Joaquim Eloy Duarte dos Santos

HISTÓRIA DEMOLIDA

  HISTÓRIA DEMOLIDA Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Houve um tempo longo de nenhum cuidado. Em nome do progresso civilizações foram destruídas e sepultadas em proveito da futura arqueologia. O que poderia permanecer luzindo ganhou a poeira e o soterramento. Grandes conflitos mundiais destruíram e destruíram em nome da barbárie do poder sem freios. Vivemos 20 séculos, – numerados a partir de um momento histórico-religioso -, de transformações com poucos exemplares vivos da narrativa da Criatura Humana. Essas hecatombes medraram o desenvolvimento científico, aprimorando o conforto de muitos e gerando o infortúnio da grande massa de sobreviventes. Uma lei natural que jamais estancou as graves feridas da Humanidade porém elevou o Ser Inteligente a uma tecnologia de conforto para o bem viver mas frágil diante das botas dos poderosos por sobre as cabeças dos miseráveis. O término da 2ª Guerra Mundial alertou a todos sobre o mau exercício da Humanidade em relação ao seu patrimônio. De repente, após a insanidade de grupos políticos desumanos, o rico patrimônio dos Velhos Continentes estava depositado no pó das ruas cobertas por cadáveres. Urgia a reconstrução, a retomada do conceito de herança, o bálsamo para as feridas expostas no desencanto das criaturas de boa vontade. No Brasil, tão distante de tudo e sofrendo a invasão da massificação cultural distante de nossas origens, ofuscante no brilho das garrafas de refrigerantes, entendeu que modernizar era destruir o velho, coisa que a Capital da República, a cidade do Rio de Janeiro, já fizera no início do século XX com o Morro de Santo Antônio e a moderna Avenida Rio Branco. Pois muito bem – certamente muito mal – chegou a Petrópolis a sanha do “novo” na poeira levantada pela construção civil e reavaliações urbanas, nos tempos da guerra e post ela, gerando uma série de derrubadas de prédios, casarões, monumentos da arquitetura e da engenharia petropolitana histórica, para a edificação de caixotes largos, médios, finos, muito longe da tradição formativa de nossa cultura. Não se respeitou nada, esquecendo-se todos que sepultava-se o futuro da cidade, a vocação tão propalada hoje pelo turismo, deitando-se no chão exemplares raros da História do Brasil dos séculos XIX e XX, enfeixando no meio de prédios bonitos e de estilos rebuscados, os espigões lisos, apertando e afogando os sobrados, machucando a estética e aviltando a beleza espremida. Escapou muito pouco e o […] Read More

HERÓI PETROPOLITANO (O)

  O HERÓI PETROPOLITANO Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira   A 20 de setembro de 1896 nasce em Petrópolis o herói nacional Eduardo Gomes. Infância normal aqui na sua terra com seus pais. Aos 20 anos de idade ingressa na Escola Militar de Realengo, seguindo uma tradição militar de família já que seu pai pertencera aos quadros da Marinha de Guerra Brasileira. Entusiasmado com a aviação, cujo pioneiro fora Alberto Santos=Dumont, que apreciava e conhecia em Petrópolis, o jovem passa para a Escola de Aviação, integrada de cadetes cheios de entusiasmo e sob o encanto da grande novidade que exigia arrojo, perícia, coragem e desprendimento. No ano de 1922, eclode a revolta dos tenentes do Forte de Copacabana, em episódio célebre que passou à história como “Epopéia dos 18 do Forte”. Nele está integrado o jovem Eduardo Gomes. No dia 5 de julho, em protesto contra o fechamento do Clube Militar e a prisão do ex-Presidente da República Hermes da Fonseca, estando esgotadas as negociações com o governo os jovens tenentes, liderados por Siqueira Campos, saem em marcha para enfrentar as tropas do governo. Previamente uma bandeira brasileira é cortada em 29 pedaços que são repartidos entre os revoltosos. Começa a caminhada a partir do Forte seguindo a Avenida Atlântica. Alguns debandam e 18 chegam até o Hotel de Londres, a eles se juntando um civil, o engenheiro Otávio Correia. São recebidos por tremenda fuzilaria desfechada por 3.000 soldados legalistas entrincheirados. Caem baleados dez revoltosos e vivos apenas dois: os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes, ambos muito feridos, imediatamente internados no Hospital Militar. Morrem no combate: o civil Otávio Corrêa, os tenentes Mário Carpenter e Nilton Prado e os soldados José Pinto de Oliveira, Manoel Antônio dos Reis e Hildebrando da Silva Nunes e dois não nominados. O heroísmo dos tenentes que não recuaram, avançando resolutos contra as tropas do governo, confere a Eduardo Gomes, juntamente com seus companheiros, o primeiro galardão de coragem e desprendimento em favor do país, ficando seu nome gravado no panteão dos mais admirados heróis brasileiros.. Após recuperar-se dos ferimentos é preso, consegue fugir para o interior do país, trabalhando como professor. Consegue identidade falsa até que no ano de 1924 está de novo em luta contra o governo federal participando de um raid de aviadores que sitiam a cidade de São Paulo e […] Read More

