A IMPERATRIZ DONA LEOPOLDINA – SUA PRESENÇA NOS JORNAIS DE VIENA E A SUA RENÚNCIA À COROA IMPERIAL DA ÁUSTRIA

Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança

Sobre a nossa primeira Imperatriz amiúde se escreveu, grande parte de sua enorme correspondência foi publicada. Sua atuação política foi analisada. A importância da mesma em nossa Independência e a sua grande envergadura moral foi louvada.

1A

Leopoldina, Arquiduquesa d´Áustria, Princesa real de Portugal, do Brasil e de Algarves, Duquesa de Bragança
(gravura de Artaria et Comp., Biblioteca Nacional, Viena)

A vida familiar, os interesses intelectuais, o amor pelo Brasil, as suas aspirações, alegrias e as suas grandes provações são conhecidas.

Mas como era vista pela imprensa a filha do Imperador Francisco II (1) na sua Viena?

(1) Francisco II, com o falecimento de seu pai, Leopoldo II, em 1792 Imperador do Sagrado Romano Império Germânico. Com a dissolução do Sagrado Império R.G. em 11 de abril de 1804 assumiu o titulo de Francisco I da Áustria. Nasceu em Florença em 12 de fevereiro de 1768 e faleceu em Viena em 2 de março de 1835. Foi casado 4 vezes:1. com a Princesa Wilhelmine do Württemberg (1767-1790) em 6 de janeiro de 1788;
2. com a Princesa Maria Theresia de Bourbon das Duas Sicílias (1772-1807), em 19 de setembro de 1790;
3. com a Arquiduquesa Maria Ludovica da Áustria-Modena-Este (1787-1816), em 6 de janeiro de 1808;
4. com a Princesa Carolina Augusta da Baviera (1792-1873), em 10 de novembro de 1816.

No início era uma das tantas Arquiduquesas, que mais tarde ou mais cedo, deveriam fornecer um objeto para alianças políticas.

Leopoldina, todavia foi uma figura, que sobressaiu pelo seu casamento, fora do comum, pela expedição científica que a acompanhou no novo mundo, pela sua atuação política, por ser mãe do Imperador Dom Pedro II e de Dona Maria II e pelo seu prematuro fim.

Ainda hoje ela é estudada e admirada no Brasil e na Áustria.

Os jornais da época nos fornecem ainda detalhes, pequenos muitas vezes, mas que em parte, não foram considerados pelos historiadores.

A imprensa naquele tempo era singela, não realizavam reportagens ou entrevistas, como hoje é uma normalidade. Os acontecimentos, mesmo aqueles da Corte, eram tratados de maneira simples, podemos dizer, quase como nos “Diários Oficiais” dos nossos dias.

Apesar disso os diários são, sem duvida, ainda uma fonte preciosa, que nos permite seguir determinadas ocorrências, as quais de outra maneira se teriam perdido.

Dona Leopoldina aparece três vezes na imprensa de Viena. No nascimento e batizado, por ocasião das bodas, por ocasião da renúncia à Coroa da Áustria, e ao chegar a notícia do falecimento. Estas noticias merecem ser mencionadas.

O sol estava despontando no gélido dia 22 de janeiro de 1797. Eram as sete e trinta quando nascia na “Hofburg”, (Palácio Impérial no centro da cidade) uma robusta menina.

Soprava um vento glacial da “Puszta” a grande planície húngara. A cidade estava coberta de neve. Pouca gente na rua. Era domingo e na “vox populi” um nascimento dominical era um ótimo auspício para o futuro.

A recém-nascida Arquiduquesa era Leopoldina, a sexta filha do Imperador Francisco II e de sua segunda esposa, a Princesa Maria Theresa das Duas Sicílias (2).

(2) Maria Theresa Princesa de Bourbon das Duas Sicílias. Nasceu em Nápoles em 6 de junho de 1772 e faleceu em Viena em 13 de abril de 1807. Filha do Rei Ferdinando IV de Nápoles (1751-1825) e da Arquiduquesa Maria Carolina da Áustria (1752-1814). Ultima Imperatriz do Sagrado Império Romano Germânico.

Respirava-se um ar de alívio na Corte, pois um nascimento naquele tempo era ligado a não poucos riscos. Assim também o Batizado era realizado o mais depressa possível, para garantir ao recém-nascido, em caso de morte, de ser acolhido no “Limbo” ou no Céu. Grande era a mortalidade infantil.

Mesmo dos treze filhos do Imperador, seis faleceram após o nascimento, ou antes de atingir os dez anos de idade.

Assim ao anoitecer, às seis horas, realizou-se o Batizado. A Imperatriz, ainda convalescente, naturalmente não participou.

O Sacramento do Batismo não foi subministrado na Igreja da Corte, a de Santo Agostinho, mas na grande e sumptuosa antecâmara do Palácio.

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Anotação no registro de atividades do Cardeal Arcebispo, efetuada em latim, relativa ao batizado da Arquiduquesa Leopoldina, Carolina, Josepha, realizado na antecâmara do Palácio, às seis horas da tarde do mesmo 22 de janeiro de 1797.
(Arquivo da Cúria Metropolitana, Viena)

Esta escolha foi feita certamente pelo grande frio reinante naquele período do ano, e as Igrejas naquele tempo não serem aquecidas. Não obstante ter sido uma cerimônia restrita, teve grande solenidade, como nos relata a “Wiener Zeitung” do dia 25 daquele mês.

“Para o Batizado se reuniu a Alta Nobreza, de ambos os sexos em grande Gala, na vasta antecâmara . Logo em seguida, precedido pelos Dignitários da Corte, dava entrada no salão, Sua Majestade o Imperador, acompanhado por cinco Arquiduques e cinco Arquiduquesas. Seguia o Primeiro Marechal da Corte, o Príncipe de Starhemberg, acompanhado por dois Camaristas Imperiais, os Príncipes de Schwarzenberg e de Ligne, carregando sobre uma almofada dourada a recém-nascida. Sua Majestade e Suas Altezas Imperiais dirigiram-se para os genuflexórios preparados para a ocasião.

Ao lado dos mesmos colocou-se, como de costume, o Núncio Papal (3), num oratório especialmente aprontado. O Primeiro Marechal da Corte se colocou com a recém-nascida Arquiduquesa diante do altar, que se encontrava debaixo de um baldaquim.

(3) Núncio Papal em Viena, Luigi Ruffo di Scilla, dos Príncipes de Scilla e Duques de Sta. Cristina, nasceu em Sto. Onofrio, Diocese de Mileto, em 25 de agosto de 1750. Em 1772, terminados os seus estudos, após entrar na Cúria, foi designado Presidente de Congregação e da Consulta. Após ter sido também Governador de Roma foi nomeado por Pio VI, em 11 de abril de 1785, Arcebispo Titular de Apamea e enviado como Núncio junto ao Grão Duque de Toscana. Teve que resolver diversos problemas com o Bispo de Pistoia, Scipione Ricci. Em 23 de agosto 1793 foi chamado como Núncio em Viena em substituição ao Cardeal Caprara. Ficou em Viena até 1802, tendo tido grandes problemas durante a ocupação francesa e por causa do espírito, ainda existente, das reformas feitas pelo Imperador José II. Tendo falecido Pio VI, foi incumbido de organizar o Conclave em Veneza em 1º de dezembro 1799. Participaram do mesmo 35 Cardeais, que em 14 de março 1800 elegeram Papa o beneditino Barnaba Chiaramonti, Bispo de Imola, que se chamou Pio VII. Foi nomeado em 23 de fevereiro 1801 Cardeal, com o Título de S. Martino ai Monti. No ano seguinte deixou Viena e em 9 de agosto 1802 foi nomeado Arcebispo de Nápoles. Recusou-se a prestar juramento ao novo Rei de Nápoles, Giuseppe Bonaparte e foi deportado para a França. Fazia parte do grupo dos chamados “Cardeais Negros” que se opuseram ao casamento de Napoleão com Maria Luisa da Áustria e renunciou participar do mesmo. Foi em consequência deportado para Fontainbleau, Grasse e Savona. Com a queda de Napoleão, voltou a sua diocese de Nápoles, após nove anos de ausência. Permaneceu na mesma até a sua morte em 17 de novembro de 1832.

