Joaquim Eloy Duarte dos Santos

SEGUNDA OCUPAÇÃO (A): O VERANISMO

  A SEGUNDA OCUPAÇÃO : O VERANISMO Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira No decorrer dos meses de março e abril de 1997, participei de um ciclo de palestras organizado pelo presidente da Academia Petropolitana de Letras, Dr. Hélio Werneck de Carvalho, com trabalhos apresentados pelos acadêmicos Laert Rodrigues Goulart, Jorge Ferreira Machado, Paulo Machado da Costa e Silva e este palestrante, todos da Academia Petropolitana de Letras, Dalila Cordeiro Machado, escritora, Mestre em Letras na Bahia e Alberto Venâncio Filho, da Academia Brasileira de Letras. O tema foi Afrânio Peixoto, o grande cientista, professor, escritor baiano, acadêmico da Academia Brasileira de Letras e veranista em Petrópolis. O ciclo foi um grande sucesso, muito prestigiado, assinalando presenças de grandes representantes da Cultura Nacional, como o acadêmico romancista Josué Montello e o embaixador Afonso Arinos de Mello Franco. As palestras do ciclo compuseram uma edição impressa patrocinada pela Fundação Petrópolis de Cultura, Esportes e Lazer, presidida pela Comunicadora e escritora Kátia Chalita Mattar, opúsculo que o Dr. Hélio Werneck de Carvalho intitulou “O Resgate de uma Memória – Afrânio Peixoto”. O meu tema naquele encontro foi “Afrânio Peixoto em Petrópolis”, apresentado na noite de 4 de abril de 1997. Transcrevo, recordando, o início daquela palestra: “Bastos Tigre, nosso grande poeta e cronista, era um inveterado veranista. “Veranista… Era assim chamado aquele que subia a serra e vinha passar alguns meses do verão em Petrópolis. Invariavelmente era de dezembro a março, começando, para alguns, um pouco antes e terminando, para outros, pouco depois. A regra mais comum era obedecer aos maiores: até 1889, a Corte do Imperador D. Pedro II; a partir daí, até os anos 60, ao séquito do Presidente da República. Chegavam os cabeças e vinham atrás os membros. “Petrópolis enfeitava-se de toilettes refinadas, em tempos do final do século XIX e início do século XX e, em seguida, dos costumes de griffes, dos penteados gomalinados, dos ternos de corte nobre. Era um farfalhar incessante de roçados de muitos tecidos, o “cloc-cloc” encampainhado de charretes ou, ainda, “fons-fons” desagradáveis de rolantes viaturas que faziam latir os cães e provocar estrepolias dos meninos de olhos buliçosos”. O soneto de Bastos Tigre é um primor de bom humor e literário. Ei-lo: “O VERANISTA O veranista, porque a moda o ordena para a Serra dos Órgãos se desloca. Mal, com os rigores do verão […] Read More

AQUELE QUE FICA

  AQUELE QUE FICA Joaquim Eloy Santos Olha ai, Calau, em que prebenda você meteu a todos! E a Petrópolis! E à Cultura! Você sempre foi previsível dentro do imprevisível da vida. Agora quebrou tudo, saindo da vida no meio do sarau. Não ouviu metade do concerto embora tenha organizado toda a programação, agitado os artistas, divulgado o evento, quebrado lanças para sua realização. Sua previsibilidade, que navegava dentro do mais puro entusiasmo, no seio mais doce de impressionante coragem, no meio da indiferença e da descrença, diuturnamente acompanhada por gestos largos e gargalhadas sonoras, está num silêncio que rasga nossa alma de incredulidade. Tinha que ser assim, como foi? O artista deixar o proscênio num repente, num espanto de remexer os sentimentos, em meio ao personagem iluminado pelo seu talento e sua alegria contagiante? A vida cobra muito caro do coração que a sustenta, trazendo nas hordas do imponderável o manto da tristeza e a roupagem cênica da tragédia. O Teatro da existência temporal não devia ser assim, com interpretações tão rascantes de tremores, quanto de risos fáceis, nesse palco da vida acortinado pelo contra-regra absoluto, a morte. Calau Lopes fica espalhafatosamente no coração de Petrópolis, em cujas montanhas ecoarão para todo o sempre sua verve extraordinária, seu talento pela amizade, seu destemor no trato das questões de honra, um de seus bens mais caros e por ele defendido mesmo sob pressões de criaturas humanas que jamais chegariam – nem chegaram e nem chegarão – à sua impressionante vocação para o clímax da interpretação sempre correta, justa, maravilha de sua personalidade que se entregava aos projetos, aos amigos, à Cultura, à Política, ao labor funcional e burocrático, aos sonhos mais elevados que arrancavam de seu peito um entusiasmo que arrasava qualquer vírus da descrença. A imagem passada por Calau, para mim, era a de um cavaleiro daqueles enlatados das Cruzadas, imponente com seu escudo e lança investindo contra as injustiças, mesmo que, em dados momentos, os moinhos quixotescos não cedessem sob suas arremetidas, em rastros de pureza destemida; quando pedia a palavra, era um Cícero estonteando as cabeças senatoriais do Fórum Romano em suas catilinárias ouvidas pela extensão das grandes platéias sem pios de reprimendas ou contestações; na liça guerreira era Alexandre, o grande ou Júlio César, nos embates das estratégias perfeitas; quando no palco, dominava a cena, prendia as platéias aos seus magníficos personagens; quando administrador, por detrás […] Read More

