SINDICATO DO TURISMO (O)

  O SINDICATO DO TURISMO Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira A década de 20 assinala em Petrópolis a atenção municipal para o turismo, com total apoio dos veranistas. O Centro Histórico da cidade era tipicamente sazonal e estava edificado sob pilares de uma urbanização eclética. Os prédios eram exemplares representativos do gosto estético ditado pelos cabedais financeiros dos veranistas; viviam iluminados nos verões e deitavam solidão e negritude enevoada nos períodos invernosos. A vida urbana no verão brilhava de novembro a abril; era agitada sob o sol de altitude e a chuva copiosa e ligeira de todas as tardes; no contraponto, as ruas de pouco tráfego passavam em mansuetude nos dias dos invernos rigorosos de friagem úmida bordados pela névoa matutina e do fim da tarde, além de um frio sol de viva coloração. A cidade alegre dos verões convidava a passear a cavalo ou em viaturas e os veranistas eram vistos por toda a parte, enquanto a população fixa cuidava do comércio e dos serviços, aos visitantes oferecendo uma variedade de apelos consumistas. O veranismo era a prática de um turismo regularmente compulsório. Na visão política e intelectual dos habitantes fixos, o município sobrevivia no inverno graças à intensa atividade fabril e no verão pelo colorido da natureza sempre em descoberta em meio ao bulício dos veranistas. Sob esse conjunto de preocupação, notáveis da terra e adotados, tinham visão consciente de que era o turismo sazonal fixo o segredo de Petrópolis e que se devia adotar posicionamento vigilante para que ele crescesse. No Rio de Janeiro, capital que ditava o comportamento social do País, fundara-se em 9 de novembro de 1923, a Sociedade Brasileira de Turismo e noticiava-se a novidade como “o primeiro passo, amplo, dado nesse sentido”. Em verdade, Petrópolis já se antecipara aos doutos cavaleiros cariocas de prestígio, através de João Roberto d´Escragnolle, o primeiro real publicitário em Petrópolis, que abrira em 1908 uma agência de turismo voltada para a divulgação da riqueza ambiental do Município, a “Agência Alex” (Propaganda e Informações – faz tudo e tudo sabe), também realizando corretagem de imóveis e editando guias de divulgação e de indicações para os passeios. Nas décadas de 10 e 20 surgiram interessantes guias da cidade, verdadeiras jóias pioneiras da atividade. O “Sindicato de Iniciativa de Turismo do Município de Petrópolis” também é anterior à Sociedade do […] Read More

SANTOS-DUMONT – 130 ANOS

  SANTOS-DUMONT – 130 ANOS Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira Palmira, em Minas Gerais, foi o cenário do nascimento do menino Alberto, filho do fazendeiro de café engenheiro Henrique Dumont, descendente de franceses e da senhora Francisca dos Santos Dumont. O dia: 23 de julho de 1873, há exatamente 130 anos. O local exato foi a Fazenda Cabangu no distrito de João Aires, em momento no qual o engenheiro Henrique empreitara obras para a Estrada de Ferro Central do Brasil e se achava residindo em Cabangu. Hoje Palmira é o Município de Santos-Dumont. Passou a infância na Fazenda Dumont, que o pai adquiriu em Sorocaba, São Paulo, para dedicar-se à lavoura do café. Hoje o território da fazenda transformou-se no município paulista de Dumont com a sede municipal na casa de fazenda que pertencera à família Dumont. Estudou no afamado Colégio Culto à Ciência, em Campinas, em seguida no Instituto Kopke e, por fim, no Colégio Morton. Concluídos esses preparatórios, matriculou-se na Escola de Minas, em Ouro Preto. Não terminou o curso superior. O jovem era prático, inventivo, apreciava a vida ao ar livre, amava as aventuras narradas nas obras de Julio Verne, vendo seu pai que ele deveria estar na capital cultural e científica do Mundo, naquele final do século XIX, para alar sua prodigiosa imaginação a feitos extraordinários. Colocou-o em Paris. O diminuto jovem, magrinho, esguio, leve, elegante, logo conquistou a simpatia da cidade e do povo parisiense e meteu-se em galpões para participar da febre da conquista do espaço que Paris abrasava no coração dos pioneiros. Não deu outra. Em pouco tempo estava Santos-Dumont construindo e testando balões, arriscando a vida em experiências, assustando transeuntes urbanos com estripulias aéreas, sob o objetivo de dar asas à criatura humana. A partir de 1897 o “petit Santos” (seu apelido carinhoso em Paris) criou vários balões em escala crescente de aperfeiçoamento e o seu primeiro e pequeno balão individual recebeu o batismo de “Brasil”. Animado pelo lançamento de um concurso destinado a provar ser possível dar dirigibilidade aos balões, levou poucos anos aperfeiçoando suas criações, inscrevendo o seu balão-dirigivel n° VI, conquistando o “Prêmio Deutsch de La Meurthe” na memorável tarde na qual a Comissão Julgadora e curiosos viram Santos-Dumont sobrevoar o céu parisiense, contornar a Torre Eiffel e pousar no solo coberto de aplausos. Estava resolvido ser possível […] Read More

