SIDNEY SMITH – UM MARINHEIRO HERÓI

Kenneth Henry Lionel Light, Associado Titular, Cadeira n.º 1 – Patrono Albino José de Siqueira

 

Historiadores brasileiros conhecem Sir Sidney Smith principalmente, e quase que exclusivamente, pela sua participação na jornada da Família Real Portuguesa ao Brasil, em 1807-8, porque nesta época ele comandava o esquadrão da costa de Portugal. Foi também, logo após a chegada da família real, e durante dois anos, comandante da base naval inglesa estabelecida por ele no Rio de Janeiro. Enquanto no Brasil, ele se empenhou em ajudar D. Carlota Joaquina nas suas pretensões de conquistar um território próprio para reinar, no caso, a Argentina. Volumosa correspondência dele para ela em francês e dela para ele em espanhol, atesta esta ambição segundo pesquisa realizada no arquivo do Museu Imperial.

Este período de pouco mais de dois anos, foi talvez, o período mais calmo da sua vida tumultuada.

Herói nacional na Inglaterra, enquanto ainda vivo, suas façanhas serviam de tema para os teatros de variedade da época. Seu nome era cantado e recitado em verso nos inúmeros panfletos impressos em Londres e distribuídos por todo o país.

Nenhum outro comandante naval, à exceção de Nelson morto na batalha de Trafalgar, teve tanta glória, tão cedo.

No entanto, enquanto o herói Nelson teve um reconhecimento talvez nunca antes nem depois superado, o mesmo não aconteceu com Sidney Smith. Vejamos, Nelson foi lembrado com uma estátua, num majestoso pedestal, colocado numa das principais praças de Londres. Seus restos mortais foram enterrados na catedral de S. Paulo – uma distinção reservada a poucos – após uma procissão liderada pelos 6 duques da família real e por 32 almirantes! Como não tinha descendente legítimo, seu irmão William recebeu as honras e a recompensa pecuniária: um marquesado, £99,000 para comprar uma propriedade e uma pensão anual de £5,000 em perpetuidade. Em valores atuais, isso significaria US$ 6 milhões e US$350.000 respectivamente!

A Inglaterra tardou em reconhecer oficialmente os feitos de Sidney Smith, embora governos estrangeiros (Portugal, o Império Otomano, as Duas Sicílias e a Suécia) reconheceram a sua contribuição e condecoraram-no. Somente em 1838, portanto com 74 anos e 2 anos antes de falecer, recebeu da jovem Rainha Vitória o merecido título da Grã-Cruz da Ordem do Banho – finalmente, tornou-se um sir inglês. Morreu em Paris, onde viveu os últimos anos de sua vida, e foi enterrado numa sepultura simples no cemitério Père Lachaise.

80800 SIR SYDNEY SMITH

Porque essas diferenças tão marcantes?

Esperamos que descrevendo a sua vida, de muitas vitórias e alguns fracassos, e o seu caráter complexo, possamos contribuir para desvendar este enigma.

A história pouco conhecida deste herói que tanto contribuiu para derrotar Napoleão e que esteve ligado ao Brasil durante os anos 1807-10 começou em Londres, onde nasceu, em 1764.

Seus primeiros anos foram muito conturbados; seu pai, Cornelius Smith, era considerado um aproveitador e libertino. Conheceu sua mãe, filha de um rico comerciante, quando ela já tinha mais de 30 anos – naquela época, de vidas curtas, era uma idade avançada para se ter esperança de encontrar um marido. Fugiram juntos e o pai dela, Pinkney Wilson, de imediato deserdou-a e renunciou a manter qualquer contato com ela, e com os três filhos que ela depois viria a gerar.

Foi necessária a intervenção de uma tia para persuadir o avô a pagar a educação do neto Sidney. Os pais de Sidney se separaram e, mesmo assim, Cornelius Smith não desistia de enviar correspondência ao sogro pedindo dinheiro – muitas vezes era portador o jovem Sidney, na esperança de obter uma decisão favorável.

Com treze anos de idade, começou a sua carreira naval. Hoje, para nós, a maneira de entrar na marinha parece estranha, mas na época era a forma considerada mais conveniente.

Vejamos – cada capitão poderia ter até 4 serventes para cada 100 homens da tripulação do navio que comandava. Para se ter uma idéia, a nau mais comum, a de 74 canhões ou peças, como eram mais bem conhecidos, tinha uma tripulação de 600 homens – portanto 24 serventes! A maior parte destes postos era reservada para amigos do capitão que desejavam iniciar seus filhos na carreira naval.

Seu primeiro posto foi no “Tortoise”, um navio depósito de víveres, armado com 32 peças. O capitão conduzia-a como se fosse uma fragata – já no primeiro dia, pararam 3 navios com tiros ameaçadores. Três meses depois, foram para a América escoltando navios mercantes.

Lá, Smith foi transferido para o brigue “Unicorn” para fazer a viagem de retorno. Ainda na costa americana, teve sua primeira experiência de batalha. Velejando em comboio com a nau “Experiment”, avistaram a fragata americana “Raleigh” e deram caça. “Unicorn”, chegando primeiro, sozinho enfrentou a “Raleigh” durante 3 horas até a chegada da “Experiment”. O brigue perdeu 13 homens e muitos ficaram feridos inclusive Smith – um estilhaço abriu a sua testa.