CINEMA EM PETRÓPOLIS – SUA HISTÓRIA

  CINEMA EM PETRÓPOLIS – SUA HISTÓRIA Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira O CINEMA PETRÓPOLIS INÍCIO PELO FIM Na noite de 21 de abril de 1996 a tela do Cinema Petrópolis foi iluminada pela última vez. O filme exibido “Coração Valente”, protagonizado por Mel Gibson, coloriu de muita aventura a despedida do maior e mais confortável cinema do Município. Alguns cinéfilos fizeram questão de permanecerem até as 23 horas, retirando-se devagar e lançando últimos olhares para o salão, a tela, o monumental espaço, esperando o projecionista desligar as máquinas, as luzes serem apagadas e acompanhando, já na calçada, os funcionários fecharem as portas. Na manhã de 22 de abril, muito cedo, funcionários da empresa Luiz Severiano Ribeiro, desmontaram o cinema, embarcaram tudo para o Rio de Janeiro, lacrando as portas e sepultando definitivamente o palácio de tanto sonho, divertimento, emoção, música, levando naquelas barulhentas viaturas um pouco da alma de cada espectador. Na mesma semana, a empresa Severiano Ribeiro recebeu visita de petropolitanos inconformados mas que não apresentaram nenhuma alternativa financeira válida para a continuidade do cinema. A argumentação mais forte do empresário era o número reduzido de freqüentadores, tornando inviável o funcionamento do gigantesco cinema em imóvel alugado, não cobrindo a ínfima renda as despesas da mínima manutenção. Abria-se, para a reminiscência do Município, mais um capítulo da sua melhor História Cultural, que tivera em seu palco tantos teatros e cinemas desde o início da povoação fundada por Júlio Köeler e D. Pedro II. O TEATRO XAVIER No ano de 1913, no espaço urbano, que corresponde ao números 804 a 808 da Rua do Imperador, o capitalista João Xavier fez construir um sobrado amplo destinado ao funcionamento de um teatro. Caprichou na concepção arquitetônica procurando edificar um espaço de diversões com as características dos melhores teatros do Distrito Federal. O salão de espetáculos foi projetado e construído com 28 camarotes, 18 frisas, 620 cadeiras e 400 galerias, com bom palco e camarins confortáveis. A fachada compunha-se, no térreo junto a calçada, de 3 portas, com entrada central onde eram expostos os cartazes e fotografias dos espetáculos, enquanto as demais destinavam-se ao comércio. Passada a sala de exposição e a bilheteria, penetrava-se em um corredor e, em meio a este, a esquerda, abria-se espaçosa sala de espera com cadeiras estofadas; no final do corredor chegava-se a uma grande área ao […] Read More

