EDUARDO GOMES, UM ILUSTRE PETROPOLITANO

Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette

Eduardo Gomes nasceu em Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, em 20 de setembro de 1896.

Seus pais, Luiz Gomes Pereira e Jenny de Oliveira Gomes, possuíam uma ascendência das mais ilustres, ele, neto de Felix Peixoto de Brito e Melo, um dos heróis do combate de Pirajá, na Bahia, onde recebeu a Ordem da Campanha da Independência, tornando-se mais tarde magistrado e político, tendo sido deputado e governador de Alagoas; ela, filha do Visconde Rodrigues de Oliveira e bisneta do Senador Vergueiro, Nicolau de Campos Vergueiro, que foi regente do império.

Eduardo Gomes recebeu de seus pais esmerada educação e sólida formação moral. Freqüentou o Curso Werneck e concluiu o Curso de Humanidades no Colégio São Vicente de Paula, no Rio de Janeiro, ingressando, posteriormente, na Escola Militar do Realengo, onde foi declarado Aspirante a Oficial em 17 de dezembro de 1918.

Após servir no IX Regimento de Artilharia, em Curitiba, e de ter feito o Curso de Observador Aéreo, na Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos, foi transferido para o Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, onde participou da revolta de 5 de junho de 1922.

A revolta do Forte de Copacabana, que abriu o ciclo revolucionário em que predominavam os tenentes, nasceu do ressentimento militar contra a candidatura de Artur Bernardes, cuja impopularidade mais se acentuou com o episódio das “cartas falsas”, que objetivavam incompatibilizar os militares com o candidato à sucessão de Epitácio Pessoa.

Tal fato, acabou originando uma séria crise, agravada com a prisão do Marechal Hermes da Fonseca, então Presidente do Clube Militar, “em condições que feriam sua dignidade de oficial-general”, como declarou mais tarde o Capitão Euclides Hermes, então comandante do Forte de Copacabana.

A revolta do Forte extinguiu-se num lance de desesperada bravura, pois não conseguindo tornar vitorioso o movimento, os derradeiros revoltosos iriam terminar suas vidas, lutando com as forças do governo, no episódio que ficou conhecido como os “18 do Forte”, sendo inclusive possível que esta diretiva tenha sido de inspiração de Eduardo Gomes.

Do combate então travado, apenas dois revoltosos escaparam com vida, embora feridos: Eduardo Gomes e Siqueira Campos.

Posteriormente, por ocasião da Revolução Paulista de 5 de julho de 1924, comandada pelo General Isidoro Dias Lopes, quando tentava incorporar-se à Coluna Prestes, Eduardo Gomes foi preso em Santa Catarina. Posto em liberdade no governo de Washington Luís, mas excluído do Exército, participou da Revolução de 1930, sendo reintegrado nas Forças Armadas, graças ao Decreto-Lei, de 8 de novembro de 1930, que anistiou todos os civis e militares envolvidos nos movimentos revolucionários ocorridos no país.

A partir daí, sua carreira militar desenvolveu-se rapidamente, sendo promovido a Capitão, em 15 de novembro de 1930; Major, a 20 de novembro do mesmo ano; Tenente Coronel, a 16 de junho de 1933; Coronel, em 3 de maio de 1938 e Brigadeiro do Ar, a 10 de dezembro de 1941.

Teve Eduardo Gomes atuação decisiva no combate à Intentona Comunista, deflagrada em 1935, quando parte da guarnição da Escola de Aviação Militar sublevou-se, chefiada, entre outros, pelos Capitães Agiberto Vieira de Azevedo e Sócrates Gonçalves da Silva.

Senhores da situação, de posse de todo o armamento e munição retirados das reservas, os revoltosos preparavam-se para ocupar os hangares, a fim de acionar os aviões, quando foram atacados pelo 1º Regimento de Aviação, sob o comando do então Tenente Coronel Eduardo Gomes, que conseguiu conter os rebeldes até a chegada do Regimento Andrade Neves, quando os mesmos se puseram em fuga.

Comentando a coragem e a determinação de Eduardo Gomes, diz Deoclécio Lima de Siqueira: “Cercado por forças superiores, ferido nas dependências de seu próprio comando, teimara em lutar. E com esta teimosia não permitiu que o movimento se alastrasse, nem que as trágicas conseqüências se avolumassem” (1).

(1) SIQUEIRA, Deoclécio Lima de. Caminhada com Eduardo Gomes. Rio de Janeiro, Revista Aeronáutica Editora, 1984, p. 95.