FILHO DE UM FERRADOR QUE SE TORNOU MAESTRO (O)

  O FILHO DE UM FERRADOR QUE SE TORNOU MAESTRO Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira   Partamos no sonho de uma alegoria, mesmo que falseie a cronologia verdadeira da história da Escola de Música Santa Cecília: Era uma vez um menino. Parece que o vejo correndo por aqui. É levado, muito irrequieto. De repente ele pára toda a atividade, apura o ouvido; escuta… O que escuta o menino que o faz enlevar-se? É um som não necessariamente mavioso; mas é musical; é um som musical (arranham-se, em exercício, cordas de violino) por vezes estrídulo e irritante… Mas, é música que o menino escuta; arregala os olhos e segue. Atravessa a rua sem muito cuidado. É um menino sem os medos da prudência. Aproximando-se, sente que ao som nervoso do violino em estudo junta-se um exercício de escalas em piano; logo notas de uma flauta remete seu embevecimento a um êxtase que o detém diante do prédio esquinado, baixo, com uma longa varanda em curva dominando toda a fachada. No alto ele lê o que, antes, não chamara sua atenção: “Sede Própria – Escola de Música Santa Cecília”. Como aqueles ratinhos da fábula de Hamellin ele segue o som da flauta e do violino e do piano e adentra pela varanda, toca com as pontas dos dedos na porta quase fechada, que empurra com cuidado evitando chamar a atenção. No pequeno salão vê, ao fundo, um palco e nele exercita-se um aluno de flauta observado pelo atento professor. Outros três meninos e jovens acompanham a aula, à espera de seus exercícios práticos. Atrás de uma porta entreaberta, o som do piano aguça a curiosidade do menino que, nessa altura, nem sente que flutua de enternecimento ao tempo em que agita-se de ansiedade. Mais adiante, atrás de outra porta, um violino range em protesto pelo exercício de um aluno que experimenta a vocação. O menino, naquela irreverência, mesmo que contida pelo êxtase, empurra a porta de onde vem o som ranhento do violino… Entra na sala, o aluno desconcerta-se, o professor censura com o olhar e adverte: – O que é isso? O que deseja aqui? – Eu ouvi o violino lá de cima da minha rua onde moro, vim atraído e nem sei o que faço aqui… – é trêmula sua voz infantil. -O senhor, menino, gosta de violino? – […] Read More

VESGA HOMENAGEM

  VESGA HOMENAGEM Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira Leio em nossa imprensa a notícia. A Fundação de Cultura e de Turismo, administradora do bem municipal antigamente denominado Teatro Dom Pedro e popularmente já conhecido e rebatizado de Teatro Municipal de Petrópolis, está para inaugurar a Casa de Espetáculos agora para valer. Positivo! Finalmente Petrópolis terá o seu Teatro Municipal funcionando! No complemento da boa nova vem um absurdo, uma bobagem, uma coisa estranha e muito esquisita, sem pé e nem cabeça e que está provocando protestos de toda a classe artístico-cultural do Município. A atual administração municipal deliberou que o Teatro Municipal de Petrópolis será oficialmente chamado de Paulo Gracindo. Ninguém admira mais o ator Paulo Gracindo do que eu e uma legião de brasileiros batendo palmas; o grande nome do teatro, rádio, cinema e televisão, um “showman” completo, Pelópidas (Paulo) Gracindo merece muitas e muitas homenagens de todo o País. Porém, meus senhores do governo petropolitano, conferir ao ator o nome do Teatro é um ato da mais impertinente bobagem. E o será, ainda, se nominarmos a Casa de qualquer outro nome. O Teatro Municipal é o Teatro Municipal de Petrópolis, e pronto! Tal como os teatros municipais espalhados pelos brasis afora. Não tem que levar patronímico nenhum. E muito menos do grande ator Paulo Gracindo, cuja passagem por Petrópolis sempre foi fugaz e apressada, sem nenhum vínculo com a cidade, embora um cidadão e artista da maior expressão. Mesmo entendendo que o Teatro Municipal de Petrópolis assim deve ser, sem homenagens pessoais, ainda poderia aceitar se mantivesse o nome primeiro, de batismo, dado pelo construtor João D’Ângelo: Teatro Dom Pedro. O ideal, no entanto, é ser Teatro Municipal de Petrópolis e pronto! Quando o imóvel foi escolhido para Teatro Municipal, aventava-se a idéia de homenagear, em um espaço nobre do Teatro, o edificador do prédio João D’ Ângelo, para reafirmar aos pósteros a nossa gratidão pelo importante bem cultural. Aí, sim e, também, a outras figuras de nossa cultura artística em outras dependências internas. Não caberia, nem ai, homenagem a Paulo Gracindo. Se ele esteve no elenco de um ato ligeiro encenado no Teatro na inauguração, tudo bem! Parabéns para ele e Petrópolis pela honra. Mas, e Leopoldo Fróes, o internacional Raul Roulien, Jaime Costa, Jararaca e Ratinho, Orestes e Leonor Mattos, Alda Garrido, Linda Batista, Vicente […] Read More

