Atualização e nota abaixo, em 2004, por Joaquim Eloy Duarte dos Santos.

O “Morro do Cruzeiro” não teve, a partir daí, seus projetos concluídos e acabou tornando-se um loteamento que fracionou o terreno em lotes, cujos proprietários construíram muitas residências servidas pela rua Oscar Weinschenck que corta a elevação desde a rua Dr. Nelson de Sá Earp até a rua Irmãos D´Ângelo, passando pelos fundos da Avenida Koeler. O povo, em razão das construções de prédios residenciais de grande porte apelidou o morro de “Bairro dos Milionários”.

O MORRO DO CRUZEIRO

Walter João Bretz, Fundador, Patrono Cadeira n.º 39

Está em voga, nestes últimos dias, falar-se do “Morro do Cruzeiro”, o aprazível monte contornado pelas avenidas 15 de Novembro (hoje rua do Imperador), Koeler, Tiradentes e 7 de Setembro (hoje rua da Imperatriz).

Nos últimos anos, o “Morro do Cruzeiro” perdeu a sua antiga utilidade de ponto predileto dos petropolitanos, para a realização de excursões e convescotes, como acontecia nos tempos primitivos da colônia.

Os colonos alemães e seus descendentes denominavam-no “Morro do Imperador” ou “Coroa do Imperador”, tradução esta que aqueles lhe davam do idioma natal de “Kaiserkopf”.

A Superintendência da Fazenda Imperial preparara essa subida de fácil acesso e cuidava-a pois era muito procurado o “Morro do Cruzeiro” pelos forasteiros que o galgavam para desfrutar o magnífico panorama que, do alto dele, se descortina.

Na coroa do morro efetuavam-se de preferência, os “pic-nics” dos primitivos habitantes do lugar, especialmente no dia 7 de setembro e nos segundos dias do Natal, Ano Novo, Páscoa e Espírito Santo.

O “Sangerbund Eintracht” e os colégios como a Escola Evangélica e a do velho professor Frederico Stroele e outras corporações locais eram “habitués” daquele sítio.

No grande “plateau”, que é o ponto terminal do “Kaiserkopf” os excursionista folgavam e dançavam ao som das polcas e valsas das bandas musicais dos irmãos Eckhardt e Esch.

Ilustra este artigo uma fotografia dessa Banda Musical dos Irmãos Eckhardt, tirada da Praça da Liberdade. (O artigo foi escrito para ser publicado na “Tribuna de Petrópolis” e o foi na edição de 4 de outubro de 1931, com a reprodução da dita fotografia).

Dos musicistas que nela se vêem, vivem apenas dois, que são os senhores André Carlos Olive, caixa e Theodoro Eckhardt, clarinetista, respectivamente o 3º e o último, de pé, da esquerda para a direita. (Na reedição do artigo, agora em 2004, obviamente nenhum dos integrantes da Banda está entre nós e a Banda não mais existe).

Existia, em lugar de destaque, no referido planalto, um tronco de árvore recortado, e que servia de assento e tribuna ao mesmo tempo. Nele encarapitavam-se os pequenos recitadores para declamarem os seus versos e discursos. Entre eles eram freqüentadores habituais dessa tribuna silvestre os nossos então jovens conterrâneos: Júlio Esch, Felippo, João e Carlos Bretz, Ana, Edmundo e Otto Hees, André Koslowsky, Mauricio Reicholt, Henrique Sixel e outros, que o tempo decorrido já fez esquecer, na sua infalível ação olvidadora…

No cume do “Kaiserkopf” realizou-se, em 1883, a inauguração da bandeira social do “Eintracht”, fazendo o discurso oficial o pastor Ricardo Schulz, da Igreja Evangélica. Falou, também, no ato, o então presidente da Câmara Municipal, dr. Henrique Kopke.

O Imperador D. Pedro II subia, uma ou outra vez, ao “Kaiserkopf” e descansava no tronco de árvores a que acima aludimos.

