GETÚLIO, O GALÃ IRRESTÍVEL

  GETÚLIO, O GALÃ IRRESISTÍVEL in Curiosidades Petropolitanas A Samambaia – II – Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18 O negrinho, preto e vivo como êle só, atravessou o Atlântico agarrado ainda ao seio materno, numa das levas arrebanhadas, desumanamente, nas praias da Benguela. Veio parar na Fazenda da Samambaia nos remotos tempos de dona Maria Gonçalves Dias Corrêa, irmã do padre Luís Gonçalves Dias Corrêa e, como de regra, adotou o sobrenome dos amos. Ao nome de batismo – Getúlio – foram acrescentados o Luís, do padre, e o Gonçalves, dos irmão Maria e Luís. Getúlio Luís Gonçalves foi, assim, moleque africano criado na velha Samambaia. Ativo, inteligente, não havia, dentro dentro em pouco, quem não lhe quisesse bem na fazenda e redondezas. Aprendeu a ler – na época, coisa rara num cativo – conseguindo distinguir-se entre seus irmãos de raça. E progredindo sempre, passaria a exercer, no correr da vida, verdadeira ascendência sobre toda a pretalhada da região que o tinha na conta de mentor seguro e oráculo infalível. Possuía menos de trinta anos – estava na flor da idade – quando a propriedade e todos seus pertences couberam, por herança ao cônego Luís Gonçalves Dias Corrêa. Getúlio que, mercê de muita habilidade e correção, se havia firmado na estima do sacerdote, passou, então a administrador geral da fazenda. À revelia do proprietário, na ocasião às voltas com as árduas funções do vicariato de Petrópolis, Getúlio realizava negócios, discutia e ajustava preços e formas de pagamento, comunicava-se com os comissários da Vila da Estrela e fazia até a escrituração comercial do estabelecimento. Folgava, assim, o amo. Alforriado pela benignidade de seu senhor transformou-se, no que respeitava aos negócios da fazenda, no seu verdadeiro dirigente, cada vez mais prestigiado pelo patrão. Mas o guapo Getúlio, criatura humana que era, haveria de ter o seu ponto fraco. E este um dia apareceu: as mulheres … ah! as mulheres … Alto, desempenado e bem falante, com bela cabeleira caprichosamente repartida ao meio, alisada e lustrosa à força de cosméticos e, o principal, ostentando um soberbo cavanhaque a emprestar-lhe a imponência de um alto dignatário da Abíssinia, constituiu-se o nosso herói na tentação irresistível do mulherio de cor de toda a zona que vinha dos Corrêas e ia até às fronteiras do Córrego Seco. Apesar de discreto, nunca procurou, no entanto, refrear a ardência de seu temperamento. E a […] Read More

FALECEU FREI ESTANISLAU SCHAETTE

  FALECEU FREI ESTANISLAU Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18 Frei Estanislau Schaette O. F. M., sócio Fundador e Benemérito do CLUBE 29 DE JUNHO, faleceu no dia 12 de julho. Nascido em Wupertal, (Alemanha) a 16 de novembro de 1872, contava a idade de 87 anos. Chegou a Petrópolis em 17 de julho de 1897 e no dia seguinte deu a sua primeira aula, na escola São José. São únicos sobreviventes dessa turma de primeiros alunos o Professor Jorge Deister, Pedro Hees, Gustavo Becker e José Maiworm. Ordenou-se sacerdote a 21 de dezembro de 1902 e exerceu o benemérito apostolado de educar, de preferência, os netos dos colonos e seus descendentes. Muitas centenas de petropolitanos devem-lhe a instrução e os principios religiosos que possuem. Anos depois, transferiu-se para Santa Catarina e Paraná, onde também deixa um vastíssimo círculo de amizades e discipulos. Grande apaixonado da história, dedicou a Petrópolis algumas dezenas de estudos, trabalhos pacientes de pesquisas em arquivos e bibliotecas. Frei Estanislau apoiou, sempre, da maneira mais entusiástica a atividade cultural que restabelece a verdade e rende merecida justiça aos colonos, povoadores da cidade. Desde o primeiro momento prestigiou o CLUBE 29 DE JUNHO, comparecendo a todas as suas reuniões e realizando conferências. No 7º dia, em 19 de julho, o CLUBE 29 DE JUNHO promoveu celebração de solenes exéquias. Cidadania petropolitana: Delib. 342 de 2-2-1953. Nome à rua: Delib 1263 de 3-8-1960. Desvendou o matador do Major Koeler. (Consta também do Acervo Histórico de Gabriel Kopke Fróes o seguinte fragmento:) Frei Estanislau Schaette, mais humilde ainda, nunca teve, sequer, uma simples palavra de explicação para o resultado admirável de suas pesquisas realizadas nos velhos arquivos do atual município de Magé, revelando aos petropolitanos fatos importantíssimos da história da cidade, até então, inteiramente desconhecidos.