DESTINO EM TRILHA RETA

  DESTINO EM TRILHA RETA Joaquim Eloy Santos O turismo em Petrópolis depende exclusivamente de seu povo e da vontade política dos detentores do poder. O povo precisa ser educado no respeito aos bens culturais e incentivado ao poder de polícia, como guarda vigilante da ainda rica herança patrimonial. Sua ação estará deitada ao interesse público e a denúncia que fizer, deve ter fundamento no coração de petropolitano, na visão de futuro e no amor à terra que é dos descendentes. É a sobrevivência que está em jogo, de tudo e de todos, disciplinado o destino turístico-cultural a essa brigada de defensores-agentes da preservação ambiental, cultural, patrimonial, enfim, a herança que recebemos e devemos passar aos que chegam, sejam naturais, sejam adotados. De passagem, a aplicação de rígida xenofobia quanto aos invasores do negócio fácil (as drogas, por exemplo) e aos geradores da violência e do desamor, fatores enfraquecedores da auto-estima. Preservando e explorando os bens herdados, mantendo-os dignos do foro de civilização, estaremos garantindo a autonomia futura de nosso recanto e seu desenvolvimento como um lugar bom para viver. Também deve ser norte de projetos turístico-culturais imediatos e objetivos, a reabilitação de personagens de nossa história, através de novos bens a serem edificados, bem como a criteriosa identificação dos topônimos urbanos, como existe em cidades que já acordaram para essa galinha-dos-ovos-de-ouro. Não deixar a política de resultados imediatistas sobrepor-se ao destino municipal e porque a ganância especulativa não pode agigantar-se acima das legítimas aspirações em favor de nosso futuro. Por muitos anos tenho batido em algumas teclas, sob apoio da imprensa atenta e de pessoas de sentimento cívico, no sentido de ampliar as ofertas turísticas e duas conquistas necessitam ter apoio político imediato e sensibilidade objetiva e que são: 1) um monumento à Princesa Isabel, nos moldes dos modernos Carlos Drummond de Andrade, em Copacabana e Brigitte Bardot, em Búzios, e outros já instalados em alguns pontos do país. A Princesa Isabel seria representada em escultura de tamanho natural, tirada de uma fotografia na qual acha-se sentada, com duas amigas, no Palácio de Cristal; a escultura marcaria uma grande atração para os visitantes e os habitantes do Município; 2) Brigadeiro Eduardo Gomes, petropolitano nato, morador da cidade, grande nome da Aeronáutica Brasileira, herói de nossa história, que ainda não possui qualquer homenagem no Município (corrijam-me, se estou equivocado), que mereceria uma estátua em tamanho natural e seu nome em […] Read More

