparara essa subida de fácil acesso e cuidava-a pois era muito procurado o “Morro do Cruzeiro” pelos forasteiros que o galgavam para desfrutar o magnífico panorama que, do alto dele, se descortina. Na coroa do morro efetuavam-se de preferência, os “pic-nics” dos primitivos habitantes do lugar, especialmente no dia 7 de setembro e nos segundos dias do Natal, Ano Novo, Páscoa e Espírito Santo. O “Sangerbund Eintracht” e os colégios como a Escola Evangélica e a do velho professor Frederico Stroele e outras corporações locais eram “habitués” daquele sítio. No grande “plateau”, que é o ponto terminal do “Kaiserkopf” os excursionista folgavam e dançavam ao som das polcas e valsas das bandas musicais dos irmãos Eckhardt e Esch. Ilustra este artigo uma fotografia dessa Banda Musical dos Irmãos Eckhardt, tirada da Praça da Liberdade. (O artigo foi escrito para ser publicado na “Tribuna de Petrópolis” e o foi na edição de 4 de outubro de 1931, com a reprodução da dita fotografia). Dos musicistas que nela se vêem, vivem apenas dois, que são os senhores André Carlos Olive, caixa e Theodoro Eckhardt, clarinetista, respectivamente o 3º e o último, de pé, da esquerda para a direita. (Na reedição do artigo, agora em 2004, obviamente nenhum […] Read More
FARROUPILHA LEONEL BRIZOLA (O)
O FARROUPILHA LEONEL BRIZOLA Julio Ambrozio, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 30, Patrono – Monsenhor Francisco de Castro Abreu Bacelar “A Carteira de trabalho de Lula, quem criou foi Getúlio Vargas!” – Leonel Brizola. A grande mídia no Brasil, que golpeou em 1964, pois há muito vivia cúmplice do Imperialismo, melhor, das perdas internacionais, permanentemente demonizou Leonel de Moura Brizola, o que, aliás, muito explica a idiota e desqualificada idiossincrasia de boa parte da classe média contra aquele que, após o exílio de 15 anos, buscava alcançar o Poder de Estado brasileiro com o objetivo de reconduzir o país à união nacional originada em 1930: povo, exército e indústria – a aliança da classe média com o povo. Diga-se a propósito, que esse objetivo não está ultrapassado ou enrugado, como querem fazer crer os ideólogos – travestidos em diversas atividades profissionais – quando escrevem ou falam acerca da ( já capenga ) globalização e do neoliberalismo. Hoje, ainda mais que ontem, tornou-se mais grave a contradição entre a Nação – incluído aí o mercado interno – e o Imperialismo; de modo que a luta pela formação da Civilização Brasileira, através daquela união nacional, mantêm-se urgente e atual. Tanto isso é verdade que a grande mídia só agora quis saber de Leonel de Moura Brizola, quando desce às catacumbas; com ele, descem também a compreensão e o sentimento fronteiriços de nacionalidade, originados nos conflitos entre espanhóis e o mundo luso-brasileiro, em constituição no antigo continente de São Pedro do Rio Grande no período colonial. Quem se debruçar sobre a literatura guasca, sem dúvida, irá encontrar em Brizola, com a Cadeia da Legalidade e com a tentativa de resistência ao golpe imperialista de 1964, a descendência de Mestres-de-Campo, tais como Francisco Pinto Bandeira e Rafael Pinto Bandeira, ou mesmo a herança de José Borges do Canto e Manoel dos Santos – responsáveis estes dois pelo embate que pacificou as fronteiras de tensão do Rio Grande do Sul em 1802: a definitiva conquista da região das Missões. O leitor que procurar a Farroupilha e o Positivismo irá encontrar as origens republicanas de Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola: o fortalecimento do Estado como veículo do Federalismo meridional; o guarnecimento do Estado, já agora com Getúlio Vargas, como garantia da nacionalidade. O Positivismo gaúcho possibilitou transferir o respeito, a disciplina e a solidariedade dos clãs de fronteira […] Read More
TECNOLOGIA DOS TRÓPICOS E A CEPAL (A)
A TECNOLOGIA DOS TRÓPICOS E A CEPAL Julio Ambrozio, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 30, Patrono – Monsenhor Francisco de Castro Abreu Bacelar Darcy Ribeiro, em seu “Prefácio à Quarta Edição Venezuelana”, publicado na décima edição do Processo Civilizatório, Vozes, Petrópolis, 1991, narra, no primeiro parágrafo, o impacto que para ele teve o parecer editorial sobre esse livro. Lá pelas tantas, escrevia Darcy, que a raiva causada pela opinião de intelectual ledor de importante editora o salvara, pois desse modo surgiu o seu ímpeto de lutar contra todos aqueles que “… pensam que intelectual do mundo subdesenvolvido tem de ser subdesenvolvido também.” Não está aqui mencionado Darcy Ribeiro por acaso. Muito da tecnologia solar brasileira – anunciada como real e paupável possibilidade pela Escola da biomassa – alcançaria verdadeira compreensão através de um processo civilizatório que enxergaria as revoluções tecnológicas como eficientes e fundamentais causas de formações sócio-culturais, cujas historicidades e concretudes estariam na idéia de civilização, no caso da biomassa, na idéia de civilização brasileira. O caso, porém, é que a antropologia dialética de Darcy aqui surgiu através da específica lembrança desse prefácio venezuelano. Isso porque, folheando ao léu e pela primeira vez Dialética dos Trópicos, minha atenção se fixara em um parágrafo da página 154; pude ler ali uma espécie de informação ou conhecimento objetivo que a lógica da natureza determinaria a qualquer cultura: o aldeído acético (CH3 CHO) e o eteno (C2H H4) são os produtos básicos na produção de 70% da petroquímica; existem dois átomos de carbono em cada uma dessas substâncias produzidas a partir do petróleo, misturas de longas cadeias de hidrocarbonetos; o cracking ou ruptura é a forma para alcançar essa cadeia de dois átomos de carbono; o aldeído acético e o eteno, todavia, com facilidade seriam obtidos a partir do etanol (C2H5OH) – o álcool retirado da cana-de-açucar ou da mandioca, cuja estrutura é, igualmente, formada por dois átomos de carbono. Informa, ademais, Bautista Vidal, que a aplicação estimada de capital para realizar fábrica de eteno a partir do álcool etílico significa apenas 10% das inversões necessárias para retirar eteno do petróleo. Como informação tão simples a qualquer aluno de segundo grau, transformar-se-ia em grave alerta ao país? Dessa maneira, a indignada e límpida frase de Darcy Ribeiro, reproduzida no primeiro parágrafo, muito responderia a esse paradoxo. Só mesmo o bovarismo colonial explicaria a dificuldade que a inteligência brasileira tem demonstrado em relação […] Read More