HÁ CEM ANOS NO AREAL

Um século não é nada e é muito. Em termos cósmicos, cem anos passam num átimo; para nós que afinal vivemos muito pouco, dez décadas valem uma eternidade. Em 1897 Areal era um longínquo distrito de Paraíba do Sul, porque Três Rios, que então se chamava Entre Rios, ainda não havia alcançado sua autonomia. E quando tal aconteceu, Areal deixou de ser paraibano para ser trirriense, chegando nos últimos anos à condição de cidade, com direito à Câmara Municipal, Prefeitura e brasão de armas. E tudo isso aconteceu em um século. Para os arealenses foi um sonho de mil anos. Mas voltemos ao pacato burgo sulparaibano em 1897. Às 12h30 do dia 11 de setembro, um trem da falecida Estrada de Ferro Grão Pará entrou resfolegando na estação do Areal. Não era uma viagem comum. O comboio trazia a cúpula da administração do Estado, que à época tinha Petrópolis como sua capital. Ali estavam o Presidente Joaquim Maurício de Abreu e os Drs. Cypriano José de Carvalho, Annibal de Carvalho e Sebastão Lacerda, respectivamente secretários de Obras Públicas, das Finanças e do Interior e Justiça. Ali também se encontravam os deputados Barros Franco e Soares de Gouvêa, o Conde Van den Steen, Ministro da Bélgica, os Srs. Max, Herbert e José de Iaegher, representantes da Societé Anonyme des Ateliers de Constructions, Forges et Aciéries de Bruges, engenheiros, empreiteiros e pessoas gradas. O povo, que havia embandeirado festivamente a povoação, aclamou os visitantes em meio ao espoucar de foguetes. Tudo era festa naquela tarde de primavera nesse simpático recanto da serra fluminense. Após pequeno descanso, o Presidente e sua comitiva tomaram a direção da ponte de aço lançada sobre o rio Preto, próximo à sua embocadura no Piabanha, para com toda a pompa inaugura-la. Ela ia substituir uma outra de madeira, tornando mais segura a jornada pela estrada do Areal a Bemposta. O empreiteiro da obra, fez entrega dela ao engenheiro chefe da segunda seção técnica, Dr. José Augusto Devoto, que em breve discurso, rendeu suas homenagens ao Presidente Maurício da Abreu, ao secretário da Obras Cypriano da Carvalho, ao empreiteiro Domingos Rodrigues Cordeiro Junior, ao Ministro da Bélgica e aos representantes da empresa fornecedora do material. Mas, por um dever de justiça, não se esqueceu de mencionar os nomes do Dr. José Thomaz da Porciuncula e de Miguel da Carvalho, os quais foram responsáveis pela elaboração do projeto de lei […] Read More

VERÕES PRESIDENCIAIS EM PETRÓPOLIS (OS)

OS VERÕES PRESIDENCIAIS EM PETRÓPOLIS Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15, Patrono – Estanislau Schaette   O Palácio Rio Negro, foi edificado em dois prazos, localizados na atual Avenida Koeler, adquiridos à viúva do colono Pedro Klippel, por Manuel Gomes de Carvalho, Barão do Rio Negro, em l889. Por pouco tempo residiu o Barão no imponente edifício que, em l896, quando Petrópolis era a capital do Estado, foi adquirido pelo doutor Joaquim Maurício de Abreu, então Presidente do Estado do Rio de Janeiro, por 300 contos de réis. Na oportunidade, segundo nos informa Fróes, ” o segundo andar do Palácio transformou-se em moradia do Presidente, enquanto no primeiro andar, foram instalados os serviços administrativos, nas três salas ali existentes. Assim, Petrópolis, que no final do século XIX havia se tornado uma mini-corte imperial, onde no Palácio de Verão de Dom Pedro II se decidiam os rumos da história do país, guardadas as devidas proporções, continuou a desempenhar este importante papel na República, tendo como centro o Palácio Rio Negro. Com efeito, no referido Palácio, de l896 a l902, foram tomadas importantes decisões políticas, econômicas e administrativas, pelos dirigentes do Estado do Rio, Joaquim Maurício de Abreu, Alberto Seixas Martins Torres e Quintino Bocaiúva. Foi durante a administração deste último que o Estado, atravessou séria crise financeira, “chegando-se a cogitar da anexação do Estado à União como única solução para debelar a crise”¹. Tentando contornar a difícil situação financeira, o Governo do Estado solicitou um empréstimo de três mil contos para resgatar a hipoteca existente com o Banco Comercial, da ordem de mil contos e, para pagar os atrasados do funcionalismo, da ordem de dois mil contos. Por outro lado, necessitando de numerário para efetivar as transferência da capital para Niterói, Quintino Bacaiúva vendeu o Palácio Rio Negro ao Banco da República, em l0 de agosto de l9O3. Tem então início a tradição de veraneio dos Chefes de Estado brasileiros em Petrópolis, sendo interessante assinalar, conforme comenta Walter Bretz, “que antes de ser adquirido o Palácio, o Marechal Manuel Deodoro da Fonseca esteve em Petrópolis, em l890, residindo à Rua General Osório, 57; Prudente de Moraes e Barros passou aqui o verão de l895, hospedando-se na chácara do Visconde da Penha, à Rua Palatinado e Manuel Ferraz de Campos Sales esteve três verões em Petrópolis, hospedando-se no Palacete do Barão do Catete, situado à Avenida Koeler”². Como a […] Read More

