O CENTENÁRIO DO HOSPITAL SANTA TERESA – DATA HISTÓRICA DA CIDADE IMPERIAL

José Kopke Fróes

Dois acontecimentos de grande importância na vida da pequenina cidade de Petrópolis tiveram lugar no dia 12 de março de 1876: pela manhã, o lançamento da pedra fundamental da nova Igreja Matriz e, à tarde, a inauguração do Hospital de Santa Teresa.

Deixamos ao “Mercantil”, único jornal da época, em sua linguagem simples, a descrição dos fatos citados, em seu número de 15 de março seguinte, escrita por Bartolomeu Pereira Sudré, proprietário e editor do periódico:

“Notícias diversas – foi ontem o dia natalício de Sua Magestade a virtuosa e estimada Imperatriz do Brasil. Sua Magestade completou 54 anos de idade.

Conforme anteriormente noticiamos, realizou-se domingo 12 do corrente, às 8 horas da manhã, no morro de S. Pedro, nesta cidade, com a assistência de S. M. o Imperador e Suas Altezas Imperiais, a colocação da pedra fundamental para a nova igreja matriz, e a sagração do terreno em que se vai construir a mesma igreja, sendo em seguida celebrada a primeira missa em um pavilhão convenientemente preparado para esse fim.

Depois de assinado o respectivo auto e depositado em uma caixa de madeira com os jornais da Côrte e da Província do Rio de Janeiro, bem como os exemplares de todas as moedas de ouro, prata e cobre, cunhadas neste Império, S. M. O Imperador fechou a referida caixa, e entregou a chave ao Sr. Presidente de nossa Câmara Municipal, para ser arquivada.

As cerimônias religiosas foram celebradas pelo Exmo. Monsenhor Luiz Bruschetti, coadjuvado pelos Revmos. Padres Vigário Germain, Teodoro Esch e João Batista.

Assistiram a tão edificante solenidade os Exmos. Srs. Ministros da Fazenda, Justiça e Império, Presidente da Província, a Câmara Municipal desta cidade, a Irmandade do S.S. Sacramento, as autoridades civis e militares, alguns titulares nacionais e estrangeiros, funcionários públicos, grande número de famílias e cavalheiros.

Duas bandas de música tocaram durante a solenidade, e uma sociedade de canto alemã acompanhou os atos religiosos.

Findas as cerimônias do estilo, o Sr. Comendador Paulino Nunes levantou vivas á Augusta Família Imperial e ao dia 12 de março que acabava de assinalar a existência de mais um alicerce firmado para celebração do culto externo e público de nossa religião.

O dia 12 de março não devia prender-se à memória dos petropolitanos só por esse acontecimento; um outro tanto mais magestoso quanto do primeiro tira uma grande força do seu mérito, veiu encher de júbilo e edificar os corações de quantos o apreciaram: Era – a inauguração da casa de caridade.

Ao meio dia teve princípio essa solenidade com a chegada de S. M. e de S.S.A.A.I.I., ministros, presidente de província, corpo diplomático estrangeiro e grande afluência de pessoas de todas as classes.

Achavam-se enfermarias e demais compartimentos debaixo do mais apurado asseio. As repartições de botica, escritório e capela, etc., estavam arranjados com esmero, e qualquer que fosse o lado para onde se volvessem os olhos apresentavam o mais harmonioso conjunto de ordem e asseio, atraindo a atenção de todos os visitantes.

Seguiu-se logo ao ato da inauguração a venda de diversos objetos que constituíam o bazar de prendas, oferecidas pelas almas caritativas em favor dessa pia instituição.

Aí, os cavalheiros que eram mimoseados, ofereciam em troca a espórtula que podiam, transparecendo em tudo a espontaneidade e satisfação que sómente os corações bem conformados são suscetíveis.

As Exmas. sras. Amélia C. Albuquerque, Marieta Pinto, Maria Quartim, Maria Pimenta Bueno, Manoelita do Rego Macedo, Maria Guedes, Costa Pinto foram encarregadas do trabalho das mesas, agenciando as espórtulas, que alcançaram a quantia de 2.000$000 de réis.