EDUCAÇÃO EM PETRÓPOLIS – O Ginásio Pinto Ferreira – Henrique Pinto Ferreira

  EDUCAÇÃO EM PETRÓPOLIS Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira O Ginásio Pinto Ferreira – Prof. Henrique Pinto Ferreira O jovem Henrique Pinto Ferreira, português, natural da encantadora Felgueiras, no norte de Portugal, a 60km do Porto, onde nasceu a 17 de dezembro de 1883, resolveu, no início do século, arrumar suas malas e partir para o Rio de Janeiro. Inteligente, estudioso, vinha para tentar a sorte nas profissões que trouxera de sua excelente formação escolar. Aqui chegou formado em borla e capelo pela Universidade de Coimbra, onde foi companheiro de turma do notável Cardeal Cerejeira. Estudou ainda Engenharia Militar até o 5º ano em Coimbra, concluindo o curso na Academia Militar de Lisboa. Da maravilhosa cidade de Lisboa embarcou em um navio com destino ao Brasil e, no Rio de Janeiro, diplomou-se, pela Universidade do Brasil, em Medicina, Química Industrial e Farmacêutica. Para ser admitido em nosso ensino superior submeteu-se às bancas examinadoras rigorosíssimas do Colégio Nacional (hoje Colégio Pedro II), conquistando o 1º lugar geral, o que lhe conferiu o direito de matriculas e cursos livres de quaisquer ônus. Em correspondência para a família revelou que ficaria definitivamente no Brasil. Sua mãe, preocupada com as notícias das péssimas condições sanitárias e de saúde do Rio de Janeiro, nos sombrios dias da febre-amarela e da peste bubônica, recomendou que residisse em localidade que estivesse livre dessas mazelas. Escolheu Petrópolis. Subiu e desceu incessantemente pela serra naquele trem de Mauá, enquanto estudava no Rio de Janeiro, trabalhando em alguns ofícios na cidade serrana. Dotado de fina cultura e grande pendor para o magistério, foi convidado a integrar o quadro de professores do Colégio Luso-Brasileiro, que mantinha turmas de internato e externato. O internato ocupava o prédio do atual Palácio Grão-Pará e todo o seu imenso jardim que dava frente para a rua do Imperador (então Avenida 15 de Novembro), onde hoje está o prédio dos Correios e outras edificações fronteiras à atual rua Joaquim Moreira. O externato funcionava no prédio que fora ocupado pela Assembléia Legislativa Estadual, ao tempo de Petrópolis-Capital, depois Colégios Plínio Leite e Carlos Alberto Werneck, hoje um edifício comercial e de apartamentos. Estava definida sua vocação verdadeira e a missão de vida: educador. Num instante as salas de aulas da cidade ganhavam um extraordinário mestre. Naqueles tempos a cidade de Petrópolis era um importante centro educacional […] Read More

GRUPO ESCOLAR, O CÍRCULO E OUTRAS LEMBRANÇAS (O)