A sorte do Smith apenas começava – durante a viagem, enquanto resistiam a um vento fresco, uma rajada fez o brigue deitar. Naquele momento, Smith encontrava-se embaixo, no paiol do pano, e foi com dificuldade que conseguiu alcançar o convés de cima para ajudar a alijar as peças e endireitar o navio!

A próxima transferência para a nau-de-linha “Sandwich”, em setembro de 1779, foi de suma importância. Era a nau capitânea do Esquadrão do Canal da Mancha, sob o comando de um dos mais famosos almirantes ingleses, Rodney. Em janeiro capturaram um esquadrão de 23 navios mercantes e uma nau-de-linha espanhola que os escoltava. Uma semana mais tarde, perto do Cabo S. Vicente, após uma batalha que durou toda uma noite de ventos frescos, 5 naus-de-linha espanholas foram capturadas e uma pegou fogo e explodiu. O comportamento do jovem Sidney Smith durante as ações, não passou desapercebido.

Em setembro de 1780, com sucesso prestou exame para tenente. Deveria ter mentido a sua idade, pois legalmente o limite mínimo de idade era 19 anos e eram necessários 6 anos de serviço; ele tinha apenas 16 anos e 3 de serviço! Agora, tornara-se oficial embora ainda no primeiro degrau da escada que o levaria a almirante.

Ainda com Rodney, participou da batalha perto de Dominica, conhecida pelo nome de ‘Todos os Santos’ contra trinta naus-de-linha francesas. Esta batalha foi importante, pois foi a primeira vez em que foi utilizada a tática de atacar a linha de um ângulo de 90º em vez de atacá-la em linhas paralelas. A atuação de Smith novamente deve ter sido notada, pois lhe foi dado o comando da escuna “Fury”, de 16 peças, e ordens para oficialmente ser o portador do relatório com a notícia da vitória.

Em fevereiro de 1784 voltou à Inglaterra, em comando da fragata “Alcmene” de 32 peças e uma tripulação de 300 homens. Ainda faltavam 4 meses para completar 20 anos. Como é que se comportaria um filho nosso de 19 anos com esta responsabilidade?

Um tratado de paz tinha sido assinado em 1783 – hoje sabemos que seria somente temporário. Conseqüentemente, a necessidade de empregar oficiais fora bastante reduzida. Aqueles que desejassem continuar com a sua carreira, poderiam colocar-se à disposição do almirantado e, em troca, receber metade do salário. Claro, Sidney Smith cuja alma era dedicada à Marinha, se colocou à disposição. Achou que era uma boa oportunidade para aprimorar o seu conhecimento do idioma francês e desenvolver suas habilidades como espião amador. Partiu para a França.

Visitando a Normandia, anotou detalhes da costa e das fortificações. Verificou também, que os franceses pretendiam desenvolver o porto de Cherbourg como base naval “na escala de Portsmouth”, a principal base inglesa. Descreveu com detalhes o método que estava sendo utilizado na construção de um quebra-mar. As suas observações eram enviadas ao almirantado. Seu francês, que sempre foi muito bom, tornou-se excelente.

Estendendo sua atuação como espião amador, partiu para o Marrocos. Lá, além de reportar sobre a costa e a frota, ainda sugeriu estratégia. Nenhum esquadrão baseado em Gibraltar poderia controlar os dois lados da entrada do Mediterrâneo, escreveu ele. Seria necessário um segundo esquadrão – sugeriu – baseado em Lagos (Portugal). Tinha toda razão – até hoje, o vento naquela região sopra alternadamente do leste e do oeste – naquela época de navios à vela, caso houvesse um vento fresco, o esquadrão a qualquer momento ou não podia entrar ou não podia sair do Mediterrâneo.

Mas, a prepotência que seria o seu “calcanhar de Aquiles”, começava a se mostrar. Escreveu ao almirantado: ele, Sidney Smith, seria a pessoa ideal para comandar este segundo esquadrão, pois era o único com conhecimento detalhado da costa atlântica do Marrocos. Não mencionava que só tinha 23 anos!

Sempre irrequieto, seu próximo alvo foi a Suécia. Este país se encontrava em guerra com a Rússia mas, devido ao inverno e ao congelamento dos mares, as esquadras se encontravam temporariamente sem serventia.

Não vou descrever as batalhas em que participou, pois quero concentrar-me no seu caráter. Basta dizer que a ajuda para derrotar a Rússia mereceu, do rei Gustavo, o título de Cavaleiro da Ordem da Espada e, com permissão do governo inglês, pôde usar o título de sir. A sua maneira de agir refletia o seu caráter e esse aspecto da sua personalidade trouxe consequencias altamente negativas para ele durante toda a sua carreira.

