TOCA PRO GABRIEL! – TEATRO EM PETRÓPOLIS

“TOCA PRO GABRIEL!” – TEATRO EM PETRÓPOLIS Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva No dia 12 de julho deste ano passei por duas grandes emoções. Uma estava sendo curtida fazia tempo. A outra, e maior, foi inesperada e me atingiu quando acabava a reunião do Instituto Histórico de Petrópolis. A emoção aguardada foi, como se sabe, a de dar por inaugurado ali, de acordo com a pauta, o Acervo Histórico de Gabriel Kopke Fróes via Internet, no endereço www.earp.arthur.nom.br . A partir de então, desde o término da palestra daquela noite, qualquer pessoa poderia consultar tudo o que já existe transcrito, hoje em cerca de 12.300 entradas, dos dados colecionados pelo estimado amigo e sócio fundador do Instituto. Quase ao findar a apresentação, afirmei que utilizar o acervo era o primeiro passo de qualquer estudo sobre Petrópolis. Sem dúvida, é certo que as anotações de Fróes, por sua amplitude, hão de fornecer na maior parte dos casos alguma pista para o aprofundamento da pesquisa que se pretenda fazer. Como exemplo, vale publicar aqui, para delícia dos que investigam a história do teatro em nossa cidade, o texto de um manuscrito do acervo. É o seguinte, constante do registro 10446 do arquivo ama03001: “COLÉGIO DE SÃO VICENTE DE PAULO Caixa Postal 332 Rua Coronel Veiga, 550 Petrópolis, R. J. Fone 3032 Petrópolis, 29 de Junho de 1963 Meu caro Gabriel Junto, o que você me pediu sôbre o que sei do movimento teatral em Petrópolis. Se estivesse em casa, com tudo à mão e com a comodidade que aqui na enfermaria do Hospital não chega a ser mínima, outro teria sido o meu atendimento ao pedido do amigo que tanto merece e sôbre um assunto que tanto me interessa. Daqui, e com muita dificuldade, só posso concorrer com estas notas esparsas sem redação e até mesmo sem português, o que você saberá perdoar a um professor que no momento se vê como um artífice sem ferramenta. Falo muito em mim no que aí vai. Nem encontrei outro meio de expôr o que sei. Não veja nisso uma vaidade, e muito menos uma insinuação. Pois nem sei o feitio que você pretende dar ao seu trabalho. Caso encontre para êle qualquer subsídio na minha xaropada hieroglífica, pode dispôr sem receio, pois que tudo é verdade, e dela dou fé. Com o abraço […] Read More

NÃO SÃO DE HOJE OS CRIMES AMBIENTAIS EM PETRÓPOLIS

  Em 12 de novembro de 1891, naquele período crítico da República recém nascida, que mediou entre o golpe desfechado por Deodoro da Fonseca contra o Congresso e a renúncia desse prócer republicano ao cargo de Presidente do Brasil, aqui em Petrópolis, Antonio Augusto de Souza Leite perguntava ao então Conselho de Intendência Municipal, chefiado por Ildefonso Carlos de Azevedo Dutra, se o mesmo havia permitido a canalização e desvio do curso natural das águas que corriam pelo vale existente no lugar denominado Costa Gama. Por certo a turbulência política, a revolução que pôs termo ao governo Portela, em princípios de dezembro de 1891 e que varreria do cenário petropolitano a Intendência supra citada, impediram que ficasse registrada nos anais a resposta à consulta em boa hora levantada e que dava a entender que mãos clandestinas e criminosas haviam, a revelia do poder público, desviado as águas naturais que corriam pelo vale em apreço e, o que é pior, canalizando-as. Esse tipo de infração já estava previsto no Código de Posturas da Vila da Estrela, aprovado provisoriamente pelo Presidente Aureliano Coutinho em 1º de fevereiro de 1847. Dizia o artigo 52 desse diploma legal: “Fica proibido fazer escavações nas margens dos rios, nos aterros e valas, fazer cortes de madeiras e tirar barro para olarias, ou para qualquer obra de forma que cause estagnações das águas; assim como estreitar os mesmos rios e valas com cercados, ou tapumes, fazer cortes nos rios ou mudar o curso de suas águas: o infrator será condenado em trinta mil reis de multa” . ( grifo meu ) É de se observar que Petrópolis, antes de ter o seu próprio código de posturas municipais, o que somente aconteceu em 1893, guiou-se pelo estatuto da Estrela, vila a qual pertenceu até 1857, quando a 29 de setembro deu-se a emancipação destes chãos serranos, criando-se o município e a cidade. E mesmo depois desse grande evento, o Código de Posturas da mais tarde extinta vila da Estrela seguiu produzindo aqui seus devidos e legais efeitos, mesmo a despeito de serem votadas umas que outras posturas durante os trinta anos derradeiros da monarquia brasileira. Também o Código de Posturas de Itaboraí, que veio a furo em 28 de janeiro de 1882, determinava no artigo 88: “Estreitar, tapar, entulhar, ou desviar em todo ou em parte, valas públicas, rios, córregos, fontes de serventia pública, ou fazer sobre elas […] Read More

