OITENTA ANOS DA INAUGURAÇÃO DO GRUPO ESCOLAR D. PEDRO II

Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette

No próximo dia 26 de novembro, transcorrem oitenta anos da inauguração do histórico prédio do Grupo Escolar D. Pedro II em nossa cidade. Trata-se de uma tradicional e modelar instituição de ensino que, desde 1911, vem prestando inestimáveis serviços à causa da educação em Petrópolis.

Fundado naquele ano, funcionou inicialmente no Quarteirão Renânia, numa casa da rua 14 de julho, hoje Washington Luiz, em instalações bastante precárias, fato que levou sua primeira diretora, a Profa. Angélica Lopes de Castro a reivindicar uma nova sede para o Grupo, por ocasião da visita do chefe do executivo fluminense, Dr. Raul de Morais Veiga, acompanhado do Diretor de Ensino, Dr. Guilherme Catambry.

O presidente do Estado escreveu uma carta à Princesa Isabel, solicitando a doação de um terreno à avenida 15 de Novembro, hoje rua do Imperador, com a finalidade de ali construir um prédio que estivesse à altura do Grupo Escolar em pleno desenvolvimento. A ocasião não podia ser mais favorável, pois o presidente Epitácio Pessoa revogara a lei de banimento da família imperial, a 3 de setembro de 1921, pelo Decreto nº 4.120, tratava-se da transladação dos restos mortais do Imperador D. Pedro II e da Imperatriz D. Teresa Cristina para o Brasil e iniciavam-se os preparativos para comemorar o centenário de nossa Independência.

Segundo nos informa D. Hercília Segadas Viana, “na Renânia, entre o açude e as Duas Pontes defrontavam-se duas escolas, a mista no antigo 34-A, dirigida por D. Angélica Lopes de Castro e a feminina dirigida pela professora efetiva Dolores Lopes de Castro, quando o Diretor de Instrução, Prof. Clodomiro Rodrigues de Vasconcelos, resolveu complementar com mais três séries, as três séries já existentes, de modo a permitir que os alunos se preparassem para enfrentar os exames parcelados ou entrada na Escola Normal” (1).

(1) SEGADAS VIANA, Hercília C. Assim nasceu o Grupo Escolar D. Pedro II na Rhenania. In: Jornal de Petrópolis de 16 de setembro de 1969, p. 6.

Em conseqüência, Petrópolis ganhou uma escola complementar, que resultou da fusão das duas escolas e que foi denominada Grupo Escolar D. Pedro II, isto em 1911.

Em 1920, a Fazenda Imperial resolveu lotear toda uma extensa área pertencente ao Palácio Imperial e abrir a avenida D. Pedro I, lembrando-se a Princesa Isabel de fazer a referida doação, exigindo, porém, que o nome do imperador seria dado para sempre ao estabelecimento de ensino que ali fosse edificado.

A 7 de setembro de 1920, foi lançada a pedra fundamental do novo edifício, em solenidade que contou com a presença do dr. Raul de Morais Veiga, presidente do Estado, do Dr. Oscar Weinschenck, prefeito municipal e outras autoridades estaduais e municipais.
Na ocasião discursaram o Dr. Oscar Weinschenck, agradecendo ao presidente do Estado a feliz iniciativa e o Dr. Gastão Netto dos Reis, promotor público da Comarca, dizendo a certa altura: ” O governo de V. Excelência, inscrevendo, pois, o nome augusto de D. Pedro II no frontispício do futuro estabelecimento escolar desta cidade, presta assim à memória veneranda desse brasileiro sobremodo ilustre, muito merecida homenagem, – a qual, como revela, da parte de V. Excelência, louvável elevação de sentimentos cívicos, importa em ato de justiça histórica e, até, de enobrecedora revelação” (2).

(2) Tribuna de Petrópolis, 8 de setembro de 1920, p. 1.

A aluna Ítala Cameron Silva, da 6ª série do Grupo Escolar Pedro II fez também uma breve alocução de agradecimento ao Dr. Raul de Morais Veiga, entregando-lhe um belo ramo de cravos brancos.

Na mesma data, comenta Fróes, o presidente do Estado enviou à Princesa Isabel o seguinte telegrama:
“A S. A. a Senhora Condessa d’Eu – Chateau d’Eu – Seine Superieur – France.

