DE BANCO DE PETRÓPOLIS A BANCO DO BRASIL
Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga
Poucos dos que transitam pela área conhecem a importância do ‘corredor financeiro’ de nossa ‘antiga avenida’ que se organizou pelas primeiras décadas do século XX em Petrópolis e que foi de supremo valor não somente para as empresas petropolitanas que se destacavam, assim como para toda a região fluminense.
Nossa operária cidade possuiu uma das mais importantes redes bancárias do interior do Estado, que acompanhava um desenvolvido parque industrial que era premiado em diversas exposições industriais tanto nacionais como internacionais.
Assim, a história do garboso edifício de n.º 940/50, onde funciona atualmente o Banco do Brasil, iniciou-se em 1928, como Banco de Petrópolis.
O prédio esquinado com a Rua Alencar Lima e Imperador, testada de 35m, portador de estilo arquitetônico eclético, foi construído pela empresa bancária “Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada Banco de Petrópolis”, cujo presidente no período foi Osório de Magalhães Salles, proeminente banqueiro e comerciante fluminense estabelecido em Petrópolis, principal quotista e diretor do magazine “Petrópolis Crédito Móvel”, que possuía sede na Rua Paulo Barbosa e filial na então Avenida XV de Novembro.
O projeto do prédio data de 1926, desenvolvido pelo engenheiro civil J. Glasl Veiga, sendo construído por Adriano Rodrigues Pinheiro para o local onde funcionara o tradicional Hotel Bragança de muitas histórias no período da ‘belle époque’ petropolitana, principalmente na transição dos século XIX para o XX, que foi demolido em 1924, abrindo espaço para construção até mesmo de uma rua como a Alencar Lima e a construção de um conjunto de prédios também de estilo eclético como os que eram característicos dos anos 20 em nossa cidade.
Devemos registrar que o marco comemorativo da inauguração da ‘Estrada Rio-Petrópolis’, hoje tão pouco lembrado na região das Duas Pontes, também foi de autoria de Glasl Veiga e do professor Leopoldo Campos, segundo informações de Gabriel Fróes. Veiga também foi autor do projeto da Igreja de São Sebastião erguida com tanto zelo pelo lendário Frei Leão, que cuidou dos abandonados trabalhadores da Rodovia que se ‘abrigaram’ desamparados nas regiões do Quitandinha e do São Sebastião com suas famílias.
O Banco de Petrópolis, construtor do prédio em tema do nosso ensaio, foi a primeira casa bancária fundada no município petropolitano e que teve suas atividades encerradas em 1931 e seu patrimônio imobiliário levado a leilão público, e sendo adquirido pela instituição financeira maior da época, o Banco do Brasil S/A, pela módica quantia de 30 contos de réis.
Pequenas reformas foram efetivadas ao final dos anos 30, mas sem qualquer descaracterização do conjunto arquitetônico interno e externo do prédio.
Uma reforma maior de estrutura interna realizou-se no período da Segunda Grande Guerra.
Não podemos deixar de observar a semelhança que a marca do Banco de Petrópolis possuía, pois era um B entrelaçado com um P, sobreposto na fachada e no interior durante a construção em 1927. Seria caso de cópia ou aproveitamento ilícito da temática, já que consta que o mesmo logotipo do Banco do Brasil, idêntico foi criado em 1926 através de um concurso realizado, onde vários profissionais e amadores participaram criando seus projetos. Os logotipos apresentados teriam sido avaliados por uma equipe de pintores, arquitetos, escritores e jornalistas, sendo seu resultado divulgado em 19 de novembro de 1926. A equipe vencedora era formada por um designer, um arquiteto e um desenhista, cujos nomes não obtivemos.
O desenho da letra B entrelaçada à outra, encontra-se atualmente na fachada do prédio que é sede do Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro e que foi inaugurado em 1926.
Já a marca da fachada e as demais no interior do prédio do Banco de Petrópolis foram alteradas grosseiramente segundo observações técnicas, provavelmente após a aquisição, mas não existem informações maiores da época sobre esta alteração.
Ao lado do imponente prédio foi construído em 1929/30, na mesma extensão do terreno do extinto Hotel Bragança, um sobrado também de estilo eclético por outro famoso construtor da época, Álvaro Tavares Ferreira. Sobrado que serviu de sede à ‘Papelaria, Livraria e Tipografia Scarpa’. Já outro prédio, continuo, também construído por Álvaro na mesma data, 1929, sediou a famosa Óptica Haack de Rodolph Haack, conceituado fotógrafo na cidade no decorrer dos anos 20 aos 40.