Com dificuldade, conseguiu alcançar a base sueca de Karlskrona e logo se apresentou ao comandante chefe, o Duque de Södermanland. Pelos relatos, sem poupar elogios a si mesmo, ofereceu-se para integrar as forças navais suecas. O Rei Gustavo então, convidou o ‘Coronel Smith’ como assim ficou conhecido, a aceitar o emprego. Porém, antes de aceitar, seria necessário que ele obtivesse permissão do almirantado inglês. Em épocas em que a guerra não era eminente, o almirantado dava permissão, por 6 meses, aos oficiais que desejassem empregar-se; que o fizessem desde que o país não fosse um inimigo em potencial. Persuadiu então o ministro britânico, em Estocolmo, a nomeá-lo “Mensageiro do Reino” e, em seguida, partiu para Londres. Imaginava que levava importantes documentos mas, ao chegar, as autoridades inglesas não lhe fizeram caso.

Após 6 semanas frustrantes em que não conseguia obter permissão e, receoso que o gelo estaria se derretendo e que logo as hostilidades teriam início, partiu de volta. Ao mesmo ministro em Estocolmo, escreveu que era portador de informações somente para os ouvidos do rei – o que não era verdade. Muito bem impressionado com o jovem inglês, o rei nomeou-o seu principal assessor naval – o que gerou um grande mal estar entre oficiais suecos – e comandante de uma flotilha de navios de menor porte. Ao ministro novamente mentiu – escreveu que seguia a nau do rei a bordo de um pequeno iate, e que esperava que este fato não consistisse em emprego, para o qual não tinha permissão.

Embora sua contribuição na derrota das forças russas tenha sido reconhecida pelo rei, ao voltar a Londres, foi muito criticado não só pela desobediência mas também pela morte de 6 capitães ingleses que, na época, trabalhavam para a marinha russa.

Quando a guerra recomeçou, em 1793, Smith servia como voluntário na marinha da Turquia, um pretexto para continuar suas atividades de espião amador naquele extremo do Mediterrâneo.

A notícia alcançou-o quando se encontrava no porto de Smyrna. Sua reação foi imediata – percebendo a presença no cais de dezenas de marinheiros ingleses desempregados comprou, com recursos próprios, uma pequena embarcação de vela latina, trocou o nome para “Swallow” e, com uma tripulação de 40 marinheiros ingleses, partiu.

Em dezembro alcançaram os arredores de Toulon, a principal base francesa. Um esquadrão britânico, sob o comando do Almirante Hood, bloqueava o porto. Smith era um oficial desempregado, recebendo meio salário e, por este motivo, sua idéia era seguir viagem para Londres, se apresentar ao almirantado e eventualmente, receber o comando de um navio. Enquanto aguardava, fora da baía de Toulon, para iniciar esta etapa da viagem, Hood convidou-o para participar de uma conferência a bordo da nau-capitânia, a “Victory”. Os demais capitães presentes ficaram extremamente ofendidos com a sua presença. Além de impopular, era desempregado e, portanto, não tinha nenhum direito de estar ali presente. Ele se defendeu alegando que, enquanto eles eram comandantes de navios que pertenciam à marinha com guarnições pagas por ela, ele era dono do seu barco e a sua guarnição era paga do próprio bolso!

Mesmo estando oficialmente desempregado, Hood nomeou-o comandante de uma pequena flotilha; teria como subordinados dois capitães, quatorze tenentes e sete guarda-marinhas. Suas instruções, por escrito, eram para entrar no ancoradouro e incendiar o maior número possível de navios franceses.

Não vou descrever todos os lances desta operação, apenas o seu resultado. Hood e os monarquistas, que se encontravam em terra, conseguiram apreender e retirar da baía 4 naus-de-linha, 8 fragatas e 7 corvetas. Smith destruiu 10 naus-de-linha, 2 fragatas e 2 corvetas. O esquadrão que restara nas mãos dos republicanos tinha sido reduzido a 18 naus-de-linha, 4 fragatas e 3 corvetas.

O número de embarcações destruídas pelas forças comandadas por Smith era, até então, maior do que qualquer confronto naval anterior; confrontos esses que tinham trazido riqueza e honrarias aos almirantes. Não obstante Hood tenha escrito que Smith tinha se distinguido, muitos criticaram-no por não ter conseguido destruir todas as embarcações.

Na realidade, era o reflexo de sua intensa impopularidade. Era fruto de sua exagerada autoconfiança, seu título sueco, sua desobediência às ordens e seu hábito de ir direto às pessoas mais importantes na marinha ou no governo, passando por cima de superiores.

Em Londres, o primeiro lorde do almirantado, Spencer, se manifestou satisfeito com a atuação de Smith. Reconheceu suas excepcionais qualidades mas, ao mesmo tempo, a dificuldade em manejar uma pessoa com essa vontade quase insana de aparecer e de achar que a sua opinião era a certa e de ter a convicção de implantá-la mesmo indo contra as ordens de superiores. O povo o aclamou – herói da nova guerra.

Smith, sempre com novas idéias, agora argumentava que a costa norte da França deveria ser atacada e para se obter êxito, embarcações de pequeno calado deveriam ser usadas, possibilitando assim chegar perto de áreas que eram mal protegidas.

