A FAMÍLIA KOPKE E SUA OBRA EM PETRÓPOLIS (Introdução) Carlos O. Fróes, Associado Titular (falecido) Há 150 anos atrás — por volta do final de 1847 — os irmãos Guilherme e Henrique Kopke fizeram suas primeiras incursões à Imperial Colônia de Petrópolis, onde pretendiam dar execução a um audacioso projeto concebido por eles em Sabará para a construção de um modelar estabelecimento de ensino particular. Ambos eram portugueses de nascimento com origem germânica. Três anos antes, Henrique obtivera uma carta de naturalização brasileira, ao que tudo indica, para se qualificar, ante a legislação do País, ao exercício da direção de um colégio. Naquela remota, precária e futurosa colônia que mal acabava de se estruturar e ensaiava os primeiros passos como povoado, adquiriram um grande terreno onde iniciaram a construção de um majestoso conjunto arquitetônico, absolutamente adequado aos requisitos escolares propostos. Em seguida, cuidaram de fixar residência nas proximidades do local da obra. Ali, Henrique ampliou e criou sua prole, o que deu origem a cinco ramos de família. O ” Collégio de Petrópolis “, concluído em meados de 1849 e inaugurado a 1.I.1850, obteve amplo sucesso e foi consagrado sob o nome de “Collegio Kopke “. O Engenheiro Guilherme Kopke, deixou Petrópolis logo aos primeiros anos da década em curso, a fim de cuidar de seus negócios na Europa. O Professor e Advogado Henrique Kopke integrou-se desde o início à emergente comunidade, participando efetiva e intensamente do processo embrionário de formação social, política e cultural da localidade que muito breve desabrocharia como cidade. Todos os seus filhos receberam a formação primária e secundária em Petrópolis e, a partir de 1875, foram deixando a cidade, paulatinamente, em busca de novas oportunidades, implantando seus ramos em Bemposta, São Paulo, Rio de Janeiro e Niterói. Dentre eles, o que permaneceu mais tempo em Petrópolis foi Henrique Kopke Jr. que, seguindo os passos de seu pai, exerceu diversas funções e cargos de grande expressão no Município, inclusive, presidindo por dois mandatos a Câmara Municipal. Já no período republicano, culminou pelo exercício do cargo de Diretor da Secretaria do Interior e Justiça do Estado do Rio de Janeiro, ocasião essa em que ocupou – interinamente e por quase três anos – a pasta do Interior e Justiça. Em decorrência do retorno da Capital do Estado para seu local de origem, ele se transferiu com a família para Niterói, em 1904, deixando de acompanhá-lo, apenas, uma […] Read More
MEMORIAL DA RUA DO IMPERADOR
MEMORIAL DA RUA DO IMPERADOR Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, Cadeira nº 13 – “Se esta rua… se esta rua… for uma cidade?” Introdução “O prefeito Cardoso de Miranda, proíbe a construção de “arranha céus”, na cidade a fim de conservar suas características primeiras. “ (Proibido Arranha-céus, Tribuna de Petrópolis, 09/08/1940) “Iniciará as obras de um grande arranha céu, entre a futura rua Centenário, com frente para a rua Alencar Lima, isto de acordo com o ato municipal que proíbe tais construções.” (O Progredir de Petrópolis, Tribuna de Petrópolis, 09/08/1940) Uma rua é um lugar material, quase sempre onde a memória encontra-se presente provocando o imaginário, tamanha sua funcionalidade pela exposição cotidiana e temporal das operações exercidas na mesma pela sociedade e que adquirem função de “desfiar” constantemente as memórias coletivas apresentadas pelo conjunto de relações simbólicas que se revelam proporcionando uma identidade significante. Assim, o contexto urbano de nossas cidades apresenta diversos “lugares de memória”, como assinala Pierre Nora e que com distância temporal pode torná-los apaixonantes. Petrópolis apresenta alguns destes casos especiais onde o contexto historiográfico procurou preservar este patrimônio imaginário, como o caso da Rua do Imperador, sua primeira e principal artéria urbana, que de um “caminho de mineiros” observou a promoção do nascimento da povoação. Historiógrafos, historiadores, pesquisadores e cronistas petropolitanos, conseguiram reunir anotações com a presença de fatos e acontecimentos diversos ocorridos pela sesquicentenária vida desta importante rua, dos quais procuramos tecer com suas impressões um memorial onde a memória desvelada pela história construída pelas transformações ocorridas nesta