No lado posterior à Rua Alencar Lima e ao Banco, ainda em terrenos do demolido Hotel Bragança, outro sobrado de estilo eclético também foi construído após a demolição do Hotel, mais precisamente em 1925/26, e que serviu inicialmente ao Banco Ribeiro Junqueira, oriundo da Zona da Mata mineira, sucessores da Casa Bancária Ribeiro Junqueira Irmãos e Botelho criada em 1912, posteriormente sediando diversas lojas conceituadas e escritórios nos anos 30.
Não conseguimos confirmar a autoria do projeto deste sobrado, mas ao que tudo indica, possivelmente seria de autoria do mesmo J. Glasl Veiga, pois o sobrado que hoje é conhecido na cidade como ‘prédio da CAEMPE’, foi também um projeto de Veiga, tendo Manoel Joaquim da Costa e José Soares Sobrinho como construtores e foi destinado a abrigar o Hotel Rio – Petrópolis. Este prédio teve seu terceiro andar construído ao final dos anos 30.
Não devemos nos esquecer que à frente do Banco do Brasil, no lado oposto da Avenida XV, atual Imperador, um tradicional conjunto arquitetônico que se apresenta foi construído ao final do século XIX. O primeiro prédio, para a administração pública do município pelo Presidente do Estado o petropolitano Porciúncula, prédio que por longos anos sediou departamentos da administração pública e que recentemente foi cedido ao CEFET. Já o segundo, do ‘Banco Construtor do Brasil’, de arquitetura eclética construído pelo famoso empresário brasileiro do período, Franklin Sampaio, que também foi inaugurado por Porciúncula.
O Banco Construtor administrava serviços como de iluminação e abastecimento na cidade de Petrópolis, foi o primeiro a pontear na região do corredor financeiro, mas sucumbiu ao processo de transição política nos anos 30.
Ainda nas proximidades destes, mais precisamente no início da Rua Marechal Deodoro no sobrado de n.º 29, onde atualmente possuímos a Confeitaria San Michele, prédio que foi especialmente construído em 1939 para sediar o Banco da Lavoura de Minas Gerais, e que, pelo vulto que tomavam as comunicações na cidade, teve ao seu lado, no 39, outro sobrado especialmente construído em 1929, para sediar em Petrópolis a Brazilian Telephone Co., que foi resultado da denominação que alcançara em 1923 a nova constituição acionária da ‘Rio de Janeiro and São Paulo Telephone Company’. O prédio atualmente pertence a OI.
Ainda com relação ao Banco de Petrópolis, podemos informar que a Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada BANCO DE PETROPOLIS, teve sua origem em reunião realizada em 1919 na residência do Cel. Antonio Antonino Condé, à Rua Marechal Deodoro, e iniciou suas atividades no prédio n.º 734 da então Av. 15 de Novembro no mesmo ano de 1919.
Em 12 de outubro de 1923 inaugurou suas novas instalações em prédio próprio na mesma avenida no edifício de n.º 96.
Já o novo prédio no n.º 940 da Avenida XV de Novembro, a empresa iniciou seu funcionamento em 12 de junto de 1928, sendo que a 29 de janeiro de 1931, justamente após o movimento revolucionário de 1930, suspenderam seu funcionamento e entrou em liquidação judicial que foi requerida pela Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada Banco de Petrópolis.
Um ano após a liquidação, exatamente em 01 de fevereiro de 1932 o Banco do Brasil iniciou seu funcionamento e continua até hoje, quando anunciou sua transferência para outro local, assim como também que cederá o importantíssimo prédio para a administração municipal.
Nossa preocupação se processa com a forma com que as ocupações destes magníficos monumentos patrimoniais e arquitetônicos vêm se realizando, como o do histórico corredor financeiro petropolitano.
Aguardamos que a CEF organizasse um Centro Cultural para o palacete de Paula Buarque; esperamos que para o prédio do Construtor, outro centro cultural fosse criado como pálida promessa proferida à comunidade; e há tempos o Centro Cultural do Banco do Brasil, CCBB, defendia com heroísmo sua presença para o prédio em questão, o que valorizaria o centro histórico e enriqueceria nossa comunidade e sociedade.
Agora, as informações transformam-se mais uma vez em registro memorialístico por nossa imprensa e a ameaça de ruína ao patrimônio se sucede mais uma vez.