Spencer acatou as suas sugestões e Smith, durante os próximos dois anos, comandando uma flotilha de chatas e brulotes (embarcações que eram incendiadas e depois, sem tripulação, dirigidas contra o inimigo) passou a fustigar o inimigo. Spencer, conhecedor do seu caráter, manteve-o respondendo diretamente ao almirantado e não ao comando do Esquadrão do Canal.

Gostaria de destacar três ações durante esse período:

A primeira, em 1795, ocorreu quando o almirantado recebeu informações que um esquadrão francês tinha deixado sua base principal que era Brest. Smith recebeu ordens para averiguar. Como o ancoradouro não era visível do mar aberto, ele teria que primeiro velejar por uma passagem estreita e muito bem protegida por fortes para depois entrar no ancoradouro. Os preparativos consistiam em disfarçar a sua fragata “Diamond”, para aparentar uma fragata francesa e o mesmo deveria ser feito com os uniformes dos oficiais. Despertou porém suspeitas quanto a sua identidade que logo depois foi descoberta enquanto dentro do porto e por pouco não foi capturado – o sucesso da missão foi devido ao seu excelente francês e a sua extrema autoconfiança.

No ano seguinte, Smith seguiu um comboio de nove embarcações francesas para dentro do porto de Herqui, na costa da Bretanha. Atacou-as e, em seguida, queimou-as; nenhuma escapou. Capturou os fortes que protegiam o ancoradouro e encravou seus canhões. Em seguida, enviou o tenente que comandou o ataque aos fortes, com despachos descrevendo a vitória e, de presente ao almirantado, o pavilhão francês capturado. O povo nas ruas de Londres delirou – era o tipo do evento que apreciavam. O teatro Convent Garden montou uma opereta intitulada ‘The Point in Herqui ou O Triunfo da Valentia Britânica’.

O terceiro episódio se sucedeu porque Smith acreditava que era possível subir o rio Seine e atacar Napoleão na sua própria capital, Paris! Em abril daquele ano decidiu entrar no porto de Le Havre, a embocadura do Seine. Suas intenções eram fazer reconhecimento da área – seria útil mais tarde caso o seu plano de atacar Paris viesse a ser executado, e capturar o “Vengeur” – um lugre corsário – que de vez em quando atacava navios mercantes ingleses. De madrugada, liderou alguns oficiais e 24 marinheiros remando silenciosamente, em quatro pequenas embarcações, para dentro do porto. O lugre foi rapidamente capturado. A falta de vento, porém, impedia-o de sair do porto. Pior, o cabo do ferro tinha sido cortado e o lugre não tinha outro de reserva; assim, aos poucos, eles estavam sendo levados para onde se encontravam várias outras embarcações francesas. Sem vento, a “Diamond” não conseguia entrar para ajudá-los e nem eles conseguiam avançar remando contra a correnteza. Ao amanhecer, já era óbvio para todos o que tinha acontecido e então, várias embarcações preparavam-se para atacar o “Vengeur”. Smith mandou os prisioneiros para a terra e preparou sua defesa. Após mais de uma hora de troca de tiros, ele decidiu que não tinham saída. Após um breve discurso aos companheiros, arriou o pavilhão em sinal de entrega. Smith tornou-se então, prisioneiro de guerra.

Os próximos dois anos foram para Smith, uma total perda de tempo. Preso em Paris, Smith corria o risco de ir para a guilhotina. Enquanto como oficial da marinha, ele poderia esperar um tratamento humano e até ser trocado por algum comandante francês, naquele momento numa prisão inglesa; sendo considerado um espião, ele corria risco de vida.

SIR SIDNEY SMITH JAIL IN PARIS

Na França daquela época, existiam ainda muitos monarquistas que lutavam clandestinamente contra o regime republicano. Um grupo deles se uniu para tirar da cadeia, o “Leão do Mar”, como era denominado pelo povo dos dois lados do Canal da Mancha. Chegaram até a alugar uma casa em frente à janela da prisão onde ele se encontrava mas, sem poder falar com Smith, inventaram então um código para que pudessem trocar mensagens.

Dependendo do comandante da prisão, Smith tinha algumas regalias. Durante um determinado período, em troca da sua palavra de honra que não escaparia, lhe era permitido sair nas ruas durante o dia. Na época, a palavra de um oficial era mais segura que um par de algemas!

Um dia, foi notificado de que seria transferido para outra carceragem; não ficou surpreso, pois já tinha sido transferido algumas vezes. Logo que entrou na carruagem, seus guardas revelaram que, de fato, eram monarquistas. A pressa da fuga por pouco não virou desgraça; a carruagem acidentalmente tombou o que causou a descoberta da fuga. Perseguidos pelo norte da França até a costa, conseguiram embarcá-lo para fazer a travessia do Canal.

“O Leão voltou!” – gritavam euforicamente nas ruas de Londres e novamente, o carisma com o povo se manifestava. Após ser recebido por Lorde Spencer no almirantado, foi em seguida recebido pelo Primeiro Ministro William Pitt no parlamento e, finalmente, pelo rei.

