PARABÉNS SESC-RIO E SANTA CECÍLIA …
Raul Lopes
É extremamente gratificante para a cultura de Petrópolis a nova diretoria da Escola de Música Santa Cecília ter sentado à mesa para acertar um convênio com o SESC/Rio, sobre o teatro.
O mesmo foi feito, há tempos, com o Teatro Ginástico do Rio colocando-o como um dos melhores da cidade.
Na realização da primeira fase desse convênio, com as reformas que foram feitas no Teatro Santa Cecília, para abrigar o Festival de Inverno, Petrópolis ganhou “novo teatro” de alto gabarito…
Jamais a Escola teria condições financeiras de chegar a tanto.
Em 1976 houve uma tentativa de se chegar lá, embora só uma parte, a principal, tenha se conseguido.
Com intuito de enriquecer a história da Escola e complementando o folheto fartamente distribuído sob o título “De volta à cena”, registrarei aqui, para futuras pesquisas, o que aconteceu em 1976/1977.
Após o término do contrato dos 20 anos do Cine Art-Palácio nesse ano, a Escola ficou com um “elefante branco” em seu patrimônio. Lutando sempre com limitações financeiras, como voltar o teatro a ser Teatro?
Tentarei, resumidamente, narrar como foi possível chegar lá.
Na época, era presidente da Escola o professor Joaquim Eloy Duarte dos Santos que me solicitou uma sugestão. A primeira pergunta foi: quanto a Escola poderia disponibilizar para se apresentar uma sugestão? A resposta foi que havia duas Letras de Câmbio no valor de 130 mil cruzados, que poderiam ser transformadas em moeda corrente.
Contatamos, primeiro, a Funterj (Fundação de Teatro do Rio de Janeiro) que, na época, era presidida pelo senhor Geraldo Matheus Torloni. Solicitamos se era possível a Funterj ajudar na recuperação do teatro em troca de participação no projeto de interiorização da cultura teatral no Estado.
Sofremos pressão para o escritório de Fernando Pamplona fazer o projeto. Aceitamos, em princípio, desde que nos fosse dado o orçamento para o projeto e os seus detalhes propostos.
Ao recebermos o orçamento, ficamos lívidos e desanimados, pois o seu valor atingiu a cifra de 80 mil cruzados, só o orçamento para o projeto!…
Propus ao presidente que, se tivesse confiança, eu faria o projeto para o levantamento do palco, o que foi aceito. Aprovado este, partimos para a realização: compramos 300 metros de veludo; mandamos confeccionar a parte de ferragens e, com a ajuda de amigos, partimos para a montagem.
Com o devido respeito e agradecimento somos obrigados a dar nomes aos amigos. Toda a confecção do cortinado e afins foi graciosamente executada pelo saudoso Rogério Grazinoli, em sua confecção no Morin; as ferragens, o saudoso serralheiro Arlindo só cobrou o custo do material e mão-de-obra; o acerto do piso do palco e o material elétrico foi-nos doado pelo também saudoso Alexandre Fiani.
Com tudo nas mãos partimos para a montagem final, dentro 100 por cento do projeto. Com o saldo que ainda restou adquirimos 18 spots e agregamos mais 17 emprestados, sem prazo, para completar o total de 35 fontes de luz.
Montamos uma “barra americana” com 17 spots. Diretorias subseqüentes a retiraram numa demonstração de desconhecimento total da técnica de iluminação teatral. (Estão até hoje usando o beiral do balcão como iluminação frontal, iluminação esta totalmente fora do ângulo ideal de incidência sobre o palco…)
Estava realizado o sonho, embora não se tivesse verba para complementações na platéia, camarins e afins.
Convidamos a diretoria da Funterj para aprovar o projeto montado. Além do presidente vieram: Rogério Fróes e alguns técnicos do Teatro Municipal.
Alegramo-nos com a surpresa que tiveram, além de desejarem usar as soluções que aplicamos para outros teatros do interior do Estado.
Por curiosidade perguntamos aos ilustres visitantes qual a avaliação que faziam do custo do que viam. Para nossa surpresa, também, a avaliação foi de que não menos de 600 mil cruzados… Ficamos felizes e até orgulhosos por termos conseguido empregar apenas 130 mil cruzados.
A cidade teve, finalmente, o seu teatro de volta. Várias peças lá foram apresentadas, além de, em 1978, ser a sede de espetáculos do VII Festival Internacional de Teatro de Bonecos (12 a 21 de março), realizado em Petrópolis.
Foi pena que diretorias posteriores deixaram que, aos poucos, esse patrimônio conquistado com tanto esforço fosse sendo descuidado. Mexiam no que não entendiam, alterando para pior o projeto original…
Por isto, repito mais uma vez: parabéns ao SESC/Rio e à atual diretoria da Escola de Música Santa Cecília terem acertado um convênio que já deu a Petrópolis, nesta primeira fase, o caminho para o melhor teatro da cidade.
Que, na segunda fase, o avanço de qualidade conquiste definitivamente esse título, e que os contrários, sejam mais atualizados e menos críticos descabidos.
Consta que haverá uma segunda etapa, complementando o que já foi feito. Se trocarem as poltronas, seria um bom momento de rever a inclinação da platéia, aumentando-a, mesmo que sejam necessários dois ou três degraus na entrada dos corredores. Resolveria a deficiência de visão dos espectadores. Outro assunto que poderiam melhorar é o tratamento acústico das portas que dão para a rua, pois a colocação do cortinado não foi suficiente para zerar o ruído de fora.
Petrópolis, com os acertos finais, ganhará (em parte já ganhou) uma casa de espetáculos de primeira linha!
Parabéns à todos!