Petrópolis, ou antes a Fazenda do Córrego Seco teve seu destino determinado pelo decreto imperial de 16 de março de 1843: construção de um palácio para o Imperador, com suas dependências e jardins, terreno para uma povoação que deveria ser aforado a particulares assim como cem braças dum e doutro lado da estrada geral que cortava a fazenda para também ser aforado a particulares (com dimensões determinadas). Havia, ainda a recomendação de demarcar terrenos para uma igreja com a invocação de São Pedro de Alcântara e para o cemitério da povoação.
Assim seria local de vilegiatura para a Família Imperial e desenvolver-se-ia como uma povoação comum.
A presença do Palácio atraiu a afluência de famílias ricas, nobres, de diplomatas e funcionários, enfim de pessoas de alguma maneira ligadas ao Imperador e sua família. Houve grande número de edificações de casarões e hotéis, muitos dos quais testemunham a arquitetura, a arte e o desenvolvimento cultural da segunda metade do século XIX; ao mesmo tempo a qualidade de vida, com ar puro e água limpa e abundante, livre das febres e epidemias que assolavam o Rio de Janeiro fez com que educadores de visão mandassem construir importantes instituições de ensino para meninos e meninas cujos pais desejassem proporcionar aos filhos educação em ambiente saudável. As construções que ainda existem, com seus jardins também de época, formam o que chamamos de “centro histórico”.
Ao mesmo tempo, a necessidade de pessoas habilitadas ao serviço de desmatamento dos vales onde se instalariam os futuros habitantes segundo a planta elaborada por Koeler, as construções das habitações e serviços de transporte, alimentação e outros, provocaram a vinda dos colonos alemães e de outros estrangeiros que aqui vinham tentar a vida.
No final do século XIX, com a chegada até nós da chamada “Revolução Industrial” que proporcionou o desenvolvimento de grandes fábricas de tecidos, Petrópolis tornou-se conhecido no mundo inteiro pela sua produção textil, desenvolvendo-se sobremaneira no setor econômico e também na sua população pois suas indústrias atraiam, não só operários oriundos de outros estados brasileiros, sobretudo Minas Gerais, como também de outros países como foi o caso da Companhia Petropolitana, em Cascatinha em que a quase totalidade da mão de obra veio da Itália trazendo, por conseguinte, outros costumes, outras tendências e, mesmo, outras formas de encarar o trabalho com diferente perspectiva.
Politicamente Petrópolis passou de colônia e povoação a Cidade em 29 de setembro de 1857.
Graças à visão cultural dos presidentes das Câmaras Municipais foram conservados testemunhos fidedignos e minuciosos do desenvolvimento dos primórdios da cidade e, de como foram se ampliando e modificando as necessidades, os conceitos e práticas sócio-econômicas dos cidadãos enfim, a sua memória: os documentos produzidos e recebidos pelas mesmas e que forma o seu arquivo, e que, já em nossos dias, por iniciativa de um de seus presidentes, o esclarecido senhor Nelcyr Antônio da Costa está tendo a parte formada pelas atas das reuniões das Câmaras transcrita e indexada por uma equipe muito bem dirigida por Maria de Fátima Morais Argon, permitindo o fácil acesso aos atuais governantes, políticos e demais pesquisadores.
Com o advento da República suas duas principais vocações não mudaram, continuou sendo local de veraneio, inclusive dos Presidentes da República, e centro industrial.
Em 1916 foram separados os poderes Legislativo e Executivo e a Prefeitura continuou a política de conservação dos documentos criados e recebidos pelo poder público.
Duas guerras mundiais encarregaram-se de modificar o fulcro da influência sofrida do exterior que vinha da Europa, agora era proveniente dos Estados Unidos.
Mais ou menos a partir da metade do século XX, o grande desenvolvimento da tecnologia, a mudança dos sistemas de produção e trabalho, as novas concorrências de mercado, fizeram com que as antigas fábricas fossem se tornando obsoletas e, até mesmo inviáveis o que determinou o fechamento da maioria delas, algumas resistiram mais, outras menos, mas hoje em dia apenas uma subsiste, atualizada, para nosso orgulho, a Fábrica Werner.
Com criatividade os edifícios outrora ocupados pelas grandes indústrias têxteis podem e devem ser reaproveitados para museus e museus laborátórios da indústria, aproveitando as estruturas ainda existentes e provenientes da Inglaterra ou da Bélgica em plena época da revolução industrial e, talvez até, de algum maquinário que haja subsistido. Exemplo: apresentou-se um projeto de aproveitamento da Cervejaria Bohemia recém desativada para servir de choperia onde fossem vistos os antigos equipamentos e, até presenciada a fabricação de chope. Seria uma ótima atração turística, principalmente durante a festa do colono alemão, a “Bauernfest”.
Na Coperlupos há um projeto de funcionamento de pequenas indústrias em condomínio, nas antigas edificações das fábricas, sem modificar o seu exterior e suas estruturas.