Neste meio tempo, em muitos portos do Mediterrâneo, Napoleão montava um grande exército cujo destino era ignorado. Havia, é claro, especulação mas nada definitivo. O mistério se aprofundou quando a “inteligência” informou que 167 “savants”, como os cientistas eram conhecidos, estariam prontos para embarcar. Sim, essa era a força com a qual Napoleão pretendia criar um império no leste. Primeiro, ocuparia o Egito e, em seguida, tomaria da Inglaterra, sua rica colônia que era a Índia.

Nelson, então subordinado do Almirante Jervis com base em Lisboa, recebeu ordens de entrar no Mediterrâneo e investigar o propósito dessas forças francesas – porém, chegou tarde demais, os portos já se encontravam vazios! Levou os próximos dois meses procurando-os. Uma tarefa não muito fácil, pois a área era extensa.

Finalmente, em 1º de agosto de 1798, encontrou-os. O esquadrão estava fundeado na Baía de Aboukir, entre Alessandria e o delta do Nilo. Seguiu-se uma das mais extraordinárias batalhas travadas em toda a história naval, reunindo o mais alto grau de ousadia, coragem e marinharia. Nelson destruiu o esquadrão que tinha levado o exército francês para o Egito.

Agora, ficaram sem opção. Para chegar à Índia, teriam que subir a costa pela Síria (hoje Israel), atacar Constantinopla e depois, voltando para o leste, atravessar a Pérsia e só então alcançar a Índia.

Em Londres lembraram que Smith tinha boas relações com o Sublime Porte, como então era conhecido o Império Otomano, pois tinha servido em sua marinha.

Reunindo antigos marinheiros da fragata “Diamond”, amigos monarquistas franceses e muitos outros, Smith partiu na nau “Tigre”. Suas ordens eram para se colocar debaixo do comando do Almirante Marquês S. Vicente, nos arredores de Cadiz ou Gibraltar. Ainda recebeu do ministro do exterior o cargo de ministro plenipotenciário adjunto ao Império Otomano (o outro ministro plenipotenciário era seu irmão mais novo, Spencer).

A estratégia era tirar proveito do fato de que uma parte do território do Império Otomano, o Egito, tinha sido tomado pelos franceses. Em casos normais, esta combinação de funções oficiais já seria complicada mas, com o caráter de Smith, era previsível que tudo resultaria numa grande confusão.

Não foi diferente. Todos reclamavam de Sidney Smith. Alguns, como Nelson, que ele não tinha o devido respeito, quando escrevia, que um capitão deveria ter pelo seu superior, almirante. Mas, Sidney Smith alegava que ele era um diplomata sênior portanto ficava acima de um almirante! Outros diziam que ele não respeitava o comando central, colocando debaixo de suas ordens navios pertencentes a outras esquadras, ou que se auto-intitulava comodoro, sem ter sido assim nomeado! Escrevia diretamente para o almirantado em Londres, quando no Mediterrâneo encontravam-se superiores em dois níveis acima dele.

Mas, no relacionamento com as autoridades turcas era um sucesso! Vestido com as roupas típicas, turbante e longos bigodes, participava como membro eleito, do mais alto conselho do Sublime Porte, o Divan.

Enquanto isto, Napoleão após fácil vitória sobre os Mamelucos, ocupava o Egito. Não tardou para implementar seu plano original. Pôs em marcha, um exército composto de 10.000 homens de infantaria, 800 de cavalaria e outros tantos montados em dromedários, para o leste e depois para o norte. Conforme capturava as cidades – Gaza, Jaffa e El Arish, seus habitantes eram trucidados. A próxima cidade que se encontrava pelo caminho era Acre (hoje perto da fronteira entre Israel e Líbano). Esperavam tomá-la facilmente, como tinha acontecido com outras tantas cidades.

Foi aqui, nesta cidade-fortaleza de 15.000 almas, que Sidney Smith decidiu resistir. Comandando pessoalmente de dia e de noite, muitas vezes nas próprias muralhas da cidade, tropas turcas, mercenários albaneses, sírios, curdos, marinheiros e fuzileiros navais ingleses, conseguiu parar o avanço do exército francês.

Canhões, pólvora e balas foram desembarcados dos navios, para reforçar as defesas desta cidade construída no tempo das cruzadas. No mar, navios sob o seu comando, destruíam reforços e víveres para as tropas francesas, como também navios levando máquinas para romper os muros.

Foram 2 meses de cerco. Primeiro atiravam de longe, numa tentativa de criar uma brecha nas muralhas, para que a infantaria pudesse alcançar a cidade. Quando viram que esta estratégia não iria funcionar, fizeram uma tentativa mais direta – escavando ao lado e debaixo da muralha para poder ali colocar explosivos. Muitas vezes este procedimento ocasionou lutas corpo-a-corpo fora da muralha e quando conseguiram rompê-la, dentro da cidade na primeira linha de defesa. Napoleão observava tudo de longe e dava as suas ordens. No final, tendo perdido metade do exército em conflitos e por doença, desistiram e começaram a marcha de regresso. Foi o maior feito na carreira de Sidney Smith. Historiadores comparam esta vitória com a obtida por Nelson, em Trafalgar!

