HOMENAGEM AO MAJOR JÚLIO FREDERICO KOELER

Frederico Amaro Haack, Associado Titular, Cadeira n.º 17 – Patrono Francisco Marques dos Santos

Excelentíssimo sr. Hingo Hammes, prefeito interino de Petrópolis

Ilustríssimo sr. Marco Antônio Kling, presidente do Clube 29 de Junho

Ilustríssima sra. Emygdia Magalhães Hoelz Lyrio, presidente de honra do Clube de 29 de Junho

Excelentíssimo sr. Dirk Augustin, Cônsul-Geral da Alemanha no Brasil

Senhoras e senhores, bom dia!

Julius Friederich Köeler, nascido em Mogúncia, reino da Prússia, em 16 de junho de 1804, e falecido em Petrópolis, a 21 de novembro de 1847, vitimado por um disparo de arma de fogo quando praticava tiro ao alvo com amigos, em sua chácara, na Terra Santa. Militar do exército prussiano, em 1828 veio para o Brasil, contratado para servir ao Exército Imperial Brasileiro. Aqui constituiu família e, em 1831, assumiu oficialmente a nacionalidade brasileira, integrou diversas equipes de trabalho, em construção de estradas e pontes na província fluminense. A 16 de março de 1843, recebeu do Imperador D. Pedro II a honra de planejar e instalar o povoado de Petrópolis e edificar seu palácio de verão. Nomeado primeiro Superintendente da Imperial Colônia de Petrópolis, conseguiu, em 1845, trazer para fixação no Córrego Seco, por aforamento perpétuo, em benefício do proprietário das terras, imigrantes alemães.

Após essa breve biografia, de nosso homenageado gostaria de compartilhar com os senhores uma crônica, publicada em 1858 no jornal Parahyba, escrita por Jean Baptiste Binot.

Binot, cidadão francês contemporâneo de Koeler no alvorecer de Petrópolis, montou primitivamente uma chácara no Quarteirão Nassau e mais tarde, no Retiro, que ainda existe, hoje Orquidário Binot. Aqui criou um completo viveiro de plantas adaptáveis ao nosso clima das quais fazia larga exportação. A ele, deve Petrópolis, em grandes parte o renome de “Cidade das flores”.

Tão grande era o valor de Binot, que foi agraciado com uma comenda pelo Imperador e teve seu nome incluído na obra de Visconde de Taunay intitulada “Estrangeiros ilustres e prestimosos”, considerando-o notável horticultor.

Culto e perspicaz foi, talvez, o morador de Petrópolis que primeiro sentiu, ou melhor, avaliou a irreparável perda que constituiu para o progresso da cidade o acidente ocorrido com Koeler no em, 21 de novembro de 1847.

Passados onze anos, ainda chorava Binot a morte de seu amigo Koeler, ao qual assim se referia no jornal Parahyba, de 23 de dezembro de 1858:

“Tomou-o a morte no começo de todos os grandes trabalhos que foram esboçados por ele, mas que ficaram suspensos ou paralisados durante muitos anos. Depois de sua morte o progresso da colônia começou a diminuir em razão da má direção que tomou sua administração.

Um forte impulso fora-lhe, porém, dado, e, semelhante a uma locomotiva lançada a todo a vapor derrubando tudo o quanto encontrava em sua passagem, diminuindo a carreira progressivamente, até que mão inteligente apareça para entreter-lhe a renovar-lhe o impulso que recebera.”

E prosseguindo conta-nos o seguinte episódio:

“O Major Júlio Koeler, posto que riscado da lista dos vivos, não abandonou ainda sua querida Petrópolis.

Perguntai por ele aos colonos do Bingen e eles vos dirão que o fantasma do major Koeler aparece de tempos em tempos no seu quarteirão.

Esses bons alemães, tão crédulos e supersticiosos, asseguram tê-lo visto muitas vezes ao cair da noite. Porque não?

Em 1857, por uma bela noite de julho, passeava eu pela Rua D. Afonso, entre a meia noite e uma hora da manhã, e chegando ao pé da casa do Barão do Pilar, pareceu-me ver como que um fantasma apoiado na grade. Lembrei-me do major Koeler e ouvi a seguinte lamentação:

-Oh! Petrópolis, que querem fazer de ti que deixam em tão completo abandono? Esta rua D. Afonso que eu tinha destinado para a residência da aristocracia traçando o plano das casas e alimento, não teve a sorte que lhe destinei.

E as ruas de Joinville, Maria II e da Imperatriz que destinei para morada dos fidalgos e empregados da Casa Imperial, a quem dei os melhores lugares para construírem suas habitações em torno do Palácio, não tiveram melhor sorte do que esta D. Afonso, porque todos negociaram com os favores que concedi e deram-se pressa em vender seus terrenos. Foram eles que concorreram para abatimento de Petrópolis, ao invés de procurarem engrandecê-la!

Oh! Brasileiros, havereis de reconhecer mais tarde o erro em que caístes e comprar muito mais caro, o que vendestes barato, porque Petrópolis há de ser para vós outros um refúgio a que tereis de abrigar-vos para fugir das epidemias do Rio.

Nisto, desapareceu o fantasma e eu achei em seu lugar um manuscrito em francês, predizendo o futuro de Petrópolis que se realizará de 1856 a 1860.

Algumas pessoas que, como eu não desesperaram nunca do futuro glorioso de Petrópolis, saberão com prazer que este belo lugar está destinado a ser o mais formoso ornamento da coroa imperial.”

 Antes de terminar, gostaria de lembrar aos senhores, que aqui onde estamos não é apenas uma Praça com um monumento, neste local se encontram os restos mortais do Major Julio Frederico Koeler. Considero a maior homenagem a este ilustre cidadão germânico-brasileiro, estar sepultado nesta praça com a sua estátua ao alto, como um sentinela a velar pela nossa querida cidade.

Muito obrigado a todos!