DOM MANOEL PESTANA FILHO (IN MEMORIAN)

  DOM MANOEL PESTANA FILHO (IN MEMORIAM) Jeronymo Ferreira Alves Netto, associado titular, cadeira nº. 15, patrono Frei Estanislau Schaette No dia 8 deste mês de janeiro, fomos surpreendidos com a notícia do falecimento de Dom Manoel Pestana Filho, Bispo Emérito de Anápolis, uma das mais expressivas figuras do Episcopado brasileiro. Nasceu Dom Pestana em Santos (SP), em 27 de abril de 1928, sendo seus pais Manoel Pestana, digno operário da Companhia Docas de Santos e D. Maria Pestana, que o criaram dentro dos princípios da Santa Madre Igreja. Seus primeiros estudos foram feitos em sua cidade natal, no Grupo Escolar Visconde de São Leopoldo e no Instituto de Educação Canadá. Aos 14 anos, ingressou como seminarista menor, no Seminário de Bom Jesus de Pirapora e, posteriormente, no Seminário Central da Imaculada Conceição, em São Paulo. Sua dedicação aos estudos contribuiu para seu ingresso na Universidade Gregoriana, em Roma, onde concluiu o Curso de Teologia, sendo ordenado sacerdote na Basílica de Santa Maria Maior, onde celebrou sua primeira missa, em 7 de outubro de 1952. Retornando ao Brasil foi designado por Dom Idílio José Soares, então Bispo de Santos, para coadjutor da Paróquia de São Vicente. Com uma bagagem cultural rara, foi professor do Seminário Diocesano São José, em São Vicente, e, mais tarde, professor e diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Sociedade Visconde de São Leopoldo, em Santos, mantendo um permanente e proveitoso diálogo com a juventude estudantil, participando ativamente e com grande entusiasmo da Juventude Estudantil Católica (JEC) e da Juventude Operária Católica (JOC). Em 1972 veio para Petrópolis, acolhido pelos bispos Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra e Dom José Fernandes Veloso, não tardando a conquistar a simpatia e a adesão da população de nossa cidade. Múltipla e constante foi sua atuação no Seminário Nossa Senhora do Amor Divino e em nossa Universidade, criando o Fórum de Filosofia e Ciências, organizando as Manhãs e Tardes de Filosofia, que reuniram as mais expressivas figuras do pensamento intelectual de nosso país e do mundo, idealizando e realizando as célebres Caminhadas Universitárias, e ainda encontrando tempo para cumprir vasto apostolado nos Cursilhos de Cristandade, nos Encontros de Casais e na Pastoral Vocacional. Além disso, dirigiu nossa Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas com inegável competência, o mesmo ocorrendo com as inúmeras disciplinas que lecionou. Em 30 de novembro de 1978, Sua Santidade o Papa João Paulo […] Read More