  O GRUPO ESCOLAR, O CÍRCULO E OUTRAS LEMBRANÇAS Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira O Professor Jeronymo Ferreira Alves Netto, em artigo publicado aqui no Jornal de Petrópolis, edição de 19 a 25 de outubro de 2002, sob o título “Oitenta anos da inauguração do Pedro II”, narrou os anos dourados do Grupo Escolar, desde a fundação numa casa da Rua 14 de Julho (hoje Washington Luís), passando pela doação do terreno à Avenida 15 de Novembro (hoje Rua do Imperador) pela Princesa Isabel e a construção e instalação do estabelecimento no atual endereço e belo prédio, a partir de 26 de novembro de 1922 quando foi inaugurado em sessão solene pelo governador do Estado Dr. Raul Veiga. É do Grupo Escolar Dom Pedro II que falamos e não das sucessivas adaptações e ampliações que impuseram o fim do Grupo Escolar para a criação do ensino até o 2º grau completo, sob outras denominações: CENIP (Centro de Ensino Integrado de Petrópolis), Colégio Estadual Washington Luís e Colégio Estadual Dom Pedro II, este último e atual retomando a homenagem solicitada pela doadora do terreno, a Princesa Isabel. Na década de 40, objetivo desse artigo, era diretora do Grupo Escolar a professora Germana Gouvêa, mestra e administradora impecável, titular da Academia Petropolitana de Letras, que funcionou durante muitos anos nas dependências do Grupo, realizando memoráveis reuniões literárias no Salão Nobre, onde existiam os retratos do patrono Dom Pedro II, do ex-Governador Raul Veiga e o do governador em exercício, sempre cambiável. Naquele salão foi instalada a Câmara Ardente do escritor Stefan Zweig e sua mulher Charlotte, mortos a 24 de fevereiro de 1942, organizada pela Academia Petropolitana de Letras, na presidência Carauta de Souza. Germana Gouvêa, estimulada pelo Diretor do Departamento de Educação do Estado, Dr. Rubens Falcão e auxiliada pelo Técnico de Educação Professor Ovídio Gouveia da Cunha, ambos confrades seus na Academia Petropolitana de Letras, criou o “Circulo de Pais e Professores do Grupo Escolar Dom Pedro II”, com bela atuação no ano de 1944, quando premiou os melhores alunos com cadernetas da Caixa Econômica, a saber: com Cr$ 30,00 cada um: Fabiano Luiz de Pércia Gomes, Franklin Peixoto da Costa Filho, Arildo Hoeltz e Orleia Rocancourt; com Cr$ 20,00 cada um: Marta Klein, Gicelda Ferreira, Nelson Gonçalves, Nilo José de Souza, Delfina Moreira, Ewald Winhefmann, Hélio José Romero, […] Read More

MATANDO A GALINHA DOS OVOS DE OURO!

  MATANDO A GALINHA DOS OVOS DE OURO! Aurea Maria de Freitas Carvalho, ex-Associada Titular, Cadeira n.º 4 – Patrono Arthur Alves Barbosa, falecida Petrópolis não é um ponto turístico do Rio de Janeiro. Petrópolis é uma cidade histórica. Sua primeira referência pode ser a de um pequeno trecho do caminho que levava às “minas gerais”. Fazenda mal sucedida, teve a sorte de ser adquirida pelo imperador, D. Pedro I, para aqui ser construído o palácio de veraneio da família imperial, intento somente realizado mais de 10 anos depois, por seu filho, Dom Pedro II, sob influência do major Júlio Frederico Koeler, um engenheiro alemão que idealizou desenvolver aqui uma colônia. Esta, apesar dos tropeços e dificuldades teve sucesso, graças à energia e ao trabalho metódico de seu idealizador. Chegou a ser importante na produção industrial, tendo sido exportador de produtos têxteis para o exterior, da mesma importância de São Paulo, citado em obras de autores estrangeiros sobre industrialização. Quanto à função de vilegiatura da corte, cumpriu-a perfeitamente. O centro histórico e seus arredores, apesar de já haverem sido bastante sacrificados, nos dão uma boa idéia daquela época que abrange a consolidação da Revolução Industrial, causadora de importantes modificações na sociedade, sobretudo na classe trabalhadora e na produção industrial. Modificações também observadas na arquitetura, não só em Petrópolis e no Brasil como em grande parte do mundo civilizado. O ferro deixa de ser utilizado apenas na construção de pontes e pavilhões e como sustentação e passa a fazer parte dos acessórios aparentes da construção, elementos tais como grades, gradis, portões etc. Na avenida Koeler, por exemplo, quase todas as vivendas datam do final do século XIX e princípio do século XX, época em que predominava o denominado Neoclassicismo, porém um neoclassicismo bastante modificado nos seus elementos simplificados tanto na forma quanto no número, e o Ecletismo. Além da arquitetura das grandes vivendas, das ricas moradias do Centro Histórico, Petrópolis apresenta ainda, habitações não tão luxuosas, mais simples, que datam da mesma época e dão idéia de como vivia o petropolitano de então. Uma característica encantadora e que deve ser conservada e respeitada são os lambrequins de madeira dos telhados e das varandas que são verdadeiras obras de arte. Esses testemunhos do passado que nos mostram Petrópolis como uma cidade operosa e calma também merecem ser preservados. Na indústria e na formação da população de Petrópolis também foi grande a influência […] Read More

