Inicio esta breve palestra, utilizando um dístico tirado de um trabalho de Américo Jacobina Lacombe. Nele está caracterizado o tipo de relacionamento que existiu entre Paulo Barbosa da Silva e o Senhor D. Pedro II. Espero também encontrar nesse mote elementos para tecer uma glosa de caráter filosófico em torno de tão ilustre e influente personagem do 2º Reinado. O dístico é o seguinte:

“… servindo ao soberano… a quem serviu sempre leal e devotadamente”.

O trecho de que foi extraído consta do trabalho intitulado: “Paulo Barbosa e a Fundação de Petrópolis”, Petrópolis, 1939, pág. 33, e é aqui transcrito:

“Paulo Barbosa, faleceu em 1868, aos 78 anos de idade, no seu posto de Mordomo, servindo ao soberano que acompanhara desde a infância e a quem serviu sempre leal e devotadamente”.

Acertadamente, o Estatuto de nosso Instituto Histórico de Petrópolis assinala algumas datas e personalidades que devem ser obrigatoriamente comemoradas. Entre eles, no mês de janeiro, está a figura do Major do Imperial Corpo de Engenheiros PAULO BARBOSA DA SILVA, que mais tarde, foi reformado no posto de Brigadeiro.

Seu título para inclusão no calendário do Instituto Histórico: o fato de ter sido um dos co-fundadores da povoação de Petrópolis e seu real carinho e preocupação, estivesse perto ou distante, sempre demonstrados por esta terra. Melhor testemunho desse mérito de Paulo Barbosa, em relação a Petrópolis, é do próprio Imperador D. Pedro II, que reconheceu Petrópolis, a “filha” querida do Mordomo.

Estatutariamente, o mês de janeiro pode ser dedicado ao Mordomo da Imperial Casa, PAULO BARBOSA DA SILVA, pois nasceu a 25 de janeiro de 1790 e a 28 de janeiro de 1868 veio a falecer. Foram 78 anos bem vividos.

Paulo Barbosa da Silva nasceu em Minas Gerais, na cidade de Sabará ou Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará, sede da Comarca do Rio das Velhas e centro de um dos mais opulentos distritos auríferos de Minas Gerais. Sabará era Vila Real, desde julho de 1711, criada por Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, primeiro governador da nova Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, instituída por Carta Régia, de 09 de novembro de 1709.

Os pais do futuro Mordomo foram Antonio Barbosa da Silva e Ana Maria de Jesus. Ele, coronel de Milícias. Pois na Comarca do Rio das Velhas existiam quatro Regimentos de Milícias de Auxiliares, sendo dois deles da Nobreza.

Paulo Barbosa, aos quatorze anos de idade assentou praça de cadete e, seis anos depois, em 1810, era promovido a Alferes. Em 1822, já Capitão, foi transferido para o Imperial Corpo de Engenheiros, no Rio de Janeiro. Em 1825, embarcava para a Europa em viagem de estudos.

Não pretendo, no entanto, prosseguir nos vários lances de sua biografia como co-fundador de Petrópolis, como político, como diplomata ou como amigo fiel do Imperador.

Apenas, quanto a esse último aspecto – amigo do Imperador– para ser fiel também às minhas palavras iniciais, desejo tecer duas ou três considerações.

É pena que nesse breve escorço não se possa analisar devidamente como o “tradicionalismo mineiro” influenciou a mentalidade de Paulo Barbosa na sua apegada fidelidade ao Imperador.

Para ser breve. Passada a época do “Clube da Joana”, de que Paulo Barbosa da Silva fôra dos mais influentes, na época agitada do final da Regência, nele revivem os elementos característicos do tradicionalismo mineiro da primeira metade do século XIX.

Na palavra de José Carlos Rodrigues, em “Idéias Filosóficas e Políticas em Minas Gerais no Século XIX” Itatiaia- EDUSP, 1986:

“No plano político, a consciência mineira oscilará entre dois polos – a moderação e o radicalismo– este último, possivelmente, reflexo da inviabilidade do empirismo mitigado. Na medida em que é superado e tem lugar o declínio do empirismo, florece o espírito de conciliação”

Profundamente marcado pelo tradicionalismo de uma religiosidade sincera, respeitosa e veneradora dos valores morais, amenizados por um espírito liberal de auto-consciência de independência e do que significavam seus próprios valores, o mineiro da primeira metade do século XIX, vê na estabilidade do torno imperial a garantia da ordem e do crescimento do país e na prática dos grandes valores morais da tradição mineira, como o da fidelidade às instituições e às pessoas, que as representavam, o cumprimento de um dever cívico, cogente e inarredável.

Aí se encontra a explicação para essa imperturbável atitude pessoal de Paulo Barbosa da Silva em seu leal, tranqüilo e permanente fidelismo ao Imperador D. Pedro II, que confiava em seu vassalo e amigo, mas que, no fundo não escondia a mágoa de, na difícil e turbulente fase final da Regência, terem querido preteri-lo por uma possível substituição por sua irmã D. Januária, como regente, até que ele chegasse à Maioridade.

Por isso, encerro essas minhas despretenciosas palavras, repetindo com Américo Jacobina Lacombe, o mote escolhido para iniciá-las e que se constituiu num galardão para Paulo Barbosa da Silva:

“… servindo ao soberano… a quem serviu sempre leal e devotadamente.”