A ORIGINAL CONTRIBUIÇÃO DE PAULO PARDAL A HISTÓRIA DO ENSINO NO EXÉRCITO
Cláudio Moreira Bento, Associado Correspondente
Em 1939 o General José Pessoa, que em 1931 havia mandado copiar em escala a Espada do Duque de Caxias que se encontrava no IHGB desde 1925 para criar o Espadim de Caxias dos Cadetes do Exército, declarou ao escrever na Revista da Escola Militar sobre este símbolo que desde 15 de dezembro de 1932 tem sido usado por todas as gerações de Cadetes, e que o estudamos na RIGHB jan/mar 1980.
“Vou registrar a História do Espadim de Caxias dos cadetes para não acontecer como com a Academia Real Militar que hoje apenas se sabe que existiu”.
Mas graças a descoberta de documentos sobre a Academia Real Militar de 1810 nos arquivos da Escola de Engenharia no Largo do São Francisco, pelo saudoso consócio General Francisco de Paulo Azevedo Pondé, foi possível se conhecer mais sobre a História da Academia Real, conforme ele publicou sobre o assunto nos Anais do Sesquicentenário da Independência, aqui do IHGB.
E foi com a interferência e informações do Professor Paulo Pardal que conhecemos que os arquivos da Academia Real se encontravam no Museu da Escola de Engenharia.
E recorrendo aos bons ofícios do Professor Paulo Pardal, conseguimos por empréstimo para o Arquivo Histórico do Exército, que dirigíamos, os citados documentos que ali foram indexados e microfilmados e conhecidos os nomes e aproveitamento de seus alunos.
Mas não ficou por ai a excelente contribuição do professor Paulo Pardal. Ele foi além. Mostrou que antes da Academia Real Militar existiu, de 1792-1809 na Casa do Trem, a Real Academia de Artilharia Fortificação e Desenho, destinada a formar oficias de Infantaria, de Cavalaria, de Artilharia e Engenheiros, militares e civis, o que consagraria o Conde de Resende como o fundador do ensino militar acadêmico nas Américas (West Point só foi fundado em 1801, 9 anos mais tarde ) e do ensino superior civil no Brasil.
Isto o professor Pardal revelou em seu livro Brasil 1792. Inicio de Ensino da Engenharia Civil … Rio de Janeiro: Odebrecht, 1985.
Obra que revolucionou o que se tinha como certo sobre o inicio da formação acadêmica de oficiais do Exército no Brasil.
E ficou para nós que a citada Real Academia destinada à formação de oficiais do Exército da Colônia foi promovida a Academia Real, por D. João, e agora destinada a formar oficiais do Exército do Reino de Portugal e nela introduzido o estudo de História Militar. Este foi o grande serviço prestado por Paulo Pardal à historiografia militar terrestre do Brasil.
E seu ponto de vista adotamos no álbum Escolas de Formação de Oficiais das Forças Armadas do Brasil editado em 1987, com o apoio cultural da Fundação Habitacional do Exército. Obra lançada solenemente no Clube do Exército, em Brasília, e apresentada com entusiasmo pelo Ministro do Exército General de Exercito Leônidas Pires Gonçalves.
Para nós, historicamente, o aniversário da Academia Militar das Agulhas Negras seria o dia 17 de dezembro, dia em que a Real Academia foi fundada em 1792, no aniversário da rainha D. Maria I.
Mas oficialmente, por Decreto do Presidente Getúlio Vargas foi considerado como data aniversária da Academia Militar das Agulhas Negras o dia 23 abril, data da instalação da Academia Real na Casa do Trem.
Tentamos através do confrade General Jonas Morais Correia Neto, então presidente do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, que o Exército considerasse a fundação da AMAN em 17 de dezembro de 1792, o que a tornaria a mais antiga academia militar das Américas e do Brasil.
Mas não tivemos sucesso como teve a Marinha em considerar a criação de sua Escola Naval em Portugal e não no Brasil.
A Paulo Pardal se deve outra grande contribuição a História Militar Terrestre do Brasil, a reedição fac similar em 1987, com suas notas biográficas e análise crítica do histórico livro Exame de Artilheiros do Cel. José Fernandes Pinto Alpoyn. Reedição prefáciada por Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha.
Exame de Artilheiros considerado o primeiro livro escrito no Brasil em 1744, há 260 anos, e destinado a auxiliar o preparo de artilheiros para a defesa do Brasil Colônia.
A minha aproximação com o Professor Paulo Pardal teve um cunho sentimental ao conhecer que dirigia a Casa Casemiro de Abreu em Barra do São João e sobre o qual ele havia pesquisado e escrito trabalhos e inclusive roteiro de dois filmes documentários.
Poeta muito apreciado por meu saudoso pai que desde menino o escutava declamar saudoso a célebre de Casemiro com este trecho :
“Oh que saudades eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais”
Trecho este que a família fez inscrever como epitáfio no túmulo de meu pai.
Do confrade Paulo Pardal lembro que nesta sala ele apresentou uma experiência com uma múmia vegetal – a Rosa de Gericó, se bem me lembro, a qual ao entrar em contato com a água se ergueu como se ressuscitasse, causando surpresa entre os confrades.
A última vez que o assistimos nesta CEPHAS foi ele tratar de telhas fabricadas sobre as pernas de escravos, até que explicássemos, conforme telhas que havia recolhido nas ruínas da Antiga Feitoria do Linhocânhamo do Rincão do Canguçu, em Canguçu Velho atual, no município de Canguçu, que elas eram feitas sobre as pernas dos escravos, que sustentavam formas, sobre as quais elas eram moldadas com as mãos. E o debate pareceu encerrado!
Para fazer justiça à expressiva contribuição do saudoso confrade, em realidade Paulo José Pardal, à História Militar Terrestre do Brasil e em especial ao ensino no Exército, é que aqui comparecemos para prestar este testemunho reverencial.
Lamentavelmente ele nos deixou antes de ingressar como sócio da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, como era projeto da mesma convidá-lo como seu sócio acadêmico. Lamentavelmente nos deixou antes deste momento.