A SAUDOSA ENGENHOCA Gabriel Kopke Fróes, associado fundador, patrono da cadeira n°. 18 A Tomás Gonçalves Dias Goulão, filho de Pedro Gonçalves Dias e Maria Brígida da Assunção, coube, por morte de sua mãe em 1829, o nosso conhecido Retiro de São Tomás e São Luís. Essa extensa gleba, cujas terras começavam na Westphalia, pouco abaixo do local em que viria a ser construído o atual Matadouro Municipal e terminavam em Corrêas, nunca chegou a produzir grande coisa. Seu solo era, todo ele, coberto por magnífica floresta, mas era só. Em 1840, o Goulão, após haver arrendado a Fazenda do Córrego Seco e tentado, sem sucesso explorá-la comercialmente, resolveu constituir em senhorio as terras do seu Retiro de São Thomás e São Luís. E para moradia, lá construiu a Fazenda da Engenhoca com linda casa posta em pitoresco outeiro e interessante pequena lavoura, sobressaindo o pomar, as árvores do cravo da Índia e o chá chinês. O nome de Engenhoca derivou do avantajado monjolo que funcionava atrás da casa. No entretanto, só com a abertura, em 1858, da estrada União e Indústria, flanqueando as terras de ponta a ponta, é que a região passaria a desenvolver-se razoavelmente. Era Tomás Goulão excelente criatura, tanto que foi agraciado pela Coroa com as insígnias de Cavalheiro da Ordem de N. S. Jesus Cristo. Mas tendo chegado a casa dos oitenta anos no estado de solteiro, não passava, talvez por isso mesmo, de um refinado apreciador do belo sexo … E já velhinho, inofensivo, de pernas frouxas, mãos trêmulas e gengivas murchas, não se conformava em viver apenas das recordações: seu olhar para qualquer rabo de saia denunciava bem o fogo a lhe tostar a alma. Costumava dizer, muito sério, que estava um pouco usado, mas velho nunca … Ginete emérito nos bons tempos, conservava, apesar de tudo, o gosto pelos passeios a cavalo. Nos últimos anos, trocara a montaria por uma burrinha branda de gênio e muito afeiçoada que lhe merecia confiança, principalmente, por ser velhota também. Em 1872, afinal, o acúmulo de anos arrebatou o bom Goulão do número dos vivos. Um mal-estar indefinido durante o dia, agravado à noite, e a parca inexorável, com sua horrenda foice, entendeu que já era tempo de cortar o débil fio que prendia à vida o venerando Tomás Gonçalves Dias Goulão. E antes do raiar da madrugada, lá se foi para o além aquela […] Read More
HERÓICO SARGENTO BOENING (O)
O HERÓICO SARGENTO BOENING Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18 Baía da Guanabara, 23 de novembro de 1944. O dia desponta e a débil claridade mal deixa ver o “General Meigs”, grande transporte de guerra norte-americano que, comboiado por cruzadores e aviões, demanda a barra do Rio de Janeiro, de partida para além-mar. É o 4º Escalão da Força Expedicionária Brasileira, integrado por 4691 oficiais e praças, a embarcar para o teatro de operações de guerra na Itália. A bombordo, entre outros, estão debruçados à amurada dois nossos conhecidos: o tenente Virgínio de Morais e o 3º sargento Francisco Luís Roberto Boening. Olhos fixos no horizonte, absortos, contemplam algo que, pelo jeito, deve ser muito importante: além, muito além, onde a terra acaba e o céu começa, já se vislumbra através da névoa, sob a luz hesitante do sol nascente, a serra de Petrópolis. Sensibiliza-os o quadro fugitivo, pois lá haviam deixado seus parentes: o tenente, a esposa e os filhos; e o sargento, os pais e irmãos e mais quem sabe? – outra pessoa também muito querida … E ali, alheios a tudo em volta, permaneciam ambos, enleados que se achavam na trama da saudade e da imprevisibilidade da sorte de quem parte para a guerra! … Clareou, enfim, o dia e, nesse instante, ouve-se, pelo alto-falante de bordo, uma mensagem aos expedicionários: “Soldados! Contemplemos o cenário imponente da Capital Brasileira. Esta visão de encantamento retrata todo o Brasil em sua vitalidade, progresso e civilização. É honra e glória defendermos, de armas na mão, esse imenso patrimônio. Contemplemos a Cidade Maravilhosa, para guardá-la bem na lembrança, pois a muitos não mais será dado revê-la, porque não voltarão …” – Eu … não voltarei! exclama o sargento Boening, retendo a custo as lágrimas e