A PRIMEIRA ESTRADA DE FERRO DO BRASIL José Nicolau Tinoco de Almeida Nota: Transcrição da obra rara “Petrópolis – Guia de Viagem” – de J. Tinoco, editada no Rio de Janeiro, em 1885. Raul Lopes (…) Chega o viajante ao têrmo da viagem por mar avistando o pôrto de Mauá, situado entre as duas capelas da Guia (antiga Ermida de Santa Margarida) à esquerda e dos Remédios à direita. Daí a viagem é por via férrea. Começando no pôrto de Mauá a primitiva Estrada de Ferro de Mauá, a primeira que se inaugurou no Brasil, percorria, sem vencer dificuldades, terrenos pouco acidentados até a Raiz da Serra da Estrêla. A bitola era de 1,68m., a declividade máxima de 1,25%, o raio mínimo das curvas 290,32m., tendo zona privilegiada de 20 quilômetros ao lado. Por decreto nº 987 de 12 de junho de 1852 o govêrno concedeu privilégio por 10 anos para navegação a vapor entre a cidade do Rio de Janeiro e o Pôrto da Estrêla, donde começaria a construção de uma estrada de ferro até a Raiz da Serra, que foi concedida pela província a 27 de abril do mesmo ano. O concessionário da estrada foi o cidadão Irineu Evangelista de Sousa, barão e mais tarde visconde de Mauá com grandeza. A Companhia teve os estatutos aprovados por decreto nº 1.101 de 29 de dezembro de 1852; os trabalhos de campo foram encetados a 29 de agôsto do mesmo ano, entregando-se ao tráfego a 30 de abril de 1854 a 1ª secção, sendo inaugurado o trecho, que restava, em 16 de dezembro de 1856. O decreto nº 2.464 de 19 de setembro de 1860 aprovou os novos estatutos e ampliou por 30 anos o prazo do privilégio anteriormente fixado em 10. O marcado no privilégio concedido pelo então presidente da província Luís Pedreira do Couto Ferraz, depois visconde do Bom-Retiro, em 27 de abril de 1852 foi prorrogado por mais 70 anos em 21 de fevereiro de 1883. É esta a via férrea primogênita do Brasil, a patriarcal Estrada de Ferro de Mauá, cujo nome desapareceu para ser batizada com o de Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará. Assim transformada ela parte do Pôrto de Mauá, galga o vale e Serra da Estrêla, vai a Petrópolis e prolonga-se até S. José do Rio Prêto. Foram concessionários os srs. Calógeras e Berrini, mas dela já havia falado o prestante cidadão […] Read More
ESTABELECIMENTO HIDROTERÁPICO
ESTABELECIMENTO HIDROTERÁPICO Thomás Cameron Nota: “O Imperial Estabelecimento Hidroterápico funcionava à Rua de Nassau nº 8 (Av. Piabanha, 350). Foi instalado no prazo nº 648 do quarteirão Nassau, que pertencera, primitivamente, a João Meyer, conforme a planta de Petrópolis do major Koeler. Passou, posteriormente, a Bernardo José Falletti que o transferiu ao cidadão francês Antoine Court. Informa Alcindo Sodré (Centenário de Petrópolis – Trabalhos da Comissão, vol. VI, pág. 90) ali se praticava, com requinte hidroterápico, a ducha à la reine, ducha mitigada e ducha escocesa”. O texto foi transcrito da obra rara “Os estabelecimentos úteis de Petrópolis” de Thomás Cameron, editada em Petrópolis, em 1870 *. Raul Lopes * 1870 = data correta 1879 (edição de 23/10/2019) A hidroterapia ou método de tratamento que consiste em combater as moléstias pelo uso da água fria, conhecida em tôdas as épocas da história da medicina, foi desde 1828 posta em voga por um aldeão da Silésia, chamado V. Priessnitz, que morreu em 1851, e exercida por espaço de trinta anos em um estabelecimento fundado por êle em Graefenberg. Mais tarde muitos estabelecimentos análogos ao de Graefenberg foram fundados na Prússia – em Marienberg, e em França – em Paris, Bellevue, Auteuil, Issy, Lyon, Dijon, Divonne, etc. A respeito dêsse sistema