Estes estudos e ensaios que ora apresento, fizeram parte do tema proferido pelo autor em 28 de junho deste ano no salão nobre da Câmara Municipal de Petrópolis, representando o Clube 29 de Junho nas comemorações dos 156 anos da chegada dos colonos germânicos à Petrópolis, em 29 de junho de 1845.

“Convidado pelo Clube 29 de Junho, de Tradições Germânicas, tenho o prazer de estar presente e participar desta magnânima solenidade, que esta casa oferece todos os anos na época das comemorações do dia 29 de junho, data da chegada à Petrópolis dos primeiros colonos germânicos, ao povo petropolitano.

Neste momento poderemos lembrar parte da história da nossa colonização, falar sobre os quarteirões da Imperial Colônia e homenagear os colonizadores, trazendo a todos, informações, tradições e lembranças do nosso glorioso e belo passado histórico.

Este momento, geralmente, torna-se oportuno para reiterarmos e resgatarmos o que muitos em várias épocas tentaram. Porém a falta de interesse pelas causas nobres de Petrópolis, permitiu a consumação de partes da nossa história.

Justamente relembrando alguns colonos em seus prazos de terras, estaremos também lembrando os esquecidos “Quarteirões”.

Quarteirões que praticamente não ouvimos mais os seus nomes serem pronunciados, como também as duas vilas que nunca deixaram de existir, pois todos estão presentes em qualquer negociação imobiliária no 1º e parte do 2º Distrito de Petrópolis.

Vale sempre lembrar que pela planta de 1846 do Major Engenheiro Júlio Frederico Koeler, Petrópolis foi dividida em 11 quarteirões e 2 vilas: Renânia Central e Inferior, Siméria, Castelânea, Palatinato Inferior e Superior, Nassau, Westfália, Mosela, Ingelheim, Bingen e as Vilas Imperial e Teresa.

Os quarteirões e as vilas foram subdivididos em prazos de terras e classificados em 4 classes: 1ª classe constituíam os terrenos destinados à povoação próximos ao Imperial Palácio, os de 2ª classe eram os terrenos próximos à povoação, os de 3ª classe englobavam os terrenos colaterais à calçada que parte existia na Vila Teresa (Alto da Serra) e os de 4ª classe constituíam toda a parte restante da Imperial Fazenda e foram designados para a maioria dos colonos.

A alguns anos a maioria dos quarteirões e vilas caíram no esquecimento, não sendo mais usados popularmente, tendo como causa principal o poder público municipal, dando a entender nomes de novos logradouros, sem indicar a sua localização correta, gerando a grande falta de reconhecimento dos nossos valores históricos.

Para que possamos reparar tantos erros e termos a reconstituição dos nomes dos esquecidos quarteirões e vilas, basta que seja posta em prática a lei 5699, publicada no final do ano passado no Diário Oficial do Município que estabelece a retomada do uso da denominação dos “Quarteirões e Vilas” da 1ª divisão territorial de Petrópolis. Esta vitória foi conseguida depois de um documento do Instituto Histórico de Petrópolis, entregue nesta casa em gestão anterior – por época das comemorações do dia 29 de junho do ano passado.

Antigamente, no início e até meados do século XX, a principal rua de cada quarteirão era denominada pelo seu próprio nome. Ainda mantém-se, por exemplo, as Ruas Bingen, Mosela e Ingelheim. Porém, outras perderam o nome original como a Rua Nassau que passou a denominar-se Piabanha, resultando no esquecimento do Quarteirão Nassau. O mesmo aconteceu com a Rua Westfália que passou para Av. Barão do Rio Branco que, atualmente, é referencia para a localização de outros logradouros nela iniciados ou adjacentes. O certo seria referir-se ao verdadeiro nome que é “Quarteirão Westfália”.

Seguem-se outros esquecidos quarteirões: Palatinato Superior e não Morin, Palatinato Inferior e não Dr. Sá Earp, o Woerstadt por Duarte da Silveira, Renânia Inferior por Washington Luiz, Renânia Central por Cel. Veiga, Vila Teresa por Alto da Serra e Vila Imperial por Centro Histórico.

Os erros citados vêm sendo praticados desde o final do século XIX. Porém, além dos quarteirões e vilas, houve também ao longo dos anos a troca dos nomes de muitas ruas e rios. Por exemplo, o rio que nasce no Quarteirão Palatinato Superior (outrora conhecido como Córrego Seco) e que também banha o Quarteirão Palatinato Inferior e no centro da Vila Imperial une-se ao Rio Quitandinha, está na planta de 1846 e Koeler o denominou de “Rio Palatino” e não de Palatinato como a Empresa “Águas do Imperador” resolveu batizá-lo.