O Cardeal Arcebispo (4), assistido por vários Bispos e Prelados, celebrou o Batizado.

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Príncipe Arcebispo de Viena, Cardeal Migazzi.
(Cúria Metropolitana, Viena)

(4) O Cardeal Cristovão Antonio Migazzi era o Príncipe Arcebispo de Viena. Nasceu na cidade de Trento, no Tirol italiano, filho dos Condes Migazzi, de antiga nobreza trentina, em 20 de outubro de 1714. Cedo mostrou vocação religiosa e foi enviado para Roma no “Collegium Germanicum”. Ordenado sacerdote em 7 de abril 1735, trabalhou na “Sacra Rota”, o Tribunal Eclesiástico. Conseguiu um contato com a Imperatriz Maria Theresia, que muito o favoreceu e encorajou. Em 10 de outubro foi consagrado Bispo Titular de Cartago e nomeado Bispo Coadjutor de Mechelen, tendo ficado, todavia, nos anos subsequentes encarregado de Missões Diplomáticas por Maria Theresia. Em 1751 foi nomeado Príncipe Arcebispo de Viena e em 1761 Cardeal. Criou um famoso Seminário ao lado da Catedral de Sto. Estevão. Serviu a Arquidiocese durante 4 Imperadores e durante este período teve que assistir, impotente, as transformações introduzidas pelo Imperador José II. O Cardeal faleceu em Viena em 14 de abril de 1803, apos ter dirigido durante 46 anos a Arquidiocese vienense. Foi um dos grandes Cardeais da Áustria.

A madrinha foi a Arquiduquesa Maria Clementina (5), noiva do Príncipe Herdeiro de Nápoles (6).

(5) A madrinha da pequena batizada foi a Arquiduquesa Maria Clementina. A mesma era a décima filha do Imperador Leopoldo II e da Princesa Maria Luisa de Bourbon, irmã de Francisco II e do Grão Duque de Toscana Ferdinando III. Nasceu em Poggio Imperiale, perto da Florença em 24 de abril de 1777 e faleceu no Palácio Real em Nápoles em 15 de novembro de 1801. Casou com Francisco Príncipe das Duas Sicílias, Duque de Calabria e futuro Francisco I (1777–1830).

(6) Francisco Príncipe das Duas Sicílias, Duque de Calabria, nascido em Nápoles em 19 de agosto de 1777 e falecido na mesma cidade em 8 de novembro de 1830. Rei das Duas Sicílias em 1825 com o nome de Francisco I.

A pequena Arquiduquesa recebeu os nomes Leopoldina, Carolina, Josefa (7). Após a cerimônia se entoou o Te Deum, ao som dos tambores, enquanto os canhões, colocados sobre os muros de cinta da cidade, salvaram três vezes. Realizou-se, da mesma maneira, como na vinda, o cortejo na volta, dirigindo-se para os grandes salões da Imperatriz. Em seguida Sua Majestade o Imperador e Suas Altezas Imperiais apareceram na grande antecâmara da Imperatriz, na qual se realizou a solene cerimônia das felicitações pela Alta Nobreza que ali se havia reunido.”

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Extrato da certidão do batizado de Dona Leopoldina, feito a 10/05/1900. O original desapareceu na 2ª Guerra Mundial.
(Arquivo Imperial, Viena)

(7) Sobre o nome de Dona Leopoldina sempre pairava uma incerteza. O livro de Batizados da Igreja Sto. Agostinho desapareceu na 2º Guerra Mundial. Existe um extrato do mesmo feito em 10 de maio de 1900, que publicamos (imagem acima). Do mesmo resulta claro que foi batizada com o nome de Leopoldina Carolina, Josefa. Confirma este auto também a rubrica feita em latim pelo Cardeal Migazzi no Protocolo das Funções Episcopais, a pag. 216: “Archiducissa Leopoldina, Carolina, Josepha, filia Imperatoris Franc. II. Nata 22. Jan. 1797 hor. 8 va matut. baptizata est ab Emmo. in sala magna Aulae, assist. eodem die vesp. 6 ta levante” (imagem acima da Nota 3). Com esta documentação fica definitivamente confirmada a posição correta dos nomes da Imperatriz, que Marialva tinha comunicado oficialmente, por engano, serem Carolina Josefa Leopoldina; veja Oberacker Jr. vol. cit. pag. 63. O mesmo erro do nome encontramos no pacto matrimonial. Provavelmente Metternich, ao assinar o documento, não fez questão da posição dos nomes. Estavam os três nomes da Arquiduquesa e portanto o tratado para ele era válido. O ato de renúncia à Coroa e a todas as eventuais heranças também é atribuído a Carolina Josepha Leopoldina, com o nome Leopoldina em destaque. Para completar a confusão relativa aos nomes de nossa primeira Imperatriz, esta assina o ato como Maria Leopoldina. Em todo caso, em nossa História, ela entrou como Leopoldina e com este apelido ela será sempre honrada.

Como suas irmãs, Leopoldina foi educada por aias e recebeu depois uma preceptora na pessoa da Condessa Lazansky. Esta escolhia os professores, que cuidavam da formação, moral, humanística, científica e artística (8) da jovem.

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Arquiduquesa Leopoldina
(Miniatura de Isabey. Palácio Imperial, Viena)

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Desenho da Arquiduquesa Leopoldina, 1808. Desenho da Arquiduquesa Leopoldina, sem data

(Biblioteca Nacional, Viena)

(8) Ver – Bragança, D.Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e “A formação artística da Imperatriz Dona Leopoldina” – Rev. do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, vol. XV.

A infância e primeira juventude de Leopoldina não correu pacificamente. Napoleão fazia estremecer as antigas instituições do velho continente. Batalhas ferozes abalavam o Império e a Corte; teve que deixar Viena, ocupada em seguida pelos franceses. Somente o Imperador era objeto da imprensa, não mais Leopoldina, e mais tarde, Maria Luisa, dada em troca de paz ao grande e odiado inimigo.

O Congresso de Viena foi um outro grande momento na vida de Leopoldina. Metternich dominava a cena e a juventude imperial era mantida na penumbra, quase como munição de reserva para algum eventual tratado e aliança matrimonial.

Portugal era pequeno demais para poder sentar na mesa das tratativas do grande Congresso que decidiu o futuro da Europa.

Com grande habilidade Dom João VI criou o Reino Unido e assim os diplomatas portugueses, chegados em Viena, se libertaram da humilhação de terem que ficar diante da porta do salão, no qual se reuniram as grandes potências.

Portugal, territorialmente, graças ao Brasil, tinha ficado realmente um dos maiores países participantes do histórico Congresso.

Dom João com medo do liberalismo procurou apoios e nada melhor seria do que uma aliança com a Casa da Áustria. De duas ligações matrimoniais Dom João cogitou, também para afastar a crescente influência inglesa e robustecer o Brasil contra os movimentos jacobinistas e radicais. Portanto o ideal seria um duplo casamento entre seus filhos Pedro e Isabel Maria com filhos do Imperador Francisco I.