CAXIAS NA CONTROVÉRSIA DA SURPRESA DE PORONGOS

  CAXIAS NA CONTROVÉRSIA DA SURPRESA DE PORONGOS Cláudio Moreira Bento, Associado Correspondente Em 29 de março de 2003, às 12.30, no programa da RBS A Ferro e Fogo, em Porto Alegre, sobre a Revolução Farroupilha, o antropólogo da Pontifícia Universidade Católica, e homem da gloriosa raça negra, Iosvaldir Carvalho Bittencourt, ressuscitou a controvérsia que parecia haver transitado e julgado na História, de que a surpresa do Exército Farrapo em Porongos, em 14 nov 1844, no atual município de Pinheiro Machado, foi resultado de uma traição de Canabarro à causa farroupilha, em combinação com o Barão de Caxias e Chico Pedro. Ressurreição apoiada em falso oficio (ou forjicado) que teria sido dirigido pelo Barão de Caxias ao Tenente Coronel GN Francisco Pedro de Abreu, comandante da Ala Esquerda de seu Exército, baseada em Canguçu, desde agosto de 1843. Perguntando ao Sr. Iosvaldir o amparo de sua afirmação, à grande e atenta audiência do programa A Ferro e Fogo, informou haver buscado apoio no escritor Mário Maestri em sua obra O Escravo Gaúcho Resistência e Trabalho, Porto Alegre: Ed. da UFRGS,1993, que aborda o ofício para nós forjicado, bem como para vários historiadores gaúchos, como Alfredo Varela, em sua História da Grande Revolução, Porto Alegre: Ed. Globo, 1933 p. 255-259; Othelo Rosa, ao biografar Canabarro na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (RIHGRGS), 3 trim. 1934, p. 248; O Major João Baptista Pereira na RIHGRGS, 1 e 2 trim. 1928, p. 34-47; Alfredo Ferreira Rodrigues, em Canabarro e a surpresa de Porongos, no Almanaque Literário e Estatístico do RGS 1899. p. 215-272; Assis Brasil, em História da República Rio Grandense,1887; Walter Spalding, em Canabarro mestre de brasilidade, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v.197, 194, p.3/62; Henrique Oscar Wiedersphan, em Convênio de Ponche Verde, Porto Alegre EST/SULINA/Universidade de Caxias do Sul, 1980, p.67/79, em que fez um retrospecto sobre o problema Porongos e, mais, Ivo Leites Caggiani, em David Canabarro de tenente a general, Porto Alegre: Martim Livreiro, 1993, além dos não gaúchos como o Dr. Eugênio Vilhena de Moraes, o grande biógrafo de Caxias, e o General Augusto Tasso Fragoso, em A Revolução Farroupilha, Rio de Janeiro: BIBLIEx, 1939, p.271 e, mais, nós, em O Exército farrapo e os seus chefes, Rio de Janeiro: BIBLIEx, 1992, p.127/136, bem como em O Negro e seus descendentes na Sociedade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: […] Read More

MARECHAL BENTO MANOEL RIBEIRO (1783-1855) – (Na História e na Fantasia das Sete Mulheres)

