EVOCANDO D. JOSÉ PEREIRA ALVES

Jeronymo Ferreira Alves Netto, associado titular, cadeira nº. 15, patrono Frei Estanislau Schaette

O ano em curso assinala o centenário de ordenação sacerdotal de D. José Pereira Alves, uma das figuras mais representativas do episcopado brasileiro.

Nascido em Palmares, no Estado de Pernambuco, a 5 de março de 1885, foi ordenado sacerdote a 1º de novembro de 1907, logo destacando-se por sua vasta cultura, modéstia, zelo apostólico e uma extraordinária capacidade de trabalho, qualidades que o levaram a exercer as mais elevadas funções eclesiásticas. Foi professor e reitor do Seminário de Olinda, Deão do Cabido da Catedral de Olinda, Monsenhor Protonotário Apostólico, Governador do Bispado e Vigário Capitular da Arquidiocese de Olinda e Recife, deixando em todos estes cargos “a marca indelével de seu espírito de iniciativa, de sua prudência, de sua autoridade e de sua imensa cultura” (1).

(1) JOAQUIM, Thomas. D. José Pereira Alves, in: Vozes de Petrópolis, Petrópolis, janeiro-fevereiro de 1948, p. 117.

Foi ainda um consumado jornalista, consagrando-se aos temas morais e religiosos. No Nordeste, dirigiu os jornais “A Tribuna Religiosa”, “Mês do Clero” e a revista “Maria”, além de ter publicado inúmeros artigos em outros órgãos de divulgação católica. Deixou-nos ainda duas obras de grande valor literário e religioso, publicadas após sua morte pela Imprensa Nacional e, infelizmente, não reeditadas: “Discursos e conferências” e “Palavras de fé”.

Em 27 de janeiro de 1922, foi sagrado bispo, na Basílica do Carmo, um dos mais lindos templos do Recife e designado para a Diocese de Natal, no Rio Grande do Norte, ali permanecendo até 1928, quando foi transferido para a Diocese de Niterói, pastoreando-a até a sua morte em 1947.

Na Diocese de Natal fundou um Seminário, a Federação Católica do Rio Grande do Norte e o Diário Católico daquela cidade.

Por ocasião de sua posse na Diocese fluminense, a 20 de maio de 1928, a Tribuna de Petrópolis assim se manifestou: “Orador dos mais fascinantes, conferencista dos mais brilhantes, provecto professor, escritor, jornalista e polemista de fôlego, D. José é um espírito que não só honra a sua terra natal, mas enche de orgulho o Brasil inteiro” (2).

(2) TRIBUNA DE PETRÓPOLIS. Novo Bispo de Niterói. Petrópolis, 24 de abril de 1928, p. 1.

Petrópolis fez-se representar na solenidade de sua posse pelo Dr. Oscar Weinschenck e pelo Padre Lúcio Gambarra, vigário de paróquia de Cascatinha, o qual, em nome do clero da Diocese, pronunciou brilhante discurso de saudação ao novo bispo.

Em sua nova Diocese, D. José Pereira Alves desenvolveu intensa atividade pastoral, fundando novas paróquias, idealizando o 1º Congresso Diocesano de Niterói, em 1942, fundando o Mosteiro da Visitação, em 1946. O clero da Diocese sempre encontrou nele um verdadeiro Pai Espiritual, buscando seus conselhos iluminados, oportunos e corretos na solução dos mais intrincados problemas.

Em Petrópolis, soube conquistar a admiração e o respeito dos fiéis, recebendo, por ocasião de suas inúmeras visitas à nossa cidade, as mais calorosas manifestações de estima e apreço.

Por ocasião do Centenário da Fundação de Petrópolis, realizou-se, sob sua presidência, um imponente Congresso Eucarístico que deixou marcas profundas na vida religiosa da cidade.

Assim, entre os dias 13 e 16 de maio de 1943, com a presença do embaixador de Sua Santidade o Papa Pio XII, o Núncio Apostólico D. Bento Aloísio Masella, realizou-se o citado Congresso, cujo êxito deveu-se em grande parte ao zelo do então Pároco de Petrópolis, Monsenhor Francisco Gentil Costa, de saudosa memória.

Este Congresso contou com a presença das mais expressivas figuras da intelectualidade brasileira, civis e religiosas e, ao encerrar uma de suas sessões, D. José abraçou a causa da criação da Diocese de Petrópolis ao dizer: “Petrópolis deseja que desse canteiro eucarístico suba para os céus, como uma rosa, como uma rosácea de sua verdadeira Catedral, a idéia da criação da Diocese Petropolitana. Petrópolis quer que se levante, como uma Hortência espiritual, a mitra que vai coroar as montanhas verdejantes da cidade” (3).

(3) ALVES, José Pereira D. Álbum do Congresso Eucarístico do Centenário de Petrópolis. Niterói, 1943.

D. José Pereira Alves faleceu em Niterói, a 21 de dezembro de 1947, no Palácio Episcopal, assistido por sua progenitora, D. Maria Pereira Alves e inúmeros sacerdotes, sem deixar qualquer bem material. Seus funerais foram custeados pelo governo do Estado do Rio que lhe prestou honras de chefe de Estado, decretando luto oficial por três dias.

Em Petrópolis, na Academia Petropolitana de Letras, da qual o extinto era membro efetivo, o Dr. Ernesto Tornaghi proferiu palestra relatando sua vida inteiramente dedicada à prática do bem e seu devotamento à sua missão de condutor de almas.

Na Catedral São Pedro de Alcântara foram celebradas solenes exéquias por sua alma, fazendo o elogio fúnebre o Reverendíssimo Cônego Aquino Menezes, Vigário de Teresópolis.

Durante os anos em que esteve à frente das Dioceses de Natal e Niterói, D. José Pereira Alves soube enriquecer, com seus predicados, a Igreja, que nele teve um de seus mais luminosos missionários.