ESPORTE EM PETRÓPOLIS

  ESPORTE EM PETRÓPOLIS Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18 Honra-nos sobremodo a investidura que nos confere a Associação dos Cronistas Esportivos de Petrópolis de orador desta reunião. Somos, com certeza, dos menos credenciados a dirigir a palavra a uma assistência culta e seleta como esta que hoje aqui comparece. É que precárias são os nossos dotes oratórios e duvidosa é a nossa autoridade de historiador. Valha-nos, contudo, nossa boa intenção de, estudiosos do assunto, proporcionarmos algo de util ou interessante àqueles que se dedicam à causa do esporte em nossa Terra. Abrindo seu magnífico trabalho “Apontamentos para a História do Esporte em Petrópolis” publicado em 1943 no VI volume dos “Trabalhos da Comissão do Centenário de Petrópolis”, sentenciou Luiz Afonso d’Escragnolle: “Petrópolis, mercê de sua privilegiada situação topográfica e climatérica, elevada entre montanhas, plantada entre vales amenos, gozando de uma temperatura média de 18 graus, parece reunir todos os requisitos para ser o ambiente adequado à realização plena e propícia aos trabalhos do cérebro e ideal para a prática dos esportes”. Tem toda a razão o nosso conterrâneo. Petrópolis tudo possui para ser um grande centro esportivo – situação topográfica, clima, mocidade estudantil, espírito associativo – sem que, contudo, haja conseguido, até hoje, tornar-se, ao menos, um centro medíocre. Ainda recentemente, um largo e expressivo inquérito foi aberto em todo o país por um grande jornal carioca para apurar qual o município mais esportivo do Brasil e, no mesmo, o nome de Petrópolis não foi sequer citado. Entretanto, não se incrimine as gerações passadas de responsáveis por este estado de coisas. Ver-se-á, no nosso modesto trabalho, que os antigos não se descuraram, em absoluto, do desenvolvimento esportivo de nossa terra, tomando, não raro, iniciativas que precederam de muitos anos às de outros centros mais importantes do que o nosso. A primeira referência ao esporte que faz a história de nossa cidade – é ainda Luiz Afonso d’Escragnolle que consigna – está contida na noticia da morte do major Júlio Frederico Koeler, o fundador de Petrópolis. A 21 de novembro de 1847, quando em companhia de amigos, na chácara situada no local que hoje constitui o bairro da Terra Santa, praticava o major Koeler o tiro ao alvo, foi ele vítima do acidente fatal já por demais conhecido, dispensando-nos, por isto, de maiores detalhes. Foi, portanto, uma grande desgraça que assinalou o tiro ao alvo como o […] Read More

INAUGURAÇÃO DO JÚRI (A)