DISCURSOS – RE-INSTALADO O INSTITUTO HISTÓRICO DE PETRÓPOLIS – 13 DE MARÇO DE 1981 – Ruth Boucault Judice

  DISCURSOS – RE-INSTALADO O INSTITUTO HISTÓRICO DE PETRÓPOLIS – 13 DE MARÇO DE 1981 Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia O Instituto Histórico que vinha funcionando no arquivo do Museu imperial acaba de mudar-se para a casa de Cláudio de Souza, na Praça Rui Barbosa, instalando lá sua sede própria. Certo que a sede ainda não é própria, que a casa foi cedida pelo Museu Imperial, mas, já é o primeiro passo de autonomia que tentamos dar. A primeira sessão no novo endereço não será tão solene quanto a da inauguração em 2 de dezembro de 1938, quando: “A primeira directoria effetiva, sócios, intellectuaes e pessoas gradas após a solenidade” aparecem numa foto antiga da “Pequena Illustração”. Sem receita própria ainda, pouco podemos fazer. Nossas finalidades estão voltadas para criar receita. A partir daí as realizações virão. Temos a consciência que somos a Memória de Petrópolis. Nossa pretensão é pois cadastrar essa Memória, não só para consultas presentes, como pra que fiquem guardadas para o futuro. Instalado o Instituto Histórico de Petrópolis – 11-12-1938 A data de 2 de Dezembro comemorativa do nascimento do grande monarca que por meio século presidiu os destinos de seu país, foi celebrada com a instalação do Instituto Histórico de Petrópolis, criado sob os auspícios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Presidiu os trabalhos o prefeito Dr. Cardoso de Miranda, que empossou a primeira diretoria eleita para o biênio 1939-1940 e assim organizada: presidente. Dr. Henrique Leão Teixeira; vice, Dr. Paulo Rudge; orador, Dr. Pedro Calmon; 1º secretário, Dr. Alcindo Sodré; 2º, Sr. Antonio Machado; tesoureiro, Sr. Gabriel Fróes; e bibliotecário, Sr. Walter Bretz. Comissão de Contas: Sr. Magalhães Bastos, Professora Germana Gouvêa e Dr. Paulino de Souza. Comissão de História: Dr. Wanderley de Pinho, Dr. Aristides Werneck e Dr. Rangel Pestana. Comissão de Estatutos e Admissão de Sócios: Drs. Ascânio Pimentel, Cláudio Ganns e Américo Lacombe. Ao dar início à sessão o Dr. Leão Teixeira prestou homenagens póstumas aos Drs. Francisco Figueira de Mello e Crissiuma Filho, recentemente falecidos, ambos ex-prefeitos do município, com seus nomes ligados às celebrações do momento. Falou depois sobre a fundação do Instituto e seus fins, lendo a seguir, bela página de sua autoria, sobre o repatriamento dos despojos dos monarcas que Petrópolis recebeu genuflexa. Apresentou depois o Dr. Pedro Calmon, que prendeu a atenção da assistência enlevada com […] Read More

FOTOGRAFIA E CIÊNCIA

  FOTOGRAFIA E CIÊNCIA Pedro Afonso Karp Vasquez, associado correspondente 1. Calvert Jones — Coliseu, 1846 Calvert Jones (1804-1877) foi um matemático e pintor que estudou em Eton e Oxford e foi reitor de Longhor. Amigo de Fox Talbot, ele foi autor, em 1841, do primeiro daguerreótipo realizado no País de Gales, uma vista do Margam Castle. Como era pintor paisagista, acabou desenvolvendo um processo de realização de panoramas fotográficos com a combinação de vistas sucessivas. O Anfiteatro Flaviano, mais conhecido como Coliseu, foi o maior edifício construído pelos romanos. Erigido entre os anos 70 e 80, tinha 48 metros de altura e capacidade para 50 mil espectadores, tenho sido usado até o século VI, data bem posterior à queda do Império Romano, ocorrida em 476. 2. Jean-Baptiste Louis Gros — O Propileu visto do interior da Acrópole, 1850 O Baron Gros (193-1870) foi um diplomata francês que serviu em Bogotá, Londres e Atenas e liderou a Expedição Anglo-Francesa à China entre 1856 e 1860, tendo sido responsável pelo estabelecimento de relações diplomáticas entre a França e o Japão, em 1858. Foi também um dos pioneiros da daguerreotipia, reputado pelas vistas das ruínas de Atenas. O Propileu é o portal para a parte sagrada da Acrópole, construída em torno de 450 a.C. 3. Maxime Du Camp — Colosso sentado de Ramsés II, Abu Simbel, 1850 Filho de um rico médico, Du Camp (1822-1894) viajou muito, visitando o Egito em 1851 em companhia de Gustave Flaubert e publicando no ano seguinte o livro de fotografias Egypte, Nubie, Palestine, Syrie. Como escritor interessado em temas históricos, foi autor de um estudo sobre a Comuna, Les convulsions de Paris (1878-1880), e de Paris, ses organes, ses fonctions, as vie dans la seconde moité du XIX siècle (1869-1875). Ramsés reinou entre 1279 e 1213 a.C., teve diversas esposas, 96 filhos, 60 filhas e morreu com mais de 90 anos. Esse colosso (com cerca de 20 metros de altura) é chamado de “colosso sentado” para diferenciar daquele de Mênfis, onde o faraó está de pé, numa estátua de 13 metros de altura e 120 toneladas. O Grande Templo de Abu Simbel havia permanecido enterrado na areia até 1812, quando foi descoberto por Jean-Louis Burckhardt. Com a construção da barragem de Assuã e o conseqüente aumento do nível das águas do Nilo, os templos foram desmontados e transportados para local mais alto entre 1964 e 1968. […] Read More

CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS – O PREFEITO DEMISSIONÁRIO E OS CONFLITOS DE RUA – 1934

  CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS – O PREFEITO DEMISSIONÁRIO E OS CONFLITOS DE RUA – 1934 [1] Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “Cabe-me informar à Liga do Comércio, que no dia nove do corrente, cumprindo a missão que me foi dada, fui pessoalmente entregar ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas a mensagem que por intermédio do da classe comercial, a população de Petrópolis fez ao Exmo. Sr. Presidente do Governo Provisório, para que sua estação de repouso fosse feita nesta encantadora e hospitaleira cidade. Recebido no Palácio Guanabara por S. Excia. e depois de fazer-lhe o apelo em nome da população e em nome do governo da cidade, mostrando-lhe a honra e o entusiasmo com que o povo petropolitano o receberá, S. Excia. respondeu-me que recebia o apelo com grande satisfação e provavelmente em fevereiro, depois de resolver as questões relativas ao orçamento e após seu regresso de Minas , virá fazer sua estação de repouso em Petrópolis. Atenciosas saudações. Yeddo Fiuza – Prefeito.”( Tribuna de Petrópolis, 18 de janeiro, 1931) O texto reproduzido da Tribuna de Petrópolis procura destacar a importância concedida pelo interventor recém-nomeado para Petrópolis, Yêddo Fiúza, quando de sua visita ao presidente para entregar-lhe a carta da Liga de Comércio, solicitando que Vargas continue a presentear a cidade com a sua visita como fizeram os demais Presidentes da Republica em seu veraneio que o antecederam. Semelhante, exalta a importância que Fiúza devotava ao mesmo, e que faria politicamente com que fosse seu esteio administrativo nesta nova empreitada [2]. [1] Ensaio publicado na primeira pagina do segundo caderno em 21 de janeiro de 1984 [2] Tanto o recorte como o parágrafo inicial foram inseridos posteriormente à publicação. Petrópolis foi, durante o período republicano, palco de inúmeros movimentos que, pela sua intensidade, se transformaram em verdadeiros conflitos, por vezes até sangrentos. Sendo os mesmos, até o presente momento não estudados. Motivos? Talvez possam ser explicados pelo comportamento e visão tradicionalista germânico que tenha invadido nossos estudos históricos locais, ou simplesmente porque os mesmos fatos possam reabrir cicatrizes ainda existentes no seio de determinados grupos sociais que, durante décadas, mantiveram sob sua tutela a comunidade petropolitana. Mas, o indubitável é que quando os fatos forem cientificamente pesquisados à luz das ciências, talvez possa determinar questões de vital importância como o da paralisação de nossos movimentos econômicos, […] Read More

ANOTAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DE ITAIPAVA

  ANOTAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DE ITAIPAVA Jeronymo Ferreira Alves Netto, associado titular, cadeira nº. 15, patrono Frei Estanislau Schaette ORIGEM DO NOME ITAIPAVA O 3º Distrito de Petrópolis é o único que ostenta um nome tomado do idioma indígena. A palavra Itaipava significa “recife de pedra que atravessa o rio de margem a margem, provocando o desnivelamento da corrente; pequena queda d’água” (1). Sua sede, comenta João Fernandes, abrange toda a área do sítio de Itaipava e parte das fazendas que lhe ficavam contíguas. Após a Samambaia, o rio Piabanha percorre vários quilômetros em leito desprovido de pedras; somente ao término da antiga fazendinha Itaipava se manifesta o primeiro acidente, afetando o curso das águas. Ali o rio é cortado por um bloco granítico, aberto ao meio, o qual o povo conhece pela denominação de Pedra do Salto (2). Esta origem parece confirmada, se atentarmos para o fato de que Ita significa pedra, rochedo; Peva significa baixo, chato, inferior; Ipaba significa modo de levantar-se. (1) – LIMA, Hildebrando; BARROSO, Gustavo. Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Civilização Brasileira, 1957, p.699. (2) – MACHADO, Antonio. Origem dos distritos rurais. Tribuna de Petrópolis, Petrópolis, p. 1, 1 de janeiro. 1934. PRIMITIVOS HABITANTES Sem dúvida alguma, os primeiros habitantes de Itaipava foram os índios. A denominação “Sertão dos Índios Coroados” inicialmente dada às terras que hoje constituem o Município de Petrópolis nos leva a crer que estes índios, assim denominados pelos portugueses “porque cortavam os cabelos de maneira a formar uma espécie de coroa enrolada no alto da cabeça” (3), seriam os antigos goitacases que, combatidos pelos portugueses e ou tribos hostis, buscaram refúgio no sertão. Por outro lado, a descoberta de vestígios de objetos indígenas, nos rios petropolitanos, reforçou a tese de que, na realidade, muitas picadas no caminho para Minas Gerais e que, posteriormente, foram aproveitadas pelos colonizadores, na realidade foram abertas pelos índios em seus movimentos migratórios. Do mesmo, a Carta Topográfica da Capitania do Rio de Janeiro, datada de 1767, assinala uma vasta área da margem direita do rio Piabanha e da margem setentrional do rio Paraíba, até Minas Gerais, a qual denomina “Sertão ocupado por índios bravos” (4). Na realidade, por esta região erravam os índios Puris, da mesma raça que os Coroados, divididos em várias tribos, constantemente em guerras, o que é confirmado por Debret quando se refere aos Patachos, da mesma raça que os […] Read More

ATENDADO (O)

  O ATENTADO Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Atentados contra a vida, em todo o Mundo, têm sido uma constante na história dos povos. Reis, imperadores, presidentes, lideres religiosos, artistas, ídolos, lideranças, somam-se aos milhares. Fatos delituosos contra cidadãos comuns ganham notoriedade durante certo tempo e acabam no esquecimento adiante, no desabrochar de novas gerações. A História registra nos documentos e narrativas, os fatos e feitos envolvendo autoridades e cidadãos notáveis, principalmente as da área política, quando assassinadas em ocorrências de forma pública e espetacular. E, também, delitos que deixam dúvidas, que geram especulações, adoçam as massas com interpretações e fantasias, para deleite dos caçadores de escândalos e de nebulosidades históricas. São clássicos os assassinatos dos romanos Caio Júlio Cesar (44 a.C.) e Cláudio (10 a.C.), na Roma do poder e da corrupção; célebres o do Chanceler da Inglaterra Tomás Beckett (1170); do poeta e dramaturgo inglês Christopher Marlowe (1593) e do revolucionário francês Jean-Paul Marat (1793); damos em salto para o século XIX, com progressivos crimes de eliminação por assassinato de pessoas importantes e influentes, como os presidentes norte-americanos Abraham Lincoln (1865), James Garfield (1881) e William McKinley (1901); o arquiduque Francisco Ferdinando, sucessor do trono do Império Austro Húngaro (1914); o governador da Louisiânia (USA) Huey Pierce Long (1935); o revolucionário russo Leon Trotski (1940); o líder espiritual da Índia Mahatma Mohandas Gandhi (1948); o presidente norte-americano John F. Kennedy (1963) e seu irmão, o senador Robert Kennedy (1968); o nacionalista negro e líder muçulmano Malcolm X (1965); o líder de campanhas por direitos civis nos Estados Unidos Martin Luther King (1968); o ator de cinema Sal Mineo (1976); o Príncipe Real Britânico Lorde Mountbatten (1979); o músico, cantor e compositor John Lennon (1980); o Presidente do Egito Anuar El-Sadat (1981); a Primeira Ministra da Índia Indira Gandhi (1984); o 1º Ministro de Israel Yitzhak Rabin (1995); o figurinista e estilista de moda Gianni Versace (1997) e muitos outros. (1) Podemos acrescentar, ainda, o Rei D. Carlos de Portugal, o cineasta e poeta italiano Píer Paolo Pasolini, o senador Pinheiro Machado, no Brasil, etc. No Rio de Janeiro, na rua Toneleros, ano de 1954, ocorreu um assassinato, de natureza política, morrendo o Major Rubens Vaz, por erro de pessoa, já que o visado era o jornalista Carlos Lacerda, em crime que resultou, nos desdobramentos, no suicídio do Presidente […] Read More