FAZENDA DA MANDIOCA (A)

A FAZENDA DA MANDIOCA Alcindo Sodré, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 2 No primeiro quartel do século XIX existiu na Raiz da Serra de Petrópolis uma propriedade rural denominada Fazenda da Mandioca. Seu organizador e primeiro proprietário foi um estrangeiro ilustre que realizou estudos científicos cortando em caravana os sertões do Brasil. Nessa propriedade rural ele procurou desenvolver várias culturas, experimentou a colonização alienígena no trato da terra, e nela hospedou várias personalidades nacionais e forasteiras, sobretudo os grandes viajantes e escritores que em demanda de Minas Gerais, através o Córrego Secco, ali pernoitavam. Esse estrangeiro, proprietário da Fazenda da Mandioca, era o barão Jorge Henrique de Langsdorff, médico pela Universidade de Goetingue, na Alemanha, e acatado entomologista. Consta ter nascido no Grão Ducado de Baden. Como médico do princípe Waldeck, seguiu-o a Portugal, quando este foi comandar o exército português ali introduzindo a prática da vacinação. Voltando à Alemanha ofereceu seus serviços à Rússia e logo a seguir tomou parte na expedição do capitão Krusenstiern ao Kamtchatka. Sob os auspícios do Imperador Alexandre I e nomeado cônsul geral da Rússia no Rio de Janeiro, foi incumbido de importante exploração científica pelo interior do Brasil. Trouxe então consigo para o Brasil o grande pintor Rugendas, o botânico Luiz Riediel, o astrônomo Ruszoff e o naturalista Ménetries. Enviou preciosas coleções naturais para o museu de São Petersburgo sendo agraciado Conselheiro de Estado e membro da Academia de Ciências da Capital russa, além de outras associações. Possuiu também entre nós uma residência na Corte situada em Santa Thereza onde dava grandes recepções à alta sociedade, ouvindo-se ali Neukon, organista da imperatriz Leopoldina. Remeteu certa vez para a Europa, mil e seiscentas variedades de borboletas e escreveu um “Guia para as pessoas que quiserem se estabelecer no Brasil”. Como chefe da expedição de naturalistas e astrônomos incumbidos pelo imperador da Rússia nos anos de 1825 a 1829 de S. Paulo atravessou Mato Grosso saiu no Amazonas e Pará. Dessa expedição fizeram parte, como desenhistas, Amadeu Adriano Tannay, que apareceu afogado no sertão de Mato Grosso e Hércules Florence, que escreveu em francês a narrativa da viagem e a quem se devem as notícias a respeito, pois nessa mesma expedição Langsdorff manifestou sintomas de loucura, seguindo diretamente para a Europa ao chegar a Belém, onde terminou sua operosa existência. Langsdorff pagara quase mil libras pela Mandioca, fazenda de dez milhas quadradas, pouco antes de […] Read More

ACERVO HISTÓRICO DE GABRIEL KOPKE FRÓES VIA INTERNET (O)