  MARECHAL BENTO MANOEL RIBEIRO (1783-1855) – (Na História e na Fantasia da Casa das Sete Mulheres) Cláudio Moreira Bento, Associado Correspondente Na mini-série A Casa das Sete Mulheres, o Marechal Bento Manoel Ribeiro foi escolhido como o vilão, na fantasia de 60% que ela representa. E mui justamente como herói o General Bento Gonçalves da Silva, 5 anos mais moço do que Bento Manoel, e que focalizaremos noutro artigo . Mas para que não se confunda a fantasia com a realidade, apresentamos ao leitor e pesquisador interessados o perfil histórico desta personalidade singular para que seja apreciada dentro das circunstâncias complexas que ele vivenciou e coerente como Ortega Y Gasset : “Eu sou eu e as minhas circunstâncias!” Abordagem histórica da vida e obra de um grande guerreiro e dos maiores que o Brasil possuiu, segundo se conclui de análise de Osvaldo Aranha em 1946 na Revista Província de São Pedro. Significação histórica. Bento Manoel Ribeiro prestou relevantes serviços militares, de soldado a marechal do Exército Imperial, à Integridade e à Soberania do Brasil, colônia e independente, nas guerras do Sul de 1801, 1811-12, 1816 e 1821, 1825-28 e 1851-52, onde se afirmou entre as maiores espadas de seu tempo. Foi militar de raros méritos como estrategista, tático, profundo conhecedor do terreno e grande capacidade de nele orientar-se. Possuía grande capacidade de liderança em combate e de bem combinar Infantaria e Cavalaria, além de conhecimento apreciável da psicologia de seus homens e dos adversários e dentre estes dos caudilhos platinos. Durante a Revolução Farroupilha (1835-1845), em função de seu temperamento singular, segundo Sanmartim, mentalidade “mais caudilhesco do que militar “, adotou posições até hoje controvertidas e aparentemente inexplicáveis. Isso, ao combater, ora ao lado dos farrapos, ora ao lado dos imperiais, mas sempre desequilibrando, acentuadamente, o prato da balança, em favor da causa que defendia. Inicialmente como farrapo, depois como imperial, novamente como farrapo e, finalmente, depois de mais de dois anos de neutralidade, lutou pela Unidade do Império até o final da Revolução, “como vaqueano-mor de Caxias”. Por esta razão, entrou para a História do Rio Grande do Sul como a mais controvertida personalidade do ponto de vista político e psicológico, com defensores a explicar seus gestos como Osvaldo Aranha e acusadores impiedosos, até na poesia popular da época, o que a fantasia da mini-série citada reflete com extremo exagero . Mas Bento Manoel é um raro caso […] Read More

CASA DAS 7 MULHERES (A) – (A História e a Fantasia)

A CASA DAS 7 MULHERES – (A História e a Fantasia) Cláudio Moreira Bento, Associado Correspondente Gaúcho natural da Serra dos Tapes onde se encontra a cidade de Piratini e Canguçu, o seu distrito de mais perigo e “mais farrapo” durante a Revolução Farroupilha 1835-45 e, além, autor do livro O Exército Farrapo e os seus Chefes em 1991 e outros sobre o assunto, cabe-me fazer algumas considerações históricas sobre o magnífica mini-série A Casa das 7 Mulheres da Globo que vem com traje de gala divulgando a Revolução Farroupilha, onde possui suas raízes a República Federativa do Brasil implantada há 114 anos. A mini-série atende em seu miolo ou espinha dorsal, até agora, o desenvolvimento histórico da Revolução Farroupilha. Mas como disse seu diretor Jaime Monjardin “ela possui 40 % de História e 60 % de fantasia”. E aproveitou um tema histórico e o vestiu de gala com toda a pompa e circunstância e de forma notável. No tocante à Fantasia como elemento notável para atrair os tele- espectadores e passar-lhes o essencial da História, usou recursos inexistentes na época e tudo por conta da citada e louvável fantasia. Exemplos: O uso de lenços vermelhos e brancos pelos farrapos e imperiais, um costume que remonta a Guerra Civil na Região do Sul 1893-95. O cenário lindíssimo dos Aparados da Serra onde a revolução não chegou. Luxo nas estâncias, casas e igrejas incompatível com aspecto espartano das mesmas, do que a estância de Bento Gonçalves em Cristal-RS, hoje Parque Histórico em sua memória, é um exemplo. Imperiais entrando a cavalo dentro de uma igreja quando os santos no Império eram mais respeitados que os próprios generais e a canção do Exército era a de N. S. da Conceição a sua padroeira. Era raro o uso de carroças e sim carretas. E não existiam carruagens que só aparecem em Pelotas por volta de 1865. Os Farrapos não possuíam uniformes conforme abordamos no livro citado e nem usavam bigodes. As casas não possuíam vidraças o que só apareceria mais tarde. Tanto que o Ministro de Fazenda Domingos de José de Almeida, mineiro de Diamantina, levava em suas viagens em sua carretinha, uma pequena janela com vidraças para instalar nos locais onde montava o seu escritório itinerante. Aliás ele não foi ainda citado bem como os cariocas João Manoel Lima e Silva e José Mariano de Matos, oficiais com curso na Escola Militar […] Read More