CENTO E CINQUENTA E CINCO ANOS DE COLONIZAÇÃO ALEMÃ EM PETRÓPOLIS

Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, cadeira nº 15 –

Petrópolis celebra, hoje, mais um aniversário da chegada dos primeiros colonos alemães e é nosso dever rememorar este acontecimento histórico, marco indelével de progresso para esta região serrana, cuja memória, é nossa obrigação preservar.

Após as guerras Napoleônicas, a Alemanha atravessou um período de terrível crise. O povo estava exausto das longas guerras, os camponeses endividados, a indústria paralisada, os impostos indiretos aumentando sempre. Em conseqüência, “a discórdia reinava por toda parte” (1), contribuindo para que os camponeses, atraídos pela sedução do continente novo, emigrassem à procura de melhores condições de vida.

(1) LACOMBE, Américo Jacobina. A Colonização Alemã. Geopolítica dos Municípios, Rio, 1957, p. 58.

No Brasil, as autoridades provinciais desenvolviam um intenso plano de colonização estrangeira, a partir da Lei Provincial nº 56, de maio de 1840, autorizando o governo a promover o estabelecimento de colônias agrícolas e a adquirir terras a fim de loteá-las para os colonos.

Em 1844, o presidente da província fluminense Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho, Visconde de Sepetiba, cujos “200 Anos de Nascimento”, o Instituto Histórico de Petrópolis estará comemorando no próximo mês de julho, assinou um contrato com a firma Charles Delrue & Cia., de Dunquerque, para que fossem contratados imigrantes para trabalhar nas obras que encetava. Os contratadores, dando um interpretação liberal a uma cláusula do contrato, ao invés de remeterem colonos alemães, especializados na abertura e melhoramento das estradas enviaram família inteiras, sendo interessante assinalar que a maioria dos imigrantes não possuía a especialização pretendida.

Aureliano Coutinho, não tendo condições de alojar tantas pessoas, recorreu a Paulo Barbosa, Mordomo da Casa Imperial, na esperança de que este pudesse alojá-los na Fazenda de Santa Cruz, ou nas Imperiais Quintas. Paulo Barbosa, conhecendo o plano do Major Júlio Frederico Koeler de criar em Petrópolis uma colônia agrícola “capaz de suprir a capital de diferentes espécies de frutas e legumes da Europa” (2), acertou com este a vinda dos colonos para Petrópolis.

(2) ADÃO, Claudionor de S. Como nasceu e cresceu Petrópolis. A Noite, Rio, 30 de novembro de 1957, p.17.

Inicialmente, os 161 colonos alemães, que haviam chegado ao Rio de Janeiro em 13 de junho de 1845, a bordo do navio Virginie, procedentes de Dunquerque, foram acomodados em Niterói, debaixo de um telheiro próximo às obras da Igreja local, de onde foram transportados para o Arsenal de Guerra da Corte, em barcas a vapor. Naquele estabelecimento militar, segundo nos informa Bretz, “receberam a visita do Imperador D.Pedro II, que lhes fez donativos de seu próprio bolso e prometeu-lhes proteção” (3). Do Arsenal partiram em faluas para o Porto da Estrela, e daí a pé, fazendo escala pela Fábrica de Pólvora e no Meio da Serra, até a Fazenda do Córrego Seco, onde chegaram a 29 de junho de 1845.

Aqui chegados os colonos, cada casal recebeu um prazo de terras que lhes foi aforado em enfiteuse perpétua, cujo foro, variável segundo o tamanho e a localização do lote, seria pago a partir do oitavo ano.

Vencidas as primeiras dificuldades, o povoado começou a florescer graças ao labor e à tenacidade dos colonos, cuja operosidade e costumes ordeiros foram objeto de grandes elogios por parte de Aureliano Coutinho, quando de sua visita à Colônia, e do próprio Koeler que aos mesmos assim se referiu: “… São os colonos pessoas laboriosas, honestas, amigas da boa ordem, respeitadoras da lei e muito religiosas…” (4).

(3) BRETZ, Walter J. In Tribuna de Petrópolis. Petrópolis, 7 de junho de 1960.
(4) KOELER, Júlio Frederico. D.C. nº II – 34, 18, 35, do Acervo da Biblioteca Nacional.

Embora o sonho de uma colônia agrícola logo se dissipasse, devido, principalmente, à pouca aptidão dos colonos para a agricultura e ao fato do solo não favorecer o plantio, os colonos alemães, em sua maioria artífices, deram sólida base ao surgimento das primeiras manufaturas, preconizando o futuro industrial de Petrópolis.

Assim, à medida que a colônia ascendia à condição de Capital de Verão do Império, um núcleo artesanal brotava espontaneamente da devoção e do amor dos colonos pela nova terra, fato que tem enorme importância se lembrarmos que o surto industrial estava apenas começando no mundo, quando Petrópolis nasceu.

Neste momento em que comemoramos mais um aniversário da chegada dos colonos alemães a Petrópolis, não podemos esquecer de render nossas homenagens ao Major Júlio Frederico Koeler, idealizador da colônia, seu primeiro diretor e autor do plano de construção de Petrópolis.

Foi Koeler, é preciso que se reconheça, um homem à frente do seu tempo, que, como muito bem acentuou Guilherme Auler, “…em todos os setores, foi incansável, pertinaz e zeloso. A tudo previu, deu assistência e esteve presente…” (5).

(5) AULER, Guilherme. Documentos de Júlio Frederico Koeler. Tribuna de Petrópolis. Petrópolis, janeiro de 1995.

A ele, pelo muito que fez, nossa eterna gratidão.

Não devemos também nos esquecer dos descendentes desses bravos colonos, que continuam lutando pelos mesmos ideais de seus antepassados, com tenacidade e espírito de luta, contribuindo para que a marcha de Petrópolis, através de sua História, venha sendo um constante avançar e um permanente progredir.

Aos colonizadores alemães e seus descendentes, nosso preito de gratidão pelo muito que fizeram e continuam fazendo. Que o desejo de novas conquistas e a ânsia de pioneirismo que sempre os animou continue empolgando a gente desta terra, permitindo que a nossa querida Petrópolis siga o seu caminho de grandeza, sempre trilhando as sendas dos progresso.