muito escreveram Scouletten, Schedel, Gillebert-Dhercourt, e outros profissionais. Reconhecida a hidroterapia como sistema que dava bons resultados em muitas enfermidades vulgarizou-se ela, de forma a caber-nos por nossa vez. Mas para que mais eficaz seja o resultado e mais pronta a cura, é de necessidade que a escolha da água seja o primeiro cuidado do que tomar a si a criação do estabelecimento destinado a êsse fim. Porque é da qualidade da água que depende a maior ou menor presteza na obtenção da cura – como já o têm dito os que do assunto se têm ocupado. O sr. A. Court, cidadão francês, residente nesta cidade, encontrou aqui, na rua Nassau, um terreno – escabroso na verdade – mas que lhe oferecia uma excelente água com a altura suficiente, e além do mais com vantagem da localidade – a mais aprazível que se pode imaginar. Outro que não êle, medindo a extensão do sacrifício e calculando os esforços de que teria de lançar mão para vencer as escabrosidades do terreno até poder edificar o importante estabelecimento que ali hoje se apresenta, de certo recuaria, considerando a emprêsa – não só dificílima – mas […] Read More
PALÁCIO SÉRGIO FADEL
PALÁCIO SÉRGIO FADEL Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, cadeira nº 25 – Vi há dias um convite da Fundação de Cultura em que se mencionava Palácio Koeler como local do evento. Talvez reprodução de modelo faz tempo não atualizado, o engano tipográfico por certo passou desapercebido aos maiores responsáveis pela instituição, gente que tenho por séria, culta e sabedora de sua obrigação de cumprir as leis, além de ciente do peso do exemplo das ações praticadas pelas autoridades. O Instituto Histórico de Petrópolis, em um de seus mais específicos estudos e pronunciamentos da matéria que lhe é própria, expressamente analisou a troca legal da designação do palácio da sede do poder executivo municipal e concluiu que não havia ofensa à história e à boa tradição petropolitanas. Na verdade, o prédio não tem qualquer vinculação histórica com o sempre admirável e reverenciado Koeler. O nome respeitável foi atribuído em circunstâncias bem conhecidas porque participadas pelo presidente do Instituto. Estas circunstâncias estavam principalmente marcadas pelo fato da ausência de predominante apelativo anterior do prédio com notas de tradição. Da mesma forma, quando alterado, tal primitivo nome oficial ainda não tivera utilização por aquela larga extensão de tempo que carateriza uma tradição. Ou seja, não se elevara a “hábito transmitido de geração em geração” conforme tecnicamente se conceitua tradição. Foram pouco mais de dois anos de duração do Decreto n.º 733/96. O pronunciamento do Instituto foi objetivo e isento. Por outro lado, o imóvel tem tudo a ver com o Prefeito Sérgio Fadel e a história do poder executivo municipal petropolitano. Desde a criação republicana do cargo, a ele conferidas as funções executivas que antes competiam ao presidente da Câmara juntamente com as legislativas, o prefeito de Petrópolis foi um sem teto. Esteve de favor no prédio da Câmara Municipal, desde Oswaldo Cruz até Paulo Gratacós. Este, almejando mais alto, mas não tendo podido chegar a tanto, transferiu condignamente a sede do executivo para o Palácio Mauá, alugado para isto. Foi uma cerimônia tocante, assistida com forte emoção, cheia de significado muito bem ressaltado pelo Prefeito. O poder por ele representado principiou a externar no espaço físico do território serrano a independência prevista em lei. Mas os alcaides petropolitanos ainda continuavam em casa alheia. Foi Sérgio Fadel quem consolidou a posição correta do executivo, instalando-o com a devida dignidade, em imóvel cuja aquisição negociou, concluiu e quitou. Comportamento administrativo perfeito, acabado, […] Read More