  A INAUGURAÇÃO DO JÚRI Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18 O Tribunal do Júri foi instalado em Petrópolis a 19 de setembro de 1859. A qualificação dos jurados terminara no dia 22 do mês anterior com a inscrição de 96 nomes de munícipes aptos ao desempenho da magna função de julgarem seus semelhantes, missão essa que, como bem ressaltaria Walter Bretz 60 anos mais tarde, redobrava de importância naquele tempo, pois, com a pena de morte em vigor, poderia levar um mísero pecador ao horror da forca. E dois dias depois, seriam sorteados os 48 jurados para servirem na sessão inaugural já marcada pelo juiz de direito da comarca dr. José Caetano de Andrade Pinto para o referido dia 19 de setembro. O foro petropolitano funcionava na ocasião na casa da Câmara Municipal à rua do Mordomo, em cujo salão foi instalado o chamado Tribunal Popular. A sessão foi aberta com a presença de 36 jurados, sob a presidência do dr. Andrade Pinto, funcionando como promotor público o dr. Júlio Acioli de Brito, e como escrivão, o tabelião Joaquim Júlio da Silva. Durou quatro dias e foram julgados cinco processos. “O juiz foi benévolo em sua primeira sessão – disse um jornal local – absolvendo todos os réus; não derramou sangue, nem fez arrostar cadeias; não privou ninguém de sua liberdade, antes a restituiu a alguns. Foi um belo exemplo, mas daí os díscolos que os verdadeiros criminosos ficarão impunes. A regeneração dos maus costumes populares, a correção dos maus instintos, estamos convencidos de que o Júri de Petrópolis há de consegui-las e praticá-las nos seus futuros julgamentos, quando as índoles más forem levadas a sua barra de tribuna”. O banco dos réus foi usado pela primeira vez por José Teixeira de Azevedo, seguindo-se-lhe, no mesmo dia, as senhoras (ou senhoritas?) Gertrudes e Luiza Wendling. E a dupla Manuel Antônio Lopes – André Koslowski encerraria a sessão inaugural. Como já foi dito, o Júri absolveu todos os acusados. Se foi ou não justo, não vem a pelo discutir agora, quando são passados tantos anos. Vale, no entanto, comentar os aspetos pitorescos. José Teixeira de Azevedo, por exemplo, que respondeu atarantado ao interrogatório do juiz, devido à responsabilidade do papel histórico de reu-primeiro por ele assumido, fora acusado de agressão física a um menor – Motivo: o menino roubara as três galinhas de estimação do galinheiro do […] Read More

VICENTE AMORIM

  VICENTE AMORIM Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18 Vicente Amorim, o grande amigo de Petrópolis, nasceu em Vitória, capital do Espírito Santo, a 15 de março de 1873. Jornalista nato, muito cedo iniciou sua atividade literária com a edição do seu semanário “Meteoro” na terra natal. Dai em diante sua vida de jornalista dos mais brilhantes e fecundos, jamais seria interrompida. Em 1893, estava ele no Rio Grande do Sul escrevendo no vespertino “O Rio Grande do Sul” e em 1896 em “O Estado”. Ainda em 1896, Vicente Amorim, já no Rio de Janeiro, ingressou na Imprensa Nacional, passando em breve a fazer parte da redação do “Diário Oficial”. Em 1914, foi designado para servir junto à Secretaria da Presidência da República no governo do presidente Wenceslau Braz com as funções de encarregado do serviço de informações. Exerceu o cargo até se aposentar do serviço público sem que houvesse gozado licença ou férias. Na imprensa carioca, teve papel saliente em quse todos os jornais, entre os quais, O Paiz, Gazeta de Notícias, A Época, O Imparcial, Rio-Jornal, A Pátria, e Jornal do Brasil. Foi como correspondente do “Jornal do Brasil”, no entanto, que Vicente Amorim se identificaria com os petropolitanos. Suas crônicas leves e graciosas, sempre amáveis para Petrópolis e suas coisas, publicadas anos a fio, espontaneamente, no grande jornal carioca, comoveram os filhos da Rainha das Serras, como, então, era chamada a Cidade Imperial. Jamais foi feita melhor propaganda cidadina do que aquelas crônicas. Fixando residência em Petrópolis, Vicente Amorim logo foi admitido na Academia de Letras e no Instituto Histórico e durante largos anos colaboraria na imprensa local, chegando a dirigir a “Tribuna de Petropolis” durante algum tempo. A 15 de março de 1952, foram comemorados os 50 anos da vida profissional de Vicente Amorim, ocasião em que “Tribuna de Petrópolis” proclamou-o decano dos jornalistas brasileiros. Sua colaboração na imprensa petropolitana versou, em geral, sobre a história da cidade, focalizando, entre outros assuntos, o Palácio de Cristal, o Centenário, o Verão, o 29 de Junho, a Estrada de Ferro, a Estrada União e Indústria e a Princesa Isabel. Publicou ainda na Tribuna de Petrópolis de 5 a 13 de julho de 1950 a revista-fantasia “Petrópolis antes e depois”, sendo sua a letra e de Deoclécio Damasceno de Freitas a música. Os seus últimos anos viveu-os em Areal, localidade, sabidamente, possuidora de clima favorável aos […] Read More

VIGARINHO (O)

