O SINDICATO DO TURISMO

Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira

A década de 20 assinala em Petrópolis a atenção municipal para o turismo, com total apoio dos veranistas. O Centro Histórico da cidade era tipicamente sazonal e estava edificado sob pilares de uma urbanização eclética. Os prédios eram exemplares representativos do gosto estético ditado pelos cabedais financeiros dos veranistas; viviam iluminados nos verões e deitavam solidão e negritude enevoada nos períodos invernosos.

A vida urbana no verão brilhava de novembro a abril; era agitada sob o sol de altitude e a chuva copiosa e ligeira de todas as tardes; no contraponto, as ruas de pouco tráfego passavam em mansuetude nos dias dos invernos rigorosos de friagem úmida bordados pela névoa matutina e do fim da tarde, além de um frio sol de viva coloração.

A cidade alegre dos verões convidava a passear a cavalo ou em viaturas e os veranistas eram vistos por toda a parte, enquanto a população fixa cuidava do comércio e dos serviços, aos visitantes oferecendo uma variedade de apelos consumistas. O veranismo era a prática de um turismo regularmente compulsório.

Na visão política e intelectual dos habitantes fixos, o município sobrevivia no inverno graças à intensa atividade fabril e no verão pelo colorido da natureza sempre em descoberta em meio ao bulício dos veranistas.

Sob esse conjunto de preocupação, notáveis da terra e adotados, tinham visão consciente de que era o turismo sazonal fixo o segredo de Petrópolis e que se devia adotar posicionamento vigilante para que ele crescesse.

No Rio de Janeiro, capital que ditava o comportamento social do País, fundara-se em 9 de novembro de 1923, a Sociedade Brasileira de Turismo e noticiava-se a novidade como “o primeiro passo, amplo, dado nesse sentido”.

Em verdade, Petrópolis já se antecipara aos doutos cavaleiros cariocas de prestígio, através de João Roberto d´Escragnolle, o primeiro real publicitário em Petrópolis, que abrira em 1908 uma agência de turismo voltada para a divulgação da riqueza ambiental do Município, a “Agência Alex” (Propaganda e Informações – faz tudo e tudo sabe), também realizando corretagem de imóveis e editando guias de divulgação e de indicações para os passeios. Nas décadas de 10 e 20 surgiram interessantes guias da cidade, verdadeiras jóias pioneiras da atividade.

O “Sindicato de Iniciativa de Turismo do Município de Petrópolis” também é anterior à Sociedade do Rio de Janeiro, iniciando atividades desde 1920 e solidificando-se no decorrer do ano de 1921.

Em tempos bem mais remotos, viajantes e apaixonados por Petrópolis já haviam editado importantes obras de divulgação cultural e turística da região serrana: 1862: “Viagem Pitoresca a Petrópolis”, de Carlos Augusto Taunay; 1872: “Doze Horas em Diligência”, de Revert Henry Klumb; 1879: “Os Estabelecimentos Úteis de Petrópolis”, de Tomás Cameron; 1885: “Petrópolis – Guia de Viagem”, de José Nicolau Tinoco de Almeida.

O Sindicato de Turismo de Petrópolis realizava uma assembléia anual na abertura do verão, quando chegavam os veranistas porque eram eles os mentores e dirigentes da entidade. Em 1923 a Diretoria era integrada pelo presidente Dr. Alberto de Faria; vices-presidentes o ex-prefeito municipal Dr. Oscar Weinschenck e Coronel Américo Guimarães; secretário geral Pedro de Cerqueira Lima; secretários Dr. Octavio da Rocha Miranda e Dr. Eduardo Pederneiras; tesoureiros Manoel de Siqueira Cavalcanti e Dr. Joaquim de Gomensoro. Estabelecia-se uma programação para o verão, porém a fase do inverno contava com os esforços dos petropolitanos residentes, à frente o incansável d´Escragnolle.

Uma revista era editada pelo Sindicato, “Petrópolis-Turismo”, contendo matéria redacional sobre as atrações para os visitantes e custeada pelos anunciantes mais entusiasmados pela idéia, como a “Alex”, de d´Escragnolle, o “Palace-Hotel”, a “Tipografia Americana”, de Manoel G. Moreira, editora de muitas publicações de divulgação petropolitana e impressos em geral, a “Casa Moderna (antiga Pongetti)”, de João Moderno de Gouvêa, com tudo para a moda masculina e feminina; a “Usina Itaipava”, produtora de derivados do leite; e empresas do Rio de Janeiro, como a “Companhia S.K.F. do Brasil”, a “Exprinter – Câmbio e Turismo”, a “Companhia de Materiais de Construção” e outras.