com a voz embargada pela emoção. Do alto do Corcovado, em meio à bruma, emergia o Redentor que, meigo e sereno, parecia abençoar os que partiam em defesa da civilização cristã periclitante nos campos europeus! O colosso que era o “General Meigs” já transpusera a barra e começava a navegar em alto-mar. Da doce serra de Petrópolis, com aquelas montanhas tão familiares, só resta ao tristonho Boening a lembrança dos tempos de excursionista entusiasta. Agora o horizonte é céu e nada mais. O navio viaja sob eficiente sistema de escolta, em razão da possível ação dos submarinos inimigos. Belonaves americanas e brasileiras […] Read More
ALGUMAS DATAS ANTERIORES A 17 DE JUNHO DE 1859
ALGUMAS DATAS ANTERIORES A 17 DE JUNHO DE 1859 Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18 30-4-1531 – Registro, no “Diário de Navegação” da esquadra de Martim Afonso de Souza, ancorada na bahia de Guanabara, da incursão de quatro homens pela terra a dentro, através a Serra dos Órgãos, presumivelmente pelo futuro Córrego Sêco. 11-11-1721 – Requerimento por Bernardo Soares de Proença da sesmaria onde se achavam localisadas as terras da futura fazenda do Córrego Sêco. 12-11-1721 – Requerimento pelo Capitão Luiz Peixoto da Silva da sesmaria do Rio da Cidade. 11-10-1724 – Carta do governador Aires de Saldanha Albuquerque a D. João V., anunciando a abertura, pelo sargento-mor Bernardo Soares de Proença, do caminho novo para as Minas pela freguesia de Inhomirim. 6-7-1725 – Carta de Lisbôa de D. João V mandando elogiar e agradecer ao sargento-mór Bernardo Soares de Proença a construção do “Novo Caminho de Minas”, pela freguesia de Inhomirim. 9-7-1735 – Falecimento em Suruí de Bernardo Soares Proença. 6-8-1741 – Concessão a Francisco Muniz de Albuquerque da sesmaria do Piabanha e Rio da Cidade. 29-10-1749 – Provisão concedendo a Manuel Antunes Goulão, sesmeiro de terras compreendidas entre a fazenda do Itamarati e Pedro do Rio, licença para construção de uma capela com invocação a N. S. do Amor Divino. 29-10-1751 – Inauguração na fazenda dos Corrêas da capela de N. S. do Amor Divino. 12-6-1789 – O Córrego Sêco passa a fazer parte da Vila de Magé. 1-3-1798 – Concessão a Francisco Xavier da Cruz de uma sesmaria nos sertões do Rio Prêto, terras essas que viriam a constituir S. José do Rio Prêto. 29-11-1803 – Nascimento na fazenda do Córrego Sêco de Saturnino de Souza e Oliveira Coutinho que haveria de ser o primeiro petropolitano ilustre. 7-4-1806 – Inauguração na fazenda do Córrego Sêco do Oratório de Santana. 28-8-1809 – Passagem pelo Córrego Sêco do escritor viajante John Mawe, o primeiro inglês autorizado a visitar as Minas. 6-7-1811 – Guilherme Luiz Eschwege, nobre alemão autor da obra “Pluto Brasiliensis”, passa pelo Córrego Sêco, ao dirigir-se para a fazenda da Olaria. 20-9-1813 – Criação do curato de S. José do Sumidouro desmembrado das freguesias de Inhomirim e Magé e incorporado ao município de Cantagalo. Esse curato, mais tarde elevado a freguesia com o nome de S. José da Serra, viria a constituir S. José do Rio Prêto. 9-3-1814 – Incorporação da região do […] Read More
ECOS DA EVOLUÇÃO DE CORRÊAS (1930)
ECOS DA EVOLUÇÃO DE CORRÊAS (1930) Antonio Machado Corrêas, o retiro aprazível de Petrópolis que os mais fantasistas costumam considerar a dádiva mais preciosa da natureza ao território fluminense, não passando de simples vilarejo do interior, possui, contudo, configuração topográfica de cidade, espraiando-se a povoação em todas as direções, comunicando-se por diversas estradas, e desdobrando-se em bairros residenciais fadados a infalível progresso, por terem a irmaná-los o mesmo traço forte de união, que é a igualdade do clima. Nada tem que se assemelhe a esses clássicos lugarejos da roça desenvolvidos ao longo de um arruamento ou nas vizinhanças da estação da linha férrea, tão tristes na sua rusticidade. Corrêas não tem, nem de longe, esse aspecto. As moradias humildes ficam ocultas aos visitantes, localizadas em bairros afastados. Tem-se por isso a impressão de que ali só mora gente dinheirosa. A localidade já dispõe de todos os recursos de iniciativa privada, apta portanto a acudir às necessidades dos que