ASPECTOS GERAIS E CONJUNTURAIS DA MUDANÇA DA CAPITAL DE NITERÓI PARA PETRÓPOLIS

  Peca pela base quem pretende por ufanismo provinciano fazer história insulada, como se o seu burgosinho fosse o centro do mundo. Nada se passa isoladamente na face da terra. Napoleão foi um grande benfeitor do Brasil, pois em última análise propiciou a nossa independência da tacanha metrópole portuguesa. Estudar a história de Petrópolis, sem inseri-la no contexto fluminense e mesmo nacional, é erro de palmatória, do mesmo modo que a verdadeira história do Brasil somente será totalmente desvendada depois que as várias histórias regionais e locais forem esmiuçadas. É dessa integração que o Brasil surgirá num autêntico retrato de corpo inteiro. Vejamos, por exemplo, como deveria ser analisada a mudança ainda que por pouco tempo, da capital fluminense de Niterói para Petrópolis. As cidades portuguesas da América, foram em geral criadas ao longo da costa e sem intenções urbanísticas. Ao contrário, o colonizador espanhol interiorizou-se valendo-se de estritas normas de planificação urbana segundo as chamadas Leis de Índias. A idéia de uma capital brasileira no coração do país é anterior à chegada da Família Real a esta banda do Atlântico. Os ingleses já a haviam imaginado. José Bonifácio cantou a pedra no alvorecer da independência, mas durante todo o período monárquico o assunto dormiu o sono dos inocentes. A Constituição Federal de 1891, trouxe de novo o tema à luz do dia e, apesar de algumas investidas no rumo do planalto central e dos trabalhos iniciais do levantamento de uma área para a nova sede do governo brasileiro, levados a efeito por Luiz Cruls, ainda nos anos noventa do século passado, nada de concreto se efetivou. Mas a idéia empolgaria alguns arraiais progressistas, notadamente da ex província fluminense. Ainda no governo Portela, houve uma grande articulação para que a capital do novo Estado se interiorizasse e fosse construída à régua e compasso. Na raiz desse movimento estava a empolgação americanista vinda com a República e com ela o interesse por tudo que dissesse respeito aos nossos vizinhos hispano-americanos e mesmo aos norte americanos. Aqui mesmo em Petrópolis, a imprensa vivia a divulgar fatos da história e da cultura das jovens nações da América, fazendo, a Gazeta de Petrópolis, uma série de artigos sobre a capital do Peru, do Chile, da Argentina, da Colômbia, etc. Ao completar seis meses a frente dos destinos fluminenses, enquanto a República dava seus primeiros e incertos passos, o governador Francisco Portela, de olho nos […] Read More