O ACERVO HISTÓRICO DE GABRIEL KOPKE FRÓES VIA INTERNET Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva   Não esqueço o encontro daquela tarde. Meu pai e eu fomos à casa de Gabriel Kopke Fróes, conforme especialmente combinado. A amizade que nos unia vinha de longe, de gerações. Na saleta, sentados junto à janela, com D. Hilda sempre o máximo em gentileza circulando por perto, realizamos algo que aos meus olhos se desenrolou em dimensões vitais. Fróes foi um colecionador persistente e meticuloso. No correr de longos anos, juntou todas as informações que levantou em sua cuidadosa pesquisa diária, principalmente sobre Petrópolis. O trabalho de sua vida, a melhor parte do trabalho, a voluntariamente escolhida, estava ali naquela sala, diante de nós, materializado em caixas com fichas, pastas, cadernos, amarrados, exemplares de publicações. A doença não mais lhe permitia manter em ordem os papéis, controlar a disposição física e o conteúdo do que criara. Seus arquivos escaparam do esquema adotado, fugiram-lhe das trêmulas mãos e da atenção já cansada. Com olhar provocativo e sorriso disfarçado, repetindo uma de suas características expressões fisionômicas de simpatia e brincadeira, indagou: – Nelson, você acha que ele vai tratar bem de tudo isto? O médico e amigo respondeu com outro gracejo. Recebi, então, o acervo. Fróes me disse: – Sirva-se deste material. Espero que ele seja útil aos seus estudos. Senti, em uma atmosfera densa de silenciosa emoção, como se o admirado amigo me estivesse entregando a alma. Percebi nos seus olhos, no breve gesto, um indefinido ar entre aliviado e aflito. Nos poucos meses que se seguiram até a morte de Fróes em Teresópolis, não tive tempo de conhecer suficientemente a sua obra para colher as explicações necessárias à restauração da organização que ele julgara ideal para os dados que pacientemente reuniu. Entendi sempre, desde aquela tarde, que não me cabia usufruir sozinho da preciosidade que me chegara às mãos. Decidi logo no primeiro instante que o meu empenho seria o de, reconstituídos os arquivos, colocá-los à disposição de todos. Que assim servissem ao maior número possível de pessoas, na exata grandeza de espírito de quem os produzira. Levei muito tempo para descobrir a chave que me permitisse caminhar no sentido da recuperação do perdido esquema elaborado e observado por Fróes. Hoje já foi alcançado o estágio que a todos possibilita a consulta do que […] Read More

ANTIPLATÔNICO BARÃO DO RIO BRANCO (O)

O ANTIPLATÔNICO BARÃO DO RIO BRANCO Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Para uma permanência de três meses, desembarcou no Rio de Janeiro numa radiosa manhã de domingo, em novembro de 1910, o polígrafo chileno Joaquim Edwards Bello. Espírito cultivado, alma sensível, com aquela permanente ponta de humor característica dos seus compatriotas, Edwards Bello, de lápis em punho anotou incontáveis aspectos da vida brasileira, do fim da primeira década deste século, e, reuniu tanto material que deu à luz, em 1911, o precioso volume intitulado “Três Meses em Rio de Janeiro”. O jovem chileno chegava justamente quando extertorava o tumultuado quatriênio Afonso Pena/Nilo Peçanha e quando ia ter início a era hermista, marco do começo da decadência da República Velha. Bello acompanhou os lances da Revolta da Chibata que irrompera na Guanabara em 24 de novembro de 1910; analisou o comportamento extravagante de representante diplomático de seu país, o irrequieto Francisco Herboso; criticou a maneira como os argentinos tratavam os brasileiros; falou da nossa musa popular, de João do Rio, de Ruy Barbosa, do Barão do Rio Branco, das águias do Palácio do Catete e, como não podia deixar de ser, das relações chileno-brasileiras. O ilustre viajor andino, não fazia parte da claque que vivia incensando o nosso grande Chanceler, o Barão do Rio Branco. No seu entender, era ele o grande culpado pelo arrefecimento da velha e tão alardeada amizade entre Brasil e Chile, máxime durante o segundo reinado. Sobre o Barão, logo no início do livro, disse estas palavras que raros de seu tempo, nacionais ou estrangeiros, ousaram pronunciar, quanto mais escrever: “No meio da fumaça da pólvora e do ruído das fanfarras e clarins aparecem as grandes figuras dos imperialistas da grande República e, dominando-as, surge a enérgica efígie do chanceler vitalício, o Barão do Rio Branco, o artificioso comediante que maneja os fantoches deste grande Guignol que é o mundo político sulamericano. Somente um fantoche que desapareceu do cenário manifestou-se rebelde à autoridade do mestre e esteve a ponto de lançar seu país em uma sangrenta guerra contra o Brasil, cujas ambições desmesuradas ele adivinhava; este homem foi Zeballos, o tigre, como o chamavam, cuja pele dissecada jaz, segundo a fantasia dos caricaturistas brasileiros, ao pé do leito do chanceler vitorioso”. E por que tanta antipatia votada ao Barão, que afinal tantas vitórias […] Read More