MAUÁ E D. PEDRO II

  MAUÁ E D. PEDRO II Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira Olhar firme, decidido, sem vacilações; postura altaneira, gigantesca presença recebida entre murmúrios de aprovação, encantamento, respeito, inveja… Entra no salão o senhor Ireneo Evangelista de Souza, nobre cidadão empreendedor, provocando acenos de cabeça, cochichos, interjeições, esgares de repulsa, olhos brilhantes de admiração, o rastejar de víboras traiçoeiras… É o Visconde de Mauá o centro dos olhares e das atenções enquanto passa pelo salão em caminho para o cumprimento formal e protocolar ao Imperador D. Pedro II, como ele, de porte altaneiro e luminosidade gerada pelo clima de raro espanto de quantos vivem a sedução das cores e da pompa do Império Brasileiro. Uma pompa decerto modesta se comparada aos impérios do Velho Mundo, onde a soberba esconde a mediocridade de corações e cérebros sem o poder verdadeiro: o poder da visão de futuro. Aqui, em nossa Monarquia, mesmo enriquecida de poucos notáveis extraordinários idealistas e luminares do saber e do conhecimento, habita o esforço pela conquista, onde tudo puxa o ideal para a ré do desenvolvimento; estes valentes idealistas, nessa contramão, rasgam os ares da indiferença, rompem os caminhos inóspitos, arrostam os perigos das escaladas mais íngremes das montanhas do saber e da superação dos problemas. Eis que dois cidadãos, cada um de um lado dessa visão nobre da cidadania, rompem os cânones da fátua contemplação mediante a criatividade e a coragem, assustando aqueles que nada fazem porque nada têm para oferecer. Dois cidadãos brasileiros ; um, vindo dos lençóis palacianos de ascendência nas velhas famílias aristocráticas há séculos no poder ; outro, apenas um visionário, de biografia modesta quanto a honrarias, de presença comum, cuja inteligência arrojada transforma qualquer idéia em realização, qualquer ação em conquista, qualquer sonho exeqüível em realidade. O olhar desses dois personagens não é enegrecido pelas pálpebras cerradas, antes, abrem-se às maravilhas da Criação Divina para, em as compreendendo, utilizá-las no desenvolvimento do conhecimento e da reta ação humana. D. Pedro II, o magnânimo Imperador, que habita aqui onde nos reunimos agora, mesmo que aparentemente indolente – no juízo de alguns – tem flama tão idealista que supera o ser imperador em favor da simplicidade de apenas ser criatura humana integral. Seus sonhos mais caros passam pelas cores de um arco-íris de sentimentos de realizador, de bom ouvinte como se fora eterno aprendiz, […] Read More

É NOSSA A MARAVILHA!

  É NOSSA A MARAVILHA! Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Ninguém duvida que o Museu Imperial é maravilhoso. Petropolitanos e visitantes alimentam grande carinho pelo Palácio de Verão do Imperador D. Pedro II, orgulho de Petrópolis e bem cultural e turístico conhecido e admirado em todo o globo terrestre. Dirigido, desde a sua fundação, por luminares da Cultura Histórica (Alcindo de Azevedo Sodré, Francisco Marques dos Santos, Luiz Affonso d´Escragnolle, Lourenço Luiz Lacombe e, hoje, por Maria de Lourdes Parreiras Horta), o Museu Imperial acaba de ser distinguido como uma das “Sete Maravilhas do Rio de Janeiro”, em concurso de votação popular. Justíssimo resultado porque o Museu Imperial é verdadeira preciosidade sob todos os aspectos. A Casa de Verão é um primor de arquitetura em todo o seu conjunto construído e paisagístico; o acervo guarda a melhor memória política, cultural e artística da História do 2º Reinado; a administração da Museóloga Drª Maria de Lourdes Parreiras Horta é atenta, criativa, moderna e de larga visão profissional e de rara sensibilidade; as valiosas atrações, como a Coroa Imperial, o Cofre de Joinville, as condecorações, os objetos de uso cotidiano e majestático, a pena de ouro da Princesa Isabel, com a qual firmou a redenção de nosso povo, a biblioteca especializada, o precioso arquivo documental, os espaços para a cultura e o entretenimento, tudo, tudo mesmo, torna o Museu Imperial um Patrimônio Universal. Para honra nossa, em Petrópolis, para cujo destino cultural e turístico vem contribuindo desde a sua fundação em 16 de março de 1943. Assim, é nosso Museu Imperial a cara e o retrato da Cidade de Pedro e também a de Getúlio Vargas, o presidente que teve a visão magnífica de futuro ao atender ao projeto de Alcindo de Azevedo Sodré, transformando o acanhado Museu Histórico de Petrópolis, instalado pelo Instituto Histórico de Petrópolis no Palácio de Cristal, na entidade de hoje e definitivamente no sítio de maior grandeza de toda a História de Petrópolis e do Brasil. Parabéns, o Museu Imperial é nosso! É nossa maravilha!..

