O PLANEJAMENTO URBANÍSTICO A SER LEMBRADO

Paulo Roberto Martins de Oliveira, Associado Titular, cadeira nº 10 –

Representando o Clube 29 de Junho (de Tradições Germânicas), proferi um discurso na Câmara Municipal de Petrópolis, como parte das solenidades pelas comemorações dos 155 anos da Imperial Colônia Germânica de Petrópolis, quando na oportunidade pude lembrar e prestar as mais efusivas homenagens aos principais responsáveis pela criação, colonização e urbanização da nossa bela Petrópolis, que foram: Dom Pedro I, os Engenheiros Major Júlio Frederico Koeler e Otto Reimarus.

D. Pedro I, pela aquisição da Fazenda do Córrego Seco em 06/02/1830. Esta data merece ser lembrada, pois foi o início do desenrolar de uma série de fatores que criaram condições para a fundação de Petrópolis.

O Engenheiro Major Júlio Frederico Koeler, principal responsável pela colonização e urbanização que, a partir de 1835, assume a segunda seção de obras públicas, tornando-se encarregado dos melhoramentos da Estrada de Minas Gerais construindo pontes, realizando inúmeros projetos e elaborando plantas.

Passados 3 anos dos seus trabalhos “Serra Acima”, com mão de obra difícil e dividida entre escravos e portugueses açoreanos, Koeler toma conhecimento da presença de alguns imigrantes do povo germânico na Capital da Província. Eram 238 colonos com destino à Austrália e que por vários motivos, resolveram permanecer no Brasil. Uma parte desta gente, 147 pessoas, vieram trabalhar com Koeler que, de imediato, substituiu a mão de obra servil pelos trabalhadores livres e em seguida os estabeleceu nas terras da antiga Fazenda de Bernardo Soares Proença no Itamaratí.

A partir de 1838, com a mão de obra totalmente livre, Koeler iniciou um processo atuante e bem desenvolvido com os bem preparados artífices germânicos, surgindo, então, a idéia de uma colonização, justamente pelo empenho e desenvoltura desses seus patrícios.

Koeler, entusiasmado por vários motivos, adquire em 01/06/1841 a Fazenda Quitandinha a qual, mais tarde, foi anexada à Fazenda do Córrego Seco.

Em 16/03/1843 Koeler arrendou a Faz. do Córrego Seco. Constava no contrato de arrendamento a reserva de uma área para a construção de um palácio para atender às Suas Magestades Imperiais, uma área para uma povoação e a demarcação de um terreno para uma futura Igreja, tendo São Pedro de Alcântara como padroeiro. Porém 4 meses após – em 08 de julho – surge uma Portaria através do Presidente da Província, o Sr. Caldas Viana, determinando a colocação de duas cruzes e um poste com placas indicativas no local da futura povoação e a partir deste evento tem-se conhecimento do nome PETRÓPOLIS, em homenagem aos dois Imperadores.

Segundo pesquisas em alguns Decretos Imperiais, realizadas pelo saudoso Historiador Guilherme Martinez Auler, há ainda dois atos complementares ao decreto de 16 de março: a escritura de arrendamento em 26/07/1843 e as instruções da Mordomia para o povoamento do projetado núcleo urbano de 30 de outubro do mesmo ano. Em ambos documentos, há referências à futura povoação de “PETRÓPOLIS”, pois o Major Koeler se obrigava a levantar a planta geral gratuitamente, não só da nascente povoação como a do palácio a ser edificado.

A partir do ano de 1843 acontece uma resenha de fatos marcantes para a histórica Petrópolis:

Em janeiro de 1845, com a aprovação dos seus projetos pelo Presidente da Província, O Major Koeler dá início a construção do Palácio Imperial. Porém, nesta época, Koeler não contava mais com a totalidade dos colonos da pequena, casual e experimental Colônia do Itamaratí. No entanto, havia ainda alguns colonos que permaneceram em Petrópolis e continuaram trabalhando com Koeler, além de alguns operosos artífices açoreanos, outros de várias origens e também, novamente, o braço escravo de alguns do sacrificado povo africano.

Em 1845 não existia a Superintendência da Imperial Fazenda ou Diretoria da Imperial Colônia mas, mesmo assim, o Major Koeler era altamente exigido pelos seus compromissos, com ordens direta da Presidência da Província, acumulando inúmeras funções e responsabilidades. Como um dos responsáveis ou o principal responsável pela colonização, muitos mais encargos assumiu a partir de 29 de junho de 1845, data da chegada dos primeiros colonos, pois, além de continuar com as obras do palácio, tinha também que dar boas vindas, atenção e acomodar os colonos que chegavam com suas famílias.