rua, constrói telas tecidas de ações físicas em urdume único e inigualável pelo decorrer do século XIX, por onde se cruzaram nações, refugiados e colonizados. Especialistas consideram a história urbana uma disciplina de máxima importância para o desenvolvimento dos estudos históricos de qualquer comunidade, principalmente quanto a organização social das comunidades humanas que pela cidade transitam e evoluem a partir de determinadas condições sociais ou econômicas próprias, ou forjadas por necessidade da própria organização política. Petrópolis é por sua origem uma presentificação urbana característica do movimento da engenharia européia de meados do século XIX, mesmo que muitos não a considerem inserida no contexto da História Geral, sua criação não foi uma simples aventura arquitetônica de um alemão em terras tropicais, mas uma assinatura, uma marca, quem sabe uma “griffe” em pleno século de transformações e imposições que é o século XIX na seqüência do revolucionário […] Read More
DISCURSOS – INÍCIO GESTÃO 1983 – Ruth Boucault Judice
DISCURSOS – INÍCIO GESTÃO 1983 Ruth Boucault Judice, Associada Titular, Cadeira nº 33 – Consócios Amigos, Se o relatório final da minha gestão, 81-82, foi de pessimismo, foi de uma realidade tristemente constatada, quero trazer com essas palavras na minha re-eleição, gentilmente solicitada por vocês, palavras de otimismo, usar o sinal positivo numa época de tantas cargas negativas! Como já disse fizemos pouco no primeiro biênio. Mas esse pouco, já foi alguma coisa. E pouco é mais do que nada, é o começo, talvez algo de peso. Pois tudo tem seu começo. E já começamos. Vamos retomar o passado e elaborar o presente. Quero contar com a cooperação de todos, por menor que seja vai somar no nosso computador. E ficará registrada para que cada um se conscientize do que pode fazer e qual, de fato, tem sido sua colaboração. Temos no momento uma secretária, gentilmente cedida pelo Museu Imperial, estagiária capacitada e que, se seguir conosco como aspiramos, será de grande valor, pois será o elo entre os nossos vai-e-vem atropelados e as nossas realizações. A pedidos, mudamos nossas reuniões de 6ª para 5ª feira às 17h45, para que terminem impreterivelmente às 19h. Em cada reunião depois de discutidos os assuntos em pauta, teremos sempre a exposição de algum tema cultural, exposto por qualquer sócio ou por algum convidado escolhido na reunião anterior. Chegamos a fazer isso com algum sucesso, no ano passado. Temos uma programação elaborada, já com o auxílio de nossa secretária. Vou apresentá-lo agora a vocês e em seguida às autoridades arroladas no caso. Se tivermos aprovação geral, ou alguma modificação, enfim, depois de acertados, faremos com que as decisões sejam cumpridas. PROJETO – A viabilização do Museu na Casa Cláudio de Souza comportando: Setor de Teatro, Música Brasileira e Literatura Brasileira. – Com exposição permanente: – Referente à música, teatro, literatura, etc… – Casa Cláudio de Souza aberta a visitação. – Exposições temporárias: – Iconográficas; – Comemorativas – Referentes a pesquisas realizadas sobre assuntos de música, teatro. Petrópolis e história em geral. Atividades no local, para as seguintes clientelas: – Comunidade e público em geral: – Pequenos concertos; diurnos e noturnos; – Palestras; – Concursos; – Cursos; – Lançamento de livros. – Alunos de 1º e 2º graus: – Teatro; – Música; – Literatura; – História da Arte e Preservação de Patrimônio. Teríamos assim um funcionamento permanente na Casa Cláudio de Souza: – Museu – Pró-Memoria; […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS [ADRIEN DELPECH]
RESGATES PETROPOLITANOS [ADRIEN DELPECH] Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito – Adrien Delpech, cultor das letras e das artes precisa ser trazido à tona da memória desta urbe no ensejo do setuagésimo aniversário de sua morte. Nascera ele na Bélgica, em 1867 e, em 1892, chegava ao Brasil no vigor de seus 25 anos. Radicou-se no Rio de Janeiro. Com excelente formação humanista e dotado de atributos pedagógicos, não lhe fora difícil incorporar-se ao seleto corpo docente do Ginásio Nacional, que fora o Colégio Pedro II e que, passada a fúria demolidora do início da República, fora rebatizado com o nome do Imperador. Delpech fora contemporâneo de um outro belga, Luis Cruls, que, no inicio dos anos noventa