Daí denominar-se também àquele tronco “kaiserstuhl”, isto é, cadeira imperial.

No alto do Cruzeiro, durante a guerra franco-prussiana, em 1870-1871, os alemães davam expansão ao seu júbilo patriótico, todas as vezes que chegavam notícias de vitórias das armas de Guilherme I.

Para evitar artifícios no centro da cidade, onde também residiam vários franceses, os prussianos iam ao “kaiserkropf” queimar suas girândolas de foguetes.

Isso não impedia que um negociante português da rua do Imperador, mais realista que o rei no seu germanofilismo, celebrasse as vitórias prussianas, no centro da cidade, com um grande foguetório, sempre a pretexto de haver tirado a sorte grande…

À entrada da subida do “Morro do Cruzeiro” à direita, estava instalada a ferraria do colono alemão João Mauricio Reichelt, que ali residia com sua esposa, a velha parteira Helena Reichelt, tão familiar aos antigos lares petropolitanos. Esses prazos pertencem hoje ao ilustre engenheiro petropolitano dr. Miguel Detzi.

Quase no alto do “Morro do Cruzeiro”, começou a construir-se um grande prédio, mandado levantar pelo francês César Bullech que, dizem, pretendia ali instalar um hotel, que se chegasse a funcionar, talvez fosse a casa do “Père César”, a exemplo do “Mére Louise”, no Rio de Janeiro.

A obra ia em meio, tendo chegado até a cobertura. César, porém, desistiu de conclui-la pela dificuldade de levar água potável até o edifício.

Esse episódio deu lugar a que o alto do Cruzeiro tomasse mais uma denominação popular: o “Morro do César”, ou “Der Cesarber”, como diziam os teutos.

Da casa iniciada e abandonada restam antigos, vagos vestígios dos alicerces, tendo o material restante sumido, depois de haverem as respectivas ruínas servido, durante anos, de valhacouto de negros e vagabundos. Tentaram também ali o plantio de amoreiras para a criação do bicho-da-seda.

A Câmara Municipal, em 1885, que era composta de liberais, prevendo a sua derrota pelos conservadores, queria entregar a estes os cofres vazios… Para gastar o dinheiro deliberou aterrar o largo de D. Afonso com a terra do “Morro do Cruzeiro”.

O Imperador D. Pedro II, em despacho de 3 de outubro de 1885, “dignou-se conceder a licença pedida pela Câmara Municipal para consertar e alargar o caminho para o alto daquele morro, com o fim de estabelecer no mesmo mais um logradouro de recreio para a população desta cidade”.

Isto foi oficialmente comunicado à Municipalidade, em oficio da Mordomia da Casa Imperial, e lido em sessão de 12 de outubro de 1885.

É, portanto, o “Morro do Cruzeiro” um logradouro público.

A Repartição da “Carta Geográfica do Estado do Rio de Janeiro”, em 1896, criada pelo Dr. José Thomaz da Porciúncula, mudou para o alto do “Morro do Cruzeiro” a estação meteorológica, que durante algum tempo ali funcionou.

Extinta a estação, o pavilhão existente desapareceu, pela “evaporação” dos materiais respectivos, tal qual sucedera ao hotel do francês César.

Na administração do Coronel Arthur Alves Barbosa, esse então governador do Município, acompanhado dos vereadores Edmundo Hees, Victorio Pereira Nunes, Antônio José Teixeira e Joaquim Pinto de Carvalho, visitou o “Morro do Cruzeiro” examinando as possibilidades de tornar em realidade o projeto de 1885.

Depois disto pouco se fala do “kaiserkopf”, apenas para recordar as suas reminiscências e para apontá-lo como lugar apropriadíssimo à instalação de um parque, dada a facilidade de subida até o seu cume.

Colocado na parte mais central da cidade, o “Morro do Cruzeiro” servirá perfeitamente ao fim a que o destinaram em 1885 o Imperador D. Pedro II e a Câmara Municipal.