O início da Imperial Colônia foi muito difícil e conturbado devido principalmente ao grande número de pessoas (2111) que chegavam seguidamente: os alojamentos eram insuficientes e improvisados e o encaminhamento das famílias para local definitivo dependiam da definição e da demarcação dos prazos de terras. Conforme isso ia acontecendo, tomavam posse imediata e construíam suas casas. Os colonos não tinham ruas de acesso para os seus terrenos, havia apenas alguns caminhos primitivos ou picadas no meio da mata que geralmente margeavam os córregos ou os estreitos riachos.

Passado o ano de 1845 surge, em princípios do ano de 1846, a Superintendência da Imperial Fazenda de Petrópolis e a seguir, em 15 de maio deste mesmo ano, o Major Koeler foi nomeado superintendente desta e de outras fazendas que iriam se anexar depois.

Em 03/06/1846 o Major Júlio Frederico Koeler e sua esposa Maria do Carmo Rebelo De Lamare doam a Fazenda do Quitandinha ao Imperador Dom Pedro II e a seguir esta fazenda foi anexada às terras da Fazenda do Córrego Seco. Ainda neste ano de 1846, Koeler elabora a 1ª planta de Petrópolis, considerada também como a 1ª planta urbanística do país, contendo 11 QUARTEIRÕES E 2 VILAS.

Koeler administrou as fazendas e dirigiu os trabalhos da Imperial Colônia Germânica até 21/11/1847 quando então a fatalidade interrompeu o curso de sua vida. Uma vida dedicada à conquistas e progressos, cujas lembranças nos são fornecidas através de documentos dos arquivos com fatos de relevo, que mostram a sua capacidade, a sua vida útil e tão gloriosa.

Além do inesquecível Major Júlio Frederico Koeler, merece também ser lembrado o Engenheiro Otto Reimarus, cuja nacionalidade entende-se como germânico. Porém, através de artigos publicados por alguns saudosos historiadores, as vezes ele aparece como russo, ora como suiço. Não tenho conhecimento de dados e data do seu nascimento. Apenas notícias do seu óbito, ocorrido em uma viagem em 1859, quando saía do Brasil com destino à antiga Germânia. Segundo o saudoso Historiador Guilherme Martinez Auler, num artigo pesquisado no Jornal Correio Mercantil de 25/08/1859, consta que ele faleceu com febre amarela a bordo do Cliper Francês Commerce de Paris em viagem para o seu país natal (Alemanha).

A presença de Otto Reimarus em nossa região assinala-se através de alguns documentos do Arquivo da Imperial Fazenda de Petrópolis, relativo aos seus trabalhos relacionados à demarcações e execuções de algumas plantas de propriedade dos colonos germânicos e de outros foreiros.

Em relatório do ano de 1855 do Diretor da Superintendência da Imperial Fazenda, o Major José Maria Jacinto Rebelo tece alguns elogios ao Engenheiro Reimarus, justamente pela sua dedicação e desembaraço na seqüência dos seus serviços prestados à Colônia. No Relatório do ano de 1857, encontram-se mais elogios a Otto Reimarus, encarregado da abertura do Caminho para Patí do Alferes que tem como conseqüência o surgimento do Quarteirão Leopoldina. Após, elabora inúmeras plantas e realiza demarcações de propriedades em vários quarteirões. Porém, a grande obra profissional deste engenheiro é a planta da Imperial Colônia de Petrópolis em 1854.

Durante o discurso aproveitei a oportunidade para deixar registrado um pedido aos Srs. Vereadores e ao Ilmo. Presidente da Câmara, representantes em sua maioria dos bairros do 1º Distrito-sede do nosso município. Bairros que por época da fundação da Colônia foram denominados por “Quarteirões” pelo Engenheiro Major Júlio Frederico Koeler e em cada quarteirão foram distribuídos em alguns casos os prazos de terras de acordo com as origens dos colonos germânicos.

Dos que vieram da Aldeia do Bingen, uns foram para o quarteirão do mesmo nome. Dos que vieram das margens do Rio Mosel, uns foram para o Quarteirão Mosela e assim sucessivamente dentro da formação dos primeiros 11 quarteirões e das duas vilas, sendo todos da primeira planta urbanística do país, projetada e executada pelo Engenheiro Major Júlio Frederico Koeler em 1846.