THE JOURNEY OF THE ROYAL FAMILY TO BRAZIL, 1807-1808

  Next November we will be celebrating the 194th anniversary of one of the most important events in Luso-Brazilian History: the voyage of the Prince Regent d. João, his court, and all those that found room in one of the 36 ships that sailed to Brazil. Perhaps a total of some 12.000 to 15.000 Portuguese. The wise decision of this great statesman, that was d. João, had positive results for Portugal, Brazil and England. Only France was to lament the event. Contrary to what happened to other countries conquered by Bonaparte, this decision would save the very essence of the Portuguese nation- her royal family and court – the royal family survived unscathed, maintained their kingdom and even prospered in their rich colony. The presence of the Portuguese monarchy in Brazil accelerated her development; once the kingdom of Portugal, Algarves and Brazil had been created, in 1815, independence would become inevitable. England, after several months of blockading the Tagus, would attack the French troops on Portuguese territory and, after defeating them, would continue until the final battle that took place at Waterloo. The opening of Brazilian ports by d. João, soon after his arrival at Salvador, would bring substantial benefits to that country. Due to the lack of documentation, details of this important voyage were, until recently, totally unknown. Now all this has changed, following the discovery in the Public Records Office, in London, of the log books of all those ships that blockaded the Tagus during November 1807 and those that escorted the Portuguese fleet on its journey. Also found where the reports of the captains of these ships. These log books, many times written during severe storms at sea, reflect the English language in use at that time and the unique colloquialism used by the British Navy. The task of unravelling their contents took five years and, even though slanted towards events that occurred to the British ships, they are practically the only detailed documentation that has survived. In 1995, on completing this research, I arranged to have it published. Copies can be found in libraries, universities, including the Universidade Nova de Lisboa, and museums in Portugal, Brazil, United States, England and Spain; specially in those centres where Luso-Brasilian History is studied. In 1807, with the exception of England, France had managed to defeated all her enemies. France had been frustrated in her attempt to invade England as, […] Read More

REVITALIZAÇÃO DA PRAÇA DA INCONFIDÊNCIA EVOCA A LEMBRANÇA DA PRIMITIVA CAPELA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO (A)

A REVITALIZAÇÃO DA PRAÇA DA INCONFIDÊNCIA EVOCA A LEMBRANÇA DA PRIMITIVA CAPELA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette Petrópolis vive um momento muito especial com o Plano de Revitalização do Centro Histórico, desenvolvido pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Município. Um marco na história de Petrópolis. Assim pode ser definido o referido Plano que já nos entregou a praça Dom Pedro e a Praça da Inconfidência inteiramente restauradas, o que demonstra que o Poder Público, na área municipal, felizmente, tem procurado resgatar nosso passado histórico. Isto é deveras elogiável e digno de registro, demonstrando maturidade e grandeza, que não podem passar despercebidas, merecendo o reconhecimento, a admiração e o registro, para conhecimento e gratidão da atual e das futuras gerações. Assim, obteve a melhor repercussão possível, em toda a cidade e fora dela, a entrega, pelo Governo Municipal, da histórica Praça da Inconfidência, que viu nascer em l883, fruto do espírito religioso de nossa gente, a Primitiva Capela de Nossa Senhora do Rosário. Nasceu a referida Capela da aspiração de um brasileiro notável e do esforço dos escravos negros, por ele libertados, como um oferecimento à mãe de Deus, como uma memória de reconhecimento, como uma oferta de sacrifício em pecúnia. O Conselheiro Joaquim Firmino Pereira Jorge, residente em nossa cidade, à rua da Imperatriz, desembargador aposentado, cavalheiro da ordem de Cristo e oficial da Ordem da Rosa, católico fervoroso, foi a seu tempo o grande apóstolo da causa abolicionista. Homem prático, dotado de grande tirocínio, ao libertar seus escravos, muito antes da Lei Àurea, logo se deu conta das dificuldades que estes encontrariam para se incorporar ao trabalho livre. Destarte, incluiu em seu testamento um cláusula que dispunha que seus escravos libertos “receberiam apólices da dívida pública federal, em uso fruto, passando esses títulos, por morte dos beneficiados, em plena propriedade, à Capela do Rosário”¹ O Conselheiro Joaquim Firmino cedeu 22 braças, das 66 de um terreno que possuía na rua Visconde do Bom Retiro, hoje Floriano Peixoto, para construção da Capela de Nossa Senhora do Rosário e ainda determinou em testamento, segundo nos informa Fróes que “caso após o falecimento de sua esposa, Dona Domitilla Francisca de Abreu Pereira Jorge não houvesse disposto das 44 braças restantes do terreno, passariam as mesmas a pertencer à Igreja…”² Foi a Capela inaugurada no dia 3 […] Read More

