O LICEU DE ARTES E OFÍCIOS DE PETRÓPOLIS

Jeronymo Ferreira Alves Netto

Logo após a implantação do regime republicano, evidenciou-se uma atitude governamental voltada para a educação profissional, com a valorização dos Liceus de Artes e Ofícios e a criação de outros estabelecimentos do gênero.

Assim, o governo Nilo Peçanha, através do Decreto nº 7.056, de 23 de setembro de 1909, criou escolas de aprendizes em todas as capitais dos Estados, embora “atendendo esta modalidade de ensino a uma crescente mas, mesmo assim, diminuta clientela” (1).

(1) RIBEIRO, Maria Luiza Santos. Introdução à história da educação brasileira. São Paulo, Cortez e Moraes, 1978.

Dentro deste contexto, Petrópolis logo se mostrou favorável à idéia de desenvolver o ensino profissional, antecipando-se a outras cidades, criando em 15 de novembro de 1890, por iniciativa do engenheiro Bernardino Lopes Ribeiro, seu Liceu de Artes e Ofícios.

Funcionando inicialmente no prédio que mais tarde seria substituído pelo edifício do Forum, tal estabelecimento de ensino tinha como finalidade “proporcionar a todos os indivíduos, nacionais e estrangeiros, o estudo das belas artes, não só como especialidade, mas também como aplicação necessária aos ofícios e indústrias, explicando-se os princípios científicos em que elas se baseiam” (2).

(2) Estatutos do Liceu de Artes e Ofícios. Petrópolis, Tipografia do Mercantil, 1891.

Seu currículo era extraordináriamente diversificado e rico, pois previa um Curso Preparatório que correspondia ao então denominado ensino primário, para os alunos que não o tivessem recebido anteriormente, um Curso de Ciências Aplicadas (Aritmética Superior, Álgebra e Trigonometria, Física, Química, Mecânica Aplicada e Noções de Direito), e um Curso de Artes e Oficíos (Desenho, Máquinas, Arte, Cerâmica, Escultura, Estatuária, Gravura, Pintura e Música).

Desde cedo, apesar dos esforços de seus dirigentes, o Liceu começou a enfrentar sérias dificuldades, sobretudo financeiras, que se agravaram quando as subvenções que lhe concediam os governos estadual e municipal foram suprimidas, pois as contribuições dos sócios não eram suficientes para custear as despesas.

Segundo nos informa a Tribuna de Petrópolis, de 15 de novembro de 1904, “as dificuldades financeiras enfrentadas foram de tal ordem que as aulas estiveram suspensas por um período de dois anos” (3).

(3) TRIBUNA DE PETRÓPOLIS. Petrópolis, 15 de novembro de 1904.

Todavia, em 1918, inaugurou-se uma nova fase na história do estabelecimento, quando a convite do sr. Bertho Antonio Condé, se reuniram a 14 de abril, na sede da Sociedade Beneficente de Petrópolis, várias personalidades, para tratarem do seu reerguimento.

Dias depois, o prefeito municipal, Dr. Oscar Weinschenck, em sua mensagem à Câmara, solicitou aos poderes públicos e ao povo em geral que se interessassem por aquela importante associação. Na oportunidade, ofereceu ele próprio um donativo de 200$000 (duzentos mil réis).

Seu exemplo foi logo seguido por outros benfeitores e o problema do local do funcionamento das aulas foi resolvido, quando a Diretoria da Liga de Comércio, que funcionava à então denominada Avenida 15 de Novembro, nº 507, atual Rua do Imperador, cedeu provisoriamente seus salões.

Após um perído de intensas atividades, dificuldades de toda ordem voltaram a se abater sobre o Liceu. As verbas eram insuficientes para a manutenção dos cursos e havia ainda o problema das instalações para o funcionamento dos mesmos.

Em conseqüência, o citado estabelecimento de ensino atravessou nova fase crítica, só voltando a se reerguer em 1931, quando um grupo de petropolitanos constituído por Levino Fanzeres, Frederico Villar, A.G. Novaes, Lothar Kastrup, Álvaro de Moraes, César Borralho, Almeida Azevedo e outros, enviaram um memorial ao prefeito municipal, expondo os fins a que aquele estabelecimento se destinava e solicitando a cessão do Palácio de Cristal para instalar provisoriamente o mesmo.

Em 23 de março do mesmo ano, o prefeito muncipal Dr. Yeddo Fiúza foi eleito presidente de honra do Liceu e, na oportunidade, “foi organizada uma comissão para redigir os estatutos, constituída pela professora Alicette de Beltram, João Antonio Novaes e Levino Fanzeres” (4).

(4) TRIBUNA DE PETRÓPOLIS. Petrópolis, 22 de julho de 1932.

Em seguida, foi eleita a nova Diretoria, tendo como presidente o almirante Frederico Villar e como diretor o sr. Levino Fanzeres; o número de sócios elevou-se a quinhentos, o Serrano cedeu um barracão para a instalação da oficina de Mecânica e o Curso Comercial foi inaugurado em 23 de maio daquele ano.

Sempre criando novos cursos e desenvolvendo uma série de atividades extraclasse, algumas de grande repercussão nos meios educacionais, o Liceu de Artes e Ofícios, graças a um grupo de pessoas que nada mais almejava que legar a Petrópolis uma obra de rara utilidade, não só proporcionou à nossa juventude uma qualificação profissional, mas também a elevação de seu nível cultural e social.

Em 1953, o então Prefeito Municipal Cordolino Ambrósio, enviou à Câmara um projeto que transformava o Liceu de Artes e Ofícios em Escola Comercial do Município de Petrópolis, encerrando assim uma iniciativa pioneira no setor do ensino profissional em nossa cidade.