Para ser justo com Nelson, ele recebeu a notícia do resultado do cerco de Acre ao mesmo tempo em que recebeu a notícia das responsabilidades diplomáticas de Smith (mais uma falha na comunicação). Agora entendeu que Smith não estava menosprezando-o quando lhe escrevia. Nelson, como era seu caráter, foi extremamente generoso com seu elogio – ‘ … o imenso trabalho que você teve, na defesa de Acre … nunca fora superado e a bravura demonstrada por você e seus companheiros merece todo o elogio que o mundo civilizado poderá conferir … Fique assegurado, meu caro sir Sidney, da minha estima e admiração …’

O Sultão condecorou-o com o chelengk (um penacho coberto de brilhantes para ser usado no chapéu, tinha um motor à corda, para fazer os brilhantes rodarem). Também o nomeou Companheiro da Imperial Ordem do Quarto Crescente.

Os meses que se seguiram foram os mais confusos na carreira do Smith. Na tentativa, mal sucedita, de tomar Acre, Napoleão tinha perdido tantos homens que seu projeto de um Império Oriental teria que ser, temporariamente, arquivado. Apesar das advertências dadas por Smith para ficarem atentos, Napoleão a bordo da fragata “Murion” furou o cerco marítimo e alcançou a França.

Novamente Smith se viu num dilema. Nelson, seu comandante naval, tinha deixado claro que não haveria negociações e que nenhum soldado francês poderia ser devolvido à sua pátria. Como ministro, suas instruções, provenientes de Londres e reforçadas pelo Sultão, eram que os franceses tinham que ser retirados do Egito e do Levante, de qualquer maneira.

Depois de intensas atividades políticas lideradas por Smith, chegou-se a um acordo, entre a França e a Turquia – porém não assinado por Smith, de El Arish; seria permitido, ao exército francês, voltar à sua pátria.

Quando o governo britânico tomou conhecimento deste acordo, rejeitou-o. Mais tarde, visto como a única solução, tropas britânicas foram desembarcadas e, perto de Alexandria, o exército Inglês triunfou. Era, em terra, a primeira vitória britânica em toda a guerra. O tratado então acordado era muito semelhante ao de El Arish; portanto, se esse tivesse sido aceito, inúmeras vidas teriam sido salvas.

Smith finalmente partiu para a Inglaterra levando a notícia da vitória.

Se ele tivesse sido um almirante, a defesa de Acre teria, sem dúvida, merecido um marquesado e uma soma substancial em dinheiro; mas, como tinham ainda cem capitães na sua frente na lista para promoção para almirante, teve que se contentar com menos. O parlamento, em suas duas casas, formalmente reconheceu a grandeza da sua vitória e votaram uma anuidade de £1.000 (US$20.000 em valores de hoje). Smith e Nelson eram agora reconhecidos como dois heróis da guerra.

No ano seguinte fora convidado para ser o representante da cidade de Rochester, no Parlamento. Embora não sendo o seu cenário preferido, aproveitou a oportunidade para defender, com veemência, o orçamento da marinha.

Nesta época, Smith vivia num subúrbio de Londres, Blackheath, não muito distante da Princesa Caroline; esposa, porém separada, do Príncipe de Gales e futuro rei, Jorge IV. Em 1802, o relato de muitos que na casa dela trabalhavam e de outras pessoas que frequentavam a sua corte, parece confirmar que Smith tornou-se seu amante. No ano seguinte, uma criança nasceu, não necessáriamente dele; poderia ser filho de um dos muitos homens com quem ela mantinha amizade.

No próximo período de sua vida interessou-se por inventos e inventores. Primeiro foi um catamarã, em seguida um submarino desenvolvido pelo americano, Robert Fulton. Depois vieram torpedos e minas. Smith, sempre com aquele mesmo entusiasmo, tentava persuadir as autoridades para testar, desenvolver e usar esses inventos, porém sem grande sucesso. O tempo que um oficial necessitava para alcançar o posto de almirante e depois fazer parte do almirantado na prática, tornava a instituição altamente conservadora.

Finalmente, no final de 1805, enquanto esperava para unir-se com Nelson no Mediterrâneo para comandar uma das divisões do seu esquadrão, a notícia chegou da batalha de Trafalgar e da sua morte.

Dois dias depois, o seu nome chegou ao topo da lista de capitães e então foi nomeado contra-almirante de pavilhão azul.

Em 1806, partiu para assumir o comando da divisão junto à costa, do esquadrão do Mediterrâneo, sob o comando de Lorde Collinwood, com especial responsabilidade pela Sicília.

O rei Bourbon, Ferdinando IV, e a sua Rainha Maria Carolina (irmã da guilhotinada Marie Antoinette) encontravam-se seriamente ameaçados pelas tropas de Napoleão. O seu reino, das Duas Sicílias, consistia da área sul de Nápoles e da ilha de Sicília. A parte continental do seu reino tinha sido invadida e José, irmão de Napoleão, preparava-se para ser coroado rei de Nápoles. Tropas britânicas, auxiliadas por sicilianos e corsas, tentavam impedir a invasão da Ilha.