CENTENÁRIO DA MORTE DO VISCONDE DE TAUNAY (O)
O CENTENÁRIO DA MORTE DO VISCONDE DE TAUNAY Francisco de Vasconcellos, Associado Emérito – O teuto-riograndense Karl von Koseritz, crítico desabrido e contundente das mazelas do Brasil Império, cronista do Rio e de Petrópolis durante sua viagem de 1.883, foi quiçá o primeiro a fazer um esboço bio-bibliográfico do Visconde de Taunay. Fe-lo em meados dos anos oitenta do século passado, ainda em vida do retratado, através de um opúsculo, cuja segunda edição, existente no Museu Imperial é de 1886. Este folheto fez carreira brilhante e não incorreria em erro quem afirmasse ter sido aquele esboço a fonte de que se socorreram ao longo dos anos, os que intentaram construir a imagem dessa figura singular da intelectualidade brasileira, que recebeu na pia batismal o nome de Alfredo Maria Adriano D’Escragnole Taunay. Alfredo nasceu no Rio de Janeiro aos 22 de fevereiro de 1843. Filho do comendador Felix Emílio Taunay, Barão de Taunay (1795/1881) e de Gabriela Hermínia D’Escragnole Taunay, era neto paterno de Nicolau Antonio de Taunay, que foi um dos fundadores da Academia de Belas Artes. Descendia na verdade de dois velhos troncos da nobreza da França e da aristocracia de espírito daquele país. Menino de muito talento, demonstrando desde cedo múltiplos pendores, tornou-se bacharel em ciências físicas e matemáticas, graduando-se como engenheiro geógrafo em 1863. Tinha então vinte anos e já metido na carreira militar, pois sentara praça em 1861, acabou engajando-se na campanha do Paraguai, tendo participado da histórica e dramática retirada da Laguna, que lhe deu argumento para escrever obra de renome internacional, já que foi traduzida até para o sueco. Fez-se auxiliar direto do Conde D’Eu, já na última fase da guerra e voltou ao Rio de Janeiro coberto de glórias, fazendo jus à medalha do Mérito Militar, que recebeu com todas as honras. Chegou ao posto de major. Foi professor de história e línguas, na Escola Militar. Superada essa fase guerreira, Alfredo D’Escragnole Taunay dedicou-se à política, às letras e às artes. Trabalhou como jornalista, historiador, romancista, crítico, músico e pintor. Em 1869, ingressou no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, de que foi membro dos mais destacados e laboriosos. Em 1874 casou-se com Cristina Teixeira Leite, filha do Barão de Vassouras. Taunay era oficial da Ordem da Rosa e cavaleiro das ordens do Cruzeiro, de Cristo e de São Bento da Aviz. No apagar das luzes do Império, a 6 de setembro de 1.889, […] Read More
S O S PARA O ÓRGÃO DA CATEDRAL
S O S PARA O ÓRGÃO DA CATEDRAL Raul Ferreira da Silva Lopes, ex-Associado Titular, falecido O órgão da Catedral, há aproximadamente vinte anos, emudeceu! É lamentável que um instrumento tão valioso como ele esteja relegado ao silêncio por falta de manutenção! Ele é um patrimônio cultural-musical da Catedral e de nossa cidade. Sua potência e sonoridade o colocam entre os maiores do Brasil. Projetado e fabricado no Rio de Janeiro nas oficinas do organeiro alemão, Guilherme Berner, por muitos anos deu suntuosidade musical à Catedral. Vejamos como o vespertino do Rio de Janeiro “A NOITE”, nos anunciou sua inauguração: “Petrópolis, 26.01.1937 (Da Sucursal de “A Noite”) – A Catedral de Petrópolis que guarda os despojos dos Imperadores, vai cada dia que passa, constituindo-se num valioso monumento de arte, mercê das doações dos