Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira nº 14 –
Difícil expressar a você, Mauro, o sentimento que assalta o coração deste seu amigo e colega. Sua partida ocorreu, era esperada, como acontecerá com todos nós que o acompanhamos em sua última peregrinação por aqui. Nada misterioso, conquanto pungente e triste. É a fatalidade do mais dia menos dia.
Resta pensar na sua missão, cumprida a contento; relembrar o seu feitio de ser humano; recordar os bons momentos vividos em cada instante de seu magistério, cumprindo discência nas cátedras da Universidade do Destino. Foi prodigiosa sua missão de mestre, conquistada com esforço e inteligência.
Aliás, Mauro, as duas palavras aqui grafadas – esforço e inteligência – cabem como uma luva na sua vida terrena.
Quero que recorde comigo a primeira vez de nosso conhecimento, nas Faculdades Católicas Petropolitanas, no ano de 1954, quando ingressamos na turma pioneira do Curso de Direito, em velho casarão no Retiro e, dois anos após, no prédio do Palace Hotel, na Rua Barão de Amazonas.
Uma turma com mais de 50 integrantes, todos amigos, colegas na verdadeira essência e que chegaram à formatura, cumpridos os cinco anos do curso.
Participamos do Diretório Acadêmico em múltiplas atividades, eleições disputadíssimas, as conferências de verão, os torneios de oratória, um companheirismo que a todos marcou e cuja saudade tem sido alimento na existência de cada qual.
E nós o escolhemos para nosso orador no evento da inauguração da placa de bronze, hoje integrada ao patrimônio da Universidade Católica.
Após a formatura, o destino teceu os fios vocacionais, a turma dispersou-se nos meandros da vida profissional, alguns advogando, outros partindo para empreendimentos empresariais e outro tanto dedicando-se à cultura, ao saber, ao divino magistério.
Você e eu debruçamo-nos nas cátedras do saber para as aulas a discípulos de vários níveis. Nossa dedicação formou a muitos para a vida e você, Mauro, despontou como um dos melhores mestres, dos mais cultos e de maior talento para o magistério. Usou e abusou – no melhor sentido – de seu raro conhecimento e polimorfa cultura, atingindo o coração dos educandos e ajudando a formar uma geração de cidadãos responsáveis e de conteúdo humanitário.
Encontramo-nos em diversas oportunidades, nas estradas da cultura e, até, da política.
Integramos a Academia Petropolitana de Educação – eu sai, você ficou; somos imortais confrades na Academia Petropolitana de Letras, onde você foi meu vice-presidente no ano de 2011.
Na política, cumprimos dignificante missão no Gabinete do melhor prefeito que Petrópolis já teve, em toda a sua história, o magnífico e correto homem público Paulo Monteiro Gratacós.
Era você Chefe de Gabinete e eu, seu imediato direto na função de Sub-Chefe do mesmo Gabinete, contribuindo para uma Petrópolis mais digna, mais humana, mais organizada e muito bem administrada. Em algumas oportunidades recentes conversávamos sobre essa nossa vida no Executivo Municipal, com lembranças felizes e honrosas.
Recordo que você foi escolhido para concorrer, com Gratacós, a um novo período no Executivo Municipal, como vice-prefeito do grande líder, campanha rompida quase na linha de chegada por problemas políticos incontornáveis.
Recentemente, acompanhamos seus esforços na ajuda ao Vereador Márcio Muniz, na Câmara Municipal, cumprindo fundamental papel de conselheiro e requisitado artífice da política legislativa.
Mestre da Língua Portuguesa, sabia tudo sobre gramática, literatura, bem escrever e atuando, de forma exuberante e clássica, quando chamado a falar, produzindo belíssimas páginas oratórias, sob impecável interpretação.
Católico fervoroso, você Mauro, ajudou a muitos nos caminhos de encontro e reencontro com a Fé, participando com sua palavra mágica e lúcida, de memoráveis oportunidades e, no melhor espírito cristão foi um ser família integral, com sua esposa Marilia, seus filhos e o casal Rubem Nobre, pais de Marilia, meus grandes e inesquecíveis amigos , dos quais me recordo, sempre, com muita saudade.
Mauro, vou terminando a carta por aqui. Tinha muita coisa mais para escrever mas, de repente, bateu em meu coração algo que não explico… Tudo fugiu, ficando a lembrança e a saudade impressas nos escaninhos dourados de nossa história, que recolho e guardo no fundo de minha alma perambulante, ainda, por aqui.