MEMÓRIA PETROPOLITANA PELOS GUIAS E PELA CARTOFILIA

  MEMÓRIA PETROPOLITANA PELOS GUIAS E PELA CARTOFILIA Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “O movimento das cidades foi tema dos fotógrafos desde o início da história da fotografia. Contudo o surgimento do cartão-postal, em fins do século XIX, faz da cidade o seu tema principal. As novas edificações, prédios públicos e privados, jardins, praças, ruas e avenidas das “cidades modernas” foram temas privilegiados pelos fotógrafos em muitos países.” (Lôbo, Mauricio Nunes) Há mais de década tenho procurado reavaliar os instrumentos de pesquisas objetivando reavaliar minhas investigações sobre a história local, processo que se acentuou com a leitura dos texto de Carl Schorske, (Schorske, 1979) e evoluiu ao final dos anos 90 com os extratos de Peter Burke (Burke,1985), sobre especificidades da história cultural. Passei a coletar dados sobre curiosidades e materiais diversificados, principalmente sobre a imprensa e fotos diversas sobre eventos ocorridos na cidade os quais até mesmo a própria imprensa não noticiara. Porém, o perfil de avaliação dos procedimentos de pesquisa segundo a metodologia da Nova História Cultural e sua aplicação no que tange ao contexto da história local tornou-se uma resposta aos novos desafios historiográficos aos quais meus ensaios se integravam, uma nova discussão do cultural presente em uma cidade que segundo Burke poderia “…sugerir ênfase em mentalidades, suposições e sentimentos”. No campo das representações, uma de suas faces interpretativas, a NHC me atraiu para as formas como se apresentava Petrópolis para viajantes e/ou visitantes nas primeiras décadas do século XX. Em 1983, no Arquivo Municipal, havia me detido para avaliar a infinidade de “guias” que representavam a cidade. Um verdadeiro modismo das primeiras décadas do século XX, onde cada guia esmerava-se em produzir o mais completo roteiro da cidade. Era o espírito da ‘belle époque’ que alimentava as representações e conduziam ao pleno imaginário. De apresentação gráfica soberba para a época, estes guias apresentavam uma cidade paradisíaca, de beleza estonteante na serra, descrevendo a cidade como o mais belo encrave europeu das serras brasileiras. Os serviços apresentados nos guias eram os que fixavam o centro da cidade como uma vitrine, uma “mercadoria”, para viajantes extasiados na época. Não devemos negar que na realidade criava-se uma representação distorcida do que era verdadeiramente a própria cidade. No contexto geral, uma cidade operária, pobre, com uma população periférica astronômica para a época, se comparada ao do próprio sítio histórico […] Read More

CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PETROPOLITANA: ESTADO, NACIONALIZAÇÃO E SISTEMA EDUCACIONAL

  CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PETROPOLITANA: ESTADO, NACIONALIZAÇÃO E SISTEMA EDUCACIONAL Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “…Não escapará, decerto, às luzes superiores de v. Exa. Quanta influencia isso (a criação de uma escola de primeiras letras) pode ter sobre os costumes, e quanto importa ir destruindo o uso exclusivo da linguagem alemã.” (Fernandes Pinheiro, Presidente da Província do Rio Grande do Sul, 1825, p.274, in Willens, Emilio, 1946, Brasiliana, INL/MEC) Este fragmento de documento do então Presidente da Província do Rio Grande do Sul, espelhava o temor que os brasileiros possuíam já em 1825 pela presença do imigrante europeu, principalmente do alemão no território brasileiro. Uma rejeição clara ao processo de imigração que se iniciava em terra brasileira, principalmente em uma região onde não se acusava forte presença escravista, não estando portanto sujeita a lenta política de organização do processo de produção brasileira tendo por base a mão-de-obra do imigrante em detrimento da substituição do tradicional escravismo. O assunto em discussão neste ensaio, não é somente a questão da “política de nacionalização” do ensino local, isto é, petropolitano, mas também a presença do Estado brasileiro na área de educação em Petrópolis no século XIX, assim como a questão da “pseudo” ameaça política que a imigração pudesse oferecer à integridade do Estado Imperial brasileiro ou de sua sociedade, possibilitando uma intervenção do Estado na questão educacional na região de colonização e imigração alemã em Petrópolis. Outra questão que também será abordada é a presença do ensino privado e de suas possíveis características inovadoras, assim como de um projeto de ensino técnico gerado em uma espécie de cooperativa pelos colonos em Petrópolis. INTRODUÇÃO De um modo geral quando abordamos a história da educação observamos que a temática “intervenção” do Estado, ou como pode tecnicamente ser designada, “ingerência” nas questões da educação pública não é uma novidade histórica. Lorenzo Luzuriaga já apontava sua presença desde o século XVI na Europa. Mas se compreendido precisamente como realmente uma ingerência do próprio Estado, neste caso os registros históricos podem ser mais precisamente avaliados a partir do século XVIII, sendo estes em sua maioria relacionados à evolução dos processos político-sociais no contexto da elaboração dos Estados Nacionais contemporâneos e na construção da instrução pública a partir da Revolução Francesa (Luzuriaga, 1959). No Brasil, a origem do processo educacional repousa no ensino confessional “conversor” que […] Read More

PETRÓPOLIS E A REGIÃO SERRANA NOS 500 ANOS DE BRASIL – FUNDAÇÃO E PRIMEIROS DESENVOLVIMENTOS E AS IMIGRAÇÕES

  PETRÓPOLIS E A REGIÃO SERRANA NOS 500 ANOS DE BRASIL – FUNDAÇÃO E PRIMEIROS DESENVOLVIMENTOS E AS IMIGRAÇÕES Arthur Leonardo de Sá Earp, associado titular, cadeira n.º 25, patrono Hermogênio Silva Tive dúvida entre desenvolver por escrito o esquema elaborado para a palestra ou tornar material a ser lido o que naquela oportunidade foram palavras ouvidas. Acabei optando por apenas retocar a transcrição do que foi gravado, a fim de fugir da tendência de produzir um novo texto. O que segue se prende ao intento de ser fiel ao que foi dito. Procura também suprir a visão daquilo que foi mostrado ou exibido através de retroprojeção para ilustrar o citado esquema. As faltas de melhor concatenação da exposição de idéias ficam por conta dos azares da apresentação verbal. Não sou historiador. Sou simplesmente um curioso, amante de sua terra, que entende que o bom cidadão deve buscar o melhor conhecimento possível da realidade em que vive. O tema desse ciclo de palestras é muito interessante. A contribuição da nossa serra, dessa região serrana, da Serra dos Órgãos, ou seja da Serra do Mar nesse trecho, para o desenvolvimento do Brasil nos primeiros quinhentos anos. Nós temos características especialíssimas, mas a primeira coisa a mostrar é algo bastante diferente de Petrópolis. É uma foto publicada no jornal O Povo. Saiu no dia 8 de julho de 2000. Retrata o Largo da Carioca, a 7 de julho, às 19 horas. Em meio a essa iluminação toda, há um pontinho branco. Ele está aceso desde 1710, diante de uma imagem de Santo Antônio! Durante o cerco francês à cidade, as tropas portuguesas ficaram cercadas no Convento, no morro de Santo Antônio. Houve um momento de grande desespero e a imagem de Santo Antônio foi colocada sobre a muralha que guarnecia o convento. Os combates se deram, os franceses foram afastados e a comunidade toda, portuguesa, brasileira, militar, aqueles que se viram, portanto, libertos da ofensiva francesa fizeram um voto de permanentemente deixar acesa uma luz diante da imagem de Santo Antônio. Hoje, mesmo de dia, quem passar pelo Largo da Carioca, olhando lá para o Convento de Santo Antônio, vai encontrar aquela luzinha acesa. Há duzentos e noventa anos ela está acesa. No início, alimentada por óleo, e hoje por eletricidade. Houve até no orçamento público da cidade do Rio de Janeiro uma verba especial para o azeite da lâmpada de Santo […] Read More