Com a criação do Museu Imperial e sua inauguração em 1943, Petrópolis que já era refúgio de intelectuais e artistas passou a ser procurado também por turistas interessados na História e, a posterior doação dos Arquivos da Casa Imperial ao Museu, além de historiadores, causou a vinda dos célebres “brasilianists” dando lugar à publicação de diversas obras baseadas nos documentos ali existentes. Em suas dependências passaram a reunir-se historiadores, escritores e intelectuais para longos debates: Hélio Viana, Plínio Doyle, Magalhães Júnior, Gilberto Ferrez etc.
Ainda na década de 40 foi construído e inaugurado o Hotel Quitandinha, destinado a abrigar o jogo – Petrópolis atrairia jogadores do mundo todo tornando-se, talvez, um segundo Mônaco. Este, entretanto não era seu destino, eleito presidente da República, o General Eurico Gaspar Dutra proibiu o jogo em todo o país frustrando esta vocação que lhe queriam imputar.
Em 1953 foi fundada a primeira Faculdade de Petrópolis, a de Direito, logo seguida de outras que originaram a Universidade Católica de Petrópolis e, depois a Faculdade de Medicina, ocasionando o afluxo de grande quantidade de estudantes de outros estados – parecia criada nova função para Petrópolis: abrigar uma população estudantil, tornar-se um centro universitário.
O modo de encarar o descanso, o lazer e as diversões mudou também, atualmente o lazer compreende: piscinas para natação nas casas de veraneio, quadras de tenis, grandes gramados deram lugar aos jardins românticos com flores perfumadas; as casas tornaram-se mais funcionais, com menos cômodos exigindo menor número de empregados, difíceis de encontrar hoje em dia.
Foi-se intensificando a preocupação com a qualidade de vida e apareceram as “ongs” e instituições voltadas para a conservação do meio ambiente, do desenvolvimento sustentável etc.
Por outro lado, nas décadas de 70/80 os moradores de Petrópolis começaram a organizar-se em “associações de moradores” dos diversos bairros e mesmo ruas ou grupos ligados por interesses comuns locais. No final da década de 80 e início da de 90, seguindo as recomendações da Constituição e de acordo com a Lei Orgânica do Município foi instituído o Plano Diretor de Petrópolis, foram criados os Conselhos pelos quais a população passava a ter voz ativa no governo da cidade. Entretanto alguns dos ditos conselhos, por falta de convocação, foram se tornando praticamente inoperantes em suas respectivas áreas. E, a meu ver, o pior da situação é que não há entrosamento entre as diferentes camadas da sociedade entre si, destas com o poder público e, nem mesmo dentro do próprio poder público, nas diferentes áreas de atuação.
Curiosamente os diferentes setores da população petropolitana, e isto eu tive oportunidade de constatar várias vezes, habituou-se a encarar uns aos outros como entidades quase antagônicas e denominadas abstratamente por “eles” . Como se os interesses não devessem convergir basicamente para as mesmas finalidades.
Na minha opinião estamos num momento crucial para determinar o destino que queremos para Petrópolis, dois são os caminhos principais que despontam: temos um rico patrimônio histórico-cultural localizado, sobretudo, no 1º distrito capaz de atrair turistas de vários pontos do Brasil e também do estrangeiro mas que, infelizmente não se mostra capaz, pelo menos no momento, de reter o turista por mais de um dia por falta de atrações noturnas, artísticas e intelectuais e, também por falta de acomodações adequadas à permanência dos visitantes. Além disso o nosso “centro histórico” encontra-se, atualmente rodeado de favelas e sua orla está sendo desmatada por estas “moradias” improvisadas e altamente perigosas aos seus próprios usuários. Também a especulação imobiliária com a construção de edificações multifamiliares e apart-hotéis com a intenção de gastar o mínimo com a contrução e lucrar o máximo com a comercialização é uma ameaça constante pois assim vai desaparecendo a orla verde do centro que, além da beleza, proporcionava o clima agradável e a quantidade suficiente de água potável.
O comércio do centro do primeiro distrito, com excepção das lojas da Rua Teresa, está se transformando: as lojas “petropolitanas” originais, com características próprias e que passavam de pais para filhos está se restringindo ao utilitário: bancos, padarias farmácias ou filiais de grandes redes de lojas provenientes de fora e a expansão das denominadas lojas de R$ 1,99 que vendem bugigangas, na maioria importadas, de gosto e qualidade, muitas vezes, inferiores.
Os arredores ainda oferecem agradáveis pousadas, com possibilidades de passeios ecológicos, exercícios de equitação, pescaria em canais de piscicultura destinada à consumação etc… Penso que seria o caso de haver entrosamento destas atividades com as visitas e programas culturais realizados no centro histórico. Aí sim haveria afluxo e fixação de turistas por mais de um dia.
Outra atividade que parece promissora é a tecnologia – o mundo moderno cada vez mais depende da sua atualização.
Está, portanto, no momento de incrementar as principais vocações do município a seguir no momento: turismo (cultural e ecológico) e tecnologia, desenvolvê-las racionalmente e de maneira entrosada e harmoniosa e de transformarmos este pronome que usamos de maneira abstrata e indefinida “eles” em “nós” cidadãos petropolitanos que sabemos o que queremos para a nossa cidade.