  O VIGARINHO Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18 Monsenhor Teodoro da Silva Rocha foi o que se pode chamar um bom vigário. E muito querido, como todos seus paroquianos sempre faziam questão de demostrar-lhe. A começar pelo nome pelo qual de preferência era chamado: Vigarinho. Vigarinho, um pouco, por ser pequeno de estatura; mas muito mais por carinho e amizade. Após 24 anos de vicariato, já morto, dele dir-se-ia: “A vida do vigário de Petrópolis sintetizou-se nesta idéia: o pároco não viveu para si, viveu para os paroquianos. Sim, o Vigarinho viveu só para os petropolitanos, porquanto, logo que se ordenou, para aqui veio e aqui deveria morrer. Teodoro da Silva Rocha nasceu na fazenda de São Pedro dos Rochedos, no município fluminense de Valença, a 31 de julho de 1873. Aos 13 anos, já adiantado nos estudos sem haver frequentado a escola, foi internado com um seu irmão no Seminário de São José do Rio Comprido, no Rio de Janeiro. Seus pais, ao matriculá-lo no Seminário, visavam a aproveitar, tão somente, o colégio eficiente provido de bons professores. Breve, porém, revelar-se-ia e haveria de prevalecer a vocação de um predestinado. A 10 de abril de 1887, festa da Páscoa da Ressurreição, foi o dia da Primeira Comunhão de Teodoro. Que se passaria entre a alma da criança e Jesus? Que comunicaria Deus a Teodoro e que prometeria, em retorno, Deus a Teodoro? O que se soube foi apenas que, após o ato sagrado, interrogados os dois irmãos se pretendiam seguir a carreira eclesiástica, só Teodoro respondeu afirmativamente: – “Eu não vim aqui senão para ser padre e é o que quero ser”. E assim foi. Dom Francisco do Rego Maia, Bispo de Niterói, conferiria ao jovem sacerdote em 1896, sucessivamente, o sub-diaconato, a 30 de maio; o diaconato, a 13 de dezembro; e o presbiterato, a 19 de dezembro. A 14 de novembro de 1897, por força do Decreto Consistorial do Papa Leão XII designando Petrópolis sede do Bispado Fluminense, o Bispo Dom Francisco do Rego Maia fazia a sua entrada solene em nossa cidade, trazendo consigo, como escrivão da Câmara Eclesiástica, o padre Teodoro da Silva Rocha. Em 1898, não obstante suas absorventes funções na Câmara Eclesiástica, padre Teodoro foi designado também capelão da Escola Doméstica Nossa Senhora do Amparo. E a 28 de janeiro de 1901, apenas com 28 anos de idade, o […] Read More

SAUDOSA ENGENHOCA (A)

  A SAUDOSA ENGENHOCA Gabriel Kopke Fróes, associado fundador, patrono da cadeira n°. 18 A Tomás Gonçalves Dias Goulão, filho de Pedro Gonçalves Dias e Maria Brígida da Assunção, coube, por morte de sua mãe em 1829, o nosso conhecido Retiro de São Tomás e São Luís. Essa extensa gleba, cujas terras começavam na Westphalia, pouco abaixo do local em que viria a ser construído o atual Matadouro Municipal e terminavam em Corrêas, nunca chegou a produzir grande coisa. Seu solo era, todo ele, coberto por magnífica floresta, mas era só. Em 1840, o Goulão, após haver arrendado a Fazenda do Córrego Seco e tentado, sem sucesso explorá-la comercialmente, resolveu constituir em senhorio as terras do seu Retiro de São Thomás e São Luís. E para moradia, lá construiu a Fazenda da Engenhoca com linda casa posta em pitoresco outeiro e interessante pequena lavoura, sobressaindo o pomar, as árvores do cravo da Índia e o chá chinês. O nome de Engenhoca derivou do avantajado monjolo que funcionava atrás da casa. No entretanto, só com a abertura, em 1858, da estrada União e Indústria, flanqueando as terras de ponta a ponta, é que a região passaria a desenvolver-se razoavelmente. Era Tomás Goulão excelente criatura, tanto que foi agraciado pela Coroa com as insígnias de Cavalheiro da Ordem de N. S. Jesus Cristo. Mas tendo chegado a casa dos oitenta anos no estado de solteiro, não passava, talvez por isso mesmo, de um refinado apreciador do belo sexo … E já velhinho, inofensivo, de pernas frouxas, mãos trêmulas e gengivas murchas, não se conformava em viver apenas das recordações: seu olhar para qualquer rabo de saia denunciava bem o fogo a lhe tostar a alma. Costumava dizer, muito sério, que estava um pouco usado, mas velho nunca … Ginete emérito nos bons tempos, conservava, apesar de tudo, o gosto pelos passeios a cavalo. Nos últimos anos, trocara a montaria por uma burrinha branda de gênio e muito afeiçoada que lhe merecia confiança, principalmente, por ser velhota também. Em 1872, afinal, o acúmulo de anos arrebatou o bom Goulão do número dos vivos. Um mal-estar indefinido durante o dia, agravado à noite, e a parca inexorável, com sua horrenda foice, entendeu que já era tempo de cortar o débil fio que prendia à vida o venerando Tomás Gonçalves Dias Goulão. E antes do raiar da madrugada, lá se foi para o além aquela […] Read More