Este plano já era desejado há vários anos. Dom João bem aconselhado e dentro de sua astúcia inata, aproveitou a ocasião para sondar Metternich. Navarro de Andrade (9) apresentou a proposta de maneira muito convincente. Metternich recusou o oferecimento de Dona Isabel Maria, dizendo que para o Arquiduque Herdeiro Ferdinando já existia um plano matrimonial, mas se mostrou muito favorável à união com o Príncipe Herdeiro Dom Pedro.

(9) Villa Secca ( Rodrigo Navarro de Andrade, Barão de – ) Antigo oficial da Repartição dos Negócios Estrangeiros em Lisboa, desempenhava as funções de Encarregado de Negócios de Portugal em São-Petersburgo, em 1808, quando se deu a transmigração da Família de Bragança para o Brasil. Continuou na diplomacia, servindo a Portugal e ao Brasil, removido para a Sardenha, na mesma categoria de Encarregado de Negócios, em 1813, elevado, afinal, a Ministro Plenipotenciário em Viena d’Áustria, em 1817. ( Argeu Guimarães – Diccionário Bio Bibliográfico Brasileiro, – Rio de Janeiro, 1938. Ed. Do Autor .)

Certamente se lembrou que os Habsburgos já haviam reinado sobre o Brasil no tempo dos Filipes da Espanha. A escolhida seria Leopoldina. Ao Imperador Francisco não agradou, no começo, ver partir a filha para um pais longínquo e ainda muito instável. Assim mesmo o “bom Papá” chamou Leopoldina, que era a mais “madura” para ser casada, e a sondou sobre o projeto, encontrando eco favorável. No entanto tinha-se estabelecido uma correspondência entre as duas Cortes. Já em 10 de janeiro de 1817 Dom João escrevia a Francisco I externando a sua viva satisfação, que provou ao receber os despachos de Navarro de Andrade, com a notícia que o Imperador tinha dado prova de amizade aceitando a proposta de casamento. Também agradecia igualmente à futura nora por anuir à oferta e pela sua decisão de enfrentar uma tão longa viagem.

Dom Pedro por sua vez envia uma missiva à futura esposa dizendo entre outras coisas: “…Estou feliz em poder assegurar a V.A.I. que ela encontrará sempre os sentimentos dignos de Sua Augusta Pessoa e de Suas excelentes qualidades…” ( Casamentos Imperiais, Arq. Nac., Viena )

Seguiu-se uma troca de condecorações. Francisco I recebeu a Banda das Três Ordens e a Imperatriz a de Santa Isabel. Dom João VI foi agraciado com três Ordens Austríacas, as de Leopoldo, Sto. Estêvão e a da Coroa de Ferro. Carlota Joaquina recebeu a Ordem da Cruz Estrelada, com a qual, no futuro, se fará sempre retratar.

Com a chegada do brilhante Embaixador da família do noivo, o Marques de Marialva (10), a jovem Arquiduquesa ficou encantada. Ela já se havia preparado, estudando e indagando sobre o Brasil e a Família Real Portuguesa. Tudo lhe pareceu extremamente interessante e tentador. As informações de Marialva, tão alentadoras, acompanhadas pelo rico e lindo retrato de Dom Pedro, fortaleceram a sua decisão. O retrato do noivo pois a entusiasmou tanto, que ela escreveu a irmã Maria Luísa: “ O retrato do Príncipe quase me enlouquece …é tão bonito como Adonis”. ( Carta de 15 de abril de 1817, Karl & Faber, Versteigerung, Auktion 63, München, 29/30 de abril de 1958 – Cartas de Dona Leopoldina, p.104-112).

(10) Marialva (Dom Pedro José Joaquim Vito de Menezes Coutinho, Conde de Cantanhede, sexto Marquês de – ) Diplomata, pertencente a uma das mais antigas famílias de Portugal, prestou serviços ao Brasil por ocasião da transferência da sede da monarquia para o Rio de Janeiro. Embaixador extraordinário em missão especial em Paris (1814), no mesmo ano passou a São Petersburgo. Ainda depois de criado o Reino Unido de Portugal e Brasil, foi, em 1816, como embaixador em missão especial a Viena d’Áustria. Competiu-lhe assinar com o Príncipe de Metternich o tratado para o casamento do futuro Pedro I com a Arquiduqueza Carolina-Josepha-Leopoldina. O Marquês teve também o seu nome ligado ao contrato da missão artística francesa de 1816, que veio, por iniciativa do Conde da Barca, fundar no Rio a Escola de Belas-Artes. Extinguiu-se em Paris, o Marquês de Marialva, como embaixador de João VI junto a Luiz XVIII. ( Argeu Guimarães – Diccionário Bio Bibliográfico Brasileiro, – Rio de Janeiro, 1938. Ed. Do Autor .)

Tudo estava correndo a contento, lentamente como tudo naquele tempo, seja para Dom João VI, Francisco I e Metternich. Dona Leopoldina, no entanto fazia preparar o enxoval. Com a família ia passar períodos no Castelo de Laxenburg e na linda cidadezinha de Baden a uns 20km de Viena.

A chancelaria estava ocupada preparando o pacto nupcial. Este foi laborioso. Várias reuniões foram necessárias até chegar ao texto definitivo. De um lado presentes o Chanceler, Príncipe de Metternich e o Príncipe de Trauttmansdorff e na posição oposta encontramos o Embaixador Extraordinário Marialva, certamente acompanhado por Navarro de Andrade.

Apos repetidas discussões foi concluído e assinado, contendo doze artigos e dois anexos, no dia vinte e nove de novembro de 1816. A parte financeira foi a mais laboriosa. Estabeleceu-se uma dote de duzentos mil “Florins do Reno”, soma que na época devia ser notável. ( Arq. Nac. Viena )

Dom João VI, de sua parte, se comprometeu a pagar o mesmo importe como “contra-dote”, um verdadeiro sofrimento para o Rei, tão conservador em matéria de despesas. Visto que a disponibilidade de Dom João não era imediata, os Plenipotenciários de Francisco I, exigiram que a importância seria colocada sob forma de hipoteca sobre a totalidade das entradas públicas do Reino e sobre as propriedades da Coroa. Para as propriedades exigiu-se uma lista das mesmas, que Dom João deveria expedir com o pacto matrimonial assinado. Cláusula humilhante. Não sabemos se a mesma foi colocada “in extremis” por Marialva , que não tinha a soma exigida, ou se o Rei realmente não dispunha no momento deste importe.

No Arquivo Imperial, conjuntamente com o contrato, não existe a relação dos bens que havia sido pedida. As demais cláusulas são aproximadamente aquelas usadas nas Cortes em contratos similares.

Logo após a assinatura, toda a documentação seguiu para o Rio, e no dia 5 de abril de 1817 o Rei e o jovem noivo assinaram o pacto. Faltava ainda uma dispensa papal em virtude do parentesco dos nubentes. Com a chegada da mesma, trazida possivelmente pelo Núncio Apostólico, Arcebispo Paolo Leardi, mais um passo em direção das bodas estava realizado.

Em 22 de fevereiro de 1817 o “Wiener Zeitung” publicou um longo artigo sobre o ingresso oficial de Marialva e da Embaixada Portuguesa em Viena. Começa com uma longa reportagem sobre o Brasil, louvando o país, de autoria de um certo A. Stein.