Outros erros cometidos são os relacionados às praças. Algumas realmente ficaram apenas nos projetos. Outras tiveram seus nomes trocados e outras simplesmente deixaram de existir, surgindo até edificações – como é o caso da Pça. Ingelheim no Quarteirão do mesmo nome ( localizada entre as Ruas Bingen e Duque de Caxias). Neste local, há muitos anos, havia as oficinas de carpintaria e ferragens, além de uma cocheira onde ficavam os muares e as carroças que eram usadas para a limpeza urbana e neste mesmo local a alguns anos foi construído o almoxarifado da Prefeitura Municipal de Petrópolis.

Os assuntos citados, embora sejam importantíssimos para tentarmos devolver à Petrópolis a sua verdadeira identidade urbanística, requerem muito mais tempo do que temos para o momento. Porém, com certeza e melhor estudados, voltaremos a mencioná-los em outras oportunidades.

A seguir teremos uma resenha de dados e fatos, relacionados a algumas profissões, atividades sócio-econômicas, além de outras notícias como a origem e o destino de algumas famílias de colonos, distribuídas pelos quarteirões e vilas, cujos alguns descendentes ainda habitam parte das terras dos seus ancestrais.

Iniciaremos pelo QUARTEIRÃO WESTFÁLIA

Este “Quarteirão”, dividido pelo principal rio de Petrópolis, o “Piabanha”, seguia pela sua margem esquerda o Caminho Colonial. Mais tarde foi denominado Rua Westfália, sendo que a parte inicial foi batizada com o nome “Estrada União e Indústria”. Porém com data mais recente passou a denominar-se Av. Barão do Rio Branco.

26 colonos germânicos receberam terras neste quarteirão, entre eles: Theodor Nienhaus, Valentin Scheid, Johann Zacher e Peter Maiworm. Dentre estes temos que destacar o colono Peter Maiworm.

Este colono chegou à Petrópolis em 29/06/1845 com a esposa e 5 filhos, sendo que o filho mais velho, Johann, com a esposa e 4 filhos, chegaram ao Brasil em 1855 e em Petrópolis se estabeleceram nas terras do pai, o colono Maiworm.

O colono Peter Maiworm, além de agricultor, era enfermeiro diplomado e também conhecido na Colônia como veterinário. Foi um dos colonos mais bem admirados pelo Imperador D. Pedro II, principalmente pelos seus serviços solidários a todo e qualquer cidadão que o procurava para atendimentos de cura, o que geralmente fazia, atendendo-os gratuitamente com as ervas que plantava em suas terras.

Várias vezes este colono deixava os seus afazeres para atender as pessoas que não podiam se locomover e ia até às suas casas em outros quarteirões. Por exemplo, por algum tempo atendeu a um funcionário da Casa Imperial.

O Imperador reconhecendo a sua caridade, lhe ofereceu como recompensa escolher entre dois terrenos, um onde hoje é a Casa D’Angelo na Rua do Imperador e o outro no alto do Quarteirão Brasileiro. Escolheu o último e em parte deste o seu 5º filho, Franz Maiworm, e sua esposa Marie Noel, construiram em 1869 a sua casa na parte montanhosa deste “Quarteirão”, e até hoje a casa ainda existe.

A seguir teremos o QUARTEIRÃO NASSAU que numa das vias públicas, limita-se com o Quarteirão Westfália na confluência dos Rios Piabanha e Quitandinha. Neste local temos a Pça. de Koblenz, onde geralmente os colonos se reuniam.

48 colonos germânicos receberam terras neste quarteirão, entre eles: 4 irmãos Monken, Philipp e Friedrich Erbes, Friedrich Kuhn e Martin Deister. Dentre estes podemos destacar os colonos Monken e Kuhn.

A família Monken pertencia ao 1º grupo de colonos que chegaram em 29/06/1845. Eram 4 irmãos: Wilhelm Joseph, Joseph, Jacob e Heinrich Joseph. Estabeleceram-se neste quarteirão, ocuparam um lado e outro do Rio Piabanha os prazos de terras, desde a ponte da Rua Montecaseros até quase a curva das “Duchas” (Centro Hidroterápico).

Heinrich Joseph Monken, pelas suas aptidões, ocupou o cargo de professor de uma das escolas criadas pela Diretoria da Colônia. Teve aos seus cuidados 77 alunos, segundo consta no Relatório de 1848 da Imperial Colônia.

