BRASILEIROS ILUSTRES EM PETRÓPOLIS
Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette
WASHINGTON LUÍS
Washington Luís Pereira de Souza nasceu em Macaé, na então Província do Rio de Janeiro, a 26 de outubro de 1869, sendo filho do Tenente Coronel Joaquim Luís Pereira de Souza e D. Florinda Sá Pinto Pereira de Souza.
Iniciou seus estudos em sua terra natal, sob a orientação da professora Rosa Ferrão e, em 1884, inscreveu-se no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, matriculando-se posteriormente no Colégio Augusto. Em 1888, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, bacharelando-se em 1891.
No ano seguinte foi nomeado promotor público da Comarca de Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro, de onde se transferiu para Batatais, em São Paulo, onde se estabeleceu com escritório de advocacia. Dedicou-se ao jornalismo como colaborador dos jornais “A Penna” e “A Lei” e iniciou uma vitoriosa carreira política como vereador, presidente da Câmara Municipal, por dois mandatos.
Em 04 de março de 1900, casou-se com Sofia Paes de Barros, filha dos barões de Piracicaba, que seria sua leal companheira até a sua morte, ocorrida em 28 de junho de 1934, na Suíça e com a qual teve quatro filhos.
Após seu casamento, mudou-se para a capital onde foi eleito deputado estadual (1904-1906), destacando-se, na oportunidade, por sua atuação como integrante da comissão permanente de instrução pública. Posteriormente foi nomeado Secretário de Justiça do Estado, cargo no qual permaneceu até 1912 e que exerceu com a maior eficácia, “criando a instituição da polícia de carreira, pondo fim à autoridade leiga e instituindo a obrigatoriedade do diploma de advogado para os delegados de polícia” (1).
(1) KOIFMAN, Fábio (Organizador). Presidentes do Brasil. Departamento de Pesquisa da Universidade Estácio de Sá. São Paulo, Cultura, 2002, p. 266.
Eleito deputado, interrompeu seu mandato para tornar-se prefeito de São Paulo, em 30 de outubro de 1913, eleito que fora pelo colégio eleitoral. Em 1917 reelegeu-se prefeito, dessa vez pelo voto direto, revelando-se um administrador esclarecido e progressista, “solucionando os problemas de abastecimento, com o acerto para a instalação das feiras livres, e a construção de casas proletárias em terrenos municipais”. (2).
(2) KOIFMAN, Fábio (Organizador). Presidentes do Brasil. Departamento de Pesquisa da Universidade Estácio de Sá. São Paulo, Cultura, 2002, p. 267.
Em 1º de março de 1920, foi eleito presidente do Estado de São Paulo, procurando defender a lavoura cafeeira, mediante o fortalecimento da mão-de-obra, crédito, transportes e ampliação do mercado consumidor e procurando expandir o sistema rodoviário do Estado “com a abertura de 823 quilômetros de rodovias” (3).
(3) O Estado de São Paulo, 26 de outubro de 1969.
Interessado na pesquisa histórica, legou-nos uma série de estudos históricos, entre os quais destacamos: “Brevíssima e sumária relação da vida de Martim Afonso de Souza”, “Testamento de João Ramalho” e ainda fez publicar, quando prefeito, as Atas e o Registro Geral da Câmara Municipal de São Paulo em 1914 e, quando presidente do Estado, em 1926, os Inventários e Testamentos. Todos estes estudos constituem, sem dúvida, um valioso subsídio para o conhecimento histórico de São Paulo. A respeito desses estudos, declarou modestamente “que seu trabalho não era obra de historiador, mas auxílio para o trabalho do futuro historiador” (4).
(4) SOUZA, Caio Luís Pereira de. Discurso de Agradecimento. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 286, janeiro/março de 1970, p. 62.
O valor de seus trabalhos históricos foi responsável por sua indicação para sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico e Brasileiro (04 de maio de 1912) e Presidente de Honra (18 de julho de 1927).
Em 1924, chegou ao Senado Federal e daí ascendeu à Presidência da República que exerceu de 15 de novembro de 1926 a 24 de outubro de 1930, quando foi deposto.
Indicado para a Presidência da República, Washington Luís não teve concorrentes, seu nome foi aceito por unanimidade, obtendo na eleição direta 688.528 votos e sendo empossado a 15 de novembro de 1925.
Do programa de governo do novo presidente ressaltavam, segundo nos informa Bello, dois pontos capitais: “as construções rodoviárias, tão indigentes no Brasil, mesmo quando já intensificado o uso de motores de explosão, e a reforma financeira” (5).
(5) BELLO, José Maria. História da República. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1959, p. 307.
Empolgado com a era do automóvel que então despontava, Washington Luís lançou o lema: governar é abrir estradas, conseguindo, durante seu quadriênio inaugurar, quase simultaneamente as estradas “Rio-Petrópolis” e “Rio-São Paulo”, apesar da intensa campanha de oposição pela imprensa, que não conseguia entender o alcance econômico e social dessas estradas.
Todavia, a principal meta de seu governo viria a ser a reforma financeira, visando ao saneamento da moeda, pela estabilização do câmbio.
Para sustentar seu plano financeiro, o presidente criou um instrumento regularizador a que chamou Caixa de Estabilização, cuja direção foi entregue ao Dr. Francisco Soares Brandão.
Segundo nos informa Reichardt, “a base monetária da estabilização começou com um encaixe ouro de dez milhões de libras esterlinas, às quais, futuramente, seriam acrescidos os saldos que o governo apurasse nas transações financeiras. A finalidade do encaixe era tornar conversível em ouro a moeda futura” (6).