No mesmo Jornal também encontramos, de autoria de John Mawe, uma descrição de uma viagem pelo interior e as minas de ouro de Minas Gerais.

Relata-se em fim a pompa do ingresso de Marialva e a riqueza das equipagens, coisa nunca vista por parte de um Embaixador.

Marialva se instalou num faustoso Palacete na praça dos Minoritas, dando faustosas recepções e banquetes à Alta Nobreza Vienense.

Os dias corriam. O casamento por procuração se aproximava. Um casamento realizado nestas condições, sem os noivos se terem vistos, devia ter sido sem aquele calor, alegria e emoção de um normal enlace. Um ato puramente burocrático.

Todavia será um casamento contrariamente a muitos matrimônios hodiernos, pregado por profunda religiosidade por parte da esposa. Dona Leopoldina via, antes de mais nada, o cumprimento de um Sacramento.

Nos dias que passavam devia pesar sobre a “brasileira”, como a chamavam os irmãos, a grande incógnita de uma viagem a um longínquo país, onde ia encontrar um esposo totalmente desconhecido.

As formalidades para a realização de um matrimônio de uma Arquiduquesa eram sempre ligadas a várias praxes. Entre estas estava, no caso de um casamento com um Príncipe de outra dinastia, o “Ato de Renúncia” (11).

(11) O Ato de renúncia encontra-se no Arquivo da Corte e consta de um tomo encadernado com todas as cláusulas do contrato.

Assim sendo Dona Leopoldina, segundo o “Österreichischer Beobachter” do dia 16 de maio, praticou este ato formal já no dia 11 daquele mês. Lentas corriam as notícias naquele tempo, mesmo dentro da cidade.

“Domingo dia 11 deste mês, às doze e meia, se realizou o Ato de Renúncia por parte de Sua Alteza Imperial a Sereníssima Senhora Arquiduquesa Leopoldina. Presenciaram o ato todos os chefes das diversas repartições da Corte, os Ministros, todos os Altos Dignitários, Conselheiros Secretos, o Príncipe Arcebispo local e o Embaixador de Portugal. O ato se realizou na Aula Secreta do Conselho.”

Este solene Ato de Renúncia, Dona Leopoldina o teve que jurar na presença do Imperador “diante de Deus e sobre sua Honra” apondo a mão sobre os Evangelhos, por si e todos os eventuais descendentes, masculinos ou femininos.

Vista a importância do ato, o mesmo é redigido em latim e abrange 12 folhas.

Ela renuncia à sucessão dinástica segundo as disposições emanadas pelos Imperadores Ferdinando II e Leopoldo I, assim como aquelas decretadas pelo Imperador Carlos VI em 19 de abril de 1713.

Esta última disposição entrou na história como a “Sanção Pragmática”. A renúncia abrange também toda e qualquer herança que possa advir-lhe por parte dos pais, abrangendo imóveis, móveis ou bens de qualquer outra natureza.

O documento se encerra com a assinatura e a aplicação do sinete de Dona Leopoldina.

Firmam em seguida, como testemunhas, cinquenta e um Altos Dignitários, encabeçados pelo Marquês de Marialva. O ato é autenticado pelo Tabelião Público José de Hodelist. Também este ato é feito em nome de Carolina Josepha Leopoldina a qual, curiosamente, assina Maria Leopoldina.

1H

Assinatura de Dona Leopoldina “Maria Leopoldina”, no auto de renúncia à Coroa Imperial da Áustria.
(Arquivo Imperial, Viena)

Terminando o ato realizou-se um almoço familiar e em seguida, segundo a “Allgemeine Zeitung”, de 22 de maio: “Sua Majestade realizou, como costumava fazer, um passeio no Prater, em carruagem aberta com a sua querida filha a Arquiduquesa Leopoldina, a qual em breve será arrancada ao seu coração paterno.”

Bem podemos imaginar a alegria da jovem Arquiduquesa tão ligada ao pai, que muitas vezes a levava consigo em excursões, em caçadas e na linda estação termal de Baden, perto de Viena, em realizar esta excursão.

À Maria Luísa ela escreveu após um desses passeios: “Não sou capaz de dizer a você, minha boa irmã, quão feliz estava ontem, passeando de coche com o bom papá . Disse tantas coisas paternais e cheias de amor que ainda hoje estou intimamente comovida. Quem não se deve julgar sumamente feliz por possuir um pai desse quilate?” ( carta, 27 de agosto de 1816, Karl & Faber, Versteigerung, Auktion 63, München, 29/30 de abril de 1958 – Cartas de Dona Leopoldina)

“Sua Majestade a Imperatriz seguia numa carruagem maior em companhia de S.A.R. a Princesa Herdeira da Baviera, do Arquiduque Francisco, futuro pai do Imperador Francisco José, e do jovem Príncipe de Parma ( provavelmente o Duque de Reichstadt).”

Notamos nestes breves trechos como a partida da filha devia ter emocionado e entristecido Francisco I .

À noite ainda se realizou um espetáculo no “Kärntner Theater”, onde toda a família foi delirantemente ovacionada.

Dia 13 de maio de 1817 foi o dia das bodas: “Todos os membros da Corte Imperial se haviam reunido, em grande gala, às sete horas da tarde no Palácio”.

O Embaixador Marialva seguiu para ir buscar o Arquiduque Carlos (12) procurador do noivo.

(12) O Arquiduque Carlos nasceu em Florença em 5 de setembro de 1771, terceiro filho do Imperador Leopoldo II e da Princesa Maria Ludovica da Espanha. Ocupou importantes funções militares. Como Feldmarechal do exército austríaco, derrotou Napoleão na batalha de Aspern em 21 e 22 de maio de 1809. Foi um dos mais proeminentes membros da Casa da Áustria. Reorganizou o exército, fundou o Jornal das Forças Armadas. Deixou importantes publicações de estratégia militar. Bom administrador e modernizador de suas vastas propriedades na Bohemia, Hungria, Galícia e Áustria, herdadas dos seus pais adotivos o Príncipe Alberto de Saxe-Teschen e Arquiduquesa Maria Christina da Áustria. Casou em 17 de setembro de 1815 com a Princesa Henriqueta de Nassau-Weilburg (1797-1829) de religião protestante. Teve quatro filhos e duas filhas. A filha mais velha, Maria Theresia, casou em 9 de janeiro de 1837 com o rei Ferdinando II, das Duas Sicílias, irmão da Imperatriz Theresa Christina do Brasil. Sua neta, Maria Christina da Áustria (1858-1929) foi Rainha da Espanha tendo casado em 1879 com o Rei Afonso XII. Profundamente religioso, interveio em favor de muitos presos políticos italianos, os chamados “carbonari”. Faleceu em Viena em 30 de abril de 1847, estando sepultado na Cripta dos Capuchinhos.

O solene cortejo se colocou em movimento, atravessando salões e corredores da Hofburg, até alcançar a Igreja do Palácio, a de Santo Agostinho (13).