Quanto ao colono Friedrich Kuhn, este chegou à Petrópolis em 29/06/1845. Viúvo e acompanhado de 4 filhos se estabeleceu no Quarteirão Nassau. Dos 4 filhos, havia duas filhas das quais não temos os nomes. Sabe-se apenas que uma foi para a corte (RJ) e a outra saiu do país e foi para a Austrália.

Em relação aos filhos do colono – Johann seguiu para o Rio Grande do Sul e Georg permaneceu em Petrópolis.

Após a morte do colono Friedrich Kuhn, em 1852 e com apenas 15 anos de idade, o filho Georg Heinrich Kuhn, que ficou sozinho na Colônia, teve de arcar com o trabalho para o seu próprio sustento, apesar de ter iniciado o labor desde os 13 anos de idade no Hospital da Colônia, na época instalado nos anexos do barracão das obras públicas, no local onde hoje está o prédio do Fórum.

Seguindo a carreira de prático enfermeiro na Colônia, Georg também trabalhou a partir de 1876 no Hospital Santa Teresa e neste estabelecimento foi considerado como farmacêutico e dentista até aposentar-se. Faleceu aos 60 anos de idade em 14/04/1898.

Vale ressaltar que em 1957 quando houve a realização da 1ª grande exposição dos colonos de Petrópolis, os descendentes de Georg exibiram as sete ferramentas que usava como dentista.

A seguir teremos o QUARTEIRÃO MOSELA, sendo um dos quarteirões que ainda mantêm um número expressivo de descendentes dos colonizadores. 46 colonos receberam prazos de terras neste quarteirão, entre eles: Christian Hees, Peter Kronenberger, Peter Lorang, Georg Magnus Kling e Johann Noel. Dentre estes destacaremos o colono Johann Noel. Este colono chegou à Petrópolis em agosto de 1845 com a esposa e 6 filhos – eram naturais da Aldeia de Neuhüten – Bispado de Trier – Região do Hunsrück – Alemanha.

Em Petrópolis tiveram mais uma filha, nascida em 1847 na sua humilde casa, no prazo de terras n.º 807 que situava-se onde hoje estão os prédios de n.º 455, 511, 555 e 557 da Rua Mosela.

A princípio o colono e seus filhos maiores foram trabalhar nas obras de construção do Imperial Palácio e também nas obras públicas da Colônia. Mais tarde com a escassez da obras, o colono Noel lançou mão de sua antiga profissão de carvoeiro e foi extrair madeiras no seu próprio terreno e nas matas vizinhas para com este trabalho melhorar a subsistência da família, pois a Colônia passava por uma época muito difícil.

O 4º filho do colono, Nicolaus Noel, seguiu a profissão do pai e por volta de 1873/74 mantinha uma grande estância de lenha e carvão. Vale mencionar que por época da construção da “Capela dos Alemães” (hoje Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus), foi Nicolaus quem, em suas pranchas e carroções, transportou solidariamente grande parte das pedras extraídas do Quarteirão Mosela para a dita construção.

Este Quarteirão Mosela já foi protagonista de muitas histórias da época da Colônia. Consta num artigo do jornal “O Paraíba” de 1857 que, no princípio da Imperial Colônia, os africanos que habitavam os quilombos da Fazenda Inglesa (próximo deste quarteirão), volta e meia, visitavam ilicitamente, geralmente à noite, as casas dos colonos para saciarem a fome e também para levarem os apreciáveis produtos dos alemães como lingüiças, carnes suínas e outras iguarias da cozinha germânica.

A seguir, teremos o QUARTEIRÃO INGELHEIM, cujo nome complicado para muitos, tem uma bela pronúncia germânica. Foi o único com nome germânico precedido por quarteirão que não caiu em desuso popular.

Receberam prazos de terras e foram moradores deste quarteirão 42 colonos. Entre eles podemos relacionar alguns dos quais tenho mais notícias: Andreas Justen, Adams Stützel, Jacob Mundstein, Mathias Weiand, Jacob Wendling e Nicolau Kapps.

Com um breve histórico, darei como exemplo apenas um dos moradores deste quarteirão que foi o colono Nicolau Kapps – com a esposa Catharine Gorgen e 6 filhos – naturais de Grewderich – Prússia – Koblenz – Alemanha, chegaram à Petrópolis em 1845 e receberam o prazo de terras n.º 1027. Este prazo de terras a partir de 1949 foi desmembrado em muitas partes e atualmente pertence a diversos proprietários sem grau de parentesco com a família Kapps.

Do colono Kapps, temos a ressaltar dois ilustres descendentes. Um é o seu trineto Jorge Antônio de Sá Kapps (cujo nome artístico é Jorge Kaiser) – famoso musicista, “Showman” internacional, que desde 1964 atua fora do Brasil e atualmente reside na capital do México. Este famoso acordionista já produziu vários discos e CDs.