KOELER – HOMENAGEM NA PRAÇA PRINCESA ISABEL A 29 DE JUNHO DE 1993

  Agradeço penhorado o convite feito pelo Clube 29 de Junho para ser o seu orador nesta solenidade de homenagem ao Major de Engenheiros Júlio Frederico Koeler, dentro das comemorações dos 148 anos da chegada dos colonos alemães a Petrópolis. De Koeler muito já se disse e muito a ser dito ainda há. Hoje, porém, neste lugar, os descendentes dos colonos querem prestar uma homenagem, não só da razão, do conhecimento, mas, sobretudo, do coração. São descendentes daqueles famílias que chegaram ao topo da Serra da Estrela tomadas da esmagadora incerteza dos imigrantes frente ao desconhecido das terras que pela primeira vez pisavam e à incógnita das condições reais de trabalho e subsistência. Eles querem reverenciar aquele que foi o executor da verdadeira hospitalidade, recebendo seus antepassados e encaminhando a solução dos problemas concretos que lhes oprimiam a alma. Sim, Senhores, os descendentes dos colonos alemães e todos nós outros aqui presentes queremos realizar agora algo de real e não uma farsa, algo de vivo e não uma representação. Queremos dedicar a Koeler, o vibrar autêntico da melhor emoção que possamos ter neste momento. E como fazer brotar tal emoção, que sem dúvida existe no nosso íntimo? Abramos com mais empenho os nossos olhos. Apliquemos verdadeira atenção ao que está diante de nossas vistas. Não estamos num palco. O monumento não é uma construção vazia. As pedras e os outros materiais artisticamente dispostos abrigam os restos mortais de Koeler. São os restos mortais daquele que caminhou tantas vezes por estes mesmos espaços que hoje ocupamos, daquele que acolheu e tranquilizou os imigrantes e lhes possibilitou uma vida digna, daquele que sonhou uma bela e humana Petrópolis e começou a concretizá-la. Foi a 23 de janeiro de 1955 que, por solene ato fúnebre, presentes o Sr. Prefeito Municipal Cordolino José Ambrósio e o Sr. Presidente da Câmara Municipal Arnaldo Teixeira de Azevedo, se transladaram os restos mortais de Koeler do cemitério para aqui (Petrópolis e seus monumentos, Coordenação Geral: José Ribeiro de Assis, pág. 47). Estamos, portanto, no local do repouso terreno de Koeler morto. A lembrança vale para nos levar ao respeito e à concentração que o especial campo santo pede e que a generosa emoção que queremos ter exige. A seguir, levantemos os olhos para além do monumento e nos deixemos invadir pela beleza deste verde das encostas do Quarteirão Francês, destas majestosas e variadas árvores, destas matas que […] Read More

HERMOGÊNIO SILVA

  Hermogênio Pereira da Silva no tempo de sua atuação em Petrópolis é alguém que se pode comparar à importância que teve Koeler nos primórdios da cidade imperial. Foi líder político destacado, no grupo republicano, mas ganhou sua mais alta projeção como administrador do Município, ao ocupar no colegiado legislativo local, Intendência ou Câmara, a cadeira de Presidente, a quem competiam então as funções executivas, ainda inexistente o cargo de Prefeito. Desenvolveu e completou projetos já começados, iniciou e concluiu outros, buscou realizar alguns que se frustraram, todos do maior significado para propiciar a Petrópolis correto progresso. Foi na área do atendimento às necessidades básicas da população, pelos meios mais avançados conhecidos na ocasião, que Hermogênio Silva empenhou o seu saber e a sua energia. Abastecimento de água, fornecimento de iluminação e eletricidade, instalação de esgoto e de serviços de transporte, de telefone, construção de moradia para os de pequena renda, higiene e saúde, limpeza pública, abertura e calçamento de ruas, construção de pontes, arborização das vias públicas estiveram sempre entre as preocupações principais dele, assim como as de bem estabelecer minuciosos diplomas legais para tornar melhor o convívio social e de sediar condignamente os órgãos do poder municipal, ponto este que atingiu com a aquisição e a reparação do hoje chamado Palácio Amarelo, prédio belo e grandioso que aqui vai citado como símbolo e síntese material das metas de bela e grandiosa vida para o petropolitano que animaram a atividade pública de Hermogênio Silva. Considerando-se o difícil momento econômico, social, político e de ordenamento jurídico resultante do término do Império e do nascimento da República e a pobre situação em que se debatia Petrópolis, é que se pode olhar Hermogênio com olhos de quem vê Koeler. Se a cidade a este ficou a dever o planejamento e os primeiros passos, daquele recebeu em dias tão críticos o mais forte e vital impulso no caminho da autonomia e da maturidade. Assim como foi mencionado um prédio como símbolo de realizações e de projetos, pode-se também invocar o Código de Posturas de lavra de Hermogênio Silva, o primeiro que Petrópolis teve, como imagem dos reais e precisos cuidados, do lúcido exame dos problemas e da escolha das melhores soluções inspiradas nos dados científicos contemporâneos, das utopias que orientaram o espírito daquele que tudo fez para que Petrópolis fosse uma cidade esplêndida. A comprovação documental do valor de Hermogênio Silva no desenvolvimento […] Read More

