A ORIGEM DA GÍRIA BASTÃO DE PETRÓPOLIS

Dora Maria Pereira Rego Correia, ex-Associada Emérita, ex-Titular da Cadeira n.° 17 – Patrono Francisco Marques dos Santos

Na publicação Bastão Petrópolis, do ultimo domingo, acrescentaria mais dados no nome Petrópolis, (a titulo de colaboração) e conotação histórica à gíria citada nos referidos dicionários, de como surgiu este nome para identificar bengalas feitas em Petrópolis e não propriamente bastão grosso usado pela policia.

Refiro-me às bengalas feitas por Carlos Spangenberg, que eram muitas personalizadas e assinadas pelo artista.

A seguir cito artigos de Alcindo de Azevedo Sodré e Francisco Marques dos Santos, ex-diretores do Museu Imperial.

“O teuto Carlos Spangenberg, nascido em 1821, em Hildesheim, especializou-se em escultura de objetos de adorno de madeira, bengalas, caixinhas, molduras, figuras, broches, pulseiras e outras peças. Veio Spangenberg para o Brasil em 1844, com a profissão de oficial de torneiro, segundo seu passaporte, arquivado no Museu Imperial, para trabalhar na mercenária de Pedro Júlio Leger, no Rio de Janeiro, e destinado a realizar trabalhos de escultura em madeira. Era sobretudo, entalhador. Pouco tempo permaneceu na Corte, atraído pelo clima de Petrópolis, onde trabalhou com Júlio Frederico Koeler, nas obras do Palácio imperial. Deverão ser de sua autoria as rosáceas e os leques em canelura que ornamentam as portas da ala antiga do Museu. Possui o Museu Imperial, rica coleção dos mais variados objetos de Spangenberg.

Suas bengalas, porém, tiveram grande apreço, até Dom Pedro II as adquiria. Na viagem de 1887, o soberano encomendou 8 de pau cruz, palmito amargoso, muirapinima e airi. Uma destinou-se a Alphonse Karr, conforme se lêem em carta à princesa Dona Isabel.

Também Camilo Castelo Branco refere-se às bengalas de Petrópolis, no Cancioneiro Alegre, respondendo a um crítico brasileiro: ” Este sujeito escreve-me que tem uma excelente bengala de Petrópolis, com a qual me baterá, se eu for ao Brasil”, etc.

Essa bengala de Petrópolis, cuja fama atravessou o oceano, esteve em voga, de 1850 a 1890. Na Corte, constituiu moda, a “bengala de Petrópolis” ou simplesmente “uma Petrópolis”, mencionada nos folhetins dos cronistas e nas peças de teatro de Joaquim José França Junior.

Quando o príncipe Henrique da Prússia, neto do imperador da Alemanha, visitou Petrópolis a 19 de agosto de 1883, Spangenberg ofereceu-lhe uma linda bengala de maçaranduba. A oferta realizou-se por ocasião da homenagem prestada a Sua Alteza, no Teatro da Floresta, do velho Dr. I. A. Rougemont, onde se exibiu a banda de música Ekardt, tocando o hino Heil dir in Sieger Kranza.

Mais de quarenta anos residiu Spangenberg nesta cidade, onde faleceu a 17 de novembro de 1890. Do casal houve quatro filhos e sete filhas.
Residiu em Petrópolis, na Rua dos Protestantes, n° 6, depois Dona Isabel (hoje Treze de Maio), em pitoresca mansão no outeiro que domina a Praça do monumento ao Major Koeler e descortina panorama sobre o morro da igreja e Avenida Tiradentes, onde ainda moram alguns descendentes, como D. Annie Spangenberg Pinheiro. Para adquirir esse imóvel tão interessante para a arquitetura antiga desta cidade, ele fez um empréstimo de 2:000$000, a juros de 1% ao mês , a Adolfo Simonsen, assinando como garantia de compromisso uma escritura de hipoteca, a 7 de fevereiro de 1849.

Em festividades públicas, mais de uma vez participou Spangenberg, levantando arcos de triunfo com que foram decoradas as nossas ruas.

Em 1858 foi um dos fundadores da Gewerbe Verein Petrópolis, (Sociedade de Agricultores e Indústria) que procurou manter contacto com uma congênere do Grão-Ducado de Hesse, dela recebendo jornais e obras sobre agricultura e artes, além de sementes e plantas. Dedicou-se também à construção de casas. Mas realmente, passou à posteridade como escultor bengaleiro, segundo almanaques e guias antigos.

A Revista Ilustrada, de Ângelo Agostini (número 148, de fevereiro de 1879), em Recordações de Petrópolis, publicava uma cena entre um casal de hóspedes do Hotel Bragança, a quem o tédio de impertinente chuva prendia ao quarto, e da qual destaca-se o seguinte diálogo:

” Ele, (pensando num pretexto de ir ao Rio)
-Não precisa de alguma cousa da Corte?
Ela – De muitas, de tudo…. Se aqui só há bengalas…”

A seguir a descrição de uma das bengalas que pertenceu a Frederico Stroller, fundador do Coral Concórdia:

Bengala de madeira, (muirapinima) entalhada, com 0,96m de comprimento e com as características :

Castão: duas raposas, folha, flores e uma lira. Dizeres: Hrn, F. Stroeller / Eintracht / Die E./ dês S. Bundes / EINTRACHT. Um pouco abaixo, em baixo relevo: Carlos Spangenberg/ Petrópolis / 1871.