fiéis com que é beneficiada. Agora, será um magnífico órgão, o maior e o mais pomposo do Brasil, que virá acrescentar, à majestade interior da história matriz, uma nota viva de grandeza e suntuosidade. O instrumento é oferta da Sra. D. Olga Rheingantz Porciúncula. Foi projetado e construído no Rio de Janeiro, com materiais e mão de obra nacionais, pelo artista organeiro Guilherme Berner, introdutor da indústria do órgão no Brasil. Montado sobre vigas de ferro, na nave posterior do templo, pesa 9 toneladas, medindo 8 metros de largura por 9 de altura. Dispõe de mil e quinhentos tubos sonoros – (na primeira fase) – dos quais o maior mede 6 metros. Funciona por um moderníssimo sistema eletro-pneumático e acionado por um grupo motor-ventilador-dínamo de 2 HP. A consola, móvel e ultra-moderna, é provida de 18 registros, com duas combinações livres, para dois teclados. Um terceiro teclado será instalado em futuro próximo – (2ª fase). Foram empregados 8000 metros de fio nas diversas ligações. É, enfim, um instrumento que honra sobremodo a iniciante indústria nacional. A solene inauguração do novo órgão terá lugar no próximo domingo, 31 de janeiro, às 9 horas, com a presença do bispo diocesano, D. José Pereira Alves, que procederá à sua benção, pronunciando, no ato, ligeira alocução. Logo após, o vigário de Petrópolis, padre Gentil da Costa, que muito se esforçou para que o órgão viesse a integrar o patrimônio da Catedral, oficiará missa solene, com assistência pontifical.” Para iniciar um movimento de S O S para o órgão que necessita de uma restauração plena na parte elétrica, nas válvulas e na […] Read More
QUATROCENTOS ANOS DO PADRE ANCHIETA (OS)
OS QUATROCENTOS ANOS DO PADRE ANCHIETA Paulo Roberto Martins de Oliveira, Associado Titular, cadeira nº 10 – Não posso iniciar este trabalho, sem antes lembrar o saudoso amigo José Leonisse De Cusatis, sabendo que jamais o teremos materialmente entre nós. Porém o que nos confortará, será a sua lembrança como exemplo de grande educador, historiador, pesquisador e escritor responsável por tantas obras que nos legou. Dedicado às causas nobres de Petrópolis, deu parte de um bom tempo de sua vida, nas páginas e mais páginas da nossa histórica cidade Imperial. Para este ano, De Cusatis programou várias palestras, escolheu as datas e os oradores. Em dezembro passado, recebi um telefonema do nosso saudoso presidente, convidando-me para ser um dos palestrantes e fiquei lisonjeado por ter sido escolhido entre tantos ilustres historiadores. De pronto imaginei que poderia ser algo relacionado à colonização germânica. Mas pelo contrário, De Cusatis já havia escolhido o tema ou melhor os temas: “A Revolução Francesa” (devido a data marcada da palestra para 14 de julho – dia Nacional da França) e “Os 400 Anos do Padre Anchieta”. A princípio relutei. Pois voltado para os meus estudos histórico-genealógicos e de acordo com a data que me apresentou, este seria um período que estaríamos comemorando ainda a data de chegada dos nossos colonizadores. Dei até uma sugestão a De Cusatis. Porque não convidas o Professor Jerônimo para a palestra sobre o Anchieta. Pois sabemos que ele é um profundo conhecedor e pesquisador dos assuntos religiosos. Com aquelas palavras francas, dísse-me: “eu já esperava esta tua reação, porém não adianta reclamar. Pois o Jerônimo terá outra missão”. Hoje vejo o amigo e ilustre Professor Jerônimo Ferreira Alves presidindo esta casa e me pergunto. Será que esta era a missão a que se referia o saudoso De Cusatis? Passado alguns meses do primeiro contato, em meados do mês de maio, De Cusatis