Novamente Smith teria que lidar com diplomatas e generais ingleses pois tinha sido nomeado, por Ferdinando, Vice-Rei da Calábria e comandante-chefe das forças armadas. Assim passaria a acumular responsabilidades políticas e militares, além das navais.

Smith não se tinha preocupado em obter permissão de seus superiores e do governo, antes de aceitar este comando!

Mesmo contrário à opinião dos generais Ingleses, mas com o encorajamento e apoio da rainha, Smith decidiu atacar o continente. Ele acreditava que esta seria a melhor maneira de defender a Sicília.

Começou atacando e depois tomando a ilha de Capri – ao lado da capital Nápoles. Depois, embarcando 5.000 soldados britânicos, da guarnição da ilha, e corsas irregulares, levou-os até a Calábria. Lá, os massi, como eram conhecidos os guerilheiros das montanhas da Calábria, esperavam para ajudá-los. O confronto com o exército francês resultou na segunda vitória das forças britânicas.

O embaixador britânico ficou enfurecido; não só não tinha sido informado antecipadamente da invasão, como o dinheiro, que ele tinha dado a Smith para comprar “inteligência”, tinha sido usado por Smith para armar os massi.

Em Londres choviam cartas e relatórios dos comandantes ingleses, reclamando da sua total independência e desrespeito à autoridade. O mesmo problema, as mesmas críticas que tinha sofrido anteriormente no Levante, onde o Sultão o tinha entregue o comando das forças turcas em terra e mar.

A Inglaterra finalmente cedeu às pressões e chamou-o de volta a Londres.

Neste meio tempo, Napoleão tinha capturado o leste do Mar Adriático e negociava com o Sublime Porte, permissão para atravessar a Turquia, Levante e Egito, novamente com a intenção de alcançar a Índia.

Smith recebeu contra-ordens: dirigir-se imediatamente para Constantinopla a fim de integrar o esquadrão sobre o comando de Sir John Duckworth. Era o único com conhecimento da área além de uma amizade com o Sultão, assim o certo teria sido dele ter comandado o esquadrão. Não obstante, tinha tantos inimigos nas forças armadas e na política que dificilmente aceitariam entregar-lhe o comando geral.

Enquanto a política dos irmãos Smith, oito anos antes, tinha sido de atrair o Sultão para o seu lado, com um tratado de amizade e cooperação, Duckworth partiu para agressão. Ameaçou destruir a marinha de guerra e bombardear a capital se o Sultão cedesse às pretensões de Napoleão.

A missão foi um fracasso total. Primeiro velejaram pelo Dardanelles, 38km de canais estreitos entre o mar de Egeu e o de Mármara. Depois entraram pelo mar de Mármara e subiram pelo seu lado oriental em vez de ocidental, resultando na impossibilidade, devido às correntezas fortes, de alcançar Constantinopla. Smith, na retaguarda do esquadrão, encontrava-se ainda no canal quando as primeiras embarcações entraram no mar de Mármara. Caso contrário teria avisado, pois conhecia bem aquela região. Após dois meses tiveram que abandonar a missão.

Smith, então, voltou para Inglaterra – era 1807.

A próxima etapa de sua vida conhecemos bem e não vou repetir. Novamente, a sua atuação na área política, com D. Carlota Joaquina, ignorando o embaixador Lorde Strangford, foi o motivo de ser destituído do seu posto.

Em equidade a Smith, a intenção dele era montar uma expedição para invadir a Argentina, pois havia receio de que a França pretendia estabelecer por lá uma base. Em 1806, uma operação semelhante tinha sido montada pelo chefe de divisão Sir Home Popham – um fracasso total.

De volta foi muito criticado por Canning, Primeiro Ministro, até tomar conhecimento de que Smith estava seguindo ordens secretas emitidas pelo ministério da guerra, em 5 de agosto de 1808.

Em 1810, foi promovido a vice-almirante e, neste mesmo ano casou-se, aos 46 anos, com a viúva Caroline Rumbolt, quatro anos mais velha.

Com o término das guerras napoleônicas e o avanço da idade, Smith tornou-se cada vez mais excêntrico. Fundou e tornou-se presidente da Sociedade de Cavaleiros Libertadores dos Escravos na África.

Tendo recebido, enquanto na ilha de Chipre, a cruz usada por Ricardo I, imaginou que tinha sido agraciado com o título de Grande Prior da Ordem dos Cavaleiros Templários da Grã-Bretanha. Aliás, uma ordem extinta em 1312.

Sempre generoso gastava muito além dos seus recursos e, apesar de ter recebido do governo somas que ele alegou ter gasto no passado do próprio bolso, e que eram por conta do governo, as suas dívidas aumentavam. Decidiu então mudar-se para Paris, longe do alcance dos seus credores e da inevitável prisão. Em 1826 sua esposa faleceu.

Finalmente, em 1838, a Rainha Vitória empossada no ano anterior, o condecorou com a Grã Cruz da Ordem do Banho. Dois anos depois teve um derrame e, aos 76 anos faleceu.

