RESGATES PETROPOLITANOS

Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima

Antonio Augusto de Azevedo Sodré, de tradicional família fluminense, nasceu em Maricá aos 13 de fevereiro de 1864 e morreu em sua Fazenda da Quitandinha, aqui mesmo em Petrópolis, a 1º de fevereiro de 1929. Era irmão de Antonio Candido de Azevedo Sodré, pai de Alcindo de Azevedo Sodré, o mago do 16 de Março, idealizador e primeiro diretor do Museu Imperial.

O Dr. Alcindo, por ocasião da morte de seu tio e também sogro, era Vice-Presidente da Câmara Municipal de Petrópolis, médico de vasta clientela e responsável pela direção do “Jornal de Petrópolis”.

Médico também foi Antonio Augusto que se formara pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1885. Contava então 21 anos e não titubeou em submeter-se a concurso para professor da escola em que vinha de colar grau. Embora aprovado em 1º lugar, deixou de ser nomeado pelo Imperador em virtude de sua pouca idade. O jovem não desanimou. Abrindo-se novo concurso, Antonio Augusto a ele se submeteu classificando-se uma vez mais em 1º lugar. Foi então nomeado para a cadeira de clínica médica, que regeu com brilhantismo e enorme dedicação por 39 anos.

Teve enorme clientela no Rio de Janeiro, tendo publicado alguns trabalhos de elevado valor científico, entre eles “Patologia da Icterícia” e “A Febre Amarela”. Nesta teve a colaboração de Miguel Couto.

Fundou Antonio Augusto o semanário “Brasil Médico”, que durante muito tempo foi o único periódico no gênero no país.

Foi Diretor da Faculdade de Medicina, Presidente da Academia Nacional de Medicina, tendo presidido em 1910 o Congresso Médico Latino-Americano que se reuniu no Rio de Janeiro. Foi secretário de Francisco de Castro no Instituto Sanitário Federal, destacando-se no trabalho da extinção da cólera morbus durante a epidemia que se alastrou pelo vale do Paraíba. Dirigiu a instrução pública do Distrito Federal e foi Prefeito do Rio de Janeiro de 6 de maio de 1916 a 15 de janeiro de 1917, durante a presidência de Wenceslau Braz.

Eleito Deputado Federal pelo Estado do Rio de Janeiro, destacou-se na Câmara em duas legislaturas como membro das comissões de instrução e de higiene públicas.

Antonio Augusto de Azevedo Sodré foi fundador e diretor-médico da Companhia de Seguros A Equitativa, a maior empresa no gênero de seu tempo em todo o território nacional. Lamentavelmente, aí pelos anos cinquenta dos novecentos A Equitativa faliu e ainda me lembro do estado lamentável de sua imponente sede na Avenida Rio Branco.

Casou-se Antonio Augusto com D. Luzia Salles de Azevedo Sodré, neta do Visconde de Mauá. Dentre seus filhos destacaram-se o Dr. Fabio Sodré, médico do Hospital de Psicopatas; o Dr. Luiz Sodré, assistente da clínica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, o Dr. Altino Sodré, que fora químico da Usina São José em Campos dos Goitacazes e depois tornara-se industrial aqui em Petrópolis e D. Zulmira de Azevedo Sodré, prima e mulher do Dr. Alcindo de Azevedo Sodré.

O Dr. Antonio Augusto tinha residência fixa no Rio de Janeiro, à Praia de Botafogo n.º 424, mas era na sua Fazenda da Quitandinha, nesta urbe que ele relaxava durante os longos verões em que ele aqui passava com a família. Demais, ele criava nas terras da propriedade gado Simenthal de origem alemã.

E foi justamente durante o verão de 1929 que ele entregou a alma ao Criador, em Quitandinha, tendo sido sepultado no Cemitério São João Batista, na cidade que ele em dia governara.

Releva notar que o aparecimento, nos anos quarenta dos novecentos, do Hotel-Cassino Quitandinha obumbrou o passado da fazenda ao ponto de não existirem pesquisas e trabalhos que revelem sua cadeia sucessória a partir das transações de Julio Frederico Koeler levadas a efeito entre 1841 e 1846, tão bem estudadas por Guilherme Auler em “As Propriedades do Major Koeler em Petrópolis”, revista “Vozes”, nov/dez. de 1953.

Há portanto um vazio documental de quase cem anos no qual se encaixa a passagem da família de Antonio Augusto de Azevedo Sodré pela fazenda. Essa lamentável lacuna precisa ser preenchida para que se resgate a história de uma das propriedades rurais mais emblemáticas de Petrópolis, que antes de resolver-se nos projetos do loteamento e do hotel-cassino, encheu de prazer a vida do eminente médico e sanitarista Antonio Augusto de Azevedo Sodré.