EM BUSCA DO MAIS ELEVADO – PETRÓPOLIS, 160 ANOS

  EM BUSCA DO MAIS ELEVADO – PETRÓPOLIS, 160 ANOS Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Sob justo orgulho e subida honra, enfrento as vicissitudes de cair na voragem da insegurança das ruas do Rio de Janeiro, deixando por instantes o ruço da minha serra petropolitana, igualmente contaminado pelo desamor que a criatura humana carrega no turbulento coração tão desconexo de todos os tempos, para atender ao pedido da ilustre presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, a extraordinária e percuciente pesquisadora Cybelle Moreira de Ipanema, sob aprovação de seus pares. Na qualidade de presidente do Instituto Histórico de Petrópolis, entidade fundada em 1938 e de cuja ação e primeiro acervo, determinação e raro sentido patriótico projetado ao futuro, surgiu o Museu Imperial de Petrópolis, uma das riquezas maiores da Cultura Brasileira; também, atual presidente da Academia Petropolitana de Letras, fundada no ano de 1922, a primeira do País a admitir mulheres em seus quadros, desde o primeiro encontro de fundação, carrego nos frágeis ombros e em limitados recursos pessoais, uma ilustre carga de soma centenária, que deposito no coração do Rio de Janeiro, no epicentro de uma entidade das mais representativas de nossa cultura histórica. A responsabilidade é tamanha e não posso causar decepção e nem repetir uma história que o Brasil conhece e cujo desenrolar em 160 anos de existência, o querido Rio de Janeiro acompanha, honra, dignifica e contribui. Daí, meus confrades do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro e convidados dessa tarde, não relembrarei as figuras de D. Pedro II, Major de Engenheiros Júlio Frederico Köeler, Paulo Barbosa da Silva, Aureliano de Souza Coutinho, Caldas Vianna, Amaro Emilio da Veiga e tantos que idealizaram, criaram e sedimentaram a urbe nos altiplanos da suave Serra da Estrela. Não! Tampouco farei referência de pesquisa aos fatos marcantes que elevaram Petrópolis à honraria de jóia histórica nacional. Passarei, em vôos acima das nuvens, sem visão da terra firme, por cima de todo o período imperial da cidade; olharei apenas as vicissitudes geradas pela quartelada de 15 de novembro de 1889, que mudou a face política, mantendo, no entretanto, o povo em letárgico desenvolvimento sob parcos recursos deitados à dignidade da educação e da cultura, legado pífio que assombra a todos até nossos dias; fixarei um acontecimento raro e precioso da vida petropolitana. Comemorarei os 160 […] Read More

SOBRE O ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL

  SOBRE O ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira O Instituto Histórico de Petrópolis acaba de protocolar documento endereçado ao Prefeito Municipal, manifestando grande preocupação com o Arquivo Público e a Biblioteca do Município. Em um dos tópicos, o IHP assinala que o ‘inestimável tesouro compõe o maior e mais rico arquivo público existente no interior fluminense, representativo de toda a vida petropolitana’. E enfatiza que ele “carece de melhor técnica, de esmerada conservação e de constante atualização”. Uma das argumentações mais fortes do documento é apreciar-lhe a finalidade e real importância quando afirma: “um Arquivo Público é tão essencial ao munícipe como qualquer outro setor da Administração, senão o mais expressivo, em razão de conter a documentação de toda a vida da população, das instituições, da política, enfim, constituindo-se no repositório documental de todo o processo evolutivo municipal”. Atualmente o dito Arquivo encontra-se no prédio do Centro de Cultura Raul de Leoni em dependências da Biblioteca. Está mal instalado em salas e espaços inadequados e carente de climatização ambiental tecnicamente adequada; não oferece condições ideais aos consulentes. Em outro tópico do documento ressalta o IHP que “a manutenção do acervo não tem recebido a necessária atenção, faltando a modernização essencial para que seja mantido e preservado para as gerações futuras. Por fim, tem faltado a compreensão vigilante da Autoridade Pública quanto à sua visceral importância”. O Arquivo Municipal foi criado pelo Decreto nº 198, de 7 de janeiro de 1977, e desde essa época o acervo, para mais de uma década, já deveria ter um espaço adequado e o tratamento que merece, o que não vem ocorrendo, entra administração e sai administração. O documento do IHP esclarece, ainda, que “um Arquivo Público é primordial, alicerce para a prática diária da administração e fonte primária para a pesquisa histórica”. O IHP tem reconhecido pelo menos um fator determinante para que ainda exista a rica documentação, que contempla no documento, ao afirmar “que a situação do Arquivo Municipal estaria muito pior se não fosse a dedicação de funcionários municipais que a ela emprestam seu sacrifício e competência, embora sem respaldo técnico algum”. A solicitação final do IHP é que seja obedecida a legislação pertinente em vigor, urgindo iniciar projeto para o Arquivo, ressaltando-se que o documento ora protocolado ao Prefeito Municipal foi elaborado por uma comissão de historiadores e […] Read More