Ainda mantém-se o uso dos nomes de BINGEN, CASTELÂNEA, SIMÉRIA e o INGELHEIM, sendo este o único precedido com a denominação de “Quarteirão”. Os demais: RENÂNIA CENTRAL (Rua Cel. Veiga), RENÂNIA INFERIOR (Rua Washington Luiz), PALATINATO SUPERIOR (Rua Gal. Marciano Magalhães – Morin), PALATINATO INFERIOR (Rua Dr. Sá ‘Earp – Rua Visc. De Souza Franco), WESTFÁLIA (Av. Barão do Rio Branco), NASSAU (Av. Piabanha), VILA IMPERIAL (Centro) e VILA TERESA (Rua Teresa – Alto da Serra) existem, mas caíram no esquecimento da população.

Vale ressaltar que a Cia. Imobiliária de Petrópolis usa os nomes dos “Quarteirões” nas escrituras de contrato de aforamento perpétuo, assim como acontece no Registro de Imóveis e no Cadastro da Prefeitura Municipal de Petrópolis.

Em 1854, pela planta do Engenheiro Otto Reimarus, foram designados e incluídos na Colônia mais 10 quarteirões: BRASILEIRO, sendo o único desta relação mantido em uso com a designação de QUARTEIRÃO. A seguir: DARMSTADT (Rua Dr. Paulo Hervê – Capela), FRANCÊS (Av. Ipiranga), INGLÊS (Taquara), PRESIDÊNCIA (Vila Militar – Valparaíso), PRINCESA IMPERIAL (Quissamã), RENÂNIA SUPERIOR (Rua Gal. Rondon), SUIÇO (Floresta – Caxambú), WOERSTADT (Duarte da Silveira) e WORMS (Quitandinha). Porém, na planta de Reimarus havia espaços reservados para os Quarteirões MINEIRO (Estr. da Saudade) e ITAMARATÍ.

Após a planta de Reimarus surgiram outros quarteirões e uma vila. Quarteirões: GRÃO PARÁ (Estr. da Taquara), IPIRANGA (após o reservatório d’água do QUARTEIRÃO MOSELA), ITALIANO (parte do Alto da Independência). Vale ressaltar que este recentemente voltou a ser precedido com o nome de QUARTEIRÃO. Seguindo temos: ITAMARATÍ e MINEIRO (acima mencionados), LEOPOLDINA (após o QUARTEIRÃO DARMSTADT), MEDINA SIDÔNIA (após o QUARTEIRÃO IPIRANGA – nas terras que limitam com a Fazenda Inglesa), PORTUGUÊS (acima do Caxambú) e VILA ISABEL (acima da Chácara das Rosas no Vale dos Esquilos).

Pela Superintendência da Imperial Fazenda de Petrópolis, foram estabelecidos oficialmente 29 QUARTEIRÕES E 3 VILAS, porém o povo por conta própria, denominou também como quarteirão outras localidades dentro dos quarteirões oficializados que, com o decorrer dos anos, caíram em desuso. Por exemplo: Quarteirão Braun (Rua Bartolomeu de Gusmão – devido a alguns moradores da família Braun), Quarteirão Pequeno (entre a Rua Ingelheim e Rua José de Alencar no QUARTEIRÃO MOSELA), Quarteirão Bananeira (Rua Álvaro Lopes de Castro no início do QUARTEIRÃO MOSELA) e assim, surgiram outros quarteirões sem base oficial. Apenas algumas pessoas idosas ainda os dão como referência.

Se os senhores contribuírem para a restauração do uso dos nomes dos verdadeiros QUARTEIRÕES, estarão resgatando o que nunca deveria ter sido esquecido, pois esta é uma parte da “História de Petrópolis” que não ficaria apenas nos registros escritos.

Por isto, como providência concreta e objetiva, tenho a honra de passar às mãos de Vossas Excelências o ofício do Historiador e Professor Jeronymo Ferreira Alves Netto Presidente do Instituto Histórico de Petrópolis que tem o seguinte teor:

” Tendo em vista a realidade da divisão territorial da cidade de Petrópolis, 1º Distrito do Município, criada a partir do Plano Koeler e em vigor até o presente, observada pelo cadastro da Prefeitura, pelo Registro de Imóveis e pela Companhia Imobiliária de Petrópolis,

o Instituto Histórico de Petrópolis propõe à Câmara Municipal de Petrópolis que se editem instrumentos legais tendentes a fazer com que as divisas dos quarteirões em vias públicas sejam assinaladas para visão geral, bem como que os abrigos e as paradas de ônibus, os locais para recolhimento de lixo e outros pontos similares de interesse coletivo tenham a indicação do quarteirão em que se situam. E mais, que do letreiro dos ônibus conste o nome dos Quarteirões pelos quais os mesmos circulam,

a fim de que, pelo renovado uso, se tome consciência das características físicas da cidade, o que é essencial na formação do cidadão e serve aos propósitos turísticos de demonstração concreta do planejamento urbanístico, pioneiro no Brasil.”