participou-me que o tema “A Revolução Francesa”, poderia ser feita por uma outra pessoa. Caso não me opusesse. Porém ficou de passar maiores informações, o que infelizmente não foi possível. Em recentes entendimentos com os consócios: Hamilton C. Frias Martins e o atual presidente Jerônimo Ferreira Alves Netto, decidimos então que o ilustre Advogado Guy La D Vocat, pessoa totalmente simpática ao nosso Instituto e pelo seu grande interesse pelas causas históricas francesas, fizesse então esta parte das palestras, que, com certeza nos levará ao século XVIII num […] Read More
PROCESSO DE INDEXAÇÃO DOS JORNAIS OPERÁRIOS PETROPOLITANOS
Processo de Indexação dos Jornais Operários Petropolitanos (1) / (2) Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, Cadeira nº 13 – (1) Este ensaio inédito é resultado do processo de indexação que realizamos em 1982, nos jornais operários da hemeroteca pública petropolitana, pertencente ao Arquivo Público e Histórico do município, sediado na Biblioteca Municipal de Petrópolis, e não publicados até a presente data. (2) Consideramos essencial a condição de efetivar em registro todos os trabalhos e ensaios realizados e não publicados sobre a história da imprensa e do operariado em Petrópolis, que são fruto de pesquisa no decorrer dos últimos vinte anos. Assim procede neste momento com a indexação destes únicos exemplares de jornais operários que eram presentes à época, 1982, ao conjunto da coleção da hemeroteca petropolitana. A ORDEM Edição no. 3 – 10/10/1917 pg. 2 – “Centro Operário Primeiro de Maio” – A diretoria convoca os sócios para reunião em 14/10/1917, às 16 horas para assunto de interesse do proletariado e convoca os delegados para entregarem listas dos associados; “Operários” – artigo defendendo o operariado e alertando contra as injúrias cometidas contra o Centro Operário Primeiro de Maio e conclamando-os a se unirem ao centro para organizar melhor o poder de lutar – autor, Orlindo Xavier; “Petelecos” – “Porque os operários da Fábrica da Cometa do Alto da Serra foram revistados à saída do trabalho? – Ora! Não sabes o porquê? – Surrupiaram o “bigode”(3) do “fantasma”.”; pg. 3 – “O Fantasma Azul” (4) – Crônica mostrando ser a problemática da Cia. de Tecidos Cometa de ordem técnica e da péssima qualidade da matéria prima e dos maquinários, isentando-se a responsabilidade dos operários que são pressionados e culpados pelo péssimo produto. – autor, Cometa (pseudônimo) (5); (3) Expressão usada na época para designar “arma de fogo”. (4) Dirigido indiretamente a um dos vários capatazes da Empresa, segundo informações de um de seus ex-funcionários da época, já falecido, que não quis identificar-se no ensaio (5) Provavelmente à época um operário que tenha passado a informação a Bertho Condé. “Operários”- Alerta para a organização em partido político pelo operariado para que não sejam ludibriados – Feito isto fortalecera a classe elegendo seus próprios companheiros – O governo exige a presença de todos e é lamentável que as classes produtoras, que formam a maior parte da população, não tenham seus representantes. Edição no. – 13/10/1917 pg. 1 – “Notas & Fatos” – […] Read More
PETRÓPOLIS A OUTRA, UM INVISÍVEL UNIVERSO OPERÁRIO