a procuram como estância de veraneio ou de cura. … quando se reorganizou o Derby Petropolitano por iniciativa de um consórcio empreendedor chefiado por Inácio Ratton, predominavam ainda ali as moradias de condição modesta, havendo apenas umas três ou quatro famílias de certa importância social. Quem procurasse ali morar, chegava a desanimar, porque, sendo o comércio insuficiente e as comunicações difíceis, havia falta de quase tudo. O Sr. Joaquim Zeferino de Souza procurava, entretanto, por todos os meios, fazer desaparecer todas essas dificuldades. Proprietário do melhor núcleo de terras, que eram as da sede da fazenda, ele contribuiu de modo eficaz e decisivo para os primeiros surtos do progresso local. Construiu e animou a construção com facilidades especiais oferecidas aos compradores, vendendo-lhes os terrenos a baixo preço e mediante o regime de prestações. Abriu estradas à sua custa, hoje enfileiradas de prédios que fornecem ótimos impostos à Prefeitura; canalizou águas; manteve durante largo tempo uma linha de bondes puxados a burro, entre Corrêas e o Pic-Nic, mais com o objetivo de facilitar a vida dos moradores do que com a mira em lucros, que primaram sempre pela ausência; empenhou-se sempre com denodo por medidas tendentes a beneficiar a terra de sua adoção. O funcionamento do hipódromo de Corrêas representou período áureo para o lugarejo. Milhares e milhares de pessoas foram ter àquelas paragens pela primeira vez. Imensa romaria se encaminhava todos os domingos para ali. A casa das apostas registrou algumas […] Read More
IMPRESSÕES DO PRETO GETÚLIO
IMPRESSÕES DO PRETO GETÚLIO Antonio Machado Figura evocativa de um passado que vem de muito longe, tem sempre uma passagem interessante a referir o velho Getúlio Gonçalves, cujo tipo vetusto, inconfundível, resistindo ao tempo, isolado no mundo, faz lembrar um pouco o velho buriti solitário, perdido na campina, último sobrevivente da floresta. Abordamo-lo uma vez, há tempos, em sua casa de negócio, – especialidade em caldo de cana, quitanda e cestos de taquara, – quando ele acabava pacientemente de trançar as varetas de bambu dando por concluído mais um samburá. Avivando-lhe a memória, provocando recordações, fomos recolhendo pouco a pouco casos velhos da sua longa existência. – Então, tio Getúlio, é certo que conheceu o padre Luís Corrêa, da Samambaia, o primeiro vigário de Petrópolis? – Não cheguei a conhecê-lo, que ele morreu no ano em que eu nasci; mas fui criado na Samambaia e só ouvia falar dele com louvores. Não era um padre santo, isso não; mas foi um santo homem, um verdadeiro padre pela bondade do coração. Conheci seus irmãos Tomaz Goulão, da Engenhoca, e D. Brígida, da Arca. Esses, é verdade que os conheci já velhos, mas conheci-os bem. D. Brígida comportava em seu todo pequenino uma alma grande e dera sempre provas de muita valia. Seu marido tinha sido fidalgo da côrte de D. Pedro I; era ele quem, nos dias de grande gala, ia a cavalo guardando o lado direito do coche do imperador. Encarregado de limpar estas serras de uma horda de ladrões audazes, que eram então o flagelo das fazendas e das estradas, morreu baleado num tiroteio. D. Brígida montava a cavalo feito homem e andava sempre armada de chicote; ai daquele que lhe faltasse com o respeito devido. Lembro-me bem que, quando ela morreu, vieram de carruagem uns parentes de Petrópolis, que pararam aqui nos Corrêas, e o Padre Siqueira lhes forneceu cavalos para continuarem a viagem, porque os caminhos para a Arca eram maus e só a cavalo se podia chegar à casa da família. (…) Se conheci o general Barbosinha! Pois se ele era meu padrinho! Morava ali pra baixo num sítio onde muitos anos antes vivera um carpinteiro velho que era conhecido por Pai Amaro e que legou o nome ao lugar. Há também quem trate esse ponto de Praia-mar, por causa de uma volta que o rio faz ali. Quando a Grão-Pará atravessou os Corrêas para […] Read More
D. ARCHÂNGELA E D. PEDRO I