ARTÉRIA DE MUITOS NOMES (UMA) – DE BOURBON A DR. NELSON DE SÁ EARP

  UMA ARTÉRIA DE MUITOS NOMES – DE BOURBON A DR. NELSON DE SÁ EARP Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira A atual Rua Dr. Nelson de Sá Earp, de cujo solo emergem espigões que escondem dos transeuntes o giro diário do sol, foi um inóspito morro da Fazenda do Córrego Seco coberto de mata densa. Suas sendas não eram riscadas por picadas firmes, pisadas por botas de viajantes, porque não era caminho regular, como a trilha pelo Alto da Serra que lançava os tropeiros na demanda da sede. No planejamento urbano de Júlio Frederico Köeler a via foi projetada e batizada com o nome de Rua de Bourbon e seria aberta no íngreme morro para dar acesso a uma praça traçada na planta, de nome Largo Dom Afonso, a atual Praça da Liberdade, cuja penetração inicial foi feita seguindo o curso do riacho a partir da Rua do Imperador. O nome Bourbon representava homenagem à ancestralidade da Família Imperial e Dom Afonso ao filho primogênito do Imperador e herdeiro do trono, nascido em 1845 e falecido em 1847. O grande brejo, que era o Largo Dom Afonso, tornou-se o grande lixão do povoado e a Rua Bourbon foi sendo rasgada no morro e sua terra servindo para aterrar o lixo infestado de insetos e exalando mau cheiro. O grande historiador petropolitano Walter Bretz, no seu trabalho “O Largo Dom Afonso”, publicado no jornal petropolitano “O Comércio” em vários dias dos meses de março e abril de 1924 e republicado pela “Tribuna de Petrópolis”, na edição de 10 de janeiro de 1959, descreve a primitiva Rua Bourbon: “A princípio essa rua não passava de uma sinuosa e acidentada picada que, segundo dizem os antigos, partindo mais ou menos, da esquina da atual avenida General Osório, seguia pelo alto dos morros e através os terrenos e junto às casas que, depois, pertenceram às famílias Dupont, João de Deus Campos, Hees e Glassow, precipitando-se, mais ou menos, no ponto onde hoje está a subida para o Morro do Cruzeiro. A rua atual foi toda escavada na montanha, e somente a 2 de dezembro de 1858, mais de treze anos após a fundação da colônia, entregue ao trânsito público de cavaleiros e veículos”. Aberta morro acima, a Rua Bourbon foi bordada de chalés de meia-água com ornatos em lambrequins de diversos desenhos. As construções […] Read More

ESTAÇÃO DE TRENS DE PETRÓPOLIS (O)

  A ESTAÇÃO DE TRENS DE PETRÓPOLIS Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira A Estrada de Ferro de Petrópolis foi a primeira construída no Brasil. Coube o feito ao engenheiro Ireneu Evangelista de Souza, Visconde de Mauá, após conseguir do Governo Imperial a concessão exclusiva para a navegação a vapor entre a cidade do Rio de Janeiro e o fundo da Baía de Guanabara. Estipulado o prazo da dita concessão em dez anos, tratou o grande empreendedor de estabelecer, em seguida, uma ligação mais rápida entre a Corte do Rio de Janeiro e a Raiz da Serra, na altura da Fábrica Imperial de Pólvora, cujo trajeto era feito por diligências ou em montarias. Com a ligação marítima do Cais Faroux até o Porto da Estrela, a idéia concretizada por Ireneu Evangelista de Souza foi a criação de uma linha férrea, o que lhe foi permitido através do Decreto nº 987, de 12 de junho de 1852, referendado pelo Ministro dos Negócios do Império, Francisco Gonçalves Martins, assinado pelo Imperador D. Pedro II. A 16 de dezembro de 1856 os trilhos da estrada chegaram à Raiz da Serra, num total de 16 quilômetros, cumprindo Ireneu Evangelista de Souza o contrato firmado com o Governo Imperial. Por alguns anos a linha férrea atingiu aquela localidade. Para chegar a Petrópolis utilizava-se de uma estrada calçada de pedras aberta no meio da mata, que atingia o Alto da Serra, para utilização de diligências e carruagens. A empresa sucessora da Companhia de Mauá, chamada Companhia Príncipe do Grão-Pará, obteve autorização do Governo Imperial, no ano de 1881, para a construção de mais seis quilômetros serra acima, em local acidentado, sob a direção do engenheiro Joaquim Lisboa, assistido pelo engenheiro Marcelino Ramos Pinto. A 11 de fevereiro de 1883 os trilhos chegaram a Petrópolis. Era um domingo, 9 horas da manhã, estando entre os primeiros passageiros a realizarem o novo trajeto o Imperador D.Pedro II, sua família e várias personalidades da Corte. No domingo seguinte, dia 18 de fevereiro, a estação foi inaugurada com pompa e circunstância pelo Imperador D.Pedro II. Para abrigar o terminal em Petrópolis, foi edificado um belo prédio de dois pavimentos, na Rua Toneleros (hoje Dr. Porciúncula), em belo estilo europeu, ladeado por um conjunto de marquises de proteção para os passageiros e que tomava todo o lado direito da artéria urbana. (Hoje […] Read More

