E, de repente, o tempo passou e Petrópolis, como cidade, completou agora no dia 29 de setembro seu 143° aniversário. Daí, uma clara conclusão, é uma cidade nova, bem nova, comparada com outras espalhadas por esse mundo afora. Mas, embora nova, possui determinadas características que a distinguem das demais outras cidades brasileiras ou não, com origens encontradas em diversos motivos, especialmente geográficos, que determinaram modelos bem diversificados do fato urbano.

O modelo petropolitano é um caso raro na malha urbana do Brasil. Hoje, as cidades brasileiras contam mais de 5.000. A maioria delas teve origem em fatos geográficos comuns, pois que nasceram por imposição de um caminho, de encruzilhadas estimuladoras do comércio, de um arraial de beira de estrada pouso obrigatório de tropeiros e viajantes, de entroncamentos rodo-ferroviários, da mineração, de um sítio litorâneo propício a instalação de portos ou da expansão da economia rural que empregava capitais acumulados na atividade comercial e industrial.

O caso de Petrópolis foge totalmente a essa regra, simplesmente porque não surgiu espontaneamente e porque a sua elevação à categoria de cidade não respeitou a evolução hierárquica estabelecida na legislação específica, que determinava que uma vila resultasse de uma povoação e que uma cidade fosse consequência de uma vila. Petrópolis saltou um degrau nessa hierarquia e de povoado já foi elevado à cidade. Contudo, sua paisagem urbana atual, descaracterizada por diversos motivos, não revela praticamente em nada o fato de ter sido uma cidade planejada, seu principal aspecto histórico, do ponto de vista urbano.

A História da cidade é repleta de fatos interessantíssimos e para quem se dedicar a estudá-la haverá de ficar tomado de um certo encantamento, na medida em que constatará o seu caráter de cidade imperial, visível, desde seus momentos mais remotos, não só pela vontade mas também pela ação direta dos nossos dois imperadores: de Pedro I, que deslumbrado com as belezas dos lugares da Serra da Estrela, comprou a Fazenda do Córrego Seco, e, de Pedro II, herdeiro daquela propriedade, que determinou a construção de um palácio para seus verões imperiais.

Contudo, a História mostra, também, que outros atores, não imperiais, mas diretamente ligados à Corte, participaram de modo decisivo na elaboração desse belo cenário urbano que se chama Petrópolis. De todos, especialmente três se destacaram: o Mordomo da Casa Imperial, Paulo Barbosa, considerado o “PAI DO POVOADO”; o Major Engenheiro Júlio Frederico Koeler, intitulado o COLONIZADOR, e o Coronel do Imperial Corpo de Engenheiros, Amaro Emílio da Veiga, reputado como o FUNDADOR DO MUNICÍPIO.

Mas, foi Koeler, com seus desejos de implantar aqui uma colônia, que dá entrada à Petrópolis, em sua configuração urbana, do elemento germânico. Na verdade, ao planejar o espaço, ainda virgem, caracterizado totalmente pela paisagem natural, introduz um modelo inédito de organização espacial urbana, em que o divide em grandes porções de terras, os quarteirões, cada qual com a denominação de uma região da Alemanha, como, por exemplo, Quarteirão Bingen, e estes, por sua vez, subdivididos em lotes, aforados perpetuamente às famílias alemãs que aqui chegaram. Aliás, a atual paisagem urbana de Petrópolis não revela marca alguma da colonização alemã, a não ser na sua toponímia.

Por outro lado, a imigração alemã para Petrópolis começa como fruto de um acaso, através do episódio do navio Justine, ancorado no porto do Rio de Janeiro com destino à Austrália, com 238 trabalhadores alemães a bordo, que não podiam seguir viagem e que, por ingerência direta de Koeler junto à Sociedade Colonizadora do Rio de Janeiro, foram trazidos para Petrópolis e encaminhados aos trabalhos das obras a seu cargo. Mais tarde, em levas sucessivas, no período de junho a novembro de 1845, subiram a Serra da Estrela com destino a Petrópolis, mais 2.318 imigrantes alemães.

Por volta de 1850, Petrópolis já começa a demonstrar a sua verdadeira vocação urbana através de uma mudança sensível na fisionomia da paisagem natural, com a abertura de ruas, canalização dos rios, construção de casas residenciais e estabelecimentos comerciais. Mais tarde um pouco, começam a surgir os estabelecimentos industriais como uma consequência natural da tradição artesanal do colono alemão. Como exemplo, que muito nos honra, o primeiro estabelecimento industrial cervejeiro do Brasil foi autorizado a funcionar em Petrópolis, por alvará assinado pelo próprio Imperador Pedro II., no ano de 1853.

Ao lado da intensificação da vida econômica, Petrópolis já tem uma importante vida educacional, com a instalação de escolas, e considerável atividade cultural, reflexo da presença da família Imperial que com ela subiam a serra personagens ilustres, homens de cultura, empresários, políticos e diplomatas.

E, aos poucos, no ambiente social petropolitano, mesclado de segmentos bem distintos, com uma vida econômica praticamente independente, mas unidos pela idéia de romper os laços que ainda ligavam Petrópolis à Vila da Estrela, principalmente em termos eleitorais, começa a germinar a semente da sua emancipação municipal. Mas, num outro passo, existiam aqueles contrários à emancipação, mais propriamente alguns deputados, que viam no movimento vários motivos desagradáveis ao Imperador.

Em 6 de agosto de 1856, Veiga, já deputado à Assembléia Legislativa Provincial, dá entrada naquela Casa de um projeto de lei visando a emancipação de Petrópolis. Entre 6 de agosto de 1856 e 29 de setembro de 1857, o projeto original de Veiga e outros substitutivos tramitaram pela Assembléia. Porém, nesta última data, em razão de dois vetos do Presidente da Província, a Assembléia Legislativa Provincial, promulga a Lei 961, “ad referendum” do Executivo da Província, que determina a elevação à categoria de cidade as vilas de Valença e Vassouras e a POVOAÇÃO de Petrópolis.

Assim, pela simples promulgação de uma Lei e 14 anos após a assinatura do Decreto Imperial de 16 de março de 1843, Petrópolis, então, mais cidade, considerando o seu urbanismo, do que muitas outras, consegue sua definitiva emancipação.

Portanto, agora que Petrópolis comemora seu 143° aniversário como cidade, é preciso lembrar, não apenas os fatos geo-históricos que encadeados nos legaram um lugar tão importante para vivermos, mas também não esquecer que são imperiosas a recuperação e a preservação da sua vida e de todo o seu ambiente urbano, hoje tão descaracterizado pela ação humana inadequada.