D. ARCHÂNGELA E D. PEDRO I Antônio Machado, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 05 (…) D. Archângela, não tendo podido conservar a situação agrícola da fazenda no estado de prosperidade anterior, manteve entretanto as tradições de fidalguia instituídas por seu irmão. Era a esse tempo senhora de mais de sessenta anos; dispondo de muita energia de vontade, tornara-se notável a benignidade com que tratava os escravos. Impôs-se à gratidão da família reinante. A veneranda fazendeira se extremara sempre em cuidados com a pequena princesa enferma. O imperador Pedro I consagrava-lhe sincera estima. As duas imperatrizes tratavam-na com muita intimidade. O pequeno Pedro II brincou no Corrêa com os netos de D. Archângela. (…) Encontra-se, nas “reminiscências de família” que o dr. Horácio Moreira Guimarães passou para o papel e conserva inéditas, o relato de um episódio que revela o forte caráter de D. Archângela. É pena esse livro não tenha sido publicado; suas páginas dispõem de um estilo tão primoroso que se lêem com impressões de verdadeiro encantamento. Certa vez o imperador pedira a D. Archângela permissão para trazer sua amante a marquesa de Santos a fim de passar uma temporada no Corrêa. A deliberação do monarca chocou em alto grau seus rígidos princípios de moral; e sua resposta, dada com desassombro, valeu por uma formal recusa. Foi durante a sua viuvez de três anos que se tornaram mais freqüentes as visitas do imperador, enquanto esperava outra esposa, que só lhe convinha nova e formosa, e quando já iam arrefecendo seus entusiasmos pela marquesa de Santos. Estávamos então na época em que o ardoroso Bragança amofinava-se deveras com a viuvez prolongada. O marquês de Barbacena, encarregado de arranjar-lhe noiva, fraquejava na difícil tarefa, tão eriçada de embaraços em razão dos deploráveis precedentes matrimoniais do pretendente. Circularam até boatos, nas cortes européias, do próximo casamento do imperador com a célebre marquesa… Por isso mesmo, o imperial amante compreendera já a conveniência de afastá-la da Corte; e não lhe repugnaria a possibilidade de um definitivo afastamento. E, sem dúvida, o primeiro passo seria aquele, fazê-la passar uma temporada no exterior, a pretexto de tomar ares, e a excelente casa de Corrêas, onde fôra sempre bem acolhido, estava positivamente a calhar… Andava ele a ensaiar-se para a conversa, até que, acercando-se, atencioso, da velha fazendeira, ter-lhe-ia feito sentir o desejo de hospedar ali, por alguns meses, pessoa que muito lhe merecia, ilustre […] Read More
AÇORIANOS EM PETRÓPOLIS
AÇORIANOS EM PETRÓPOLIS Antônio Machado, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 05 Alguns anos após o estabelecimento dos colonos alemães nas terras imperiais, destinadas a serem base de uma das mais lindas cidades brasileiras, tornava-se muito intenso o número de portugueses das ilhas, principalmente de São Miguel, que demandavam as regiões do interior. Radicaram-se por todo o vasto território do vale do Piabanha desde os Corrêas até além de Pedro do Rio e espalharam-se pelas terras de quase todas as grandes propriedades rurais que existiam nos vales dos rios tributários daquele. Essas antigas propriedades agrícolas, pertencentes então quase todas a herdeiros abastados que preferiam a vida da Côrte à vida ingrata dos campos, entravam já a desagregar-se, passando a constituir melhor negócio o rendimento cobrado a foreiros e a arrendatários. A corrente de imigrantes açorianos, excelentes colonos de ânimo resoluto e robustez de atletas, fôra aliás provocada pelo Governo provincial, sempre empenhado em desprezar o braço escravo, e que mandara vir dos Açores 150 trabalhadores, contratando-os para as obras da ponte metálica de Paraíba do Sul. As levas se sucederam e dedicavam-se à lavoura e à criação de gado bovino e suíno; mantinham extensas plantações de cana, produto que negociavam a meias, por aguardente, nos engenhos das fazendas. Se nem a todos sorriram os fatores da sorte, muitos prosperaram e atingiram não raro a abastança e a fortuna. É tradição corrente que quase todos os lugarejos chegaram a ter população ilhôa muito superior à natural; tudo eram sítios por eles arrendados e onde se erguiam casas ladrilhadas de tijolo e cobertas de telha-vã. Infensos ao escravagismo, os laboriosos portugueses de meia-viagem não utilizavam o elemento servil nos seus trabalhos. Eles