PERDEMOS O BONDE

  PERDEMOS O BONDE Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Os mais antigos viram o bonde circulando por Petrópolis; alguns outros ouviram dele falar; a mocidade nem sabe do que estamos tratando, salvo se já se penduraram nos bondes de Los Angeles, Califórnia (USA), subindo e descendo das elevações ao nível do Oceano Pacífico e vice-versa. Ou na Disney. O bonde chegou a Petrópolis em 1895, trazido pelo grande empresário Franklin Sampaio, a pedido do Presidente da Câmara Municipal Dr. Hermogênio Silva. O melhoramento no transporte urbano ainda não rodava sobre trilhos e a tração era animal. No ano de 1910 a Companhia Brasileira de Energia Elétrica assinou contrato com a Câmara Municipal para a exploração do bonde elétrico, substituindo a tração animal e implementando os trilhos. Para o serviço e a segurança dos passageiros, foram reforçadas algumas pontes e, até, construídas novas de ferro, uma na Rua Souza Franco e outra diante do Palácio de Cristal. No dia 13 de dezembro de 1912 foi inaugurada a primeira linha do centro histórico para Cascatinha. Houve festa na Praça Dom Pedro com direito a dobrados pela Banda Euterpe, discursos e, em seguida, um lanche para convidados na sede da companhia, Rua Padre Siqueira, no prédio onde funciona hoje a empresa Fácil/Única. Mais adiante, com sucesso, as linhas Alto da Serra e Circular enfeitaram de alegria e ruidosidade as pacatas ruas petropolitanas. Os primeiros carros tinham encosto e assentos de palhinha; os vagões eram fechados em virtude do clima petropolitano, frio e chuvoso, e não como os do Rio de Janeiro onde o bom era viajar pendurado nos estribos. A molecada, em Petrópolis, não podia viver perigosamente suas piruetas de infância em nossos sóbrios e bem comportados bondes. Dois funcionários conduziam o bonde: o motorneiro e o condutor, cabendo a este último a cobrança das passagens e a fiscalização geral enquanto circulava. Em épocas de veraneio, quando a população aumentava, duplicavam os bondes em circulação, acrescentavam-se horários estratégicos e, até, lançavam-se nos trilhos carros abertos que o povo apelidava de “caixa-de-fósforos” e “chama-chuva”. Perfeitamente integrado à vida da cidade, funcionou, por largo tempo, carro especial destinado ao serviço de carga para utilização das indústrias, principalmente nas linhas do Alto da Serra e de Cascatinha. No governo do Prefeito Oscar Weinschenck, no ano de 1922, as extensão das linhas foi ampliada para os lados […] Read More