GUAPIMIRIM

  GUAPIMIRIM Antônio Izaías da Costa Abreu, Associado Titular, cadeira nº 3 DISTRITOS: Guapimirim ( distrito único ) EMANCIPAÇÃO: Lei n.º 1772, de 21 de dezembro de 1990 INSTALAÇÃO: 01 de janeiro de 1993. O município de Guapimirim criado pela lei n.º 1772, de 21 de dezembro de 1990, teve seu território desmembrado do município de Magé no qual figurava como 3.º distrito. A área foi habitada até meados do século XVII, como a de todo o recôncavo guanabarino, pelos tamoios, quando estes não mais podendo sustentar luta com os desbravadores foram-se retirando para o sul da capitania. O lastro exploratório da região verificou-se com a concessão de sesmarias após a expulsão dos franceses do Rio de Janeiro. Em cada uma delas a demonstração de cristandade e fé do sesmeiro se fazia através do levantamento de capela ao culto do santo de sua devoção. Assim é o caso da igreja de N. S.ª de Guapimirim. Sobre a sua fundação diz Monsenhor Pizzarro: “Em outra ermida dedicada a N. S.ª da Ajuda pelos fundadores Pedro Gago e seu irmão Estevão Gago, no distrito que do nome do rio próximo se conhece como o de Cernambytyba ou Saranabitiba, foi criada a paróquia denominada Aguapeí-Mirim desmembrando-se da freguesia de Santo Antônio de Sá o território que se adjudicou e nenhuma dúvida a respeito da sua antiguidade antes de 1674, por existirem datada na mesma Era as Constituições ali deixadas pelo prelado Silveira, depois da sua visita geral da Diocese, para bom governo e direção dos capitães curados”. ( In: “MEMÓRIAS HISTÓRICAS DO RIO DE JANEIRO”, v.3, p. 202/202v – Ed. Impremsa Nacional – 1945 ). Decadente esse templo substitui-lhe como matriz o de N. S.ª da Conceição, distante ¾ de légua o qual fora levantado em 1713, pelo Padre Antônio Vaz Tavares, até Antônio Pacheco Barreto doar outeiro chamado de Ingranamixamas, perto do rio Aguapeí-Mirim, conforme escritura pública de 12 de novembro de 1729, fls. 119 do livro 2 de Batismo e Óbito, e que deu início à construção de um novo templo com paredes permanentes de pedra e cal, concluída em dezembro de 1753. Foi numerada entre as igrejas firmes pelo Alvará de 15 de janeiro de 1755, sevindo como primeiro pároco o padre Antônio Ribeiro Rangel. Tinha por filiais as capelas de Sant`Ana, fundada em “Calundu” por Gaspar da Silva Borges, com provisão de 24 de julho de 1730; N. S.ª […] Read More

MAGÉ

  MAGÉ Antônio Izaías da Costa Abreu, Associado Titular, cadeira nº 3 DISTRITOS: Magé ( 1.º – sede ); Santo Aleixo ( 2.º); Suruí ( 3.º ); Guia de Pacobaíba ( 4.º ); Inhomirim ( 5.º ). EMANCIPAÇÃO: 07 de junho de 1789 INSTALAÇÃO: 12 de junho de 1789 ELEVAÇÃO A CIDADE: 02 de outubro de 1857 A origem do desbravamento do município de Magé data dos primórdios da colonização, quando, em 07 setembro de 1565 após a expulsão dos franceses do Rio de Janeiro, pelo reconhecimento dos relevantes serviços prestados na defesa da cidade, Simão da Mota é agraciado por Mem de Sá com uma sesmaria “com 600 braças de terra ao longo da água de 1000 braças pela terra adentro no rio Magé”. Simão da Mota ao tomar posse da gleba, escolheu para local de sua moradia o “Morro da Piedade”, próximo ao litoral. Contudo, talvez por segurança e melhor tamanho da terra, ali pouco permaneceu, mudando-se depois para o sítio denominado “Magé-mirim”, onde procurou erigir uma capela, sob a invocação de N. S.ª da Piedade, sendo esta no século seguinte convertida em matriz, pelo Alvará de 18 de janeiro de 1696. Com o aumento da população, novo templo é construído no mesmo local, desaparecendo assim o primitivo. É a origem da cidade de Magé. Região infestada pelos bravios tamoios ( alguns autores mencionam os timbiras, o que, não é correto, pois esses silvícolas jamais habitaram as terras na Capitania do Rio de Janeiro, e sim o Baixo-Mearim, no Estado do Maranhão ), não mais podendo estes sustentar lutas com os desbravadores, retiraram-se sem alternativa para o sul da Capitania. Já em meados do século XVII, por volta de 1643, outros colonos estabeleceram-se no lugar denominado “Pacobaíba”, atual “Mauá”; e, ali, num pequeno outeiro, um deles de nome Gaspar da Costa, para satisfazer sua devoção e para contemplação de uma Irmã chamada Margarida de Lima , constrói uma igreja, dedicando-a ao culto de Santa Margarida. Arruinado o templo, outro é erigido sob a invocação de N. S.ª da Guia, que é elevada à Paróquia no ano de 1647, somente alcançado a perpetuidade cento e oito anos mais tarde, pelo Alvará de 14 de dezembro de 1755; figurou como primeiro pároco; próprio o padre Antônio Ferreira. Tinha a Paróquia de N. S.ª da Guia de Pacobaíba; a Capela de N. Sª dos Remédios erecta em Mauá com provisão de […] Read More