Vale mencionar que na sua última visita aos parentes e amigos em Petrópolis, tive o privilégio de, em 14/04/2000, recebe-lo em minha casa. Nesta oportunidade, reunimos alguns amigos descendentes de vários colonos e Jorge “Kaiser”, com o meu velho acordeon, executou belíssimas melodias da terra de “Goethe” e todos felizes relembramos os bons tempos de Petrópolis.

Outro ilustre descendente do colono Nicolau Kapps é o seu tetraneto Dr. Sérgio Carvalho – Procurador de Justiça, Presidente do Movimento Sociedade Viva e há 5 anos mantém na Rádio Imperial de Petrópolis o programa “Espaço Cidadão”. Além de ter uma coluna semanal na Tribuna de Petrópolis com o título “Uma Questão de Justiça”.

Subindo a Rua Bingen, na altura da conhecida Curva do Jóia, alcança-se o QUARTEIRÃO BINGEN, local tradicional da Imperial Colônia, onde muitos dos moradores são descendentes dos nossos colonizadores germânicos.

Receberam prazos de terras e habitaram este quarteirão 37 colonos, entre eles: Andreas Schweickardt, Johann Straub, Johann Kreischer, Jacob Beck, Bernard Pitzer e Paul Stumpf. Dentre estes, destacaremos uma descendente do colono Stumpf. Trata-se da Ilma. Sra. Clara Stumpf Pitzer, bisneta do colono Paul Stumpf e de Eleonore Charlotte Bauer.

Esta senhora é uma historiadora nata (auto-didata) que aos 90 anos de idade escreve para o jornal da comunidade, o Via Bingen, relatando fatos inéditos que compõem parte da história deste e de outros quarteirões de Petrópolis. Tia Clara, como carinhosamente gosta de ser chamada pelos seus inúmeros admiradores, guarda em sua excelente memória dados específicos como as datas, nomes e detalhes dos acontecimentos, dando um brilho especial às suas narrativas históricas.

No final do Quarteirão Bingen, pela atual Rua Duarte da Silveira, acessa-se o QUARTEIRÃO WOERSTADT, que embora já houvesse alguns prazos de terras distribuídos aos colonos pelo Major Koeler em 1846, esse quarteirão somente aparece em 1854 na planta do Engenheiro Otto Reimarus. Entre os colonos que habitavam este quarteirão a partir de 1846, temos: Christian Lahr, Georg Sixel, Jacob Reuther, Karl Kopp e Wilhelm Zimmler. Dentre estes podemos destacar os colonos Kopp e Lahr.

O colono Karl Kopp chegou à Petrópolis em 1846 com a esposa e uma filha e recebeu seu primitivo prazo de terras no Quarteirão Woerstadt. Este colono foi considerado pela Diretoria da Colônia como operoso e industrioso, justamente pelo bom desenvolvimento e aproveitamento de sua colônia de terras. Em 13/03/1859, foi contemplado com mais um prazo de terras pela Superintendência da Imperial Fazenda de Petrópolis – por ordem do Mordomo da Casa Imperial, o Ilmo. Sr. Paulo Barbosa da Silva, e como prêmio foi isento dos pagamentos de qualquer tributo como jóias e foros – por tempo não inferior a 10 anos ou enquanto a propriedade estivesse em suas mãos ou de seus descendentes.

Ainda sobre os moradores do Quarteirão Woerstadt, temos uma nota no jornal “O Paraíba” – Quinta-feira, 11/02/1858 – dando conta que “o colono Christian Lahr dirigiu-se por intermédio do Dr. Thouzet ao ministro francês, que atualmente reside nesta cidade, afim de obter a medalha de Santa Helena que ultimamente o Imperador Napoleão III mandou distribuir aos veteranos do velho Exército Imperial.

Este colono conta hoje com 72 anos de idade. Entrou no exército em 1806 e foi mutilado em 1809 num ataque perto de Resensburg no qual recebeu não menos de vinte e seis ferimentos.

O governo de Darmstadt de onde é natural, lhe concedeu a pequena pensão anual de 182 francos ou 60$000 (sessenta mil réis) mais ou menos do nosso dinheiro”. Vale ressaltar que este colono faleceu 6 meses após em 01/08/1858.

