CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DO IPHAN
Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia
Senhor Presidente Como discípula e amiga do Prof. Alcides Rocha Miranda, fundador do Núcleo do IPHAN – Brasília e um dos fundadores da Faculdade de Arquitetura de São Paulo e da Universidade de Arquitetura de Brasília, – que infelizmente já não se encontra mais entre nós – tomo a liberdade de escrever-lhe essas considerações. O Prof. Alcides acompanhou de perto o meu trabalho de preservação em Petrópolis antes, durante e depois de eu ser presidente do Instituto Histórico. E uma frase sua impulsiona-me até hoje, (mesmo aos 80 anos) a lutar por essa cidade “sui generis” no que diz respeito à arquitetura do século XIX e da própria Revolução Industrial. De uma feita, disse-me ele: “Ruth, você está vendo Petrópolis de uma forma que nenhum de nós tinha visto antes. Não pare, siga sua pesquisa”. Senhor Presidente, depois de 30 anos estudando a arquitetura de Petrópolis, digo-lhe com toda a convicção a que meus estudos me levaram. É impossível para um profissional do IPHAN que conheça bem a cidade não entender o que está acontecendo com o terreno da Rua Treze de Maio. Como V.Sa. não vive aqui, permita-me explicar-lhe. Na sua origem a “Ville des Palmiers”, como era conhecido o belo chalé da família Grandmasson, com um jardim cheio de palmeiras, preenchia cem por cento do terreno, que tinha sua frente voltada para a Av.Ipiranga. Depois de vendido, o imóvel foi demolido, já nos nossos dias, e construíu-se o que lá está, voltado para a Rua Treze de Maio. Pena que nem mesmo o IPHAN, naquela época, – tão empolgado com o excelente barroco brasileiro -, não se tenha dado conta que Petrópolis era um paradigma do século XIX, que também merecia proteção. Tenho certeza que teria proibido a demolição de um dos mais belos endereços da cidade. Pouca coisa restou, pelo Brasil a fora, desse século tão rico em arquitetura! Nós, petropolitanos, ainda possuímos essa jóia de arquitetura, que não pode, de forma alguma, desaparecer e muito menos ser minimizada pela presença de construções que nada têm a ver com sua realidade. Por isso brigamos por ela. Para que não se repita, nos nossos dias, o que aconteceu quando foi vendido pela primeira vez. No caso específico do terreno da Rua Treze de Maio, conhecedores dessa cidade histórica, – com grande parte central tombada -, temos plena certeza que esse terreno não pode ser dividido e muito menos usado para fins comerciais. Sua fachada principal, ao ser analisada, deverá ser sempre pela Av. Ipiranga, uma das principais vias da cidade, que não deixa dúvidas da necessidade de proteção. Não podemos deixar de levar em conta o entorno da Catedral neogótica e do Palácio da Princesa Isabel de um perfeito neoclássico, praticamente seus vizinhos. Desculpe-me a intromissão, mas quem lhe escreve é uma senhora apaixonada por essa cidade e que estuda sua arquitetura há mais de 30 anos… Por favor, volte a analisar esse pedido levando em conta os argumentos descritos, que não são só meus mas também da maioria dos moradores que não querem ver Petrópolis descaracterizada.
Atenciosamente.