BARTHOLOMEO PEREIRA SUDRÉ, O PAI DA IMPRENSA PETROPOLITANA

  O jornalista, escritor, professor de História e Geografia, Paulo Monte, em seu discurso de posse na Associação de Ciências e Letras, a hoje Academia Petropolitana de Letras, na tarde de domingo, 26 de julho de 1925, homenageando a figura notável de Franklin Távora, disse sobre a profissão de jornalista: “…A vida do jornalista é a mais singular, a mais interessante, a mais penosa e acidentada, a mais trabalhosa e enervante, a menos compensadora, a mais caluniada e a mais ingrata. O jornalista é, ao mesmo tempo, o indivíduo mais querido e o mais odiado. Todos o cortejam, porque é a vaidade que amolece a espinha dos cortejadores. O jornalista pode amanhã elevar a mediocridade a galarim da fama e pode, a poder de golpes de pena, sugestionando o público, sempre pronto a acreditar no que dizem os jornais, arrastar na sarjeta das vias o papo pando de um magnata. O jornal pode não arrancar os ídolos de seus pedestais, porém arranha bem fundo a glória dos semideuses. O jornalista é o homem rico de adjetivos. O seu segredo está, porém, em não desperdiçá-los. O jornal é um vício. Quem nele se inicia, jamais o abandona…” Nos primeiros tempos de nossa Petrópolis, naqueles dias de incertezas quanto ao destino da povoação, com a política provincial fervilhante de ações desrespeitantes do desejo maior do nascente povo, que era crescer a povoação para elevá-la à condições políticas condizentes com sua importância histórica de eleita do Imperador, a falta de comunicação entre o centro, os quarteirões e a própria Corte, exigiam a criação de um veículo informativo que noticiasse o que andava acontecendo e que, na mesma oportunidade, iniciasse a luta por melhores condições de vida. Eis que chega ao povoado um ilhéu da Madeira, filho de José Pereira Sudré e Maria Cândida Sudré. Dizia-se que havia nascido na Bahia e a especulação está por definir, ainda, nos meandros da documentação histórica, a verdade. Da Madeira, em Portugal, da Bahia, no Brasil, o que importa? Era um futuro e denodado petropolitano honorário que vinha para conquistar o respeito e a admiração do povoado. Seu nome de batismo: Bartholomeo Pereira Sudré. Nascera a 24 de agosto de 1825, a Petrópolis chegando na faixa de 30 anos de idade, jovem de cabeça coalhada de sonhos e sob o propósito de continuar exercendo o mister de jornalista, como o fizera em jornais da Corte e em […] Read More

