BRASILEIROS ILUSTRES EM PETRÓPOLIS

Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette

CONDE AFONSO CELSO

Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior, mais conhecido como Conde Afonso Celso, nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, em 31 de março de 1860. Seus pais foram o Visconde de Ouro Preto e D. Francisca de Paula Martins de Toledo.

Foi casado com uma das filhas do Barão de Itaipe, desde 1884, nascendo desta união quatro filhos: Maria Eugenia, Maria Elisa, Afonso Celso e Carlos de Ouro Preto.

Em 1875, com permissão do Parlamento por não ter a idade legal, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, bacharelando-se em 1880 e recebendo o grau de doutor no ano seguinte.

Na última década do regime imperial, iniciou carreira política, sendo eleito quatro vezes deputado pela província de Minas Gerais. Com a proclamação da República, abandonou a política e acompanhou seu pai no exílio.

Retornando ao Brasil, dedicou-se ao magistério, ao jornalismo, às letras e à advocacia. Teve marcante atuação no nosso ensino superior, como professor de Economia Política na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, durante cerca de quarenta anos, parte dos quais foi também seu diretor. Chegou a ter, conforme nos informa sua filha Maria Eugenia Celso, “suas aulas de Economia Política reunidas por seus alunos num opúsculo intitulado: “Uma grande Lição em Poucas Palavras” (1).

(1) CELSO, Maria Eugenia. Um dos apaixonados de Petrópolis: o Conde Afonso Celso. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 233: 213-237, Rio de Janeiro, outubro-dezembro, 1956.

Desenvolveu intensa atividade jornalística, tendo sido um dos grandes colaboradores do Jornal do Brasil, no qual manteve uma sessão diária de comentários políticos, econômicos, sociais e literários. Colaborou ainda com outros órgãos de imprensa, tais como: a Tribuna Liberal de São Paulo, a Semana, Renascença, Correio da Manhã e a Revista Vozes de Petrópolis.

De sua vasta produção poética e literária, merecem destaque: “Prelúdios”; “Poemetos”; “Telas Sonantes”; “Devaneios”; “Lampejos Sacros”; “Oito Anos no Parlamento”, excelente livro de memórias; “O Imperador no Exílio”, no qual defende a causa monarquista e enaltece a figura de D. Pedro II; “Porque me Ufano de meu País”, um verdadeiro hino de louvor e admiração ao Brasil; “O Visconde de Ouro Preto”, em que retrata a vida e obra de seu pai e que possui um grande valor histórico.

Em 1892, ingressou no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, na qualidade de sócio efetivo, tendo mais tarde sido elevado a sócio honorário, grande benemérito e presidente perpétuo dessa instituição, de 1912 a 1938, tendo tido a honra de receber, em memoráveis sessões o Rei Alberto da Bélgica, o Cardeal Cerejeira de Portugal, Theodoro Rosevelt e muitas outras personalidades.

Foi ainda membro fundador da Academia Brasileira de Letras e Comendador da Ordem de Leopoldo da Bélgica; da Legião de Honra, da França; Grande Oficial da Ordem do Sol, do Peru; da Ordem de São Thiago, de Portugal; da Ordem de Bolívar, da Venezuela; da Ordem Ecclesiae et Pontificiae, da Santa Sé.

Em 1905, o Papa Pio X conferiu-lhe o título de Conde Romano que mais tarde o Papa Bento XV tornaria perpétuo e hereditário.

Patriota extremado, escreveu no prefácio de um de seus livros: “Em matéria de amor à Pátria, como em carinho filial, que se peque por excesso, nunca por deficiência” (2).

(2) CELSO, Affonso. Por que Me Ufano do Meu País. Rio de Janeiro, F. Briguiet & Cia., 12 ª edição, 1943, p. 6

Na década de 1920, empunhou uma bandeira nacionalista, defendendo entre outras teses, a da nacionalização da pesca e a da interiorização da capital do Brasil. Admiradores e entusiastas de suas idéias fundaram, para difundi-las, a Sociedade dos Amigos de Afonso Celso.

Mudando-se para Petrópolis, por motivo de doença, aqui passou boa parte de sua existência, no Alto da Serra, em sua residência, carinhosamente chamada “Vila Petiote”, tornando-se um dos maiores e mais sinceros amigos de nossa cidade.

Seu entusiasmo por Petrópolis era tal que conseguiu atrair para o Alto da Serra seu pai, o Visconde de Ouro Preto, que ali veraneou durante muitos anos e ali veio a falecer em 1912, seu sogro, o barão de Itaipe, seu tio, o barão de Javari e muitas outras personalidades ilustres. Os ares de Petrópolis, comenta sua filha Maria Eugenia Celso “o sossego do Alto da Serra pareciam avivar-lhe a inspiração e a disposição para o trabalho” (3). De fato, ali ele escreveu a maior parte de seus livros e educou seus filhos, não tardando a tomar parte em vários empreendimentos de interesse da cidade.

(3) CELSO, Maria Eugenia. Um dos apaixonados de Petrópolis: o Conde Afonso Celso. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 233: 213-237, Rio de Janeiro, outubro-dezembro, 1956.

Assim, participou da comissão de homens de letras, que promoveram o levantamento da herma de Fagundes Varela; presidiu uma das comissões responsáveis pela construção da Catedral São Pedro de Alcântara, dando grande impulso às obras da mesma, então paralisadas, entregando a direção das obras ao arquiteto Heitor da Silva Costa e criando a Legião Pró-Catedral que obteve grandes recursos através de subscrições; presidiu ainda a comissão que levantou o monumento do Imperador D. Pedro II, inaugurado em 5 de fevereiro de 1911 e concorreu eficientemente para a edificação da Capela de Santo Antônio do Alto da Serra.

Por vários anos advogou em nosso Fórum. E, segundo se afirma, “nunca o nosso Fórum teve mais ilustre e consciencioso jurista a penetrar-lhe os umbrais” (4).

(4) Tribuna de Petrópolis, 13 de julho de 1938.

Com a revogação do banimento da família imperial e a subseqüente transladação dos restos mortais do Imperador e da Imperatriz para o Rio de Janeiro, reivindicou para a Catedral de Petrópolis a honra de abrigar para sempre os despojos imperiais, pronunciando na ocasião da transladação histórico discurso, enaltecendo as qualidades do extinto monarca.

Em seus artigos publicados na imprensa do país, “Petrópolis surge a cada página, por assim dizer, numa notícia, num elogio, num enaltecimento, num reparo às ocorrências de sua vida e de seu progresso” (5). Mesmo quando com a saúde abalada teve que buscar tratamento no Rio de Janeiro, conservou de nossa cidade gratas recordações, aceitando sempre com prazer convites para abrilhantar solenidades com sua ilustre presença.

(5) CELSO, Maria Eugenia. Um dos apaixonados de Petrópolis: o Conde Afonso Celso. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 233: 213-237, Rio de Janeiro, outubro-dezembro, 1956.

O Conde Afonso Celso faleceu no Rio de Janeiro, a 12 de julho de 1938, sendo sepultado no Cemitério São João Batista. Dele podemos dizer que recebemos um precioso legado de integridade de caráter, de brilhantismo de espírito, de pureza de alma e de pujança intelectual.