RESGATES PETROPOLITANOS

Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima

O Barão de Pedro Afonso foi luminosa estrela que encantou o Brasil da segunda metade do século XIX às primeiras décadas dos novecentos.

Chamou-se Pedro Afonso Franco e foi o único Barão de Pedro Afonso, título que lhe fora outorgado por Decreto de 31 de agosto de 1889.

Nasceu em Paraíba do Sul aos 21 de fevereiro de 1845 e faleceu no Rio de Janeiro em 5 de novembro de 1920.

Formou-se em Medicina na velha Faculdade do Rio de Janeiro e foi especializar-se na Universidade de Paris.

Clínico de nomeada na Corte não se ateve ao seu consultório, somente. Tornou-se professor e sanitarista. Fundou e dirigiu o Instituto Vacínico Municipal do Rio, embrião do Instituto Oswaldo Cruz.

Em 1887 dirigiu a Saúde Pública, estabelecendo produtiva parceria com o também médico e sanitarista Visconde de Ibituruna.

Na Santa Casa de Misericórdia conseguiu produzir pela primeira vez no Brasil a vacina contra varíola.

Numa frase curta e muito ilustrativa, disse Pedro Nava, que o Barão foi “médico de péssimo gênio e ilustre memória”. (in Chão de Ferro – Memórias/3, Rio, 1976)

Pedro Afonso Franco foi dos grandes cirurgiões do Rio de Janeiro de seu tempo, quando qualquer intervenção cirúrgica representava alto risco de vida. Obteve sucesso retumbante na carreira, em 1896, ocasião em que extraiu cálculos biliares do Presidente Prudente de Moraes, que se afastara do cargo por longo período, até restabelecer-se de todo já em março de 1897.

O Barão também salvou a vida do Ministro do Chile Villamil Blanco, que já vislumbrava o atestado de óbito ante moléstia que parecia incurável.

Mas como ninguém consegue colher somente flores na vida profissional, o Barão de Pedro Afonso não fugiria à regra.

Ele era médico da confiança do Marechal Hermes da Fonseca.

Quando do acidente sofrido por D. Nair de Teffé Hermes da Fonseca nas proximidades da Engenhoca, em Corrêas, durante o carnaval de 1915, o primeiro médico a ser chamado para acudir a acidentada, foi o Dr. Arthur de Sá Earp, que fez o seu diagnóstico e prescreveu o tratamento.

No dia seguinte foi chamado à Engenhoca, onde D. Nair encontrava-se em absoluto repouso, o Barão de Pedro Afonso, que depois do exame de praxe, contrariou a avaliação e as prescrições do Dr. Sá Earp.

E como era ele o médico da família e homem de imensa projeção profissional, ninguém ousou contestá-lo e D. Nair seguiu à risca o que lhe recomendara o Barão.

Entretanto os problemas adivinhos do acidente continuaram. Além das dores, a jovem mulher do Marechal estava ameaçada de ficar com uma perna mais curta que a outra. Era então candidata ao clube do “tá fundo… tá raso…”

Foi aí que, já em 1916, o casal decidiu buscar recursos em Paris, a grande capital brasileira no exterior, depois substituída por Nova York. Coisa de tupiniquim!

E foi na capital francesa que D. Nair de Teffé Hermes da Fonseca recuperou-se totalmente da séria contusão que tivera no infausto carnaval de 1915. E para glória da medicina petropolitana, os médicos franceses confirmaram o diagnóstico e as prescrições do Dr. Arthur de Sá Earp.

Como tudo teria ficado mais barato e menos doloroso para a paciente, se o Dr. Sá Earp tivesse sido levado a sério!

Mas esse pequeno acidente de percurso não deslustra o curriculum do Barão de Pedro Afonso.

Aqui em Petrópolis ele fora proprietário não só na Rua da Imperatriz, onde costumava veranear, mas também no Alto da Serra, pertencendo-lhe as casas de ns. 19 E, 25, 27 e 29 da Rua Teresa.

Como alguns colegas seus do Rio de Janeiro, tinha por hábito dar assistência nestas serras a clientes que aqui se achavam em vilegiatura. Tal procedimento chegou a provocar alguns incidentes com a Câmara Municipal que queria impor a esses médicos o imposto de indústrias e profissões, hoje I.S.S. Ficou nos anais a defesa do Dr. Neves da Rocha quando a municipalidade entendeu que deveria cobrar-lhe o referido tributo.

O Barão de Pedro Afonso está sepultado no cemitério São João Batista no Rio de Janeiro.