Petrópolis, a Outra! Um invisível universo operário Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, cadeira nº 13 – In memoriam de Oazinguito Ferreira da Silveira, meu pai, um “tintureiro” das fábricas, mas um libertário, anarquista na juventude e logo assumidamente comunista, buscava seu próprio caminho. “¿Dónde vas con paquetes y listas? Que de prisa te veo correr. Al Congreso de los anarquistas para hablar y hacerme entender. Explicadme un momento siquiera anarquista, ¿qué quiere decir? La inmensa falange obrera que reclama el derecho a vivir. El obrero que suda y trabaja ¿Dime cómo es que puede estar mal? Pues el burro que come la paja lleva el grano para otro animal. Es extraño, pero no lo entiendo que pretende tu nueva alusión. Que lo mismo le va sucediendo al obrero con su producción.” (La verbena anarquista, considerada Marsellesa Anarquista. versos cantados utilizando-se a canção de Tomás Bretón (1792), La Verbena de La Paloma) (1) (1) Guido, Carla Rey e Walter. Cancionero Rioplatense, 1880-1925, Biblioteca Ayacucho. Introdução A primeira vez que me encontrei com esta canção era pequeno e ouvia meu pai, tintureiro na Cia. São Pedro de Alcântara de Petrópolis (1960) a assoviar entre as tinas industriais que recebiam tecido cru para serem tingidos à pressão de água e vapor sob sua orientação ou então às escondidas em casa quando analisava em um micro visor a qualidade dos tecidos e dizia que as “chitas sempre foram poderosas, mas nunca lhe deram o valor que merecia”. Chita, um histórico tecido criado em sociedades orientais como a hindu, concorridamente populares, mas de um esplendor pelas imagens e desenhos possíveis de serem impressas. Mas nunca lhe questionei absolutamente nada, mas a melodia seguiu habitando meu inconsciente, se incrustando em minha memória e me acompanhando a fase final da adolescência. Em Niterói a ouvi novamente de um professor da UFF (1977) e ele me disse que esta musica foi uma famosa canção anarquista. Mais tarde deparei-me novamente com esta referência do cancioneiro anarquista, justamente na obra memorialística de Zélia Gatai, Anarquistas Graças à Deus obrigando-me a resgatar um universo em minha vida para o qual nunca mais havia me detido e nem me obrigado a registrar, tamanho o egoísmo que residira em minha adolescência e que me levou o pai. “Elas cantavam e o público fazia coro no final, todos repetiam o ‘vivir!’ a plenos pulmões. Nunca consegui encontrar nada tão vibrante capaz de […] Read More
GETÚLIO VARGAS DO PAMPA À SERRA
GETÚLIO VARGAS DO PAMPA À SERRA Francisco de Vasconcellos, Associado Emérito – Atração dos opostos ou afinidade, o certo é que Getúlio Vargas, filho da fronteira aberta da campanha gaúcha, rebento de São Borja, na velha zona missioneira, foi de uma fidelidade impressionante à serra, desde que fixou-se em Ouro Preto, ainda jovem, para levar avante sua formação nas chamadas humanidades. Depois, já como chefe do Governo Provisório, após a Revolução de 30, a Petrópolis veraniega jamais saiu da cogitação getuliana e, quando eventualmente daqui saía durante a “saison”, buscava a serra mineira do circuito das águas, visitando ora São Lourenço, ora Caxambu, ora Poços de Caldas. A serra é um convite permanente à reflexão, ao recolhimento, ao cultivo do espírito e das idéias. A serra no trópico é benfazeja, pelas amenidades do clima. A alma retrancada, cismarenta e precavida de Getúlio, encontrou boa acolhida nas quebradas protetoras e hermetizantes da Estrela e da Mantiqueira. O gaúcho do pampa destabocado e desabrido, amineirou-se no alcantilado das vertentes do Paraíba e do rio Grande. Em 16 de março de 1931, Vargas chegava a Petrópolis, para o seu primeiro veraneio oficial, que durou 36 dias, tendo terminado a 20 de abril. Não se tratavam de férias propriamente ditas, pois o Chefe do Governo não se restringia aqui a desfrutar da calma da cidade, da temperatura agradável, dos passeios pelas ruas e arredores e dos compromissos sociais. Havia