REPRESENTEI MILLÔR

Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira

O grande e admirável escritor Millôr Fernandes deixou seu espaço por aqui. Uma falta a ser lamentada para sempre.

Foi Millôr uma das mais lúcidas e ferinas inteligências de todos os tempos. Sua pena era admirada, temida, respeitada; enfim, Millôr estava acima de tudo, mesmo nos momentos de graves crises político-institucionais. Ele era capaz de dizer aos poderosos seu pensamento mais oculto, de uma forma que ninguém pudesse contestar ou criticar ou deixar de compreender. E fazê-los enfiar monumentais carapuças.

Com sua morte cessa um momento sublime da inteligência brasileira, que nos deu os saudosos Stanislaw Ponte Preta, Don José Cavaca, Chico Anísio, José de Vasconcellos e alguns outros seriíssimos humoristas.

Com efeito, o humorismo é o dito mais sério da vida. E Millôr foi o mestre dos mestres do crítico pensamento contemporâneo brasileiro.

Tive a ventura de interpretar Millôr, que foi excelente e apaixonado dramaturgo, sem obra extensa na especialidade, mas com textos perfeitos e definitivos de mestre da cena, representados por grandes artistas e elencos de todo o País.

Corria o ano de 1981.

Na noite de 26 de abril o TEP (Teatro Experimental Petropolitano) esteve no salão da Casa Paroquial de São José do Rio Preto (naquele tempo o 5º Distrito de Petrópolis) para a estreia da peça de Millôr Fernandes “Do Tamanho de um Defunto”, sob a direção de Walter Borges. No elenco estavam eu, no papel do Médico; Vilma Xavier, no da Esposa do Médico; Lúcio Agra, no do Ladrão; e Nélio Borges, no do Policial.

Em seguida, a peça foi exibida na Sala Guiomar Novais, no Centro de Cultura, no mesmo espaço hoje ocupado pela Sala-Teatro Afonso Arinos, durante 5 dias (1, 2, 3, 9 e 10 de maio).

Prosseguindo na temporada, o “O Defunto…” foi apresentado ao público de Pedro do Rio, no dia 6 de junho, no salão do E. C. Pedro do Rio; e mais, a 13 de junho no Bogari Clube de Cascatinha; a 20 do mesmo mês no Itaipava Tênis Clube, encerrando as representações em Araruama, nos dias 12 e 13 de setembro, inaugurando o Teatro Municipal daquele Município.

A peça “Do Tamanho de um Defunto”, de Millôr é um belíssimo texto, de forte efeito dramático, sob uma ironia desconcertante e foi um dos espetáculos mais perfeitos montados pela Teatro Experimental Petropolitano.

Tive a honra e privilégio de encabeçar o elenco, considerando o personagem criado um dos melhores de minha longa carreira de palco.

Ao recordar o TEP ligando-o a Millôr, presto homenagem a ambos, em reminiscência que honra e enobrece o grupo cênico e o consagrado dramaturgo, no momento de sua passagem para os cortinados do Infinito.