HOMENAGEM A PEDRO RUBENS

Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira

Repentinamente a palavra da comunicação coloquial e escrita falha inexoravelmente. Por vezes nem o balbucio imperceptível ao ouvido humano sai do imponderável silêncio gelado, o mesmo das alturas do espaço infinito sem atmosfera.

Os dedos febris que a mocidade exercitava em rabiscos de caligrafia, que em seguida tomaram de assalto as engenhocas de escrever, e que hoje dedilham os teclados do equipamento informático, não conseguem dobrar as falanges, coitadas, enrijecidas pelo sentimento profundo de espanto e perda total.

O vasto dicionário da língua torna-se impotente na busca da terminologia adequada à transmissão de um sentimento pungente que vem lá da recordação de dias de vida e de felicidade, de amor e companheirismo, de dignidade, firmeza e elevado sentimento de fraterna amizade.

Quisera encontrar as palavras mais ternas, mais lindas, para falar de você, meu leal amigo, meu sensato companheiro de jornadas profissionais, meu exemplo de coragem e de vida deitada ao próximo sem vacilações ou pensamentos negativos.

Se as tivesse agora tentaria dizer que Pedro Rubens Pantolla de Carvalho, que nos deixou na noite de 19 de abril, traduzia o cidadão perfeito, de maravilhosa alma cristã, de sentimentos nobres, de criatura humana acima do trivial limite definidor da bondade magnânima de um coração pronto para servir… Ele excedia qualquer conceituação de lealdade e de amor ao próximo.

Pedro Rubens entrou em minha vida no primeiro dia de julho do ano de 1960. É ele, amigo querido, que narra esse encontro em um carta recente que trocamos pela Internet: “Foi assim e é assim desde os meus primeiros momento de trabalho no saudoso Berj quando, naquele dia ensolarado, mas bastante frio, iniciei-me na carreira de bancário através de seus ensinamentos. Daí para a frente, a coisa funcionou mais ou menos como a “corda e a caçamba”. E você, meu primeiro amigo da primeira hora, agindo com sua liderança nata, sempre me empurrando para a frente, fosse no Banco ou fora dele. O tempo rolou. Muitos relógios quebraram, mas de nada adiantou: sempre havia um contando as horas. Chegou a hora da família. Construímos as nossas. As responsabilidades aumentaram pois os filhos não ficam eternamente crianças. E, de repente, diante do espelho, damos conta dos cabelos brancos. Fim de linha. Aposentadoria que chega, mas o trabalho não pára. Aqui e ali, sempre havia algum espaço para nós. E assim foi durante mais outros tantos anos”.

Pena fluente, inteligência lúcida, Pedro Rubens era um conquistador inveterado: conquistador de amizades, daquelas permanentes que constróem os universos mais perfeitos do amor fraterno. Se, de um lado, ele revela que dei a ele os primeiros ensinamentos profissionais, quando chegou menino a Petrópolis, pelo resto da vida ele foi meu mestre de lealdade, de amizade, de fraternidade e de rara competência nos misteres profissionais aos quais dedicou seu valor de raro equilíbrio e bela visão de futuro.

Meu querido amigo ultrapassou em muito o meu valor, este circunscrito apenas à área do esforço cultural, da qual era ele um gênio de conhecimento sólido, embrenhando-se na seara administrativa, com soberbas aulas de ação humana inexcedível e, no magistério-sacerdócio foi querido, louvado, invejado, tornou-se um padrão de competência, conhecimento, atualização constante e amigo, amigo, amigo, amigo formador de seus discípulos. Pedro Rubens atingia, como ninguém, a alma de seus colegas professores, e dava a eles e aos discípulos consciência profissional e ética no exercício divino do magistério; a todos incluía em seu rol magnifico de amizades imorredouras.

Pedro Rubens orgulhava-se de seu pai Rubens e de sua mãe Deolinda, eméritos professores em Paraíba do Sul, exemplos eternos de dedicados mestres de gerações de jovens paraibanos e dizia, com santo orgulho, que era professor como eles. Era, sim, do mesmo nível : deles herdou o talento, a bondade, a inteligência, o amor pela missão.

Exemplar cidadão e perfeita criatura apegada ao amor mais nobre à família, com sua esposa Isa e filhas Isabela e Daniela, era exemplar querubim de guarda da união de almas cristãs verdadeiras e comprometidas com o melhor da existência que é o espalhar de bondade entre as criaturas de boa vontade.

As palavras continuam faltando para a descrição desse homem maravilhoso, humano, justo, correto, exemplo de vida e de coragem. Se elas faltam por aqui, sobram em minha alma desolada por sua perda tão prematura.

E encontro, apenas, aquela que traduz a obviedade do sentimento e do agradecimento pelo convívio; aquela, sob interjeição de dor e saudade, que não representa o meu universo de desolação e perda inexorável, mas consegue a tradução do sentimento de todos aqueles que tiveram o privilégio e felicidade de conhecer e conviver com o mestre Pedro Rubens: OBRIGADO!

Termino essa pálida homenagem a ele, com suas próprias palavras tiradas da mensagem derradeira – citada acima – que recebi recentemente:

“Mas não vai ser esse imponderável, que haverá de deitar por chão essa nossa amizade. Vez por outra, ela se manifesta fortemente, independentemente de tempo e lugar”.