CINEMA, TRADIÇÃO E PIONEIRISMO

  CINEMA, TRADIÇÃO E PIONEIRISMO Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Petrópolis tem tudo a ver com o cinema. Dois dentre os pioneiros da sétima arte saíram da Cidade de Pedro. Primeiro, o comerciante William Auler, nascido Cristóvão Guilherme Auler a 27 de setembro de 1865, em Petrópolis, lançou no início do século XX, o “Grande Cinematógrafo Rio Branco”, no Rio de Janeiro, sob a razão social de “William & Cia.”. Em seguida passou a produtor, aliando-se a Júlio Ferrez, produzindo filmagens de espetáculos operísticos e registro de atualidades, mesclando elementos de música, teatro e documentarismo. O segundo cineasta petropolitano foi Henrique Pongetti, realizador de um filme “A Estrangeira”, no ano de 1914, filmado em Petrópolis e com elenco integrado por amigos da terra. Pongetti tornou-se jornalista e dramaturgo de renome, sem abandonar o cinema para o qual escreveu o argumento do clássico filme “Favela dos meus Amores”, dirigido pelo mestre Humberto Mauro, no ano de 1935. Mais tarde, em 1952, fez o roteiro de “Tudo Azul”, dirigido por Moacyr Fenelon, musical de grande sucesso. Antes, porém, desses ilustres feitos, Petrópolis foi palco de dois acontecimentos da História do Cinema: a filmagem de cena da vida petropolitana e a primeira exibição de um filme brasileiro em território nacional. Com efeito, no dia 1º de maio de 1897, no Teatro Cassino Fluminense, à Avenida XV de Novembro (hoje Rua do Imperador nº 970, Edifício Profissional) o empresário Victor de Mayo, em um prédio de um pavimento, adaptado à atividade, exibiu os filmes curtos “Uma artista trabalhando no trapézio do Politeama”, “Chegada do trem em Petrópolis” e “Bailado de crianças no Colégio do Andaraí” e, na sessão de 6 de maio seguinte, mais uma fita nacional “Ponto terminal da linha de bonde de Botafogo vendo-se os passageiros subir e descer”. Não eram filmes como conhecemos hoje e sim pequenas cenas, seguindo o modelo de Lumière, mostrando a vida cotidiana. No mesmo programa passaram mais 16 filmetes (vamos chamá-los assim), da produção européia e norte-americana. Victor de Mayo utilizou-se de equipamento “Edison”, denominado “Cinematógrafo”. Da propaganda divulgada pela “Gazeta de Petrópolis”, a entusiasmada chamada: “Hoje, amanhã e domingo, duas estupendas funções nunca vistas nesta capital. Exibir-se-á o CINEMATÓGRAFO do grande e nomeado EDISON. Esta última maravilha e grande descoberta tem chamado a atenção do mundo inteiro. Pela sua realidade devem todos assistir à sua […] Read More

ESCOLA DE MÚSICA SANTA CECÍLIA: ORGULHO CULTURAL DE PETRÓPOLIS*

  ESCOLA DE MÚSICA SANTA CECÍLIA: ORGULHO CULTURAL DE PETRÓPOLIS (*) Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Desde os tempos imperiais e, principalmente, na última década do século XIX, Petrópolis era sítio obrigatório para a fuga ao calor e aos problemas de saúde que grassavam no Rio de Janeiro. Com a industrialização atraia trabalhadores do Exterior e do País e o trem de ferro estabelecia a união estreita da cidade com os mineiros imigrantes. A República, recentemente instaurada, sofria pressões políticas e a Revolta da Armada contra o governo de Floriano Peixoto feria a paz, estando decidida a mudança da capital do Estado do Rio de Janeiro para Petrópolis. Os verões alegres da cidade, a tranqüilidade, o ambiente saudável, a garantia de emprego, atraiam e fixavam uma nova população que se integrava paulatinamente aos colonos alemães. A Família do Barão de Araújo Maia não fugia à regra e desde o ano de 1890 veraneava em Petrópolis. Subia a serra, com ela, o professor de música João Paulo Carneiro Pinto, pernambucano talentoso e excelente músico, “Medalha de Ouro” do Conservatório de Música do Rio de Janeiro. Gostou, ficou e resolveu abrir um ensino de música para crianças talentosas e, principalmente, sem recursos, deixando definitivamente a vida carioca. No dia 16 de fevereiro de 1893 instalou a sua Escola com 34 alunos, escolhendo o nome da padroeira da música Santa Cecília para a denominação do curso. Andando de um prédio para outro, vivendo de doações e subvenções do Poder Público e do empresariado, a Escola foi acolhida no Hotel Bragança que nada cobrava do maestro, expandindo sua Escola pelos salões e salas do grande prédio na Rua do Imperador. A Escola Santa Cecília, de Paulo Carneiro, tornou-se presença obrigatória em toda a vida cultural e festiva de Petrópolis, não só pelo ensino como pela orquestra, participante efetiva de todas as festividades públicas e particulares. O maestro era respeitadíssimo e extraordinária figura da vida petropolitana. Ao falecer o maestro, a 10 de setembro de 1923, com ele também estava fenecendo o Hotel Bragança. – Não deixem morrer a minha Escola! – pediu o Maestro aos seus amigos e devotados auxiliares. Na manhã de 23 de setembro de 1923 reuniram-se esses amigos com Sanctino Carneiro, filho do maestro, que abriu mão de todos os bens do pai – representados por instrumentos musicais e a própria […] Read More

