CINEMA, TRADIÇÃO E PIONEIRISMO
Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira
Petrópolis tem tudo a ver com o cinema. Dois dentre os pioneiros da sétima arte saíram da Cidade de Pedro.
Primeiro, o comerciante William Auler, nascido Cristóvão Guilherme Auler a 27 de setembro de 1865, em Petrópolis, lançou no início do século XX, o “Grande Cinematógrafo Rio Branco”, no Rio de Janeiro, sob a razão social de “William & Cia.”. Em seguida passou a produtor, aliando-se a Júlio Ferrez, produzindo filmagens de espetáculos operísticos e registro de atualidades, mesclando elementos de música, teatro e documentarismo.
O segundo cineasta petropolitano foi Henrique Pongetti, realizador de um filme “A Estrangeira”, no ano de 1914, filmado em Petrópolis e com elenco integrado por amigos da terra. Pongetti tornou-se jornalista e dramaturgo de renome, sem abandonar o cinema para o qual escreveu o argumento do clássico filme “Favela dos meus Amores”, dirigido pelo mestre Humberto Mauro, no ano de 1935. Mais tarde, em 1952, fez o roteiro de “Tudo Azul”, dirigido por Moacyr Fenelon, musical de grande sucesso.
Antes, porém, desses ilustres feitos, Petrópolis foi palco de dois acontecimentos da História do Cinema: a filmagem de cena da vida petropolitana e a primeira exibição de um filme brasileiro em território nacional.
Com efeito, no dia 1º de maio de 1897, no Teatro Cassino Fluminense, à Avenida XV de Novembro (hoje Rua do Imperador nº 970, Edifício Profissional) o empresário Victor de Mayo, em um prédio de um pavimento, adaptado à atividade, exibiu os filmes curtos “Uma artista trabalhando no trapézio do Politeama”, “Chegada do trem em Petrópolis” e “Bailado de crianças no Colégio do Andaraí” e, na sessão de 6 de maio seguinte, mais uma fita nacional “Ponto terminal da linha de bonde de Botafogo vendo-se os passageiros subir e descer”. Não eram filmes como conhecemos hoje e sim pequenas cenas, seguindo o modelo de Lumière, mostrando a vida cotidiana. No mesmo programa passaram mais 16 filmetes (vamos chamá-los assim), da produção européia e norte-americana. Victor de Mayo utilizou-se de equipamento “Edison”, denominado “Cinematógrafo”. Da propaganda divulgada pela “Gazeta de Petrópolis”, a entusiasmada chamada: “Hoje, amanhã e domingo, duas estupendas funções nunca vistas nesta capital. Exibir-se-á o CINEMATÓGRAFO do grande e nomeado EDISON. Esta última maravilha e grande descoberta tem chamado a atenção do mundo inteiro. Pela sua realidade devem todos assistir à sua exibição que nos instrui. Esta estupenda maravilha é produzida pela eletricidade, reproduzindo com a maior fidelidade todos os atos e movimentos das coisas e da vida animada e impressionou a todos quantos têm assistido à sua exibição”.
Primeira exibição do cinematógrafo em Petrópolis, 1897 – JEDS 03/94
Os pesquisadores Jorge Vittorio Capellaro e Paulo Roberto Ferreira apresentaram essa nova visão do início do cinema brasileiro no livro “Verdades sobre o Cinema Brasileiro”, editado pela FUNARTE no ano de 1997, o que promoveu a instalação de uma placa comemorativa junto à fachada do atual Edifício Profissional, em promoção da Fundação de Cultura de Petrópolis e o Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro.
Até a publicação da pesquisa, a história do cinema brasileiro vinha registrando ter sido o empresário Paschoal Segreto o autor do primeiro filme produzido no Brasil, no dia 19 de junho de 1898, a bordo do “Vapor Brésil” com uma tomada da Baia de Guanabara, quando retornava da Europa onde fora para adquirir equipamentos de filmagem. É certo que ele realizou o filme para testar a filmadora, porém este não foi o primeiro registro de Brasil pelo cinema, após as conclusões dos pesquisadores Capellaro e Ferreira. Afinal, a artista no trapézio do Teatro Politeama, os passageiros subindo e descendo do bonde em Botafogo, as crianças no Andaraí e a chegada do trem em Petrópolis, exibidos no Teatro Cassino Fluminense, mais de um ano antes do documentário de Segreto, são verdadeiramente as primeiras filmagens em nosso País.
Porém, o empresário Paschoal Segreto, tinha tudo a ver com Petrópolis e muito a queria e amava. Nas primeiras décadas do século XX ele apresentava-se com um projeto, em Petrópolis…
É, mas não contarei essa história que fica a cargo do nosso Associado Titular Raul Ferreira da Silva Lopes, que leremos neste Boletim.