(6) REICHARDT, H. Canabarro. Washington Luís e o Plano Financeiro do Governo. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 286, janeiro/março de 1970, p. 53.
Comentando os efeitos da reforma financeira do novo presidente, Bello afirmou “que foram salutares seus efeitos, já que houve ordem nas finanças públicas; manteve-se o equilíbrio orçamentário e, com a paz interna e os altos preços do café, a Nação pareceu desafogar-se e firmar-se num surto de progresso” (7).
(7) BELLO, José Maria. História da República. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1959, p. 310.
Foram ainda fatos importantes do governo de Washington Luís o plano de reforma urbanística da cidade do Rio de Janeiro, desenvolvido pelo então prefeito Antônio Pedro Júnior, a quem a cidade ficou devendo a construção da Escola Normal, atual Instituto de Educação e a criação do Museu de Rui Barbosa, atualmente Fundação Casa de Rui Barbosa.
Neste sentido cumpre ressaltar que, embora a casa, a biblioteca, o arquivo e os direitos autorais do notável brasileiro tivessem sido adquiridos por um decreto legislativo em 1924, “o edifício foi abandonado e deteriorou-se. Os livros raros foram levados para a Biblioteca Nacional. O parque foi mutilado…” (8).
(8) LACOMBE, Américo Jacobina. Washington Luís e a Casa de Rui Barbosa. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 286, janeiro/março de 1970, p. 58.
Por ordem direta do presidente, a casa foi recuperada, os jardins reconstituídos, o mobiliário adquirido, de forma que a mesma pode ser inaugurada a 13 de agosto de 1930.
Em 1929, o crack da Bolsa de Nova Iorque, refletiu-se no Brasil com a chamada crise do café, não por falta ou abundância na produção, mas por falta de compradores no exterior. O Banco de São Paulo, com dificuldades, não tinha como comprar o excedente da produção, o que levou os produtores a solicitarem a ajuda do governo, entretanto, “o presidente Washington Luís, sempre prevenido contra especulações altistas, recusou o auxílio financeiro que lhe era solicitado” , fato que descontentou os produtores paulistas, mineiros e fluminenses, deteriorando suas relações com o governo federal.
No mesmo ano agitou-se o problema sucessório. A preferência do presidente pela candidatura do paulista Júlio Prestes de Albuquerque para sucedê-lo, desencadeou uma reação em vários estados, surgindo, em conseqüência uma coligação das forças políticas contrárias a esta indicação, da qual resultou a chamada Aliança Liberal que lançou as candidaturas de Getúlio Vargas e João Pessoa, à presidência e vice-presidência da República, respectivamente.
Nas eleições realizadas a 1º de março de 1930, a chapa oficial, constituída por Júlio Prestes e Vital Soares saiu vitoriosa e a oposição inconformada, atribuiu à fraude e à coação a vitória do governo, agravando a situação com o assassinato de João Pessoa no Recife.
Após a morte de João Pessoa, a revolução que já vinha sendo tramada, eclodiu a 03 de outubro de 1930, em conseqüência da rebelião das guarnições militares do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba. A 23 de outubro, numa reunião de altas patentes, resolveu-se constituir um triunvirato militar para depor o presidente Washington Luís, pacificando a Nação, o qual ficou constituído pelos Generais Tasso Fragoso, Mena Barreto e o Almirante Isaías de Noronha.
O presidente foi desaconselhado a resistir, já que a resistência só poderia causar o sacrifício de um grande número de vidas, mas mesmo assim relutou em concordar com a renúncia que lhe foi proposta, o que só foi conseguido com a mediação do Cardeal D. Sebastião Leme que o acompanhou num carro, sob escolta militar, ao Forte de Copacabana, de onde, mais tarde, o ex-Presidente sairia para o exílio, onde manteve uma conduta austera e digna, só retornando ao país em 1947.
Washington Luís passou no Palácio Rio Negro, em Petrópolis, todos os verões de sua presidência, aqui conquistando a estima e admiração dos petropolitanos, por seu caráter, elevação moral, dignidade e exemplo de austeridade.
Ao construir a rodovia Rio-Petrópolis, que hoje leva seu nome, considerada a seu tempo uma das melhores da América do Sul, impulsionou consideravelmente o progresso de nossa cidade.
A construção da referida estrada aproveitou um trecho da estrada do Automóvel Clube, e também um trecho onde esteve uma antiga linha da Estrada de Ferro Leopoldina, para aproveitar o terreno já consolidado.
A construção foi iniciada simultaneamente em quatro frentes e teve que enfrentar sérios problemas: o terreno lodoso da baixada e a malária que fez inúmeras vítimas entre os trabalhadores.
O trecho da “serra” apresenta um traçado considerado arrojado, com viadutos de concreto armado, pavimentação também de concreto, muros de arrimo e fundações de estacas de grande profundidade, tendo sido construída pelo engenheiro João de Mattos Travassos Filho.
Por ocasião de sua inauguração, a 25 de agosto de 1928, pelo próprio presidente Washington Luís, o então prefeito municipal Dr. Paula Buarque, declarou feriado municipal e proferiu belíssima saudação ao presidente e fez a entrega ao mesmo do título de Cidadão Petropolitano, o primeiro a ser concedido a um brasileiro.
Na ocasião, foi inaugurado o marco comemorativo da inauguração da estrada, de autoria do Dr. Glasl Veiga e do Professor Leopoldo Campos, localizado na confluência das ruas Coronel Veiga e Washington Luís.
Os festejos prolongaram-se por todo o dia, com apresentações das Bandas de Música Euterpe, Lyra de Apolo e 1º de Setembro, desfiles escolares, queima de fogos e um banquete realizado no Tênis Clube.