A seguir teremos o QUARTEIRÃO RENÂNIA INFERIOR com algumas lembranças históricas acontecidas por época da Imperial Colônia. Receberam terras neste quarteirão 17 colonos, entre eles: Johann Christ, Michael Sixel, Peter Dahlen, Mathias e Johann Goettnnauer, Nicolaus Echternacht e Johann Adams Hoelz. Dentre estes podemos destacar alguns colonos, cujas descrições teremos a seguir:

O colono Michael Sixel, que chegou à Petrópolis em agosto de 1845 com a esposa e 6 filhos e instalou-se no prazo de terras n.º 1403, progrediu como segeiro e alguns dos seus filhos e descendentes deram continuidade à profissão do colono e durante alguns anos, até meados do século XX, foram os principais fabricantes de seges, carruagens e outros veículos muares em Petrópolis.

O colono Mathias Goettnnauer chegou à Petrópolis em setembro de 1845 com a esposa e 3 filhos e instalou-se no prazo de terras n.º 1414. Em 30/11/1851 nasceu a sua filha Maria Eva Goettnnauer que mais tarde destacou-se como a primeira dentista em Petrópolis.

Embora não sendo de origem deste Quarteirão Renânia Inferior, vale mencionar o nome de João Christovão Gabrich (neto do colono Georg Gabrich), pois este em 1930, comprou um terreno neste quarteirão, próximo ao local conhecido como Duas Pontes na Rua Gonçalves Dias n.º 34 e aí construiu uma casa para morar com sua família. Porém neste endereço não permaneceu por muito tempo e em 1933 vendeu o prédio. Mais tarde o 3º proprietário desta casa foi o ilustre escritor Stefan Zweig.

Teremos a seguir alguns dados relativos ao QUARTEIRÃO RENÂNIA CENTRAL. Receberam terras neste quarteirão 26 colonos, entre eles destacou-se o colono Karl Kober que chegou à Petrópolis em 1845 com a esposa e 1 filho e recebeu o prazo de terras n.º 1806. Este colono era prático em confecção de tabuinhas para revestimento externo das paredes e cobertura das casas. Segundo consta no livro n.º 4 (Ofícios da Mordomia), este colono prestou serviços para as obras de construção das dependências do Imperial Palácio de Petrópolis.

Houve outros colonos neste Quarteirão Renânia Central que também destacaram-se na Colônia. Foram eles: Johann Peter e Lourenço Hammes, Peter Theodor Forster, Jacob Schmitz e Philipp Castor.

Vale lembrar que o nome Renânia caiu em desuso após 1939 com o término da linha de bondes.

A seguir teremos o QUARTEIRÃO SIMÉRIA, cujo nome em alemão lê-se Simmern. Esta foi uma das homenagens de Koeler a muitos do povo germânico que vieram desta Aldeia localizada na parte central da Região do Hunsrück – Alemanha para este quarteirão na Imperial Colônia de Petrópolis.

Receberam prazos de terras neste quarteirão Siméria 20 colonos. Porém, dentre eles, farei apenas a descrição do colono Johann Adam Beuren e de sua família, simplesmente para servir como exemplo a muitas famílias que trocaram Petrópolis por outras colônias. Geralmente, colonos saíam de Petrópolis para conseguirem melhores condições de vida em outros lugares. Este colono agricultor chegou em Petrópolis entre outubro de 1845 e janeiro de 1846 com a esposa Elisabeth Moritz e o filho Joseph Beuren com 2 anos de idade. Eram naturais de Burgen – Mosel – Alemanha.

Os Beuren, receberam o prazo de terras n.º 2003 com testada para o Caminho Colonial (hoje Rua Olavo Bilac), e mais tarde adquiriram o prazo de terras n.º 240 na Vila Imperial. Nasceram em Petrópolis mais 3 filhos: os gêmeos Augusto e Carlota em 1848 e Martin Beuren em 11/05/1852.

Corria o ano de 1853, época em que acontecia na Capital da Província do Rio de Janeiro a febre amarela. Alguns colonos de Petrópolis também contraíram a doença e algumas famílias perderam os seus entes queridos. Foi justamente o que aconteceu com o colono Johann Adam Beuren que faleceu em 14/05/1853 com apenas 37 anos de idade, deixando viúva a colona Elisabeth e seus 4 filhos menores, sendo José o mais velho com 10 anos e Martin o mais novo com 1 ano de idade. Nesta época ainda moravam no seu prazo de terras no Quarteirão Siméria.

A viúva colona Elisabeth Moritz com suas poucas economias e mais o que resultou da venda do prazo n.º 240 da Vila Imperial (vendido em 01/03/1854) e após assinar o título de aforamento deste prazo em 01/09/1854 (última data de que se tem conhecimento da presença da colona e sua família em Petrópolis) foi, junto com os seus filhos e mais 7 famílias de colonos, embora da Imperial Colônia de Petrópolis seguindo para o Rio Grande do Sul, onde esperavam encontrar melhores meios para sobreviverem como agricultores.