Eduardo Gomes foi o primeiro comandante do Grupo Misto de Aviação, criado no Campo dos Afonsos, em 1931. Desse grupo partiu, em 12 de junho do mesmo ano, o avião que realizou a primeira linha do Correio Aéreo Militar, com os tenentes Casemiro Montenegro Filho e Nelson Freire Lavanère Wanderley, dando origem ao atual Correio Aéreo Nacional.

O Correio Aéreo Nacional veio reforçar a coesão nacional, como um elemento novo no sistema de comunicações do país, aproximando o remoto interior dos grandes centros populosos.

Por ocasião da 2ª Grande Guerra Mundial, a presença dos alemães na África, onde pontificava o “Afrika Korps”, sob o comando do Marechal Rommel, o Norte e o Nordeste do Brasil passaram a ter grande importância estratégica, não só como áreas de seguranças do continente americano, como também no sentido de garantir uma linha de abastecimento aéreo de aviões e suprimentos, vindos dos Estados Unidos da América.

Nestas circunstâncias, Eduardo Gomes, já no posto de Brigadeiro, foi nomeado Comandante das 1ª e 2ª Zonas Aéreas, funções que desempenhou com o maior zelo, tendo hospedado o Quartel General do Comando da Esquadra do Atlântico Sul e promovido o primeiro Curso de Tática Aérea para a Força Aérea Brasileira.

Incansável, pertinaz e zeloso, Eduardo Gomes tudo previa, dava assistência e estava presente, supervisionando pessoalmente o cardápio das refeições de seus comandados, não relaxando a prática da instrução militar, desenvolvendo um programa de construção de residências na praia e mantendo escolas regimentais, com a finalidade de proporcionar aos soldados incultos, conhecimentos mais avançados.

Em atenção à sua destacada atuação, foi condecorado pelo Ministro Salgado Filho, com a Ordem do Mérito Aeronáutico; pelo Vice-Almirante Jonas Howard Ingram, comandante da 4ª Esquadra Norte-Americana, com a medalha “Legião do Mérito Americano-Comandante”; pelo Comandante Supremo das Forças Inglesas na África e Itália, General Harold R. Alexander, com a Ordem de Cavaleiro do Império Britânico.

Foi distinguido ao todo com 13 condecorações nacionais e 8 condecorações estrangeiras.

Como homem público, participou, no início de 1945, do processo de redemocratização do país, com a reabertura do processo eleitoral, participando das eleições então realizadas como candidato à presidência da República.

Posteriormente, voltou a concorrer às eleições presidenciais realizadas em 1950, sendo derrotado nos dois pleitos pelo General Eurico Gaspar Dutra, em 1945, e pelo Dr. Getúlio Dornelles Vargas, em 1950, apesar das memoráveis campanhas eleitorais que encetou nas duas oportunidades, nas quais demonstrou um profundo conhecimento dos grandes problemas nacionais.

Aceitou com humildade a vontade das urnas, não se deixando abater, nem perdendo a fé nos valores da democracia.

A partir daí limitou suas aspirações políticas ao nível ministerial, tendo ocupado por duas vezes as funções de Ministro da Aeronáutica: no governo Café Filho, de 24 de agosto a 11 de novembro de 1954, e no governo Castelo Branco, de 11 de janeiro de 1965 a 15 de março de 1967, criando novas perspectivas na vida da Aeronáutica Brasileira.

Transferido para a reserva em 1960, foi, a 22 de setembro do mesmo ano, promovido ao posto de Marechal do Ar.

Faleceu Eduardo Gomes a 13 de junho de 1981, um dia após os festejos comemorativos do cinqüentenário do Correio Aéreo Militar, aos quais esteve presente, sendo sepultado no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.

Em atenção aos grandes serviços por ele prestados à Força Aérea Brasileira, foi declarado patrono da mesma, de acordo com a Lei nº 7.243, de 6 de novembro de 1984 e foi eleito para o Corpo de Patronos do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, a 16 de março de 1987.

Este ilustre petropolitano de hábitos simples, idealista, firme em suas opiniões e atitudes, de exemplar conduta e caráter ilibado, sempre demonstrou um especial carinho por Petrópolis. De certa feita, em entrevista concedida à Tribuna de Petrópolis, solicitado a dizer algo sobre sua cidade, assim se expressou: “É a minha terra, a minha
cidade, meu maior amor” (2).

(2) GOMES, Eduardo. Cf. in Tribuna de Petrópolis, 14 de junho de 1981, p. 1.

Petrópolis tem uma profunda dívida para com este seu filho ilustre, pois até hoje, passados 23 anos de seu falecimento, ainda não lhe fez justiça. Nenhuma homenagem lhe foi prestada, nem mesmo por ocasião do Centenário de seu nascimento, nenhuma praça, escola ou rua leva seu nome. Petrópolis precisa honrar-lhe a memória.