Não podemos deixar de falar da Exma. Consorte do sr. Conselheiro Pinto Lima, pela parte ativa que tomou na aquisição de donativos, captando pelas suas maneiras as simpatias de todos os que a viam tão devotadamente empenhada na sagrada missão de melhorar a sorte do pobre.

Durante o resto do dia foi sempre o estabelecimento visitado por centenas de pessoas.

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O Hospital de Santa Teresa logo depois de sua inauguração em 1876.
Os aumentos que sofreu foram feitos pelas Irmãs de Santa Catarina, depois de 1900.

Ás 6:00 horas da tarde, celebrou-se um Te-Deum em ação de graças por tão faustoso acontecimento. A ele concorreram também a Família Imperial e diversas pessoas gradas.

Á noite apezar da pouca segurança do tempo, houve a iluminação que, em abono da verdade, devemos confessar que outra tão esplendida e de efeito tão maravilhoso nunca apreciamos.

Ao sr. Comendador Paulino Nunes devemos a iniciativa desta iluminação e pelo modo porque foi ela distribuída e dirigida bem se deixa ver ainda uma vez o bom gosto, zelo e interesse de que sempre dá provas o sr. Comendador, sendo ainda mais para realçar o seu merecimento, o serem essas despesas feitas a sua custa.

Além dessa iluminação, também a deu um gazômetro organizado para esse fim, e que foi assentado no barracão do Passeio Público. Aí encheu-se o tempo com danças em que tomaram parte diversas famílias distintas, que aí compareceram. O solo estava forrado de tapetes, juncado de flores e folhagens, tornando assim o divertimento absolutamente campestre.

Lamentamos [que] o máu tempo viesse embaraçar a continuação dessa festa, que tinha por origem o mais santo e mais grandioso motivo, e que tão gratas e profundas recordações acaba de deixar-nos.

Sua Magestade a Imperatriz não se achou presente nas festas que tiveram lugar nesta cidade, no domingo findo, por não estar ainda, infelizmente, restabelecida de seus sofrimentos”.

– Em outras notas ainda de o “Mercantil” sobre as festividades acima, acrescenta-se que a iluminação a bico de gás, vista pela vez primeira em Petrópolis, estendia-se pelas avenidas da Imperatriz, D. Maria II e Dom Afonso (atuais 7 de Setembro, Tiradentes e Koeler), foi repetida na noite de 14 de março seguinte, aniversário de D. Teresa Cristina.

– A pedra fundamental na nova Matriz, hoje Catedral, lançada em 1876, nas imediações da atual Rua Raul de Leoni, pois, projetava-se construir o templo com frente para a atual Avenida 7 de Setembro, foi demovida para o local atual, em outra cerimônia semelhante à anterior, no ano de 1884.

– Quanto ao Hospital de Santa Teresa, sempre seguindo as informações de o “Mercantil” sabe-se que o grande terreno em que se acha construído foi adquirido ao Sr. João Loos, por 4 contos de réis, pela Comissão nomeada pelo Imperador. A pedra fundamental foi lançada em 2 de fevereiro de 1871, e o projeto elaborado pela comissão de obras públicas da Província foi executado a partir de 20 de fevereiro do ano seguinte.

– O primeiro Diretor do Hospital foi o Dr. Domingos de Lima Pereira de Brito, tendo por 1.º enfermeiro o Sr. João Henrique Kunh e 2.º enfermeiro o Sr. Miguel Suess.

– Ainda o “Mercantil” publicou extensa relação nominal de pessoas de Petrópolis que contribuíram com importâncias entre um conto de réis e cinco mil réis para a compra dos móveis, roupas de cama, utensílios diversos.

– Dom Pedro II estava de viagem marcada para os Estados Unidos no dia 24 de março, onde ia assistir a inauguração da exposição de Filadélfia. Demorou em Petrópolis alguns dias, onde, no Palácio Imperial, recebeu carinhosamente todas as pessoas que lhe apresentaram despedidas.