No casarão localizado na Avenida Piabanha, 720/732, residiu e, dele foi proprietário desde 1917, a ilustre figura de Joaquim Nabuco – diplomata, escritor, político e advogado. Personalidade esta, já bastante comentada nesta coluna, em palestras realizadas no Instituto Histórico de Petrópolis.
Esta construção – tudo leva a crer – seja mais antiga que o Palácio Imperial, pois nela morou José Candido Guilhobel, um dos seus arquitetos. Habitou ali também o Embaixador Luiz Gonzaga Nascimento e Silva.
Depois do falecimento de Joaquim Nabuco, o velho casarão foi dividido em duas residências. No número 720, continuaram residindo os filhos de Nabuco, e no número 732, veio a morar a família Redic de Campos. Olavo, arquiteto de renome que se tornou “arquiteto oficial” do Ministério do Exterior para todas as embaixadas brasileiras. Seu irmão, Deoclécio, igualmente renomado, foi por muitos anos diretor do Museu do Vaticano e responsável pela recuperação da internacionalmente conhecida estátua de Leonardo da Vinci, a “Pietá”, quando foi parcialmente destruída por um turista doente mental.
Voltando aos Nabucos, Joaquim Nabuco, teve cinco filhos:
– Maria Carolina (escritora) – escreveu a biografia de seu pai e o conhecido livro “Sucessora” que foi plagiado mais tarde por “Rebecca”. Na boa fé, ao entregar seu trabalho para revisão e publicação, sem o devido “copyright”, perdeu os direitos autorais do tão famoso romance, depois de um longo processo nos Estados Unidos;
– Monsenhor Joaquim Nabuco, figura interessante e de grande cultura, que por solicitação do Sacro-Colégio do Vaticano, escreveu em latim a história do cerimonial canônico. Para cumprir esta missão, refugiava-se em Petrópolis;
– Maria Anna, a quarta filha, é a mais desconhecida dos filhos;
– Joaquim Thomas, grande advogado. Durante muito tempo teve um dos mais importantes escritórios de advocacia do Rio de Janeiro. Hoje, este escritório está sob a responsabilidade de um neto de Joaquim Nabuco – Joaquim Aurélio Mello Franco Nabuco de Araújo.
Entretanto, é de minha intenção aqui focalizar o Embaixador Mauricio Nabuco, o que mais tempo viveu nesta casa.
O Embaixador Nabuco era de uma personalidade marcante para sua geração. Considerado um homem de alta estatura, cerca de um metro e oitenta, chamativo, de uma elegância despreocupada. Porém, sempre envergando seu colete branco, impecável, confeccionado em Londres por seu alfaiate de preferência. Homem de educação britânica, nascido em Londres em 10 de Maio de 1891 e formado em Norwick. Jantava sempre de “smoking”, mesmo quando só. Era do seu raciocínio que não ficava de acordo exigir da sua criadagem a uniformização correta, quando ele, dono da casa, não estivesse adequadamente vestido.
O casarão da Piabanha não era tido a recepções ou jantares, porém o Embaixador gostava de receber seus amigos mais íntimos para um chá “en famille”, como ele mesmo intitulava, ou um whisky, nunca antes das seis da tarde, visto que não era de “bom tom”.
Foi um profissional exemplar, estruturou o sistema administrativo do Itamaraty, modernizando-o, o qual resistiu aos tempos até a implantação dos computadores.
Pela sua sólida formação acadêmica, teve na sua carreira uma ascensão rápida.
Ingressou no Itamaraty em 1913 na Secretaria de Estado. Percorreu os escalões intermediários e chegou a Ministro Plenipotenciário de 2ª classe (ministro) em 17 de janeiro de 1931. Já em 12 de Fevereiro de 1934, era nomeado Ministro de 1ª classe (embaixador), contando, portanto, 43 anos.
Foi embaixador em Santiago (Chile) em 1937, Santa Fé (Vaticano) em 1944 e Washington (Estados Unidos) em 1949.
No decorrer de sua carreira, acompanhou o Ministro de Estado Lauro Müller em sua viagem oficial aos Estados Unidos em 16 de Maio de 1913. Participou da Delegação Brasileira ao Congresso de Paz, em Versalhes, em 23 de Dezembro de 1918. Acompanhou o Presidente eleito, Epitácio Pessoa, em sua visita oficial a Inglaterra, Portugal e Estados Unidos da América em 1919. Foi Auxiliar de Gabinete do Ministro Azevedo Marques em 30 de Julho de 1918. Esteve como Oficial de Gabinete do ilustre Ministro de Estado das Relações Exteriores, Otávio Mangabeira, 1926-1930. Representou o Ministro de Estado junto ao Presidente eleito dos Estados Unidos, Herbert Hoover, durante sua visita ao Brasil, em 1928. Chefiou a Comissão de Recepção a S.S.A.A.R.R. o Príncipe de Gales e o Príncipe George, em 1931. Foi interinamente Secretário Geral em 1933, 1934 e 1939, bem como Ministro de Estado do Exterior em 1940. Membro do Conselho Consultivo de Petrópolis e do Distrito Federal (Rio de Janeiro) em 1933-1935. E, na qualidade de Embaixador do Brasil em Washington, recepcionou o Senhor Presidente do Brasil, Marechal Eurico Dutra, em sua visita aos Estados Unidos em 1949. No governo de Getúlio Vargas, em 1952, foi dispensado – a pedido – do cargo de Embaixador e removido a Secretaria de Estado, para logo após ser aposentado.
Possuía várias importantes condecorações, dentre elas, a Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco.
Influenciou na carreira de diversos diplomatas mais jovens como seu seguidor em postura, posicionamento político e cultural, tais como: Embaixador Vasco Leitão da Cunha, D’Alamo Lousada, Antonio Castelo Branco e outros.
Referência: Nabuco, Carolina – A vida de Joaquim Nabuco. Anuário do Pessoal – Ministério das Relações Exteriores Dados da família Nabuco – Dados de F. D’Alamo Lousada