dos oitocentos chefiou a missão encarregada de levantar e demarcar a área onde deveria instalar-se a nova capital brasileira, projeto que só viria a furo sessenta anos depois com o advento de Brasília. Este mesmo Luis Cruls, pai do escritor Gastão Cruls, estava aqui em Petrópolis, em 1899, regendo uma das cadeiras do Ginásio Fluminense, lamentavelmente de vida efêmera. E foi Luis Cruls quem aproximou o professor Delpech destas serras, conforme o depoimento do filho deste, Paulo Weguelin Delpech, que eu conhecera no Rio de Janeiro no início da década de sessenta dos novecentos. Encantado com o clima, a tranquilidade e a beleza da cidade, Adrien Delpech passou a veranear aqui , participando ativamente da vida intelectual desta urbe nas três primeiras décadas do século XX. Adrien Delpech deixou-se impregnar dos encantos tropicais e procurou o quanto possível enfronhar-se na cultura brasileira. Interessado na música e nas artes plásticas, teve uma enorme predileção pela obra de Jean Baptiste Débret. Na literatuda dedicou-se escarafunchar a fecunda produção de Machado de Assis e as elaborações dos poetas românticos e parnasianismo . Relacionou-se com Raimundo Corrêa, Alberto de Oliveira e Olavo Bilac. Iniciava-se o ano de 1929, ano difícil para o Brasil e para o mundo. Crise à vista. Mas aqui em Petrópolis, com o início da estação de veraneio, tudo era alegria e sorriso. Festas, promoções culturais, recreativas, beneficentes. No Tênis Clube, a “jeunesse dorée” dava a nota bizarra aos concursos de “prince” e “princesse” “de la saison”. Enfim um luxo e uma enorme exibição de bom gosto e de fino trato. Era o tempo da Associação de Ciências e Letras, fundada em 1922 e que em breve resolver-se-ia na Academia Petropolitana de […] Read More
DAS OVELHAS AO PASTOR QUERIDO!
DAS OVELHAS AO PASTOR QUERIDO! Fernando Antônio de Souza da Costa, Associado Titular, Cadeira n.º 19 – Patrono Galdino Justiniano da Silva Pimentel O rebanho de Cristo vive momentos de júbilo e ação de graças: os oitenta e um anos de vida e bênçãos do Monsenhor Paulo Daher. O Clero, os paroquianos, os familiares, os amigos, os admiradores, os alunos e os ex-alunos do querido Pastor em Cristo se unem em orações. É a tradução do amor, mercê das raras virtudes que o ornam tendo como fio condutor o Deus Uno e Trino e o pálio da Mãe Maria Santíssima. Neste pastoreio se somam ao ministério sacerdotal, o exercício ininterrupto das funções de professor, “Ministro” de Disciplinas no Seminário Diocesano, Diretor da Obra das Vocações Sacerdotais, Promotor Vocacional e Diretor Espiritual no Seminário Diocesano, além de Professor de diversos colégios da cidade, inclusive do Colégio Santa Isabel, do qual é Capelão e Orientador Religioso, com destaque também o período de docência junto à Universidade Católica de Petrópolis. De 2008 a 2011 exerceu as funções de Vigário Geral da Diocese e a partir do ano de 2012 foi nomeado Administrador Diocesano em cuja missão permanece até à presente data para a glória de Deus. Integra diversas instituições culturais e atuou em vários programas religiosos nas rádios da cidade. Há anos publica artigos na imprensa local sobre assuntos religiosos e educação, com ênfase à Lectio Divina, de suma importância pedagógico-teológica a todos nós. Possui rica bibliografia e muitas dessas obras têm merecido acústica internacional. Ao longo da existência nos dá o testemunho de vida e do apostolado através do exercício do Ministério Sacerdotal. É a expressão e exemplo de virtude, de fé, de esperança e da certeza na vida eterna. Estamos convictos de que a Missão Sacerdotal é a máxima realização para um homem na Divina missão de nos conduzir à santidade. E ela se define no Livro do Profeta Jeremias cap.1, V-5 que diz: “antes que fosses formado no ventre de tua mãe, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio materno, Eu te consagrei, e te constituí profeta entre as nações”. Ao concluir estas tênues considerações, recorro às palavras do ilustre homenageado Monsenhor Paulo Daher quando diz: “A vida é o dom que Deus nos presenteou com carinho, para que todos participem de sua riqueza. O amor de Deus manifestado em nossa vida faz-nos filhos seus e irmãos de todos.” […] Read More
SÍRIOS-LIBANESES