Foi por iniciativa do Sindicato que a Família Imperial cedeu à cidade o amplo terreno do Bosque do Imperador e coube ao Sindicato corporificar as primeiras adaptações do novo espaço para uso da população, sendo prefeito o Dr. Azevedo Marques.

O Sindicato tinha, estatutariamente três categorias de sócios: “Fundadores”; “Efetivos”, estes com cotização anual de 60 mil reis (petropolitanos do 1° distrito) e 30 mil reis (moradores dos demais distritos); e “Doadores” (em dinheiro, postes públicos, bancos para praças, mesas, abrigos, vestimentas ou capas de borracha para vigias, bens imóveis, etc). Um grupo fortíssimo era o de “Honorários” formando um Conselho de Patronato ou de Honra e integrado de altas personagens e funcionários de alta categoria.

Por ser sazonal e seus membros principais estarem no grupo veranista, o Sindicato funcionou poucos anos, mas sua atividade de fomento turístico marcou boa presença até os anos 30, quando a nova cara política do Brasil sepultou a “belle epòque”. Com a “Revolução de 30” desapareceu a pureza em seu sentido lato, iniciando-se em Petrópolis a grande especulação imobiliária, implementadora de nova paisagem urbana, ficando o turismo em segundo plano. Salvou-se naqueles dias a visão de futuro do presidente Getulio Vargas e de Alcindo de Azevedo Sodré, criadores do Museu Imperial, bem cultural e turístico que centralizou as atenções dos visitantes e se tornou uma jóia incrustada no coração petropolitano e brasileiro.

Hoje o turismo é a “descoberta” de Petrópolis e, por ele e com ele, espera-se manter o que sobrou da espadada do “desenvolvimento” que marcou décadas passadas post anos 20, pela destruição irreversível e lamentável de nosso paisagismo urbano e ambiental.

Como curiosidade, nomeio os integrantes do Sindicato em 1923, não assinalados os componentes do Conselho de Honra, que assinalava como membros o Presidente da República, o Governador do Estado, o Prefeito de Petrópolis, o Automóvel Clube do Brasil, políticos influentes e personalidades nacionais e petropolitanas.Certamente um Conselho que nunca se reuniu e pouco ou nada fez pela Entidade.

Fundadores
Osório de Magalhães Salles
Luiz de Souza Prates
Manoel dos Santos Dias
Dr. Luiz Novaes
Dr. José Bento de Freitas Mello
André Lepsch
Bernardo Martins Meira
Jorge Echternacht
José Rieger
João Roberto d´Escragnolle
Alcides José de Souza
Dr. Eugênio Lopes Barcellos
José Famadas Sobrinho
Américo Lardosa
Dr. Arthur de Sá Earp
Henrique Hingel
Carmelo Paladino
Anthero Palma
Arnold Lindscheid
Dr. Paulo da Costa Azevedo
Cia Fiação e Tecidos Cometa
Luiz Silva
Manoel de Souza Mattos
Hermenegildo Pereira
Luiz Felipe Ramos
Dr. Levi Carneiro
S.A. Fábrica de Sedas Santa Helena
Dr. Franklin Sampaio
Dr. Álvaro de Oliveira Castro
Hermenegildo Santos Lobo
Roldão Barbosa
Soleyman Antoun
Dr. Henrique Mercaldo
Reynaldo Chaves
Joaquim Gomes dos Santos
João de Mendonça Bittencourt
Alberto Nunes de Sá
Dr. Tibério da Costa Pereira
Guilherme Guinle
Dr. Miguel de Arrojado Lisboa
Fernando Gaffré

Efetivos
Dr. Álvaro A de C Carvalho
Oscar Monteiro Lazaro
Dr. J. Mello Guimarães
Vitorino Alquères Batista
Dr. Raimundo Nunes
Dr. José Paulo Soares
Flavio Novaes
Dr. Vidal Fontenelle
Francisco Nolding
Filipo Gelli
Herothides de Almeida Amado
João Batista de Castro
Dr. Alberto Cunha
Antonio de Souza Nogueira Filho
Dr. F. Guerra Duval
Dr. Hermann Fleuiss
Dr. Arthur Alves Barreiros
Dr. A Neves da Rocha
Visconde de Trobiand
Dr.Haroldo Leitão da Cunha
Cel.Ricardo Cardoso de Lemos

Doadores
Luiz Sixel
Antonio P. do Rosário
Francisco Antonio Morelli
Madalena Kenett
Álvaro da Costa Lima
Henrique Sixel
Augusto Guilherme Klippel