ESCOLA DE MÚSICA SANTA CECÍLIA: ORGULHO CULTURAL DE PETRÓPOLIS (*)
Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira
Desde os tempos imperiais e, principalmente, na última década do século XIX, Petrópolis era sítio obrigatório para a fuga ao calor e aos problemas de saúde que grassavam no Rio de Janeiro. Com a industrialização atraia trabalhadores do Exterior e do País e o trem de ferro estabelecia a união estreita da cidade com os mineiros imigrantes. A República, recentemente instaurada, sofria pressões políticas e a Revolta da Armada contra o governo de Floriano Peixoto feria a paz, estando decidida a mudança da capital do Estado do Rio de Janeiro para Petrópolis. Os verões alegres da cidade, a tranqüilidade, o ambiente saudável, a garantia de emprego, atraiam e fixavam uma nova população que se integrava paulatinamente aos colonos alemães.
A Família do Barão de Araújo Maia não fugia à regra e desde o ano de 1890 veraneava em Petrópolis. Subia a serra, com ela, o professor de música João Paulo Carneiro Pinto, pernambucano talentoso e excelente músico, “Medalha de Ouro” do Conservatório de Música do Rio de Janeiro. Gostou, ficou e resolveu abrir um ensino de música para crianças talentosas e, principalmente, sem recursos, deixando definitivamente a vida carioca. No dia 16 de fevereiro de 1893 instalou a sua Escola com 34 alunos, escolhendo o nome da padroeira da música Santa Cecília para a denominação do curso. Andando de um prédio para outro, vivendo de doações e subvenções do Poder Público e do empresariado, a Escola foi acolhida no Hotel Bragança que nada cobrava do maestro, expandindo sua Escola pelos salões e salas do grande prédio na Rua do Imperador.
A Escola Santa Cecília, de Paulo Carneiro, tornou-se presença obrigatória em toda a vida cultural e festiva de Petrópolis, não só pelo ensino como pela orquestra, participante efetiva de todas as festividades públicas e particulares. O maestro era respeitadíssimo e extraordinária figura da vida petropolitana.
Ao falecer o maestro, a 10 de setembro de 1923, com ele também estava fenecendo o Hotel Bragança.
– Não deixem morrer a minha Escola! – pediu o Maestro aos seus amigos e devotados auxiliares.
Na manhã de 23 de setembro de 1923 reuniram-se esses amigos com Sanctino Carneiro, filho do maestro, que abriu mão de todos os bens do pai – representados por instrumentos musicais e a própria Escola -, iniciando a organização da sociedade civil que é hoje a Escola de Música Santa Cecília, 111 anos de existência, no ano comemorativo dos 150 anos do nascimento do fundador Paulo Carneiro.
De prédio em prédio, a sociedade, por fim, adquiriu uma pequenina casa na Rua Marechal Deodoro nº 192, esquinada com a Rua General Osório, onde se instalou com os cursos musicais e abrindo o salão para as atividades artísticas em geral, com um cine-teatro. Graças a uma campanha sólida, junto à população petropolitana, em 1950, arrecadou-se significativo capital. O pequenino prédio foi demolido e, em seu lugar, levantado o Edifício Paulo Carneiro e o Teatro Santa Cecília. Enquanto em obras, a Escola funcionou no Palácio de Cristal, por deferência da Prefeitura de Petrópolis. Em 1955 chegava às novas instalações, onde até hoje corporifica o sonho feito realização do Maestro Paulo Carneiro.
Homenageando as centenas de alunos, professores e dirigentes, que passaram pelos bancos escolares e administrativos, citamos três extraordinárias personalidades da Arte Musical, todos petropolitanos natos, de três fases da Escola: da primeira, (século XIX) a pianista Magdalena Tagliaferro, aluna do maestro Paulo Carneiro; da segunda (1ª metade do século XX), o maestro, pesquisador e compositor César Guerra Peixe; da terceira: o maestro, compositor e pesquisador Ernani Aguiar (2ª metade do século XX).
A Escola de Música Santa Cecília é, hoje, indelével e maravilhoso patrimônio cultural de nosso País.