SÍRIOS-LIBANESES Antônio Izaías da Costa Abreu, Associado Titular, Cadeira nº 3 – Os sírio-libaneses, costumeiramente denominados “turcos” em razão de terem a Turquia como porta de saída do Oriente pois lhes fornecia o passaporte de emigração, são os estrangeiros que mais se adaptaram aos nossos costumes, possivelmente pela docilidade de temperamento, por professarem a mesma religião, serem pacientes e adotarem, em definitivo, a nova terra como a pátria, destruindo qualquer intenção de retorno à terra de origem. Aqui deram os primeiros ensaios como imigrantes efetivamente a partir do início do século XIX e, com o desenvolvimento da cultura cafeeira, fortaleceram a corrente migratória para o Brasil. Descendentes dos fenícios, comerciantes natos como os antepassados, tinham facilidade para mercancia. Ao aqui chegarem, muitos deles, com um baú às costas, cortando várzeas, vencendo morros, atravessando córregos e rios aproximaram-se das fazendas onde, de início, com fala não inteligível expunham suas mercadorias. Posteriormente, após algumas economias, “o bom turco” adquiria um burrico para varar o longo e penoso percurso, e lá ia ele à frente puxando o animal, agora não mais com miçangas, botões, alfinetes, agulhas, colchetes, dedais, fitas, ligas, elásticos, meias, grampos para cabelos, espelhos, sabonetes, extratos e outros artigos de toucador, como nos primeiros tempos, mas com tecidos finos como seda, lingerie, organza, organdi, linho, cambraia, voil, crepe, tafetá, rendas guipir e richelieu, tudo que o apurado gosto exigia. As vendas eram certas e o pagamento, ainda que a prazo, “era dinheiro contado”, pois “o calote”, era palavra inexistente na cartilha dos compradores. Depois de algum tempo, outro animal era adquirido, desta feita para sua montaria. E assim, numa faina incessante, durante anos no “mascate”, conseguia “o turco” amealhar algum dinheiro para, afinal, se fixar numa vila distrital, principalmente em zona cafeeira de grande população e circulação de riqueza visível. Numa casinha modesta com poucos cômodos, mas com terreno suficiente para ampliação se estabelecia o “filho do Líbano” com sua família. Era o raiar de uma nova vida. Ele não ficaria mais tantos dias ausente e distante da esposa e haveria, doravante, de ter tempo para dispensar aos filhos, inclusive com a educação. Quanto à alimentação, embora já estivesse ele adaptado ao paladar nacional, sua mulher poderia oferecer-lhe refeições que o fizessem recordar de Richi Maya, Tiro, Sídon e Beirute – como as saladas de pepinos “ao vinagrete”, cortados ao comprido; as coalhadas secas, regadas ao azeite de oliva, saboreadas com […] Read More
PERMANÊNCIA DO ESPORTE
Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira nº 14 – A tristeza e a sensação de vazio bateu na alma esportiva petropolitana no dia 27 de junho. Partiu, aos 90 anos, Paulo Guerra Peixe, magnífico desportista, admirável cidadão, exuberante comunicador, que respirava esporte permanentemente. Sabia de tudo, conversador e animador da vida, era um sonhador entusiasmado com o fazer esportivo. Amava transmitir os eventos esportivos, comentar os fatos da atividade, conceber ideias de busca do melhor e mais adequado para o desenvolvimento do esporte. Sua batalha diuturna em seu entusiasmo cativante, animava a formação de atletas e o desenvolvimento das atividades clubistas. Nunca desistia, nada o demovia, era um soldado sempre pronto ao combate. Sua expressão facial estava sempre iluminada e os apertados olhos luziam em desejos de ser útil, de ajudar, de dignificar qualquer evento esportivo. Era amigo de todos, convivia em permanente sintonia com os aficionados de qualquer modalidade esportiva. Sabia de tudo, discutia esporte com desenvoltura e conhecimento privilegiado. Um extraordinário comunicador que fará muita falta. E se a vida continua, tentemos dizer alguma coisa sobre o esporte petropolitano, como homenagem ao querido Paulo Guerra Peixe. Nossos principais clubes estão se tornando centenários e cada qual possui incríveis feitos e histórias em seus registros. Na última semana, a nossa Tribuna relembrou nomes que foram expoentes do futebol local, estadual, nacional e internacional, alguns nascidos em Petrópolis e outros com passagens pelos nossos clubes. Ocorreram omissões, coisa muito natural por se tratar de matéria informativa, porém valiosa pelo levantamento de nossa tradição e vocação para o futebol. Não apareceu, por