TREZENTOS ANOS DE PEDÁGIO ENTRE RIO E MINAS

TREZENTOS ANOS DE PEDÁGIO ENTRE RIO E MINAS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima O Brasil nasceu, cresceu e se desenvolveu no salve-se quem puder, na improvisação, no engatilhamento, dando nó em pingo de éter. Vem da colônia o descaso do poder público pelo quotidiano e pelas necessidades do povo brasileiro. Somos o que somos graças à iniciativa privada, ao espírito aventureiro e sempre otimista de quantos se lançaram à incerteza das lavouras, dos garimpos, das tropas, das boiadas, das indústrias, numa terra de escravos, de mão de obra desqualificada, de precária ou mesmo inexistente comunicação interna, de baixo nível de consumo e de sanguessugas oficiais. À Metrópole só interessavam as vantagens que lhe podiam advir do fechado e monopolizador sistema colonial. Dos ônus, nem queria ouvir falar, muito menos de investimentos nos seus vastos domínios nesta banda do Atlântico. A doença ficou e tornou-se crônica, chegando com toda a força aos nosso dias. Até a Independência, vivíamos a remeter à Lisbôa o produto do nosso esforço, para sustentar o ócio e o parasitarismo de uma nobreza já decadente e a glutonice da raposa Albion. Durante o antigo regime, cada vez que se criava um município, a lei que o erigia como tal, obrigava a população da nova comuna a construir à sua custa as casas da Câmara e da Cadeia. E já agora, em pleno regime republicano, as prefeituras, como a de Petrópolis, por exemplo, não põe um tijolo em qualquer loteamento que se pretenda fazer, mas não deixam depois de comparecer para arrecadar o IPTU, sobre um investimento no que concerne à implantação do projeto, de que não participaram. Assim, voltando aos tempos coloniais, nenhum caminho, nenhuma ponte, nenhum canal veio a furo no Brasil, que não fosse através do sacrifício e do desgaste financeiro de particulares. Quando, na virada do século XVII .para o XVIII, Garcia Rodrigues Paes tornou possível a ligação do Rio de Janeiro com as minas dos cataguás, pelos vales do Paraíba e do Paraibuna, não havia naquele cometimento um tostão despendido pela coroa. Tudo que alí fora feito saíra do bolso do filho de Fernão Dias, inclusive no concernente à mão de obra escrava e livre. Num documento oficial saido das mãos do Governador do Rio de Janeiro, Artur de Sá Menezes, datado de 6 de outubro de 1699, lê-se que […] Read More

REVELAÇÃO DE UM PATRIMÔNIO CULTURAL (A)

A REVELAÇÃO DE UM PATRIMÔNIO CULTURAL Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Há certas incoerências e alguns paradoxos brasileiros, que longe de merecerem a crítica, a sátira ou a reprovação dos que os detectam, precisam ser valorizados como provas incontestáveis de nossa índole ecumênica, de nossa alma aberta aos povos, às crenças, às doutrinas e aos movimentos mais variados. As radicalizações, as xenofobias, os sectarismos e jacobinismos, foram sempre entre nós elementos circunstanciais e efêmeros, provocados por exaltações momentâneas conforme a maré e os ventos da política e dos costumes, quer no plano interno, quer no que concerne à conjuntura internacional. Não aprendemos a cavar fossos, abismos, precipícios, por questões de ordem étnica, racial, religiosa, social, ideológica. Edgar Hans Brunner, com a sua extraordinária visão do mundo, afirma que o Brasil é talvez o país mais tolerante que ele conhece. D. Pedro II, num momento de exaltação e de nervos à flor da pele, foi banido do país em 1889, mas vinte e um anos depois, aqui em Petrópolis, era homenageado em praça pública, quando da inauguração do monumento a ele dedicado. E o mesmo pano que protegeu a estátua do Marechal Floriano, antes de ser ela exposta aos olhos do povo, serviu para cobrir o velho Imperador, à véspera de sua entronização em bronze na cidade que carrega o seu nome. Mas Petrópolis registra outras curiosidades, que confirmam essa nossa tendência a misturar alhos com bugalhos: A rua Marechal Deodoro, desemboca na rua do Imperador; a rua Nilo Peçanha (republicano roxo) começa na Praça D. Pedro e termina na rua Barão de Tefé; e o Palácio Amarelo, símbolo do poder na República, está diante do antigo Palácio Imperial, hoje Museu. E para arrematar, Petrópolis é a única cidade do Brasil e das Américas a receber da República o título de Imperial. O Recife, tradicional baluarte republicano brasileiro, com suas memoráveis revoluções de 1817, 1824 e com a famosa Praieira, nunca admitiu que banissem de seus logradouros os nomes que lembram a monarquia, mantendo até hoje o Palácio das Princesas e o Testro Santa Isabel, como símbolos do antigo regime. E a republicaníssima cidade paulista de Itú, montou o Museu Republicano Convenção de Itú, em plena rua Barão de Itaim. Cheguei finalmente ao motivo desta matéria. Poucas comunas brasileiras retratam ao longo de sua história a nossa […] Read More