D. PEDRO II NO TEATRO

  D. PEDRO II NO TEATRO Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira 1.- ANTECEDENTES No século XIX os palcos cênicos descerravam cortinas à cultura, às artes em geral, ao divertimento, ao entretenimento, ao lazer. O Teatro era a diversão complementar da leitura, dos saraus, dos encontros nas livrarias e do recesso dos lares. Outro poderoso agregador de público era o oficio divino, com um protagonista e seus coadjuvantes e a platéia sob o latim das celebrações de insuficiente conhecimento popular. No Brasil, a presença dos Reis e Imperadores no Teatro começou com D. João. Já existiam teatros e abnegados cultores e tão logo chegou ao país o Príncipe Regente e sua Corte, em 1808, o empresário Manuel Luís tentou atrair as atenções das fidalgas personalidades para o seu trabalho. Reformou o seu Teatro chamado “Nova Ópera”, nele construiu acomodações que pudessem receber as ilustres figuras, pintou um novo pano de boca e cenários. Testemunhas daqueles dias narraram que D. João preferia as festividades religiosas ao teatro mas, quando comparecia aos espetáculos era visto, no camarote real, dormitando enquanto os dramas eram desenvolvidos no palco. Quando terminava a representação, acordado e refeito, perguntava: – Estes marotos já se casaram ? Os dramas da época, românticos e por vezes trágicos, terminavam em casamento, daí a pergunta que o colocava inteirado do que acontecera. – Sim, Principe, casaram e foram felizes para sempre ! A peça de sua predileção, que o fazia rir e o mantinha desperto era “A Mulher Inimiga do seu Sexo”. O teatro “Nova Ópera” durou até 1813. O empresário Manuel Luís entregou as chaves ao Príncipe, que aproveitou o prédio para abrigo da criadagem do Paço. D. João cuidou de dotar a cidade de um bom teatro, construido no Largo do Capim, sobre os alicerces da catedral da Praça da Sé Nova, cuja edificação não fora adiante. No local hoje está o Teatro João Caetano. Foi inaugurado a 12 de outubro de 1813 com espetáculo de gala em comemoração ao aniversário do Principe D. Pedro. Foi encenado o drama lírico Juramento dos Numes e a peça patriótica O Combate de Vimeiro. Quando D. João comparecia ao teatro acompanhava-o enorme comitiva: pessoas da familia real, infantes, ministros, fidalgos e damas, num festival de fardões decorados de folhagens em ouro, decotes, crachás, cabeleiras emproadas, rabichos, toucados, vestidos de seda rubra; o camarote […] Read More