Comemorando a data de hoje, que o Brasil inteiro festeja, o governo do Estado a que tenho a honra de presidir, lança em Petrópolis, no prazo de terra doado pela generosa outorga de Vossa Alteza para a construção de um grupo escolar, a pedra fundamental deste instituto, a que ficará ligado o nome imperecível de Pedro Segundo. Registrando o nobre gesto com que a excelsa doadora contribuiu para a difusão do ensino pela infância do nosso país, apresento a V. A., em nome do povo fluminense e do seu governo, os protestos da mais alevantada e respeitosa estima. Raul Veiga, presidente do Estado do Rio de Janeiro, 7 de setembro de 1920” (3).

(3) FRÓES, José Kopke. Grupo Escolar D. Pedro II. In: Tribuna de Petrópolis de 22 de novembro de 1953, p. 1.

O edifício do Grupo Escolar D. Pedro II foi construído conforme projeto do renomado arquiteto Heitor de Mello, em terras do ex-Palácio Imperial de Petrópolis, com 50 metros de frente e 160 metros de fundos.

A construção do edifício foi contratada em concorrência pública, por 698:000$000, e realizada pelo engenheiro Eduardo de Vasconcellos Pederneiras, sob a fiscalização da Diretoria Geral de Obras Públicas.
Fato sem dúvida digno de nota, “é que o projeto procurou atender às necessidades topográficas da cidade, fugindo, nas suas linhas arquitetônicas, ao tipo comum desses edifícios, para apresentar um tipo completamente novo, em que a estética está de parceria com as exigências pedagógicas” (4).

(4) Tribuna de Petrópolis, 6 de maio de 1920.

Na ocasião a diretora do Grupo Escolar D. Pedro II tinha como adjuntas as seguintes professoras: Elvira Duarte Costa, Maria José Agra, Esmeralda Velasco de Oliveira, Maria José Geoffroy, Zulmerinda de Freitas Cunha, Hercília Lopes de Castro e Germana Gouvêa.

O ato inaugural do edifício realizou-se a 26 de novembro de 1922, constando de uma sessão solene no salão nobre, onde foram descobertos os retratos do Imperador D. Pedro II e do Dr. Raul Veiga, discursos do Dr. Guilherme Catramby, diretor de Instrução do Estado, profa. Germana Gouvêa, pelas professoras do grupo, aluna Hilda de Oliveira e do presidente do Estado, seguindo-se um vasto programa de exposições de trabalhos, apresentação de poesias, números de ginástica executados pelos escoteiros, seguindo-se um almoço oferecido ao dr. Raul Veiga e sua comitiva pela Prefeitura Municipal no Tênis Clube.

A primeira diretora do Grupo Escolar D. Pedro II, Profa. Angélica Martinho Lopes de Castro, nasceu em Petrópolis, a 20 de dezembro de 1869, sendo filha do casal Francisco de Souza Martins e Maria Schoereder de Souza Martins.

Fez seus estudos iniciais com Madame Viard, prosseguindo os mesmos no Colégio Santa Isabel, matriculando-se mais tarde na Escola Normal de Niterói.

Em Petrópolis iniciou sua brilhante e meteórica carreira no magistério na Escola do Retiro, como professora substituta, em 1886. Em 1888, já como professora efetiva, torna-se regente da Escola do Quarteirão Nassau, nela permanecendo até 1890,quando passou a reger a Escola da Rua 13 de Maio, até 1901. A partir deste ano, até 1904, dirigiu o Grupo Escolar Silva Jardim, regendo, posteriormente a Escola Mista da Renânia, até 1911, quando esta Escola se torna do Grupo Escolar D. Pedro II. Convidada a dirigir este Grupo, nele permaneceu de março de 1911 a setembro de 1930, quando foi jubilada.

Apaixonada pela causa da educação, enérgica e progressista, D. Angélica era uma entusiasta da educação física, bem como da educação moral e cívica, criando os primeiros batalhões de escoteiros, promovendo desfiles cívicos nas grandes datas nacionais, demonstrações de ginástica e incentivando o ensino religioso. Deve-se também a ela a instituição do hino do Grupo Escolar D. Pedro II, com letra do Dr. Carvalho Guimarães e música do Maestro Ten. A. Pimentel, do Corpo de Bombeiros.

Pelos relevantes serviços prestados à educação, foi agraciada com a “Cruz do Mérito de Koeler” e teve seu nome dado a uma das ruas de Petrópolis.

Faleceu em Petrópolis, a 3 de junho de 1962, sendo seu corpo velado no Salão Hermogênio Silva, da Câmara Municipal, numa última homenagem da cidade, que tanto lhe ficou devendo.