Gostaria agora, de mostrar algumas imagens:
Sidney Smith
Sidney Smith, enquanto prisioneiro em Paris.
Suas armas, depois de 1808 e antes de receber várias outras condecorações, inclusive da rainha Vitória, conforme mencionei;
Estátua em uma das entradas do Museu Marítimo em Greenwich;
E, finalmente, o seu túmulo em Paris descuidado a tal ponto que o relevo em mármore do rosto já foi roubado.

APOLOGIA A D. CARLOTA JOAQUINA

Eu não poderia encerrar este curto e modesto estudo sobre Sidney Smith sem refutar aquilo que, mesmo sem provas, é freqüentemente repetido por muitos historiadores, de que ele tenha sido mais um dos muitos amantes de D. Carlota Joaquina.

Em defesa dela, neste caso especificamente e em geral, gostaria de relatar que meu estudo de muitos anos sobre a época em que ela viveu, revela somente uma menção de infidelidade escrita por quem frequentou aquela corte, que foi William Beckford.

Ele, que aos 10 anos de idade tinha herdado uma das maiores fortunas da Inglaterra, em 1787, já com 28 anos, devido às suas atividades bissexuais e pederastas – especialmente suas cartas amorosas dirigidas à William, filho de Lorde Coutenay então com 13 anos de idade – foi forçado a deixar o país partindo em seguida para Portugal.

Apesar de não possuir um título de nobreza, foi apadrinhado pelos marqueses de Marialva, esperançosos de que ele viesse a se casar um dia com Henriqueta, a filha de 15 anos. Na verdade, ele ficou mais interessado foi em D. Pedro Vito, o filho de 17 anos. Nas anotações em seu diário, ficaram evidentes as relaçõs homosexuais que os dois mantiveram durante varios meses, até que a família resolveu interferir no relacionamto.

Quarenta e cinco anos depois ele escreveu que – na noite de 14 de junho de 1794, o filho do marquês foi seduzido por D. Carlota Joaquina. Mais tarde, fez especulações alegando que este poderia ser o pai de D. Miguel que se tornou rei de Portugal, apesar dele ter nascido em 1802 ou seja, oito anos depois!

D. Pedro Vito, 6º marquês em 1799, sempre foi homem da mais alta confiança de D. João. Foi ele que, em novembro de 1807, numa última tentativa de apaziguar Napoleão, foi enviado à França com uma quantidade grande de diamantes e instruções para negociar o casamento do filho D. Pedro com a sobrinha do imperador francês. Mais tarde, em 1814, como embaixador extraordinário em Viena na Áustria, negociou o casamento da Arquiduquesa D. Leopoldina com D. Pedro – gastando da sua enorme fortuna para representar o seu soberano e país, com um grau de magnificência nunca antes visto naquela corte, conforme nos relata Octávio Tarquino. Em 1823 faleceu em Paris talvez, sem surpresa, ainda solteiro. Teria D. João entregue a ele tão importantes missões se houvesse qualquer suspeita?

Mencionaremos ainda, como Marcus Cheke, um dos principais biógrafos de D. Carlota Joaquina, a descreveu. “Era ela, talvez, uma das personagens reais mais feias que até hoje existiu. Sua estatura ia pouco além de um metro e quarenta e seis, seus olhos eram congestionados e malévolos. Nariz aquilino, queixo de quebra-nozes e lábios arroxeados que se abriam para pôr à mostra dentes enormes, desiguais como a flauta de Pã; e ainda era manca de um acidente de cavalo”. Seria esta a mulher que a nossa mídia tanto ostenta como sedutora e ninfomaníaca?

Quanto a essas asserções (de infidelidade), Cheke informa que foram, sem dúvida, inventadas posteriormente, por terem sido oriundas de inimizades políticas. E nem pode um historiador sério, assegura ele, consubstanciá-las por meio de provas concretas.

Eram essas as informações que eu queria dividir com os senhores – muito obrigado.

BIBLIOGRAFIA

BARROW, John. The Life and Correspondence of Admiral Sir William Sidney Smith G.C.B., London, Richard Bentley, 1848. 2 v.
BECKFORD, William. A Côrte da Rainha D. Maria I, Lisboa, Tavares Cardoso & Irmão, 1901.
BECKFORD, William. Recollections of an Excursion to Alcobaça and Batalha, Paris, Societe des Editions ‘Les belles Lettres’, 1956.
BECKFORD, William. The Journal of William Beckford in Portugal and Spain 1787-1788, London, Edited by Alexander Boyd, 1954.
CHEKE Marcus. Carlota Joaquina (A Rainha Intrigante), Trad. Gulmara Lobato de Morrais Pereira, São Paulo, J. Olympio, 1949.
MOWL, Timothy. William Beckford, Composing for Mozart. London, John Murray (Publishers), 1998.
POCOCK Tom. A Thirst for Glory – The Life of Admiral Sir Sidney Smith. London, Aurum Press, 1996.
RUSSEL, Edward Frederick Langley. Knight of the Sword (Sir W. S. Smith), London, Victor Gollancz, 1964.
SMITH, Sir William Sidney. The letters os Sir W. W. Smith – The Navy and South America 1807-1823. Navy Records Society, 1962.
SOUSA, Octávio Tarquíno de. A Vida de D. Pedro I, Rio de Janeiro, J. Olympio, 1952. 3 v.