exemplo, o nome do Nena, petropolitano que brilhou no nível internacional. Quem se recorda do Nena? E Petrópolis foi um dos municípios brasileiros inserido na fase pioneiríssima da introdução do futebol no Brasil. O esporte em Petrópolis já experimentou fases memoráveis, além do futebol, com praticantes talentosos de vôlei, basquete, hóquei sobre patins, tênis, tênis de mesa, xadrez e outras modalidades. Tivemos uma crônica esportiva atuante e até a Tribuna de Petrópolis circulou com uma Tribuna Esportiva, que marcou época no jornalismo fluminense. Felizmente as páginas de nossos jornais diários contemplam hoje bastante espaço ao esporte, em prova de sua vitalidade e importância para a cultura municipal. O registro vai se perdendo e está na hora da criação de um Museu do Esporte em nosso Município. Deve-se aproveitar a fase internacional de nosso País, abrigando nesta década […] Read More
CARTA A MAURO
Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira nº 14 – Difícil expressar a você, Mauro, o sentimento que assalta o coração deste seu amigo e colega. Sua partida ocorreu, era esperada, como acontecerá com todos nós que o acompanhamos em sua última peregrinação por aqui. Nada misterioso, conquanto pungente e triste. É a fatalidade do mais dia menos dia. Resta pensar na sua missão, cumprida a contento; relembrar o seu feitio de ser humano; recordar os bons momentos vividos em cada instante de seu magistério, cumprindo discência nas cátedras da Universidade do Destino. Foi prodigiosa sua missão de mestre, conquistada com esforço e inteligência. Aliás, Mauro, as duas palavras aqui grafadas – esforço e inteligência – cabem como uma luva na sua vida terrena. Quero que recorde comigo a primeira vez de nosso conhecimento, nas Faculdades Católicas Petropolitanas, no ano de 1954, quando ingressamos na turma pioneira do Curso de Direito, em velho casarão no Retiro e, dois anos após, no prédio do Palace Hotel, na Rua Barão de Amazonas. Uma turma com mais de 50 integrantes, todos amigos, colegas na verdadeira essência e que chegaram à formatura, cumpridos os cinco anos do curso. Participamos do Diretório Acadêmico em múltiplas atividades, eleições disputadíssimas, as conferências de verão, os torneios de oratória, um companheirismo que a todos marcou e cuja saudade tem sido alimento na existência de cada qual. E nós o escolhemos para nosso orador no evento da inauguração da placa de bronze, hoje integrada ao patrimônio da Universidade Católica. Após a formatura, o destino teceu os fios vocacionais, a turma dispersou-se nos meandros da vida profissional, alguns advogando, outros partindo para empreendimentos empresariais e outro tanto dedicando-se à cultura, ao saber, ao divino magistério. Você e eu debruçamo-nos nas cátedras do saber para as aulas a discípulos de vários níveis. Nossa dedicação formou a muitos para a vida e você, Mauro, despontou como um dos melhores mestres, dos mais cultos e de maior talento para o magistério. Usou e abusou – no melhor sentido – de seu raro conhecimento e polimorfa cultura, atingindo o coração dos educandos e ajudando a formar uma geração de cidadãos responsáveis e de conteúdo humanitário. Encontramo-nos em diversas oportunidades, nas estradas da cultura e, até, da política. Integramos a Academia Petropolitana de Educação – eu sai, você ficou; somos imortais confrades na Academia Petropolitana de Letras, onde você foi meu vice-presidente no ano […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS [AUGUSTO DE LA ROCQUE]
Francisco José de Ribeiro Vasconcellos, Associado Emérito – Augusto de La Rocque, paraense de Belém, foi grata contribuição do norte brasileiro à grandeza de Petrópolis. Não seria a única. Aqui pontificaram o Barão de Mamoré, Ambrosio Leitão da Cunha e, seu filho, também Ambrosio, brilhante advogado; e um outro causídico, morto prematuramente em 1926, Emílio Malcher Nina Ribeiro, avô do ex-deputado e também advogado Emílio Antonio Souza Aguiar Nina Ribeiro, que por longos anos teve residência à Av. 1º de Março, hoje Roberto Silveira. Augusto de la Rocque nasceu a 2 de agosto de 1851. Seu pai, Henrique de la Rocque, era súdito francês que emigrou para o Porto, em Portugal quando das guerras napoleônicas, de onde passou ao Pará onde fez carreira bem sucedida no comércio. Foi o jovem Augusto educado na Alemanha e na