GREVE DE 1918 (A)

Pedro Paulo Aiello Mesquita, Associado Titular, Cadeira nº 5 – Patrono Ascânio Dá Mesquita Pimentel

 A população petropolitana presencia atualmente a greve dos profissionais da educação que se mobilizam em passeatas pelo Centro Histórico com manifestações públicas de descontentamento com as suas atuais condições de trabalho e remuneração. Essa luta dos trabalhadores em prol dos seus direitos não é novidade na nossa cidade. Em meio à atual crise, vemos que há exatos cem anos, em 1918, Petrópolis também era o cenário de uma grande mobilização, naquela ocasião protagonizada pelos operários têxteis.

Na edição de 03 de junho de 1918, a Tribuna de Petrópolis noticiava que operários da Companhia Cometa foram à redação do jornal informar que estavam em greve. O porta-voz foi Antônio Luiz Júnior, que alegou como motivo do descontentamento a restituição da chefia das caldeiras a Manoel Rodrigues, acusado de não ter idoneidade, com histórico de agressão e inabilidade na lida do trabalho. Logo em seguida, a diretoria da Cometa ainda demitiu quatorze funcionários, culminando em uma forte instabilidade interna que levou ao cerco policial ao prédio da fábrica. Cumpre assinalar que a carestia que se vivia naquele último ano da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) também contribuía para o agravamento da situação.

 Naquele tempo ainda não havia os sindicatos tal como conhecemos. O núcleo de organização dos trabalhadores se dava na “União dos Trabalhadores em Fábricas de Tecidos”, que se situava na Avenida 15 de Novembro, atual Rua do Imperador. Era um corporativismo liderado pelos próprios trabalhadores, sem interferência estatal. Buscava-se ali um meio de unir os trabalhadores em prol de seus anseios, conscientizá-los e ajudar com a subsistência dos mais necessitados, sobretudo os que haviam perdido seus empregos.

 A consciência de classe aflorou entre os integrantes da greve e mesmo com a tentativa da Cometa de adiantar a quinzena do salário de junho, os operários não arrefeceram e mantiveram-se organizados e firmes no propósito que os levavam à greve. Nesse sentido, havia sido criada uma pauta das reivindicações, conforme se pode ver na Tribuna de Petrópolis de 2 de agosto de 1918. As mais importantes eram: oitos horas diárias de trabalho, fixação de ordenado mínimo para os adultos, fim da obrigação de trabalhar em mais de duas máquinas, não admissão de menores de 14 anos e licença para a mulher grávida um mês antes do parto e um mês depois, com totais vencimentos.

 A negociação era feita pela União dos Trabalhadores junto ao comendador Amoroso Lima, dirigente da Companhia Cometa, e também com Oscar Weinschenck, prefeito de Petrópolis. Chegou-se ao termo da greve em 2 de agosto, com o atendimento das reivindicações dos trabalhadores, que voltaram aos seus postos com o dever cumprido em prol de sua classe.

À guisa de conclusão, podemos ver que houve fortes motivos para a greve que se prolongou por um mês: a recontratação do chefe de caldeiras, a demissão considerada injusta de trabalhadores e tudo isso em um contexto de carestia e más condições de vida e trabalho em função da I Guerra. Contudo, mesmo naquele contexto desfavorável, houve suficiente organização e maturidade política dos trabalhadores em conduzir as negociações com êxito em plena República Velha.