sempre papéis a despachar, assuntos a reclamar acurado estudo, audiências, reuniões com assessores e credenciais de representantes diplomáticos a receber. E tudo isso respingado de crises, ameaças, boatos, descontentamentos, muitos deles oriundos da transição que parecia fazer-se no país. De qualquer forma a vida no Rio Negro, sem o desgaste da velocidade das comunicações dos dias que correm e sem a complexidade de um Brasil às vésperas do terceiro milênio, era incontestavelmente muito mansa e portanto restauradora. Do Diário/relatório de Getúlio referente ao verão de 1931, num tom monótono e frio como sapo, em linguagem quase telegráfica, consta apenas um fato relevante em termos locais, já que o resto se refere à politicagem nacional, ao azedume dos interesses contrariados, à fermentação dos arraiais descontentes. Pura briguinha pelo poder no quintal. Raça infame. Era 19 de abril de 1931, dia em que o Chefe do Governo Provisório da República completava 48 anos. E ele registrava: “Sendo dia do meu aniversário não quis incomodar a ninguém com […] Read More
PALÁCIO DE CRISTAL, OUTRA VEZ !
PALÁCIO DE CRISTAL, OUTRA VEZ ! Raul Lopes, Associado Titular, falecido – Usando o velho ditado: “água mole em pedra dura, tanto dá até que fura”, volto ao assunto, já por várias vezes aqui apresentado. Isto porque há perspectivas de “novas obras” no nosso Palácio de Cristal. Uma pergunta se repete: vão Reformar ou Restaurar? Reformar é sinônimo de tapear/maquiar com massa e tinta e alguns remendos inconseqüentes, como vem acontecendo desde 1968. Antes deixaram o patrimônio sem conservação, tendo sido usado para várias finalidades como sede do Corpo de Bombeiros, Museu Histórico, tendo no lugar dos vidros, tapumes, e outras mais atividades. Quando cheguei a Petrópolis, em 1964, o nosso monumento histórico era um vergonhoso esqueleto enferrujado e abandonado, numa “praça” também abandonada… Por volta de 1968 a administração municipal resolveu “recuperar” (?) o esqueleto, cuidando da praça, colocando grade a sua volta – as originais já não existiam – e em vez de terem a sensibilidade histórica de seu valor para com a cidade, restaurando-o, mesmo que isso levasse alguns anos, “reformaram-no”, ou melhor, maquiaram-no com tinta e massa. Assim vem acontecendo até nossos dias e ele já estava a caminho de ser outra vez um esqueleto ou até desmoronando por excesso de menosprezo. É impressionante como uma cidade, dita imperial e histórica, deixa isto acontecer em sucessivas administrações e não surge movimento algum para salvá-lo ! Agora, se não for nova ilusão, vão “fazer obras” nele. E é por este motivo que passo a repetir o porquê ele é um patrimônio valioso da cidade, do país e do mundo, que merece todo o respeito ! Sua origem está na grande Revolução Arquitetural que aconteceu nos séculos XVIII e XIX e dela fez parte, embora não conste nominalmente nesses relatos. Porém, as datas o confirmam. Na “História da Arte”, de Germain Bazin, Conservador-Chefe do Museu do Louvre, encontramos um capítulo destinado à Revolução Arquitetural (pags. 400 a 406) desde sua origem até fins do século XIX, onde se encaixa a construção, também, do nosso Palácio de Cristal. Com licença dos leitores, voltamos novamente ao resumo do assunto: “A técnica do ferro, com o desenvolvimento de sua tecnologia durante a Revolução Industrial, começou a colocá-lo na aplicação em construções de pontes, gares, edifícios industriais, na Inglaterra, em fins do século XVIII. Depois penetra na arquitetura de habitação com o pavilhão de Brington, concepção de John Nash, onde o ferro […] Read More