representaram por muito tempo elemento preponderante e imprimiram usos e aspectos de cunho todo original, hoje quase por completo desaparecidos. Se a terra exigia trabalho tenaz, era também pródiga e fecunda, e seus esforçados ocupantes eram lutadores cheios de saúde e ambição; as estrelas, quando esmaeciam no firmamento, já os deixavam com o cabo da enxada na mão, e quando voltavam a luzir vinham ainda encontrá-los na sua faina. Terminada a tarefa, esqueciam as durezas da vida passando horas a fio nos seus descantes ao som da viola; quando não davam largas ao coração, vibrando em canções sentimentais e nos queixumes saudosos da santa terra distante, empenhavam-se nos cantares ao desafio. E os humildes poetas repentistas revelaram-se donos de um […] Read More
CASA DO BARÃO PEDE SOCORRO (A)
A CASA DO BARÃO PEDE SOCORRO Ruth Judice Rua Souza Franco 590. É o meu endereço. Sou a casa comprada pelo Barão de Oliveira Castro, em Petrópolis. A República já estava estabelecida. Os imperadores estavam exilados na Europa. Foi quando me engalanei. Virei vip. Passei a ser a “casa do barão”; das reuniões festivas, das noites iluminadas a lampiões. Casa, com as varandas concorridas, onde a baronesa servia chás e biscoitos nas tardes amenas de verão. O Barão fazia questão de exibir-me, mostrando minha arquitetura que era o que de mais novo se fazia na Europa. Eu era o seu orgulho, pois era o progresso entrando na construção civil. – C’est le dernier cri – dizia ele, com um sorriso maroto por sentir-se o proprietário de solar de construção tão avançada. O Barão, que trabalhava no Rio e que subia de trem todos os dias, vinha sempre com amigos. Todos com guarda-pós para protegê-los do carvão que a “Maria Fumaça” expelia com intensidade, na sua morosa subida para Petrópolis. Chegava na pequena Estação, onde um coche já o esperava para conduzi-lo até a Souza Franco. Nos fins de semana, os elegantes veranistas, de cartola e bengala, desfilavam a pé ou o nas vitórias ainda com suas rodas de madeira, onde uma parelha de cavalos bem nutridos conduzia damas enluvadas que vinham sempre acompanhadas. O desfile era contínuo. Não só para verem a mim, como a outros bens da cidade, que fora o abrigo da Família Imperial no verão e que nesse fim de século ainda se mantinha intacta. E como eu era bem tratada! Pensei que fosse durar a vida toda, tal era o empenho em conservar-me, nas pinturas das paredes, na proteção aos lambrequins de ferro, verdadeiras rendas que decoram minhas varandas, nas duas escadas em curva, à moda do Renascimento. Por elas, o barão recebia suas visitas. Naquela época eu era um mimo, coquete, cheirosa, enfeitada, pois representava o máximo da Arquitetura Belle Époque ou Anos Dourados! Era o chique da Europa e em Petrópolis era o progresso na Rua Souza Franco. Dizem os entendidos, que sou o melhor protótipo da Revolução Industrial na cidade, aplicada às residências. Venho atrás do Palácio de Cristal, nosso exemplo máximo. Como todas as construções petropolitanas, sou híbrida. Meu inspirador conhecia bem a Arquitetura do século XIX, da qual Petrópolis é uma das poucas cidades no Brasil que ainda possui grande […] Read More
MENS SANA IN CORPORE SANO
MENS SANA IN CORPORE SANO Ruth Judice Ainda em São Paulo onde nasci e estudei tive a boa sorte de ser interna num colégio excepcional; Colégio Stafford. Eduquei-me sob esse lema: “Mente sã em corpo são”! Já faz muito tempo, ainda nos anos 40. A máxima de Juvenal (Sátiras, X, 356) lembrava que o homem sábio só pede aos céus a saúde da alma aliada à saúde do corpo. Atualizando, hoje diríamos: que a saúde do corpo é essencial para a saúde do espírito. Estudávamos muito, todo o alicerce do que sou hoje surgiu ali. Ao mesmo tempo praticávamos esportes. Numa época em que as alunas de alguns colégios de freira ainda eram obrigadas a tomar banho de camisola, nós aprendíamos a nadar numa piscina nossa. Jogávamos tênis, fazíamos atletismo com competições, dentro do interesse de cada aluno. Mas a ginástica, três vezes por semana, era obrigatória. Porque os colégios fugiram dessa diretriz? Quando a educação, no Brasil, voltará a ser o principal esteio da formação dos