DECRETO POLÊMICO DO GOVERNO PROVISÓRIO (UM)

UM DECRETO POLÊMICO DO GOVERNO PROVISÓRIO Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima O republicano histórico Thomas Cameron, na edição de 11 de janeiro de 1890 do MERCANTIL, abriu espaço para tratar da liberdade de cultos, tema que então dominava as conversas e discussões naquele aurorecer da República. Vejamos o texto que enfocava uma das mais polêmicas conquistas do movimento vitorioso a 15 de novembro de 1889: “Mais um direito à veneração da Pátria acaba de firmar o governo provisório dos Estados Unidos do Brasil, decretando a reforma de há tantos anos reclamada pelo patriotismo dos brasileiros que viam nela um forte elemento de prosperidade. Conquista brilhante da civilização, era essa reforma sempre combatida durante o extinto regime, pois, então, tudo quanto fosse espancar trevas, difundindo luz, era motivo de polêmica e sofria guerra desenfreada. Os homens que se acham à testa dos nossos destinos dão um solene desmentido àqueles que nos diziam indignos da plena liberdade, por não sabermos dela fazer uso. O modo por que estão sendo aceitas as reformas reclamadas pela parte sã da nação alcunhada de utopista, antes do 15 de novembro, prova a toda a evidência que a pátria bem queria caminhar, mas o que lhe embargava o passo eram os tropeços que lhe opunham à marcha aqueles que escravizavam o povo. Os demolidores da perniciosa instituição mostram-se os edificadores de uma grande nacionalidade. Muito têm eles trabalhado, mas também muito têm conquistado – a gratidão da pátria e a admiração dos povos adiantados jamais lhes serão negadas.” Passemos a registrar a boa lei. O Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, chefe do Governo Provisório constituído pelo Exército e Armada, em nome da Nação, decreta: Art. 1º – É proibido à autoridade federal, assim como à dos estados federados, expedir leis, regulamentos ou atos administrativos estabelecendo alguma religião ou vedando-a e criar diferenças entre os habitantes do país ou nos serviços sustentados à custa do orçamento, por motivo de crenças ou opiniões filosóficas ou religiosas. Art. 2º – A todas as confissões religiosas pertence por igual a faculdade de exercerem o seu culto, regerem-se segundo a sua fé e não serem contrariadas nos atos particulares ou públicos que interessem o exercício deste decreto. Art. 3º – A liberdade aqui instituída abrange não só os indivíduos por atos individuais, senão também as igrejas, associações e […] Read More