HERÓICO SARGENTO BOENING (O)

  O HERÓICO SARGENTO BOENING Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18 Baía da Guanabara, 23 de novembro de 1944. O dia desponta e a débil claridade mal deixa ver o “General Meigs”, grande transporte de guerra norte-americano que, comboiado por cruzadores e aviões, demanda a barra do Rio de Janeiro, de partida para além-mar. É o 4º Escalão da Força Expedicionária Brasileira, integrado por 4691 oficiais e praças, a embarcar para o teatro de operações de guerra na Itália. A bombordo, entre outros, estão debruçados à amurada dois nossos conhecidos: o tenente Virgínio de Morais e o 3º sargento Francisco Luís Roberto Boening. Olhos fixos no horizonte, absortos, contemplam algo que, pelo jeito, deve ser muito importante: além, muito além, onde a terra acaba e o céu começa, já se vislumbra através da névoa, sob a luz hesitante do sol nascente, a serra de Petrópolis. Sensibiliza-os o quadro fugitivo, pois lá haviam deixado seus parentes: o tenente, a esposa e os filhos; e o sargento, os pais e irmãos e mais quem sabe? – outra pessoa também muito querida … E ali, alheios a tudo em volta, permaneciam ambos, enleados que se achavam na trama da saudade e da imprevisibilidade da sorte de quem parte para a guerra! … Clareou, enfim, o dia e, nesse instante, ouve-se, pelo alto-falante de bordo, uma mensagem aos expedicionários: “Soldados! Contemplemos o cenário imponente da Capital Brasileira. Esta visão de encantamento retrata todo o Brasil em sua vitalidade, progresso e civilização. É honra e glória defendermos, de armas na mão, esse imenso patrimônio. Contemplemos a Cidade Maravilhosa, para guardá-la bem na lembrança, pois a muitos não mais será dado revê-la, porque não voltarão …” – Eu … não voltarei! exclama o sargento Boening, retendo a custo as lágrimas e com a voz embargada pela emoção. Do alto do Corcovado, em meio à bruma, emergia o Redentor que, meigo e sereno, parecia abençoar os que partiam em defesa da civilização cristã periclitante nos campos europeus! O colosso que era o “General Meigs” já transpusera a barra e começava a navegar em alto-mar. Da doce serra de Petrópolis, com aquelas montanhas tão familiares, só resta ao tristonho Boening a lembrança dos tempos de excursionista entusiasta. Agora o horizonte é céu e nada mais. O navio viaja sob eficiente sistema de escolta, em razão da possível ação dos submarinos inimigos. Belonaves americanas e brasileiras […] Read More