(13) Sto. Agostinho é a Igreja do Palácio Imperial e ao mesmo coligada. O Rei Frederico o Belo presenteou em 1327 os Agostinianos Eremitas com um terreno para a ereção de uma Igreja e Convento. Em 1349 foi consagrada. Em 1630 o Imperador Ferdinando II concedeu a Igreja e o Convento aos Agostinianos Descalços, e foi restaurada em estilo gótico no século XVII. O Templo servia a Casa Imperial como Capela da Corte para todas as festividades e ponto de partida para as procissões. Em 1783 o Templo, permanecendo em sua funções, foi elevado a Igreja Paroquial de Viena. Com a grande reforma do Imperador José II o Convento foi expropriado e destinado a diversas finalidades, como Biblioteca da Corte, para a Colecção Grafica “Albertina” e um Centro de Estudo para Sacerdotes de toda a Monarquia. Na Igreja casaram entre outros Maria Luisa e Napoleão (por procuração), o Imperador Francisco José I com Elisabeta da Baviera, o Arquiduque Rodolfo com a Princesa Estefânia da Bélgica. Em 30 de maio de 1894 o Príncipe brasileiro Dom Augusto de Saxe-Coburgo e Bragança casou, também na mesma, com a Arquiduquesa Carolina.

Em primeiro lugar vinham todos os Dignitários, seguidos pelos irmãos do Imperador, as Arquiduquesas, a Arquiduquesa Duquesa d’Este, que havia vindo especialmente de Budapest e o Príncipe Herdeiro Arquiduque Ferdinando.

O cortejo continuava com o Arquiduque Carlos, tendo ao lado o Embaixador de Portugal e do Brasil, Marquês de Marialva.

Acompanhado pelos Capitães da Guarda Imperial os Príncipes Esterhazy e Lobkovicz vinha o Imperador. Sua Majestade a Imperatriz em hábito de grande gala seguia, segurando pela mão a Sereníssima Esposa. Esta trazia uma tiara e o retrato do esposo, rodeado de brilhantes no peito. Seu hábito era enfeitado com brilhantes. ( Allgemeine Zeitung, 22 de maio de 1817).

Na porta da Igreja os Imperadores e a Corte foram recebidos pelo Príncipe Arcebispo (14) e pelos altos Dignitários Eclesiásticos e conduzidos para o altar-mor, onde o Arcebispo celebrou o casamento.

1I
Príncipe Arcebispo Sigismundo Antonio von Hohenwart.
(Cúria Metropolitana, Viena)

(14) O Príncipe Arcebispo que realizou o casamento, por procuração, de Dona Leopoldina com o Príncipe Dom Pedro, foi Sigismundo Antonio von Hohenwart. Nascido em Gerlachstein, na Craina em 2 de maio de 1730 e falecido em Viena em 30 de junho 1820. Filho dos Condes de Hohenwart. Entrou em 1746 na Ordem dos Jesuítas e estudou Teologia em Graz, formando-se em 1758. Foi Prof. em Trieste e Laibach. Em 1759 foi ordenado Sacerdote. Após uma passagem pela Academia Teresiana de Viena, foi enviado a Florença para ser Professor do Arquiduque Francisco (posteriormente Francisco II. e I.) e de seus irmãos. Em 1792 foi nomeado Bispo de Trieste e em 1794 Bispo de St. Pölten, perto de Viena. Em 29 de abril 1803 o seu aluno, o Imperador Francisco II, o nomeou Príncipe Arcebispo de Viena, recebendo a confirmação papal a 20 de junho do mesmo ano. Foi um adversário de Napoleão. Contrariado, celebrou na Igreja de Sto. Agostinho em 11 de março 1810 o casamento da Arquiduquesa Maria Luísa com Napoleão, que se fazia representar pelo Arquiduque Carlos. É um dos três Arcebispos de Viena que não receberam o chapéu cardinalício. Faleceu em Viena dia 30 de junho de 1820. Uma coincidência curiosa é que Dona Leopoldina e D. Pedro terem sido casados pelo mesmo celebrante que uniu a Arquiduquesa Maria Luísa a Napoleão.

Grande devia ter sido o recolhimento da noiva e a emoção da família naqueles instantes. Após a cerimônia núpcial Suas Majestades e a nova Princesa Herdeira regressaram, sempre em cortejo para o Palácio, onde foram cumprimentados e felicitados pelo evento. Seguiu-se um banquete nupcial para toda a Família Imperial. Durante o mesmo a orquestra da Corte tocou melodias e diversas marchas. “

A noiva reportou em seguida a irmã Maria Luísa que : “a cerimónia de ontem me fatigou demais, porque usei um vestido terrivelmente pesado e (um) adorno na cabeça, porém o bom Deus me deu a força espiritual suficiente para suportar com firmeza todo aquele comovente ato sagrado.” (carta, 14 de Maio de 1817, Karl & Faber, Versteigerung, Auktion 63, München, 29/30 de abril de 1958 – Cartas de Dona Leopoldina)

O Imperador conferiu e entregou pessoalmente a Marialva a Grã-Cruz da Ordem de Santo Estevão da Hungria, assim como as de Comendador ao Encarregado de Negócios, Navarro de Andrade.

Grande era por toda parte o entusiasmo. Os jornais publicaram poesias alusivas ao evento, em particular o Dr. Aloys Weissenbach. Uma pequena rubrica assinada por Correa da Silva nos conta: “Inveja não se deve ter dos Reis ou Príncipes, mas somente do homem que casou com Leopoldina.” ( Allgemeine Zeitung, 22 de maio de 1817 )

Por ocasião das bodas houve uma nova troca de cartas entre as duas Casas Reais. Dona Leopoldina escreve a Dom Pedro participando a realização do casamento “…le plus beau jour de ma vie …” ( Casamentos Imperiais, Arq. Nac. Viena. )

Francisco I escreve ao genro uma longa carta, na qual encontramos esta significativa frase : “… je suis bien certain, que ma fille fera tout ce que d’ependra d’elle pour vous plair, je me flatte, que Vous voudrez bien aussi de Votre côté contribuer à Son bonheur. Regardez-moi dès à présent comme un tendre Père… » ( casamentos Imperiais, Arq. Nac. Viena.)

Várias cartas cruzaram o mar entre os Reis e os Imperadores e também as do Arquiduque Carlos detentor da procuração para representar o noivo nas bodas.

A jovem Arquiduquesa era muito querida por todos pela sua amabilidade, delicadeza e espírito destemido.

A prova é que 24 senhoras da nobreza se ofereceram como Damas de companhia, 12 senhores como Camaristas e 4 jovens como pajens para acompanhá-la em sua nova terra. Muito poucos foram os escolhidos.

Francisco I, logo após o casamento enviou um mensageiro a Dom João VI, participando a realização do mesmo: “… celebrado ontem em Viena, diante da Igreja com a solenidade de costume… tendo sido um dos avenimentos mais felizes do meu reinado…”. ( Casamentos Imperiais, Arq. Nac. Viena. )

Foi o Conde Wrbna o encarregado dessa missão que chegou ao Rio em 18 de agosto.

Dom João respondeu “ … que será para ele um dever de pai de testemunhar toda ternura possível para a felicidade desta Princesa, de tão altas virtudes….”. ( Casamentos Imperiais , Arq. Nac. Viena.)

Marialva desejava, no entanto, tornar inesquecível em Viena o casamento. Era uma homenagem, que através dele, Dom João VI prestaria à Corte Austríaca.

Devia ser uma festa gigantesca e de um luxo nunca visto na austera Corte dos Habsburgos. Foi fixada para o dia 26 de maio, mas há meses já ferviam os preparativos. Poucos dias antes D. Leopoldina teve uma indisposição. Tudo estava pronto no “Augarten” (15), o grande parque da Capital.