Primeiramente foram para a Estância Mariante (na época era uma colônia recente). Porém esta localidade devido à proximidade com o Rio Taquari, era constantemente inundada e mais uma vez a corajosa colona Elisabeth, seus filhos e outras famílias transferiram-se para a Colônia de São José dos Conventos (Colônia fundada em 20/03/1855). Atualmente constitui esta Colônia as cidades de Estrela e Lajeado – RS.

No cemitério da cidade de Lajeado – RS, encontra-se a lápide de Elisabeth Moritz Beuren – nascida em 18/08/1819 e falecida aos 85 anos em 08/04/1907.

A seguir teremos o QUARTEIRÃO CASTELÂNEA, onde está situada a Casa “Museu do Colono”, embora esta casa tenha sido construída após o início da Imperial Colônia pelo alemão (não colono) imigrante militar Johann Gotlieb Kaiser.

Receberam prazos de terras neste quarteirão 41 colonos; entre eles podemos relacionar alguns dos quais tenho mais notícias: Franz Hoelz, Adam Hoffmann, Peter Tesch, Christoph Hoelz, Anton Ternes, Heinrich Peter Auler, Paul Roux, Adam Bauer e Georg Zillig. Dentre eles temos uma breve descrição do colono Christoph Hoelz que era filho do também colono Johann Adam Hoelz. Christoph era o bisavô da Ilma Sra. Emygdia Hoelz Magalhães Lyrio (atual presidenta do Clube 29 de Junho, de Tradições Germânicas). Este colono recebeu o prazo de terras n.º 1615 e mais tarde adquiriu neste mesmo quarteirão o prazo n.º 1602 com frente para o Caminho Colonial (hoje Rua Saldanha Marinho). Vale ressaltar que parte destas terras, ainda pertencem aos seus descendentes (bisnetos e trinetos) o que cada dia torna-se mais raro entre as famílias dos colonizadores.

O colono Heinrich Peter Auler chegou à Petrópolis em agosto de 1845 com a esposa Marie Margareth Ulrich e 3 filhos. Eram naturais da Aldeia de Laudert -Distrito de Stº Goar – Alemanha e receberam um prazo de terras no Quarteirão Castelânea.

O colono Auler teve um ilustre descendente que foi o seu bisneto, o saudoso Dr. Guilherme Martinez Auler, que além de médico, foi o principal historiador e pesquisador da Imperial Colônia Germânica de Petrópolis. Deixou inúmeros trabalhos publicados em livros, revistas e jornais diversos.

Entre as inúmeras iniciativas de valorização e resgate histórico da nossa colonização, foi Guilherme M. Auler o principal fundador e 1º presidente do nosso Clube 29 de Junho. Fundado em 29/06/1959. Portanto no dia 29 de junho p. p. comemoravam-se os 156 anos da Imperial Colônia e os 42 anos deste prestimoso clube de tradições germânicas de Petrópolis.

A seguir teremos um breve Histórico do QUARTEIRÃO PALATINATO SUPERIOR. Este é um dos quarteirões que merece ser visitado, pois ainda guarda muito da histórica Colônia. Além de algumas construções antigas, tipos chalés com seus tradicionais telhados de zinco, lá ainda resistem algumas casas de colonos, construídas há mais de 150 anos.

No alto deste quarteirão, localizado na zona Sul de Petrópolis, predomina o Morro do Cobiçado que é o ponto culminante do centro urbano de Petrópolis. No belo manto verde do alto de suas matas, nascem dois pequenos riachos, o da Pedra Oca e o Bonito que juntam-se para formarem o antigo Córrego Seco, sendo este posteriormente, pela planta de 1846 de Koeler, denominado de Rio Palatino.

Este quarteirão foi um dos primeiros que foram demarcados e como resultado teve 29 prazos de terras designados aos colonos que tomaram assentamento dos seus terrenos a partir do mês de agosto de 1845.

A seguir teremos a descrição de alguns colonos e suas famílias que habitavam o Quarteirão Palatinato Superior. Foram eles:

O colono Heinrich Reith chegou à Petrópolis em agosto de 1845 com a esposa Christine Anspach, a filha Helene e o filho Johann Reith. Em Petrópolis nasceram mais 2 filhos – Philipp, em 1850 e Marie, em 1853. Receberam o prazo de terras n.º 2006, registro 1036 com testada para o Rio Palatino e o Caminho Colonial, mais tarde Rua Morin. Este prazo de terras hoje está com frente para o lado par da Rua Gal. Marciano Magalhães. Neste prazo estão construídos os prédios do n.º 634 ao 704, sendo que neste último número está situada a casa construída pelo colono Reith. Embora com poucas modificações, esta casa ainda serve como residência e acomoda também uma indústria de mármores.

