LUTA DA PRINCESA D. ISABEL PELA MATERNIDADE (A)

Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe

No século XIX, o papel da mulher era o de esposa e mãe; a ela cabia procriar, educar os filhos, cuidar da casa e servir obedientemente ao marido. As princesas D. Isabel e D. Leopoldina casaram-se em 1864 e, já em janeiro do ano seguinte, o tema da maternidade começa a fazer parte da correspondência trocada entre a imperatriz D. Teresa Cristina e suas filhas recém-casadas. Logo em fevereiro, D. Leopoldina anuncia a sua gravidez a D. Isabel: “Só a você por ora é que Gousti [duque de Saxe] deu licença para annuncial-o mas por ora não sei se aí vou ter um ou uma como já lhe disse”. Pela leitura das cartas, percebe-se a angústia de D. Isabel em não conseguir engravidar; a cada notícia falsa sobre o seu estado, aumentava a sua frustração. No final, pedia à família que não comentasse com ninguém até que os médicos confirmassem o diagnóstico. As suas esperanças foram diminuindo ano a ano. Como mulher, sofria a dor e a decepção de não se tornar mãe e como futura imperatriz, a pressão por parte da sociedade e da classe política para gerar o herdeiro, a quem caberia dar continuidade à Monarquia. Enquanto travava uma das suas maiores lutas pessoais, sua irmã tornava-se mãe de quatro filhos homens: Pedro Augusto (1866), Augusto Leopoldo (1867), José (1869) e Luís (1870).

Em 1868, D. Isabel e o marido, conde d’Eu, partiram para Minas Gerais a fim de visitar a estação de águas que tinha grande eficácia no tratamento da esterilidade, mas não teve o resultado esperado. Mais tarde, em sua terceira viagem à Europa, por indicação de sua tia paterna, D. Francisca, princesa de Joinvilhe, teve consulta com o médico francês, Dr. Depaul, em 18 de abril de 1873, que lhe recomendou tratamento hidroterápico em Bagnères-de-Luchon.  Visitou também a estação de águas termais de Bad Gastein, na Áustria, além de ter-se submetido aos banhos de mar, realizando, desta vez, depois de quase dez anos, o tão esperado objetivo de engravidar.

No quinto mês de gravidez, seguindo o conselho dos médicos, Dr. Feijó que a acompanhou na viagem, Dr. Depaul e Dr. Campbell, obstetra da rainha Vitória, D. Isabel escreveu ao pai pedindo que fosse dispensada da exigência do artigo 2º do Contrato Matrimonial, que determinava que seus filhos deviam, obrigatoriamente, nascer em território brasileiro. D. Pedro II ordenou ao ministro do Império, João Correia de Oliveira que consultasse o Conselho de Estado, cuja deliberação foi a seguinte: “Somente se houver uma certeza virtual de desastre durante a viagem, o parto poderá ocorrer na Europa, e na sede da Legação do Brasil em Paris”. O casal chegou ao Brasil em 23 de junho de 1874, quando D. Isabel já se encontrava no oitavo mês de gestação.

Em 28 de julho de 1874, deu à luz a uma menina, mas natimorta, batizada dois dias antes, ainda no ventre materno, com o nome de Luísa Vitória, em homenagem aos avós paternos. D. Isabel ficou devastada, apresentando um quadro de depressão. Só realizou o seu sonho em 15/10/1875, quando nasceu em Petrópolis, em sua casa, à Av. Koeler, Pedro de Alcântara, a quem caberia pela Constituição o título de Príncipe do Grão Pará. Os dois partos foram difíceis, o primeiro durou cinquenta horas e o segundo, treze horas, com sérias complicações, deixando uma sequela: paralisia do antebraço esquerdo, da mão e dos dedos. O segundo filho nasceu na mesma casa em 26/01/1878, pelas mãos do mesmo médico, o francês Dr. Depaul, e da enfermeira Soyer. Com a mesma equipe, aos 35 anos, D. Isabel teve o seu terceiro e último filho, D. Antônio, em Paris, na casa da Rue de La Fassanderie, 27, no dia 09/08/1881, quando foi utilizado, como nos partos anteriores, o fórceps.

01

Princesa d. Isabel segurando nos braços seu primogênito, d. Pedro, príncipe do Grão Pará. Autografada.

Henschel & Benque. [1876]. Albúmen, carte-cabinet, 16,7 x 11 cm.

02

Princesa Isabel, d. Pedro, príncipe do Grão Pará, e o conde d’ Eu.

Alberto Henschel & Cia. Rio de Janeiro. [1876]. Albúmen, 14 x 9,2 cm.

03

Pedro, príncipe do Grão Pará, d. Luís e d. Antônio. [Fev. 1883].

04

O casal d’Eu e seus três filhos: d. Pedro, príncipe do Grão Pará, d. Luís e d. Antônio.

Alberto Henschel & Ca. Rio de Janeiro. M[odesto] Ribeiro, successor. Ca. 1884.

Albúmen, 29,9 x 20,3 cm.

Fotos: Arquivo Grão Pará