(15) A história do Augarten começa entre 1612 e 1619. Uma “Aue” é uma várzea. Eram os prados ao longo do Danúbio. Foi zona de caça do Imperador Mathias que mandou erguer um pequeno pavilhão . O Imperador Ferdinando III acrescentou, cerca 1655, um jardim. Assim com o subseguir-se dos Imperadores o jardim ( = Garten ) na várzea ( = Au ) ficou com o nome Augarten. Foi construído em seguida um pequeno castelo, a “Favorita” . Em 1683 com a invasão dos Turcos este foi destruído e o jardim devastado. Em 1705 o Imperador José I o fez reconstruir juntamente com o jardim. Na “Favorita” foi construído um grande salão, no qual se realizavam matinês, que durante um certo período, eram dirigidos pessoalmente por Mozart. Em 1712 o Imperador Carlos VI encarregou o famoso paisagista Jean Trehet, de transformar o vergel num jardim à francesa.Trehet havia já projetado os jardins de Schönbrunn e do Belvedere. Surgiram amplas alamedas que convergiram para uma praça central em forma de estrela. Ao castelo barroco, a “Favorita”, renovado por José I, Marialva mandou acrescentar umas construções de madeira para aumentar a capacidade do mesmo. Foi o grande momento do “Augarten” por ocasião do casamento de Dona Leopoldina. Depois de 1820 realizaram-se no Castelo os concertos do Primeiro de Maio. Em 1830 todo o parque e o Castelo foram inundados por uma enchente do Danúbio. Posteriormente o Castelo foi destinado à celebre Cerâmica do “Augarten”, existente até aos nossos dias. O famoso parque sofreu imensamente na 2ª Guerra Mundial com a instalação pelos nazistas de colossais torres em cimento para as baterias antiaéreas. Os russos em seguida, com pesados carros armados, o devastaram totalmente. Hoje está restabelecido. Em uma construção a beira do “Augarten” estão instalados os famosos “Meninos Cantores de Viena”.

O grande baile foi adiado para o domingo dia 1º de junho. Um desastre. A comida destinada para milhares de hóspedes estragaria. Marialva decidiu enviar, como presente, todos os alimentos para os hospitais e para os pobres do bairro de St. Marx. Um prejuízo enorme. Além disso também a partida para Livorno teve que ser adiada.

A saída estava fixada para o dia 29. O tempo ia ficando estreito, pois Leopoldina, “a brasileira”, desejava permanecer ainda algum tempo junto dos seus parentes em Parma e em Florença.

Finalmente chegou o momento da grande festa. Em junho o tempo é bastante estável em Viena, mas a sorte não ajudou. Chovia a cântaros!

Marialva, que tanto se havia empenhado na missão, não merecia um tal final.

O “Österreichischer Beobachter” n.º 180 de 12 de junho de 1817, nos fornece uma descrição dos preparativos e do desenrolar do acontecimento: “Nós prometemos aos nossos leitores uma ampla descrição do maravilhoso baile, que Sua Excelência o Embaixador Extraordinário de Sua Majestade Fidelíssima, Marques de Marialva, ofereceu por ocasião do casamento de Sua Alteza Imperial a Sereníssima Arquiduquesa Leopoldina, com Sua Alteza Real o Príncipe Herdeiro de Portugal, Brasil e Algarve, domingo 1º deste mês no Imperial e Real Jardim do Augarten .

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Palácio de Augarten, na época do casamento de Dona Leopoldina.
(Gravura. Coleção do autor)

Para a preparação da mesma o Senhor Embaixador se valeu da orientação do Membro da Academia das Belas Artes, Senhor Carl Moreau, arquiteto aconselhado por Sua Alteza Sereníssima o Príncipe Nicolas Esterhazy de Galantha. Será útil fazer uma pequena descrição do plano, realizado pelo famoso arquiteto, sobretudo para pessoas que não conhecem o Augarten.

Da entrada desse jardim uma ampla alameda conduz a um pátio quadrado. Em frente se encontra o velho Pavilhão de Recreio, uma construção térrea alongada, em cujo centro um corredor conduz ao jardim. À direita e à esquerda dessa passagem encontram-se duas salas e em seguida dois grandes salões .

Atrás do Pavilhão encontra-se uma grande praça de forma semicircular limitada pelo jardim.

À esquerda desse largo, o qual por sua vez, à sua direita é circundado por espessas árvores, uma alameda conduz até o Danúbio. No espaço livre foi realizado um majestoso templo com um pórtico com seis colunas e a entrada na praça que era circundada de vasos, foi levantado um portal em estilo dórico. O templo está colocado sobre uma imponente base a qual é interrompida, no meio, por uma grande escadaria ladeada por duas estátuas colossais. No arco de ingresso estavam colocadas as armas dos Sereníssimos Noivos, aos quais era dedicada a festividade.

Todo o templo e as salas adjacentes eram esplendidamente iluminadas por milhares de lâmpadas, as quais, tendo um fundo dourado, brilhavam como pedras preciosas.

Nos dois lados do templo situavam-se duas aberturas cobertas, destinadas a entrada e saída das carruagens dos hóspedes.

Ao deixar a carruagem se estava diante de uma antessala circundada de colunas através das quais se tinha acesso à verdadeira construção do Pavilhão.

Nesta passagem se ficava inebriado com uma verdadeira floresta com milhares de flores exóticas. À direita e à esquerda desse corredor se encontravam as duas grandes salas do velho Pavilhão. Em paralelo às mesmas o arquiteto tinha feito construir dois outros salões destinados para salas de jantar. Entre as quatro salas foi realizado um longo corredor através do qual a criadagem podia servir os hóspedes. Em cada uma das novas salas estavam colocadas nove grandes mesas redondas e dezoito mesas menores ao longo das paredes. No centro das grandes mesas estava colocado um grande castiçal dourado, que despontava de uma cesta de flores. A sala à direita do velho Pavilhão era destinada à Família Imperial. O salão da esquerda, assim como os dois salões novos eram destinados aos outros hospedes. Nos mesmos estavam colocados vinte mesas decoradas e iluminadas como as demais. O salão destinado à Família Imperial tinha uma decoração em forma de uma tenda. Estava dividida em duas partes. Uma destinada aos altos Dignitários da Corte e ao Corpo Diplomático, e a outra à grande mesa para a Família Imperial, que estava decorada com estofos de seda branca brilhante, enriquecida de franjas douradas. Esta decoração descia do alto e era regida por elegantes colunas douradas. Dois lustres dourados iluminavam esta tenda.

A parte mais importante, todavia, era o grande e maravilhoso salão de baile, que surgia, em forma de uma rotunda na praça semicircular atrás do velho Pavilhão. Tinha um diâmetro de “84 pés parisienses” e uma altura de “74 pés”.

Aos quatro lados da rotunda estavam aplicados quatro Templos decorados externamente por um lindo pórtico. Um se destinava para o ingresso e formava uma antessala, as outras três eram destinadas às conversações, ao jogo ou para aqueles que desejavam descansar após a dança. Portas de vidro ofereciam uma maravilhosa vista das alamedas do jardim iluminadas por milhares de lâmpadas. No interno do salão 32 colunas com decorações floreais sustentavam uma tribuna com três fileiras de cadeiras, das quais podia-se observar o maravilhoso espetáculo, sem que os lindos lustres e candelabros ofuscassem a visibilidade. A cúpula da rotunda estava decorada com pinturas florais e no centro uma abertura circular permitia a troca do ar. As paredes do grande salão, no qual 1.500 a 1.800 pessoas podiam movimentar-se facilmente, estavam cobertas com dez enormes espelhos.

Estes eram colocados de tal forma, que do centro as pessoas se viam em cada um. Com esta decoração se produziu um efeito óptico que aumentava imensamente o número dos presentes. A Duquesa de San Carlos, esposa do Embaixador da Espanha acedeu ao pedido do Marques de Marialva, de fazer as honras da Casa nesta maravilhosa festa.