ALBERTO TORRES – O POLÍTICO

  ALBERTO TORRES, O POLÍTICO Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Alberto de Seixas Martins Torres, o político. Eis um tema para desfiar em tecidos de muita cautela. Afinal, segundo seu admirador e seguidor Cândido Motta Filho: “Alberto Torres exerceu a política, discretamente, mediocremente. Foi presidente do Estado do Rio de Janeiro, foi parlamentar, ministro de Estado, conspirador da revolução republicana; mas, em todas as funções políticas em que esteve, não deixou um traço que o distinguisse da mediania dos políticos brasileiros. No governo do Estado escreveu magníficas mensagens; isto quer dizer que ele só se destacou na política, quando pode apresentar-se como pensador”. Em outro trecho da obra “Alberto Torres e o Tema da Nossa Geração”, editado em 1931, o mesmo autor completa a observação: “Não foi um político, nem no sentido de homem de Estado, já disse antes. Mas, há um outro sentido de político, segundo a opinião de Ortega y Gasset, quando estuda a personalidade torrencial e frenética de Mirabeau: “Ser político é ter uma idéia clara do que se deve fazer para transformar um Estado em Nação. E ninguém, nesse sentido, foi mais político do que Alberto Torres!” Nossa civilização brasileira vive em entornos fantásticos de insensatez, predominando, em percentual expressivo, o casuísmo sobre a tese. Daí, relatarem as crônicas desavisadas do dia-a-dia ser político o ente que se apresenta candidato, é eleito, exerce cargos públicos, dirige partidos, enfim, o ser humano exposto diante da mídia por sua ação de homem público. Na média, sim. No todo uma aberração conceitual sem precedente. E vem à baila a frase de forma redundante mas de definição precisa: Existem “políticos” e políticos. O aspado será, numa conceituação extraída de sua capacidade de ação, reação e conteúdo, qualquer figura profissional menos a política. Alberto Torres, nasceu no Distrito do Município de Itaboraí, na atual ruína urbana de Porto das Caixas, terra de muito prestígio no século passado e natal do Visconde de Itaboraí, Joaquim José Rodrigues Torres, Ministro da Marinha do primeiro gabinete da Regência Permanente, além de outras dez vezes Ministro de Estado e duas vezes Presidente de Gabinete. A Vila de Itaboraí também viu nascer o romancista Joaquim Manuel de Macedo e o grande astro da cena teatral João Caetano dos Santos. Porto das Caixas foi o segundo porto comercial da Baia de Guanabara, centro nervoso de passagem da […] Read More

AFRÂNIO PEIXOTO EM PETRÓPOLIS

  AFRÂNIO PEIXOTO EM PETRÓPOLIS Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Bastos Tigre, nosso grande poeta e cronista, era um inveterado veranista. Veranista… Era assim chamado aquele que subia a serra e vinha passar alguns meses do verão em Petrópolis. Invariavelmente era de dezembro a março, começando, para alguns, um pouco antes e terminando, para outros, pouco depois. A regra mais comum era obedecer aos maiores: até 1889, a Corte do imperador D. Pedro II; a partir daí, até os anos 60, ao séquito do Presidente da República. Chegavam os cabeças e vinham atrás os membros. Petrópolis enfeitava-se de toilettes refinadas, em tempos do final e início do século XX e, em seguida, dos costumes de griffes, dos penteados gomalinados, dos ternos de corte nobre. Era um farfalhar incessante de roçados de muitos tecidos, o cloc-cloc encampainhado de charretes ou, ainda “fon-fons” desagradáveis de rolantes viaturas que faziam latir os cães e provocar estrepolias dos meninos de olhos buliçosos. Falava de Bastos Tigre, um de nossos mais interessantes e gostosos veranistas. Pois ele teve a cachimônia de cometer um soneto, naquele seu estilo delicioso, que define, com precisão jocosa “O VERANISTA O veranista, porque a moda o ordena, para a Serra dos Órgãos se desloca. Mal, com os rigores do verão carioca, os refrescos e os leques vêm à cena. Mas a chuva, encharcando a serra amena, faz de cada vivenda escura toca. Debalde a gente Santa Clara invoca, Petrópolis está de fazer pena ! Domingo. O “ruço”. A chuva miúda e fina… E o resto da semana se padece a tortura dos trens da Leopoldina. Mas chega Abril. Tudo mudar parece ; risonha é a serra… o ambiente se ilumina, chega o bom tempo. O veranista desce…” Naqueles idos dos anos 20 a 50, período do fervilhar de forasteiros sazonais, Petrópolis era enriquecida com a mais fina concentração de personalidades brasileiras e internacionais. Dizia o jornalista e publicista João Roberto d’Escragnolle: “Petrópolis é o melhor tônico !” Subir para Petrópolis, no verão, era imperativo da nobreza por títulos ou por boas e razoáveis finanças ou, ainda, meros interesses políticos Nossa cidade era encantadora.; a coqueluche do país; o tônico rejuvenescedor dos aflitos imigrantes da canícula carioca. Guilherme de Almeida, “habitué” da cidade, em deliciosa crônica na revista “Ilustração Brasileira”, abril de 1938, comentando o findo verão daquele ano, assim descreveu […] Read More