PRESERVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Aurea Maria de Freitas Carvalho, ex-Associada Titular, Cadeira n.º 4 – Patrono Arthur Alves Barbosa, falecida
Há pessoas que confundem desenvolvimento com modernidade. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. É muito bom podermos contar com o desenvolvimento de uma cidade; vê-la bem desenvolvida no que diz respeito, por exemplo, quanto aos métodos de saneamento, quanto aos serviços prestados pelos órgãos municipais eficientes e acessíveis a todos os cidadãos, quanto à economia tanto pública quanto à privada, permitindo aos cidadãos desenvolver trabalhos que facilitem o sustento das famílias sem o prejuízo de ninguém nem de nada que signifique entrave na qualidade de vida ou prejuízo futuro a fontes de riqueza para a cidade como um todo.
Para conseguir esses intentos é preciso um mínimo de visão do futuro, de planejamento inteligente e isso nada tem a ver com modernidade que compreende apenas o aspecto exterior da cidade que pode apresentar um aspecto “moderníssimo” sem o verdadeiro desenvolvimento, ser apenas uma cidade “maquiada”.
Petrópolis, queiramos ou não, é uma cidade pequena, do interior, e não vai aqui nenhuma ofensa nem intenção de desdouro, pelo contrário.
Petrópolis teve a sorte de já nascer diferenciada: uma fazenda que servia de ligação com o interior do país e era percorrida por mineiros e desbravadores que iam em busca das “minas gerais” de ouro, diamantes e outras riquezas, o que ocasionou a abertura de caminhos e mais tarde de boas estradas a começar pela Estrada das Lajes Soltas mandada construir por D. João VI, em 1809.
Sua proximidade com a próspera fazenda do Padre Correia também contribuiu para selar o seu destino pois, cativado pelo clima saudável e ameno desta, D. Pedro I decidiu adquirir uma propriedade nos arredores, vindo a comprar a Fazenda do Córrego Seco, em 1830, para no local mandar construir um palácio onde a família pudesse refugiar-se do calor e das ocasionais epidemias que ocasionalmente assolavam o Rio de Janeiro de então. Infelizmente sua abdicação, no ano seguinte, adiou esse projeto por muitos anos, apenas sendo concretizado por seu filho D. Pedro II.
Em 1843, seguindo sugestões do engenheiro Júlio Frederico Koeler e do mordomo da Casa Imperial, Paulo Barbosa da Silva, D. Pedro II assinou o decreto que dava a Petrópolis a dupla função de local de “séjour” para a família imperial e colônia.
E, são as informações e remanescentes desse duplo destino que encontramos nos Arquivos, Bibliotecas e Arquitetura do chamado “centro histórico” e também de muitos bairros, ou melhor dizendo, quarteirões.
Petrópolis teve desenvolvimento importante, motivado não apenas pela presença da Corte durante quase seis meses do ano mas também pela operosidade dos alemães e outras raças que vieram depois, atraídas pelas oportunidades de trabalho como também pela excelência do clima. Foi assim que Petrópolis teve um período de forte industrialização, mais ou menos entre meados do século XIX e meados do XX do qual ainda possuímos preciosos remanescentes; ainda temos também locais que nos trazem à memória a sua antiga característica de cidade operosa, sem deixar de ser romântica como é o caso do parque do Crémerie que, além de abrigar conhecida e afamada fábrica de queijos brancos, era ainda local de românticos passeios a pé por entre árvores frondosas ou em barquinhos a remo de casais de namorados ou em “lua de mel”; era ainda aprazível local para disputa do jogo de bocha nos dias e horas de lazer, exercício de montar e andar a cavalo para crianças pequenas, acompanhadas de seus pais. Infelizmente hoje a área do parque encontra-se bem reduzida.
Outros locais de passeio infelizmente não podem ser visitados, como as cascatas que já não existem por vários motivos como as cascatas do Itamarati, Cascatinha, o Alto Independência com a excelente vista da Baía do Rio de Janeiro, o Poço dos Ferreiras etc. por terem sido cercados e fechados por propriedades particulares.
Apesar desses casos em que vê-se claramente o descaso das autoridades em preservar os bens públicos e daqueles órgãos a quem compete zelar pelo patrimônio histórico, artístico, paisagístico e cultural da nação e do estado, ainda há muita coisa para lembrar os áureos tempos e atrair o turismo histórico e ecológico e é isso que queremos preservar pois destruí-lo demonstraria ignorância e falta de inteligência pois impediria uma importante fonte de renda que é o turismo.