Esta descrição é muito incompleta, mas em todo caso temos que admirar a habilidade, o bom gosto e a genialidade do Senhor Moreau, o qual em menos de dois meses conseguiu realizar, não somente as construções mas também resolver o problema da iluminação e a esplêndida decoração. Não vamos esquecer as vários e eficientes equipes de artesões que executaram os seus projetos.“

Todos os jornais noticiaram a festa e, como vimos, alguns também com grande atraso. Vamos extrair ainda alguns trechos sobre a festividade da “Allgemeinen Zeitung” n.º 160 de 9 de junho: “ … Lastimável foi que das oito às dez horas caiu uma forte chuva que prejudicou o efeito da mágica iluminação das alamedas e que impediu aos hóspedes de aproveitar o esplêndido jardim. Por volta das nove horas chegou a Corte, acompanhada pelos Príncipes Herdeiros da Baviera…”

Em seguida foi aberto o baile com uma “polonaise” pela Arquiduquesa Leopoldina conduzida pelo Marques de Marialva. Leopoldina dançou em seguida com o Embaixador da Espanha o Duque de S. Carlos e com o Encarregado da Embaixada, Navarro de Andrade.

Depois das 11 foi servida a ceia o que foi um espetáculo notável.

“Tudo foi servido em grande abundância e as 1.200 pessoas foram servidas de maneira perfeita. Após a ceia iniciou o baile novamente e durou até a madrugada.”

Estava planejada uma festa popular nos mesmos locais para os dias seguintes, mas foi anulada pelos altos custos. Deixou-se, todavia, aberto o Pavilhão à visitação pública e para bailes de beneficência de instituições de caridade. Em seguida todas as construções, inclusive o grande salão de baile, realizadas por ordem de Marialva, sendo edificações precárias, foram demolidas e a venda do material doado a instituições filantrópicas.(Doc.38 de 1817, Zeremonialprotokol).

Já desde semanas se estava preparando a partida para o Brasil. Já em 10 de abril de 1817 haviam seguido de Trieste as fragatas “Austria” e “Augusta” levando o pessoal da Embaixada, encabeçada pelo Encarregado de Negocias, Barão von Neven e vários secretários. Diversos Camaristas do Imperador também estavam seguindo. Os naturalistas Natterer, Spix, Martius e Schott, bem como o artista Ender estariam no Rio esperando a Arquiduquesa.

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Vista do porto de Triestre, com as fragatas “Áustria” e Augusta”.
(Gravura a cores segundo desenho de G. Resi, Biblioteca Nacional, Viena)

Tinha seguido a maior expedição científica que havia tocado a nossa terra.

Caixas e mais caixas estavam sendo enchidas.

O enxoval, a biblioteca e a coleção de mineralogia estavam prontos para serem embarcados. Suas lembranças pessoais, os retratos dos Pais, das irmãs e irmãos, muitos presentes, mais ou menos preciosos, eram amoravelmente empacotados.

Diziam que em dois anos voltaria para a Europa…

Chegou o dia da despedida. Chorava muito como podemos ler nas cartas à irmã Maria Luísa. A “Allgemeine Zeitung” do dia 4 de junho de 1817 nos relata a parte oficial desse grande destaque:

“Antes de ontem a Princesa Herdeira do Brasil se despediu da Família Imperial. A tarde se dirigiu à Igreja de “Maria Hilf” ( Maria Auxiliadora), para rezar ao Altíssimo a fim de fazer uma boa viagem.

Ontem dia 3, às 6 horas da manhã, Sua Alteza Real assistiu a uma Santa Missa na Igreja da Corte ( Sto. Agostinho ), e em seguida tomou o pequeno almoço com o Imperador e os irmãos. Às 7 iniciou-se a viagem. Notaram-se os olhos cheios de lágrimas, já quando saiu do quarto, conduzida pelo irmão o Príncipe Herdeiro, em quanto Suas Majestades na saída do seu apartamento ficaram parados até que perderam de vista a querida filha. Todas as saídas do Palácio estavam abertas e os corredores cheios de pessoas que queriam desejar uma boa viagem a S. A. R. A bondosa Princesa estava muito comovida.

Muitos dos presentes tinham os olhos cheios de lágrimas e invocavam, de voz alta, as bênções de Deus.

As carruagens estavam prontas e a viagem iniciou cheia de esperanças.”

Metternich, com grande desgosto de Leopoldina, a acompanhou até Livorno. Ele descreve esta viagem em 14 cartas enviadas a sua esposa, e que em 1881 foram publicadas, entre outros documentos, pelo filho o Príncipe Ricardo Metternich-Winneburg.

Chegadas em Florença, Metternich instalou Dona Leopoldina, com uma pequena corte, no Palácio de Poggio Imperiale, de propriedade dos Grão Duques de Toscana. Os dias iam passando e Marialva, no entanto, tinha recebido do Rio a retificação do pacto matrimonial, assinado por Dom João e por Dom Pedro.

No dia 29 de junho de 1817 em Poggio Imperiale fez a entrega do tão importante e esperado documento a Metternich, lavrando-se um solene ato. Os dias pareciam não passar e Dona Leopoldina já estava desesperada e aborrecida, como mostra a missiva endereçada ao pai em 24 de julho de 1817:

“Vossa Majestade ficará certamente triste por lhe dizer eu que sou diariamente informada de que a esquadra portuguesa está a chegar e todos os dias verificar que é notícia falsa. O correio que trará a notícia de que a esquadra partiu de Lisboa ainda não chegou. Parece-me incrível que tenhamos sido impelidos a andar depressa em Viena porque a esquadra estava à nossa espera…e estejamos agora isolados de tudo que me é caro… Estou sem entender. O Conde de Metternich está ainda comigo e sustenta que certamente eu tenho um bom futuro em vista… Meu tio ( Ferdinando III, Grão-Duque de Toscana ) e minha irmã me consolam, mas não há consolo quando penso que poderia ter ficado junto de V.M. todo esse tempo.” (Familienkorrespondenz, pasta 304)

A última notícia na imprensa, relativa à viagem ao Brasil de D. Leopoldina é sobre a Fragata “Augusta” publicada na “Allgemeine Zeitung” de 3 de junho: “Segundo informação a I. e R. Fragata Augusta sofreu uma avaria. Enquanto a mesma não foi consertada (em Veneza) o naturalista Natterer aproveitou o tempo para realizar pesquisas em Chioggia, Brenta e Padova, visitando coleções naturalísticas e o lindo Jardim Botânico da Universidade (de Padova) . Entre outras coisas descobriu uma gaivota que ainda não havia sido classificada. A “Augusta” vai se reabastecer no Marocco e aguardará em Gibraltar a chegada da frota, que traz S.A.R. a Princesa Herdeira de Portugal, Brasil e Algarve”.

Dia 15 de agosto às 6h30 da manhã, em Livorno, levantaram-se as âncoras e começou a grande aventura.

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Imperatriz Dona Leopoldina
(Miniatura de pintor desconhecido. Coleção do autor)

Durante dez anos D. Leopoldina não havia mais sido mencionada pela imprensa de Viena. Muitos foram os eventos na história europeia e mundial, que se realizaram após a sua partida. Ela tinha-se tornado Imperatriz de uma grande nação, era mãe de sete filhos. O “bom Papà” teve que enfrentar inúmeros congressos e alianças políticas. O cenário europeu com o contributo de Metternich, havia mudado. Viena estava-se, aos poucos, livrando de um pesado inverno e a natureza começava a reviver.