França. Estando em Paris em 1870 tratando de negócios do pai, Augusto de la Rocque assistiu à rendição da pátria de seus ancestrais, ao findar a guerra franco-prussiana. Voltando a Belém, Augusto desenvolveu atividades comerciais e industriais e foi presidente do Banco Comercial do Pará. Dirigiu as companhias das águas e dos bondes de Belém. Em 1908 deslocou-se para o sudeste brasileiro, fixando sua residência na Chácara das Rosas aqui em Petrópolis, onde dedicou-se ao cultivo de flores e frutos. Gozando de enorme prestígio social em Petrópolis, Augusto de la Rocque não era homem de exibicionismos ou de proselitismos mundanos. Era uma alma simples, com aquele despojamento natural dos espíritos superiores. Morrendo a 23 de março de 1929 nesta urbe, dispensou as pompas fúnebres, tendo sido sepultado no cemitério municipal sem alarde, sem convites, em cerimônia praticamente restrita à família. Caridoso por natureza, sensível às angústias do próximo, la Rocque não hesitou em hospedar na Chácara das Rosas as religiosas portuguesas expulsas de seu país quando da revolução republicana de 1910. Augusto de la Rocque era casado com D. Maria José Pereira de la Rocque e deixou os seguintes filhos: Augusto de la Rocque Junior, Emília de la Rocque Mac-Dowell, casada com o Dr. Afonso Mac Dowell, Alice de la Rocque, Jorge de la Rocque e Maria Augusta de la Rocque da Costa, mulher do Dr. Alberto da Costa. O primogênito, que levava o nome do pai, casou-se com Isabel Teixeira Leite Guimarães e Jorge com a irmã desta, Emília Teixeira Leite Guimarães. Eram portanto dois irmãos casados com duas irmãs, todos fortemente vinculados […] Read More
CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA SOCIAL PETROPOLITANA: PROSTITUIÇÃO NA COLÔNIA ALEMÃ (2009)
Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, Cadeira nº 13 – “Em uma crônica da época, assinada pelo pseudônimo de Hudibras, nos fornece uma análise do requinte aristocrático, elitista e preconceituoso do carnaval local (O Paraíba, 1859). Em suas passagens podemos notar que no Hotel Bragança e nos passeios das ruas, era a elite que predominava. E quando ele assinala que seu criado estava com uma “alemasita gelada” ao braço, observa-se ainda o preconceito contra os colonos por parte da sociedade nacional, principalmente a aristocrática veranista.” (Silveira Filho, Oazinguito Ferreira. “Contribuição à História Social Petropolitana: Subsídios para uma História do Carnaval Petropolitano no Século XIX”, Tribuna de Petrópolis, Caderno Especial, 04/03/1984) Anos após a publicação deste ensaio pela Tribuna de Petrópolis, professores e pesquisadores, tendo por base os estudos sobre as “polacas” do Rio de Janeiro, procederam a um longo questionamento sobre o fato ocorrido no século XIX. Ocorrera uma prostituição em Petrópolis, e especificamente de alemães quando da colonização, segundo o que poderia estar subentendido nas entrelinhas do ensaio? Ao que foram comunicados de que as pesquisas não percorreram este trajeto quando da abordagem dos acontecimentos, mas de que o ensaio destinava-se exclusivamente a reproduzir fatos e acontecimentos do carnaval em Petrópolis na referida época e de que esta informação que constava da coluna do jornal ‘O Paraíba’ (1859) não poderia servir a uma proposta de pesquisa sobre a prostituição na História de Petrópolis no século XIX. O objetivo maior do ensaio foi o de demonstrar na época a evidência do preconceito social presente na formação da sociedade local e que se reproduziu nas festas como as do Entrudo e Bailes de Salão, principalmente do período quando da elevação da região à condição de cidade, e comprovada pela leitura e pesquisa dos jornais do século XIX na cidade. Com as leituras de ‘O Mercantil’ e de ‘O Paraíba’, não observamos qualquer menção a questões sobre prostituição, a não ser de algumas apreensões por parte da policia da época de algumas ex-escravas alugadas a todos os fins, o que permitiria abordagens especulativas. Nem mesmo os demais membros do IHP ou os historiadores conhecidos escreveram ou notificam algo a respeito do assunto. Não por se constituir em tabu presente na ordem social petropolitana, ou mesmo por questões religiosas, por mais que muitos indicassem esta proposta como condição básica para que as citações não se apresentassem de forma definida nos escritos. […] Read More