Última fronteira do glamour em Petrópolis

Francisco de Vasconcellos – ex-associado titular, Associado Emérito – 

Em 1945 Petrópolis ainda esplendia em luxo e bom gosto, que se derramavam no Hotel Cassino Quitandinha, no Palace Hotel, onde também se jogava, nos saraus da “entourage” getuliana, no Tênis Clube em trânsito para o Petropolitano, na antiga Av. 1º de Março, hoje Roberto Silveira.

Foi aí que um grupo de rapazes denominados Mosqueteiros teve a idéia de promover o primeiro baile “Glamour Girl” na cidade. O sucesso da promoção foi tão grande que ela se repetiu nos anos subsequentes, entrando pela década seguinte. Em cada baile havia a eleição da “glamour girl”, valendo a palavra “glamour”, não simplesmente beleza física, mas uma série de atributos que faziam da garota uma pessoa atraente, dona de irresistível magnetismo pessoal. Ocorre que o chamado “glamour” não é uma exclusividade feminina e o termo pode aplicar-se a situações, a momentos, a circunstâncias, a memórias.

Vieram-me tais cogitações quando me dei conta do transcurso do centenário de nascimento do Príncipe D. Pedro Gastão de Orleans e Bragança, neste mês de fevereiro de 2013.

Na minha paisagem mental ele se me afigura a última fronteira do glamour em Petrópolis. Antes de mais nada teve D. Pedro Gastão a sorte de viver numa época glamourosa, bastando citar os anos cinquenta dos novecentos, uma espécie de recidiva relâmpago da “belle époque”.

Mais duas décadas e o mundo começou a barbarizar-se, Brasil no meio, como dizia Joelmir Betting.

E dentro desse contexto glamouroso, D. Pedro possuía o seu próprio glamour, inconfundível, oriundo de sua nobreza de caráter, de sua grandeza de espírito, do seu extraordinário bom gosto, de sua elegância no trajar e no trato com as pessoas, de sua simpatia, de sua simplicidade, de seu magnetismo pessoal. Era ele uma referência em Petrópolis, querido de todos que o conheciam e que privavam de sua amizade.

Nascido fora do Brasil em virtude do injustificável banimento de sua família, veio ter ao país após a revogação da estúpida medida do governo provisório da República. Radicado em Petrópolis fez do palácio Grão Pará seu domicílio e do palácio Isabel sua trincheira de trabalho.

Chefe da Casa Imperial do Brasil serviu ao regime instaurado a 15 de novembro de 1889 presidindo durante anos uma mesa eleitoral no centro da cidade. Com extremo bom humor batizou com o nome de República seu cavalo de estimação.

Nada mais nobre no reino animal que o cavalo. Tanto é verdade que alguns deles tornaram-se célebres. Roma fez de Incitatus, Senador e Rocinante está imortalizado como montaria de D. Quixote.

Teve D. Pedro Gastão um carinho especial por Petrópolis. Nunca foi Príncipe isolado na sua torre de marfim, recluso em castelo, olhando indiferente para o burgo. Ao contrário sempre fez questão de participar da vida do município, sentindo a alma de seu povo, atendendo aos pleitos de sua competência, cumprindo compromissos sociais.

Cavalgando o seu República percorria os desvãos da serra, contemplando suas belezas e ouvindo com bonomia e interesse as queixas e solicitações dos mais humildes. Era querido de todos e por todos respeitado.

No escritório da Companhia Imobiliária, vi muita gente simples acercar-se do balcão pedindo para falar com “Seu D. Pedro”. E ele aparecia de imediato sem se fazer de rogado e, sorrindo e brincando, ouvia as postulações, que, em sendo procedentes, eram encaminhadas aos canais competentes.

Certamente lera os clássicos e aprendera que a “melhor maneira de ser grande é fazer-se entender pelos pequenos”.

Sempre alegre e bem humorado, requisitos essenciais do glamour, D. Pedro Gastão era festeiro e não regateava convites. Lembro-me dele em 1992 nas comemorações dos 70 anos do prédio dos Correios nesta urbe. No saguão do edifício houve além de um coquetel a apresentação de conjuntos folclóricos. A estrela da festa foi incontestavelmente D. Pedro que dançou com a garotada em meio a muitos aplausos.

Tal o D. Pedro Gastão de Orleans e Bragança, a última fronteira do glamour em Petrópolis, cuja memória fiz questão de resgatar com o meu apreço e a minha saudade neste 19 de fevereiro de 2013, no transcurso do primeiro centenário de seu nascimento.