Dia 9 de março de 1827 a terrível notícia da morte da Imperatriz D. Leopoldina explodiu em Viena.

A “Allgemeine Zeitung” foi a primeira a dar a informação. Uma pequena nota em primeira pagina.

No dia 11 o “Österreichischer Beobachter” já tinha recebido notícias mais detalhadas:

“Informações do Imperial e Real Embaixador Extraordinário e Ministro Plenipotenciário na Corte Brasileira, o Barão von Marschall, que hoje chegaram, via Londres, trazem detalhes da tão triste notícia da morte da Sua Majestade, a Imperatriz do Brasil, segunda filha de Sua Majestade o nosso Imperador e Senhor, ocorrida na manhã do dia onze de dezembro do ano passado no Rio de Janeiro. Sua Majestade a Imperatriz do Brasil estava no terceiro mês de gravidez e foi atingida por uma febre biliar, que causou alguns dias antes de sua morte um parto prematuro. Estes acontecimentos tornaram inúteis todas as intervenções dos médicos. Nós vamos manter os nossos leitores ao corrente, através dos jornais que nos estão chegando do Rio de Janeiro sobre o tão triste acontecimento, que abalou e enlutou a Capital do Brasil, onde a falecida Imperatriz era venerada, querida e gozava da dedicação tão grande como aqui na sua pátria. Esta dolorosa notícia foi recebida com grande força de ânimo pelo augusto Monarca.

Uma comunicação da Corte estabeleceu um luto para a mesma em homenagem de Sua Majestade Leopoldina Carolina Josefa, Imperatriz do Brasil, a partir do dia 11 por sete semanas. As primeiras cinco semanas, até inclusive o dia 14 de abril, os membros da Família Imperial e os mais altos Dignitários e Damas, vestirão hábitos de seda preta e as Senhoras com jóias e enfeites pretos. As últimas duas semanas, inclusive o dia 28 de abril, vestirão os mesmos hábitos com jóias claras ou normais.”

Grande foi a dor de Francisco I, de todos os membros da família e também da população, ainda lembrada daquela risonha e bondosa Arquiduquesa, a “brasileira”, que poucos anos antes se havia aventurado a seguir para o novo e desconhecido mundo.

Os jornais, um atrás do outro, publicaram a notícia, em parte transcrevendo o “Diário Fluminense” (16) de 16 de dezembro de 1826.

(16) Diario Fluminense; n.º 140 de 16 de dezembro de 1826, vol. 8. Traz uma longa descrição sobre a morte da Imperatriz e uma detalhada narração sobre o enterro. Termina com duas poesias. Uma é uma ode de Antônio José Pereira, Secretário da Academia Médica-Cirúrgica da Corte, e a outra de lavra de José Theodomiro dos Santos. São ambos dirigidos a “Carolina” a “Heroína Imortal do Novo Mundo”. Isto demonstra mais uma vez o conhecimento inexato do nome da Imperatriz, que se originou com a comunicação desacertada de Marialva, que a indicou como “Carolina, Josepha, Leopoldina”. Veja a nota n.º 7 deste trabalho, repetida abaixo.

(7) Sobre o nome de Dona Leopoldina sempre pairava uma incerteza. O livro de Batizados da Igreja Sto. Agostinho desapareceu na 2º Guerra Mundial. Existe um extrato do mesmo feito em 10 de maio de 1900, que publicamos. Do mesmo resulta claro que foi batizada com o nome de Leopoldina Carolina, Josefa. Confirma este auto também a rubrica feita em latim pelo Cardeal Migazzi no Protocolo das Funções Episcopais, a pag. 216: “Archiducissa Leopoldina, Carolina, Josepha, filia Imperatoris Franc. II. Nata 22. Jan. 1797 hor. 8 va matut. baptizata est ab Emmo. in sala magna Aulae, assist. eodem die vesp. 6 ta levante”. Com esta documentação fica definitivamente confirmada a posição correta dos nomes da Imperatriz, que Marialva tinha comunicado oficialmente, por engano, serem Carolina Josefa Leopoldina; veja Oberacker Jr. vol. cit. pag. 63. O mesmo erro do nome encontramos no pacto matrimonial. Provavelmente Metternich, ao assinar o documento, não fez questão da posição dos nomes. Estavam os três nomes da Arquiduquesa e portanto o tratado para ele era válido. O ato de renúncia à Coroa e a todas as eventuais heranças também é atribuído a Carolina Josepha Leopoldina, com o nome Leopoldina em destaque. Para completar a confusão relativa aos nomes de nossa primeira Imperatriz, esta assina o ato como Maria Leopoldina. Em todo caso, em nossa História, ela entrou como Leopoldina e com este apelido ela será sempre honrada.

No dia 12 às 5 horas da tarde se realizou uma véspera de oração e no dia seguinte a solene Missa de Réquiem na Igreja de Sto. Agostinho. Celebrou a mesma o Príncipe Arcebispo de Viena, Leopoldo Maximiliano von Firmian. (17)

A “Wiener Zeitschrift” de 20 de março publicou uma poesia em memória da extinta de autoria de Johann Gabriel Seidel.

Em 1829 o Bispo de Detroit, Friedrich Rese criou, com sede em Viena, a “Fundaçao Leopoldina”, que deveria angariar fundos para os necessitados das Américas e para a construção de Igrejas. Somente nos Estados Unidos esta Fundação construiu 400 Casas de Culto. Em 1917 esta Instituição foi absorvida pela “Obra de Difusão da Fé”.

A memória de Leopoldina continua viva na Áustria e no Brasil como exemplo de uma santa e veneranda mulher, que teve uma grande importância na História do Brasil.

(17) Firmian, Leopoldo Maximiliano, Conde Firmian, nasceu em Trento, no Tirol Italiano, em 10 de outubro de 1766 de antiga e importante família nobre. Em 1780 cônego em Salisburgo e Passau e em 1792 foi consagrado Padre em Salisburgo. Em 1800 foi nomeado Bispo de Lavant e 1816 Arcebispo de Salisburgo. No dia 18 de janeiro de 1822 foi nomeado por Francisco I, Príncipe Arcebispo de Viena. Por causa da situação política o Vaticano o confirmou em 19 de abril, mas não lhe concedeu o chapéu cardinalício. Foi grande incitador dos cantos eclesiásticos. Durante o seu Bispado foi criada a Fundação Leopoldina para o sustento das missões americanas. Esta Fundação é a mais antiga instituição missionária da Áustria. Faleceu em Viena em 12 de novembro de 1831. Uma coincidência curiosa é o fato de Dona Leopoldina ter sido batizada e lembrada com a Missa de Requiem por 2 Arcebispos oriundos da cidade de Trento, no Tirol italiano.

Bibliografia

Jornais

•Wiener Zeitung 25-01-1797

•Wiener Zeitung 16-05 até 04-06-1817

•Wiener Moden Zeitung 22-02 até 11-06-1817

•Allgemeine Zeitung 19-03 até 12-06-1817

•Österreichischer Beobachter 13-05 até 29-06-1817

•Wiener Zeitung 12-03 até 20-03-1827

•Allgemeine Zeitung 09-03-1827

•Österreichischer Beobachter 11-03 até 13-03-1827

•Diário Fluminense n.º 140, 16-12-1826

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•Arquivo de Praga – “Acta Clementina” Arquivo Metternich

•Arquivo da Casa Imperial em Viena

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•Karl & Faber, Versteigerung, Auktion 63, München, 29/30 de Abril de 1958 – “Cartas de Dona Leopoldina, Pag. 104-112

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