O filho Johann Reith, que herdou do pai a profissão de segeiro, mantinha na antiga Rua dos Mineiros (atual Rua Souza Franco n.º 1) uma oficina de carpintaria e ferraria para manutenção e construção de veículos de tração animal e durante muitos anos prestou diversos serviços para a Superintendência da Imperial Fazenda de Petrópolis.

O colono Johann Peter Jacoby chegou à Petrópolis em agosto de 1845 com a esposa e 2 filhos e recebeu o prazo de terras n.º 2648. Este colono se destacou na Imperial Colônia como professor e diretor de uma escola pública de língua alemã e também como Guia Evangélico da Comunidade Luterana, durante o tempo em que os colonos aguardavam a vinda de um pastor.

O colono Martin Maul chegou à Petrópolis no mês de agosto de 1845 com a esposa e 4 filhos, fixou-se no prazo de terras n.º 2601 e construiu a sua humilde casa, que ficava localizada na entrada do quarteirão, com testada para os rios Palatino e Gusmão. Mais tarde, com inúmeras benfeitorias, transformou o seu terreno numa bela propriedade. Este colono dedicou-se durante muitos anos ao transporte de mercadorias entre o Porto da Estrela e Petrópolis. Faleceu em 1868, deixando a viúva com 8 filhos. Este colono teve um ilustre descendente que foi o poeta e escritor Carlos Maul com mais de uma centena de livros publicados.

Além das famílias mencionadas, temos notícias de outras que habitavam este quarteirão e saíram de Petrópolis. Foram eles: o colono Johann Korndörfer que foi para o Rio Grande do Sul, Philipp Dietz que foi com parte da família, foi para Minas Gerais e Johann Surerus que com parte da família foi para a Colônia D. Pedro II em Juiz de Fora – MG.

A seguir teremos alguns dados sobre o QUARTEIRÃO PALATINATO INFERIOR. Receberam prazos de terras neste quarteirão 16 colonos e entre eles podemos relacionar alguns dos quais tenho mais notícias: Jacob Kappler, Georg Heinrich Raeder, Georg Christian Webler, Conrad Klippel e Johann Kraus.

Com um breve histórico, darei como exemplo apenas um dos moradores deste quarteirão que foi o colono Georg Christian Webler que, com a esposa e 8 filhos, chegou à Petrópolis em julho de 1845 e recebeu o prazo de terras n.º 2213. Este colono destacou-se pelo bom aproveitamento de suas terras, progredindo na agricultura. Com bons resultados, plantava centeio, aveia, batata, hortaliças, flores e árvores frutíferas e entre estas predominavam os pessegueiros e as macieiras.

Um dos filhos do colono, o Killian Webler, também tornou-se conhecido na Colônia pela sua habilidade e bons conhecimentos de vidraçaria, pois foi um dos bons cobridores em vidros dos telhados das casas da Imperial Colônia.

A seguir teremos uma breve descrição da VILA TERESA e alguns dados dos primeiros colonos que a habitavam.

Vila “Teresa” surgiu da homenagem à Imperatriz do Brasil e vale ressaltar que este foi um dos nomes monárquicos, que passou despercebido no advento da república em 1889, quando nesta época, trocaram todos os nomes de logradouros que representavam a família Imperial.

Era pela Vila Teresa o caminho / estrada principal de entrada e acesso para o centro de Petrópolis.

Receberam prazos de terras nesta Vila 18 colonos germânicos e entre eles o colono Philipp Faulhaber, carpinteiro que chegou à Petrópolis em 1846 com a esposa Barbara Weidmann, 5 filhos – Philipp, Marie, Heinrich, Charlotte e Johann, e a sogra – a viúva Christine Weidmann. Receberam o prazo de terras n.º 2445, com testada para a Estrada Normal da Estrela (hoje Rua Teresa). Neste terreno, além de sua residência, construiu também a sua oficina e a fábrica de carroças.

Após o falecimento do colono Faulhaber ocorrido em 03/03/1857, os seus filhos seguiram com os negócios do pai até por volta do início do século XX.

Na Vila Teresa, houve outros colonos e descendentes que também deixaram boas lembranças. Como os das famílias de Jacob Braun, Johann Hang, Peter Klein, Johann Peter Karl e Daniel Theissen (esse foi um dos ferreiros que trabalhou nas obras de construção do Imperial Palácio de Petrópolis).