OCTOGÉSIMO TERCEIRO ANIVERSÁRIO DE UM GUERREIRO

OCTOGÉSIMO TERCEIRO ANIVERSÁRIO DE UM GUERREIRO Fernando Antônio de Souza da Costa, Associado Titular, Cadeira n.º 19 – Patrono Galdino Justiniano da Silva Pimentel O Jornal de Cascatinha, nascido das mãos e idealismo de João Dias Carneiro, aos 7 de agosto de 1927, está a comemorar seu 83° aniversário de fundação. Quem milita nessa área sabe das dificuldades para manter-se viva essa chama. E em se tratando de órgão de imprensa do interior, principalmente a exemplo desse semanário, que durante muitos anos funcionou no Segundo Distrito, as dificuldades sempre foram triplicadas e, só com muito amor, dedicação, tenacidade e abnegação é que mantem-se vivo e em plenas atividades. A partir do falecimento de seu Diretor Fundador, João Dias Carneiro e também de sua esposa Leocádia Fernandes Carneiro, o Jornal de Cascatinha foi conduzido com o mesmo denodo e pulsos firmes dos herdeiros Lester, Leyde e Lécio Carneiro. Em 1970, tive o privilégio de, em Petrópolis, dar continuidade às minhas incursões jornalísticas já iniciadas em meu torrão natal Três-Rios, dessa vez, no Jornal de Cascatinha, convidado que fui por Lester Carneiro. Aceitei a grata incumbência de assumir as colunas “Nossa Gente” e “Fernando Costa Especial”, sem contar que cuidei da escrituração contábil e fiscal da Empresa por longos anos. Nessa ocasião, realizamos belos certames do concurso para eleição da Senhorita Cascatinha, exposições de arte, festas beneficentes, desfiles cívicos etc, cujas realizações, inúmeras vezes, ganharam largas páginas de jornais locais, além fronteiras e presença de importantes figuras do mundo cultural, social e artístico da época e diga-se, de âmbito inclusive nacional e internacional. Na década de 80, o Jornal de Cascatinha passou às mãos e direção do jornalista Ivaldo Costa e Filhos que deram ao dito órgão de imprensa novo formato, ampliaram sua circulação, inclusive com extensão estadual, enfim, trouxeram uma roupagem de conformidade com a evolução da informática e do mundo hodierno, fato que o tornou cada vez mais atraente, querido e influente aqui e alhures, pois possui larga circulação na Região dos Lagos e demais Cidades Serranas. A essa altura a Empresa foi transferida para o Centro da Cidade de Petrópolis. Gratifica-me estar até hoje integrando o quadro de colaboradores da imprensa e se, continuo a compartilhar com matérias para os diversos órgãos da imprensa desta Cidade e fora dela, um ponto é pacífico; aqui na Imperial Cidade de Petrópolis meu primeiro passo iniciou-se no Jornal de Cascatinha preparando matérias, […] Read More