ALGUMAS DATAS ANTERIORES A 17 DE JUNHO DE 1859

  ALGUMAS DATAS ANTERIORES A 17 DE JUNHO DE 1859 Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18 30-4-1531 – Registro, no “Diário de Navegação” da esquadra de Martim Afonso de Souza, ancorada na bahia de Guanabara, da incursão de quatro homens pela terra a dentro, através a Serra dos Órgãos, presumivelmente pelo futuro Córrego Sêco. 11-11-1721 – Requerimento por Bernardo Soares de Proença da sesmaria onde se achavam localisadas as terras da futura fazenda do Córrego Sêco. 12-11-1721 – Requerimento pelo Capitão Luiz Peixoto da Silva da sesmaria do Rio da Cidade. 11-10-1724 – Carta do governador Aires de Saldanha Albuquerque a D. João V., anunciando a abertura, pelo sargento-mor Bernardo Soares de Proença, do caminho novo para as Minas pela freguesia de Inhomirim. 6-7-1725 – Carta de Lisbôa de D. João V mandando elogiar e agradecer ao sargento-mór Bernardo Soares de Proença a construção do “Novo Caminho de Minas”, pela freguesia de Inhomirim. 9-7-1735 – Falecimento em Suruí de Bernardo Soares Proença. 6-8-1741 – Concessão a Francisco Muniz de Albuquerque da sesmaria do Piabanha e Rio da Cidade. 29-10-1749 – Provisão concedendo a Manuel Antunes Goulão, sesmeiro de terras compreendidas entre a fazenda do Itamarati e Pedro do Rio, licença para construção de uma capela com invocação a N. S. do Amor Divino. 29-10-1751 – Inauguração na fazenda dos Corrêas da capela de N. S. do Amor Divino. 12-6-1789 – O Córrego Sêco passa a fazer parte da Vila de Magé. 1-3-1798 – Concessão a Francisco Xavier da Cruz de uma sesmaria nos sertões do Rio Prêto, terras essas que viriam a constituir S. José do Rio Prêto. 29-11-1803 – Nascimento na fazenda do Córrego Sêco de Saturnino de Souza e Oliveira Coutinho que haveria de ser o primeiro petropolitano ilustre. 7-4-1806 – Inauguração na fazenda do Córrego Sêco do Oratório de Santana. 28-8-1809 – Passagem pelo Córrego Sêco do escritor viajante John Mawe, o primeiro inglês autorizado a visitar as Minas. 6-7-1811 – Guilherme Luiz Eschwege, nobre alemão autor da obra “Pluto Brasiliensis”, passa pelo Córrego Sêco, ao dirigir-se para a fazenda da Olaria. 20-9-1813 – Criação do curato de S. José do Sumidouro desmembrado das freguesias de Inhomirim e Magé e incorporado ao município de Cantagalo. Esse curato, mais tarde elevado a freguesia com o nome de S. José da Serra, viria a constituir S. José do Rio Prêto. 9-3-1814 – Incorporação da região do […] Read More

CARÁTER PETROPOLITANO (O)

O CARÁTER PETROPOLITANO Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18 1 – Introdução Quem, como nós, por dever de ofício, se vir obrigado, algum dia, a compulsar os velhos jornais petropolitanos, certamente se surpreenderá com muita coisa curiosa e pitoresca que irá encontrar à margem da procurada. Foi o que aconteceu conosco, há algum tempo, quando, à cata de datas para “Efemérides Petropolitanas”, percorremos, página por página, todos os jornais de cêrca de cem anos da Biblioteca Municipal. Animados com a parceria que nos propuzera Alcindo Sodré, querido e sempre lembrado amigo, para continuação da obra por êle iniciada, não conseguimos fugir, então, ao diletantismo de relacionar fatos e coisas que nos despertaram a atenção, ainda que sem interêsse direto para “Efemérides Petropolitanas”. Anotámos, assim, acontecimentos que, embora, como já foi dito, de relativo interêsse histórico, são, contudo, realmente curiosos, uns pela comicidade, outros pelo pitoresco e outros ainda pelo imprevisto ou violência que encerram. Pois é de tais acontecimentos, uns já conhecidos dos estudiosos da nossa história, mas outros, ao que pensamos, inéditos, que vamos tratar. Reunindo-os e divulgando-os, é nossa intenção facilitar, através dêles, a análise do feitio moral do povo petropolitano. Mas, poderão servir também como contribuição ao folclore petropolitano que é pobre e desconhecido. O petropolitano é tido, geralmente, por povo frio e triste, o que, na verdade, aparenta ser. Mas, estranhamente, êsse mesmo povo tem repentes que, não raro, o hão levado a extremos não verificados alhures. Décio Cesário Alvim, o saudoso cantor das coisas da cidade, em imagem feliz, comparou o povo de Petrópolis, nos seus arrebatamentos, ao rio Piabanha que, de hábito, tão pequenino e humilde, se transforma, quando irado, em avalanche que nada respeita e tudo destrói. E deu-nos, então, êstes magníficos versos: A “ENCHENTE” Deslisa o Piabanha em calmo leito, Seguindo seu destino para mar … Contorna aqui, ali segue direito, Sua eterna canção a descantar … Da verdura da serra, rasga o peito, Para a sêde das matas aplacar … E as matas são, a um tempo, causa e efeito Dessas águas que correm sem cessar! … Mas, de súbito, as águas se revoltam, As barrancas mergulham e a cidade Tôda pujança do seu rio sente … Cedem barreiras e comportas soltam … É o Piabanha indômito que invade, É a força incontrastável de uma “enchente” Petrópolis, 31 de dezembro de 1934. 2 – Humor Já houve, nesta […] Read More