Portanto, chegamos à principal Vila da planta de Koeler, ou seja à VILA IMPERIAL, sendo esta denominação por ser a área central da Imperial Fazenda de Petrópolis.

Esta Vila é a que tem o maior numero de prazos de terras em relação aos quarteirões, justamente por serem prazos de 1ª classe e com menor número de braças quadradas (ou seja menor metragem). Um grande número de prazos desta Vila, por época da demarcação, foram reservados para atender à família Imperial, autoridades da corte, bens públicos e para alguns colonos que não eram agricultores e que tinham profissões que julgavam industriais e comerciais. Para estes colonos foram designados aproximadamente 40 prazos, distribuídos pelas Ruas: do Imperador, adjacentes e periféricas da Vila para abrirem os seus próprios negócios como por exemplo: carpintarias, marcenarias, funilarias, serralherias, fábricas de seges e outros ramos.

Além dos colonos contratados pelo Governo da Província do Rio de Janeiro, houve outros do povo germânico que chegaram espontaneamente ao longo do ano de 1846 e a maioria deles integrou-se na Colônia. Estes tinham melhores condições de vida, pois vieram com seus próprios recursos, além de fixarem-se nos demais quarteirões. Também adquiriram terras na Vila Imperial para melhor atender aos seus negócios – pois eram ourives, relojoeiros, hoteleiros, artistas e inúmeras outras atividades e profissões.

Entre os vários colonos desta Vila, podemos citar o colono Joachim Glassow que com a esposa e 3 filhas chegou à Petrópolis em agosto de 1845 e recebeu o prazo n.º 220, com testada para a primitiva Rua de Bourbon n.º 19 (atual Rua Dr. Nelson de Sá Earp).

O colono Glassow, entre várias habilidades que tinha, era carpinteiro e foi um dos colonos que trabalhou nas obras da construção do Imperial Palácio desde 1845 até 1862. Na sua propriedade este criativo colono mantinha, além de sua carpintaria, uma pequena fábrica de máquinas para engomar roupa lisa. O seu terreno era bem aproveitado e bem construído, pois além de sua casa, construiu mais 4 para as filhas que iam casando.

Vale mencionar que do casal nasceram mais duas filhas em Petrópolis e, como não teve filho homem, o nome Glassow desapareceu.

Além do colono Glassow com descrição dos seus valores profissionais em atividades na Vila Imperial, podemos citar outros colonos que trabalharam nas obras da construção do Imperial Palácio e que também dedicaram-se ao comércio e educação no centro da Vila: Peter Wagner foi o ferrador oficial dos cavalos que atendiam ao palácio, Jacob Nicolai (pai e filho), Theodor Eppinghaus e Heinrich Ludwig Jaeger eram marceneiros e este último foi quem confeccionou algumas janelas e portas, e construiu a imponente escada de madeira que dá acesso ao 2º pavimento do Imperial Palácio e que até hoje é muito apreciada, Martin Dupont foi um dos primeiros professores de uma das 6 primeiras escolas, a que funcionava numa das salas do barracão de obras públicas e Nicolaus Engelmann que foi o primeiro com o ramo de padaria na Rua do Imperador.

Para finalizar, rendo as minhas homenagens a todos os descendentes dos nossos colonizadores germânicos”.

DADOS BIBLIOGRÁFICOS

– SCHIERHOLT, José Alfredo. Lajeado I – Povoamento, Colonização e História Política de Lajeado – RS – 1ª Edição, 1992.

– AULER, Guilherme Martinez – Cadernos do Córrego Seco – Petrópolis – RJ.

– RHEINGANTZ, Carlos G. – “Quem Povoou Petrópolis” – várias publicações na Tribuna de Petrópolis entre os anos de 1981 e 1983.

PESQUISAS ESPECÍFICAS

– Arquivo da Cia. Imobiliária de Petrópolis (títulos de aforamentos, quarteirões e vilas) – por gentileza de D. Pedro de Orleans e Bragança.

– Arquivo Grão Pará (Museu Imperial) – (relatórios da Imperial Colônia) – por gentileza de D. Pedro Carlos de Orleans e Bragança.

– Arquivo do saudoso Historiador e Pesquisador Gustavo Ernesto Bauer – por gentileza de sua filha a Sra. Vera Eliane Bauer Castor.

– Inúmeras pesquisas feitas pelo autor desta matéria nos antigos jornais de Petrópolis, arquivos particulares dos descendentes dos colonos e nos arquivos eclesiásticos de Petrópolis: Cúria Diocesana, Igreja Matriz de São Pedro de Alcântara e Igreja Luterana.