BRASILEIROS ILUSTRES EM PETRÓPOLIS

  RUY BARBOSA Ruy Barbosa de Oliveira, homem conhecido e acatado, que tão bem soube elevar o nome do Brasil no exterior, foi sem dúvida, uma das mais lídimas expressões da intelectualidade brasileira. O ilustre brasileiro nasceu em Salvador, na Bahia, a cinco de novembro de 1849, sendo seus pais João Alberto Barbosa de Oliveira e D. Maria Adélia Barbosa de Almeida. Sua alfabetização foi confiada ao competente professor Antônio Gentil Ibirapitanga, quando contava apenas cinco anos de idade. Logo o jovem discípulo começou a manifestar seu inconfundível talento, pois segundo depoimento do consagrado mestre “em quinze dias aprendeu análise gramatical, a distinguir orações e a conjugar corretamente todos os verbos regulares” (1). Posteriormente foi matriculado no ginásio Baiano onde concluiu, em 1864, seus estudos de humanidades, sendo o primeiro aluno do curso. (1) VIANNA FILHO, Luiz. A Vida de Ruy Barbosa. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1960, p. 23. Após cursar Direito por dois anos no Recife, transferiu-se para São Paulo, onde integrou, inicialmente como orador e, posteriormente, como presidente, uma sociedade literária de acadêmicos intitulada Ateneu Paulistano. Ruy concluiu seu curso jurídico em 1870, fez-se advogado e começou a escrever no “Diário da Bahia”, um jornal liberal do qual ele chegou a ser redator. Em 1876, conheceu a jovem Maria Augusta Viana Bandeira, filha de um modesto funcionário público, mas pertencente a uma tradicional família baiana, de quem ficou noivo naquele mesmo ano. Por influência da noiva, embarcou para o Rio de Janeiro, hospedando-se numa pensão, no Catete e começando a trabalhar com o advogado Souza Carvalho. Em 23 de novembro de 1876, Ruy e Maria Augusta casaram-se na Bahia e logo embarcaram para o Rio de Janeiro. O casal permaneceu pouco tempo no Rio, logo retornando à Bahia, tornando-se Ruy diretor do “Diário da Bahia”, prestigioso órgão de imprensa no qual atuara anteriormente, ao mesmo tempo em que foi indicado como candidato do Partido Liberal à Assembléia Provincial da Bahia, iniciando desse modo uma profícua e duradoura carreira como político. Posteriormente, eleito deputado à Corte, continuou a destacar-se nos debates políticos dos grandes temas nacionais. Em 1879, a reforma Leôncio de Carvalho deu ensejo a que ele apresentasse à Câmara um vasto projeto sobre a “Reforma do ensino secundário e superior’, no qual abordou com inteira proficiência os mais diversos problemas da educação, desde a organização do ensino, à Metodologia, à Psicologia Educacional, à Biologia, à Sociologia […] Read More

RESUMO HISTÓRICO – PETRÓPOLIS

  Passagem obrigatória para todos os viajantes e cargas que iam e vinham das ricas terras de Minas Gerais, a atual Petrópolis, constituída por várias fazendas inexploradas, onde residiam apenas seus proprietários e um ou outro serviçal indispensável à casa de moradia, manteve-se no anonimato até boa parte do século passado. Denominava-se do Córrego Sêco a principal dessas fazendas, cujo limite abrangia todo o centro da cidade e o majestoso alto da serra da Estrela, em que se divisa panorama da baía do Rio de Janeiro. Clima incomparável, temperatura amena, mesmo em pleno verão, possuía extensas matas e belíssimas paisagens que encantaram D. Pedro I, Imperador do Brasil. Já era êle um conhecedor dessas terras, pois sempre por elas passava a caminho da próspera fazenda do Padre Correia, na localidade hoje denominada Corrêas – de que era assíduo frequentador. Motivara essas suas estadas na Serra, a moléstia de uma filha, a Princesa D. Paula, à qual foi recomendada pelos médicos, uma mudança de ares. Em 1829, já casado com a segunda Imperatriz D. Amélia, pretendeu adquirir a propriedade que o agasalhava tão seguidamente. Mas diante da recusa da irmã e herdeira do Pe. Correia, voltou suas vistas para o Córrego Sêco, velha e abandonada fazenda, assinando a escritura de sua compra a 6 de fevereiro de 1830, por 20 contos de réis. A fazenda pertencia então ao Sargento-Mor José Vieira Afonso e D. Pedro I pretendia construir aí o seu palácio de verão. Surgindo depois vários acontecimentos políticos que terminaram com a abdicação de D. Pedro I em 1831, a fazenda voltou ao esquecimento e ao abandono. Por morte de D. Pedro I tocou a fazenda a seu filho menor D. Pedro II. O Mordomo da Casa Imperial, Conselheiro Paulo Barbosa, pensava em realizar então o projeto anterior: a construção de um palácio de verão para o Imperador. Mas, como fazê-lo numa propriedade abandonada e decadente? Depois da maioridade de D. Pedro II, o Major de Engenharia Júlio Frederico Koeler, encarregado pelo govêrno provincial da construção e conservação de uma parte da estrada de rodagem para Minas, fez ver ao Mordomo as vantagens de estabelecer nessas terras um Colônia agrícola de alemães. Koeler tornara-se um entusiasta de colonização estrangeira e pretendia provar a superioridade do trabalho livre sôbre o braço escravo. Júlio Frederico Koeler vê então que, se a fazenda ia ter vida própria, tornava-se possível a construção do palácio […] Read More