SOBRE A FUNDAÇÃO

  SOBRE A FUNDAÇÃO Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Na década de 30, o Centenário de Petrópolis agitou o segmento histórico-cultural da cidade com a preocupação de ser marcada plenamente a data e, destarte, inseri-la definitivamente no calendário histórico do Município. Por esse tempo surgiram duas correntes que digladiavam pela fixação da data da fundação. A primeira, com Antônio Joaquim de Paula Buarque, médico, político, ex-prefeito, de grande prestígio pessoal e profissional, defendendo o 29 de junho de 1845, data da chegada dos colonos germânicos a Petrópolis; a segunda, à frente Alcindo de Azevedo Sodré, de mesmos atributos, objetivando a data da assinatura do Decreto Imperial nº 155, em 16 de março de 1843, pelo então jovem Imperador D. Pedro II. A disputa intelectual foi acirrada, de elevado nível, resultando na ampliação dos estudos históricos petropolitanos. Ganhou a pesquisa, o município, a historiografia, sendo despertado de forma positiva e direta o interesse pela nossa História, até então pesquisada por alguns interessados, em artigos de interesses pontuais, hoje excelentes auxiliares da moderna pesquisa. A peleja intelectual foi vencida pelo grupo de Alcindo de Azevedo Sodré, fixando-se o 16 de março de 1843 como a data da fundação e o 29 de junho de 1845 o marco da colonização. Em virtude desse consenso, vencedores e vencidos uniram-se para a elaboração de um calendário de comemorações para a data centenária. Alcindo Sodré, então vereador no ano de 1936, tomou a iniciativa e apresentou a 28 de novembro uma indicação para a criação de uma comissão destinada ao levantamento da História de Petrópolis. O prefeito interventor Yeddo Fiúza acolheu e deu curso ao projeto por Ato de 28 de junho de 1937, instituindo uma Comissão de alto nível integrada por “figuras representativas da cidade e outras residentes fora do Município mas ligadas a Petrópolis pela atuação pública de seus antepassados ou, ainda, pelo próprio renome dos convidados”. A Comissão encarregou-se do levantamento da história, de seus personagens de vulto e preparou o calendário das comemorações do centenário, em 16 de março de 1943, tendo publicado importante obra “Trabalhos da Comissão”, com rica poliantéia de trabalhos de renomados participantes do colegiado. Em uma sessão da Comissão, em 10 de setembro de 1938, o Dr. Henrique Carneiro Leão Teixeira Filho sugeriu a criação do Instituto Pedro II, idéia que evoluiu para um designativo mais amplo, encontrando […] Read More

SÍRIO-LIBANESES EM PETRÓPOLIS (OS)

  SÍRIO-LIBANESES EM PETRÓPOLIS (OS) Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira (sob estudo de Yedda Maria Lobo Xavier da Silva, uma saudade imensa de todo o coração petropolitano) A colonização alemã é muito estudada, a portuguesa revivida e a sírio-libanesa teria ficado esquecida no registro de nossa história se não fosse a saudosa e querida professora, bibliotecária e historiadora Yedda Maria Lobo Xavier da Silva, que escreveu e publicou na Revista do Instituto Histórico de Petrópolis, páginas 97 a 107, edição do ano de 1989, o artigo “Imigração Sírio-libanesa”. O levantamento foi feito pela professora, ela descendente direta da família Mitri Dib, que veio para o Brasil com 5 integrantes, os irmãos Anibal, Felippe, Elias, Teófilo, João e Helena, originários de Tartus, na Síria. Segundo narra Yedda, foi assim que Mitri Dib virou Lobo: “Por decisão do Serviço de Imigração e para regularização de seus documentos tiveram seu nome transformado em “Lobo” – os irmãos Lobo”. Continuando sua narrativa, a historiadora revela: “Os primeiros a vir para o Brasil em 1908 foram Anibal e Elias e em 1911 chegam Felippe e João, ficando todos sediados no Rio de Janeiro. Em 1913 Elias volta para a Síria e com o surgimento da 1ª Guerra Mundial não retorna mais. Em 1920 Anibal vem para Petrópolis e começa a trabalhar aqui no comércio ambulante de flores, trazendo logo depois seus irmãos para nossa cidade. Em 1923, Felippe volta à Síria, lá permanecendo por um ano. Retorna ao Brasil em 1924 trazendo seus irmãos Teófilo e Helena e sua mãe Labib-Dib”. A reminiscência histórica da professora Yedda narra a odisséia da sua família, sua fixação na cidade, o sucesso na atividade comercial e, em especial, seu pai Felippe vence com a conceituada “Flora Oriental”, a qual, com seu falecimento em 1974 continuou por muitos anos sob a direção da viúva Angelina.. Sempre com base no estudo de Yedda, recordemos e louvemos o trabalho, principalmente no comércio, de algumas importantes famílias sírio-libaneses que ajudaram e ajudam a escrever a melhor história de Petrópolis: Nassar (imigrante Salim Jorge Nassar, Líbano 1889), ramo da armarinho; Nassif (imigrante Euzébio Nassif, Djoubeil, 1893), ramo de tecidos e armarinho, a famosa “Casa do Galo”; Cury (imigrantes Afonso, Amim, Abdala, Roa, Sofia, Maira, Zilda, Marta e Amelin, oriundos de Mazrait-Yachuch) de dedicados e diversos ramos do comércio a varejo e atividades industriais; […] Read More