jovens? É neles que o país tem que investir. A intenção primordial deveria ser ilustrar a mocidade, mas ao mesmo tempo introduzir o esporte no seu currículo. O esporte preenche o vazio que faz o jovem procurar a droga. Estamos acompanhando, com maior ou menor atenção as Olimpíadas que estão acontecendo na Grécia, onde elas nasceram em 776 a.C. Quem está mais atento e já acompanha há mais tempo, já se perguntou alguma vez, porque os Estados Unidos conseguem tantas medalhas. De onde vem essa pujança? Para mim a resposta é uma só. Vem dos colégios, das high schools, e amadurece nas Universidades. E não pára por aí. As Universidades se confrontam, nas diversas modalidades de esportes. Daí, é um pulo para os Campeonatos do Mundo e deles para o maior confronto entre os desportistas – As Olimpíadas. (Por favor, sempre no plural e não no singular como ouvimos a cada minuto nas transmissões de televisão!) Olimpíadas são sinônimos de: os Jogos Olímpicos. Olimpíada no singular, é o espaço compreendido entre duas Olímpiadas. Consulte seu Houaiss ou Buarque de Holanda. Como dizia, o segredo americano vem daí. E por que não começar por Petrópolis, onde já temos tantas Faculdades? Senhores candidatos a prefeito. Vamos estimular o hábito do esporte nos colégios públicos. Criar nossas próprias Olimpíadas, com competições constantes. Novos dirigentes da U.C.P, não seria talvez mais um recurso para levantar nossa […] Read More
TOPONÍMIA PETROPOLITANA: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
TOPONÍMIA PETROPOLITANA: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE Manoel de Souza Lordeiro, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 24 – Patrono Henrique Pinto Ferreira, falecido Topônimo (do grego topos, lugar, e onyma, nome) é nome próprio de lugar: identifica acidentes geográficos, povoações, logradouros, cidades, estados e países, por exemplo. A toponímia vem a ser o estudo lingüístico ou histórico da origem dos topônimos. Trata-se, em suma, da ciência dos nomes dos lugares e acidentes. No dizer de J. Romão da Silva a toponímia não é um elemento subsidiário da História, mas um apoio de inegável valor para a ciência geográfica. Para Camille Vallaux, que a elegeu como uma das partes mais atraentes da Geografia Descritiva, a nomenclatura deveria ter precedência sobre qualquer outro procedimento, já que a “toponímia pode se constituir em um fio condutor de grande utilidade”. Da mesma forma que datas e fatos são importantes para o conhecimento histórico, uma base nomenclatural é indispensável para o conhecimento geográfico. Um exemplo significativo é o dos topônimos de origem tupi-guarani que tornaram possível tirar conclusões sobre determinados fatos a partir de sua etimologia. Segundo J. Romão, os topônimos indígenas possuem, geralmente, uma impressionante força descritiva, proporcionando definições sintéticas e expressivas dos acidentes e lugares a que se aplicam. Técnicos que projetaram usina atômica em uma praia de Angra dos Reis, não teriam sido surpreendidos com a instabilidade do solo se tivessem atentado para o significado do topônimo tupi Itaorna: pedra que afunda… Existe uma prática generalizada de se criar ou substituir topônimos – ignorando-se a denominação original – ao sabor de preferências pessoais e até de modismos. Tal procedimento tem sido explicado – mas não justificado – pela carência de informações confiáveis, mas o que ocorre, na maioria das vezes, é que não se faz o menor empenho em apurar a verdade. Não precisaríamos buscar exemplos em outros países, eis que aqui mesmo são incontáveis os topônimos, de origem indígena ou não, que vêm desde o descobrimento. Ainda assim, parece exemplar o que ocorreu com o famoso Cabo Cañaveral, que cidadãos bem intencionados, sem sombra de dúvida, tentaram rebatizar como Cabo Kennedy. Ainda que incontestável o mérito da homenagem, após algum tempo prevaleceu a denominação original: o nome do presidente que pretendiam homenagear acabou sendo atribuído ao centro espacial lá existente. Um exemplo de desprezo aos topônimos foi o que aconteceu, em Petrópolis, com a Pedra da Lagoinha (1.520m), que passou a ser conhecida, […] Read More