DADAMA DO IMPERADOR (A)

Luciano Cavalcanti de Albuquerque, Associado Correspondente

Marianna Carlota de Verna Magalhães Coutinho (1779-1855), mais conhecida como a Dadama do imperador D. Pedro II, nasceu em Elvas, Portugal, e saiu da Quinta das Carrafouças, propriedade do marido, quando veio para o Brasil com a corte.

Casada com o Conselheiro Joaquim José de Magalhães Coutinho, e com a filha nos braços, Maria Antonia, que completou dois anos em pleno Atlântico, deixava para trás parentes e amigos horrorizados por tamanha aventura. Sua dedicação ao marido e à família real, a quem serviam, a predispunha a enfrentar essas agruras, denotando, muito desapego.

No Rio de Janeiro, Dom João doou ao Conselheiro Joaquim José, terras no Engenho Novo, onde construíram uma bela chácara; na propriedade, viveram cinco gerações dessa família.

Após a volta da Corte para Portugal, passaram a servir ao Príncipe Regente D. Pedro. Logo D. Marianna Carlota enviuvou, quando o Conselheiro Joaquim José, em dia de grande gala, morreu, subitamente, ao lado do já Imperador D. Pedro I, em cerimônia na Igreja do Outeiro da Glória.

A Dadama também possuía uma casa no Centro, para mais prontamente atender aos compromissos oficiais, era na Rua do Lavradio, a primeira residencial da cidade.

Quando D. Pedro I abdica e sai do Brasil, a primeira mulher em quem pensa para tutora do pequeno D. Pedro II é justamente D. Marianna Carlota, dama da imperatriz. Na cena desesperadora que foi esse embarque, D. Pedro I manda, e roga, que Marianna Carlota cuide de seus filhos D. Pedro II e irmãs, como se fossem seus próprios filhos. Foi nomeada aia do menino-imperador, que de tanto lhe indicarem que ela era a sua dama, chamava-a de Dadama.

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Retrato da Condessa de Belmonte.

Detalhe do quadro Coroação de D Pedro II, de François René Maureaux, de 1842. Coleção Museu Imperial

A Dadama, sempre carinhosa e devotada aos novos “filhos” imperiais, soube dividir com seus filhos naturais, o mesmo amor e dedicação, discordando do tutor, José Bonifácio, o qual achava muito severo: às escondidas, dava brinquedos às crianças, antes de irem para a cama, quando por algum castigo, estavam proibidas de entrar no quarto de brincar.

Ela mesma escreveu o Pequeno Catecismo Histórico, dedicado ao imperador-menino, para começar a sua instrução religiosa; mais tarde, D. Pedro II deu à netinha da Dadama, Francisca Carolina, o mesmo catecismo, com a mesma intenção, estando na família, até hoje, como relíquia.

Já adulto, em respeito aos serviços prestados e talvez, por um grande sentimento de gratidão pelo amor dedicado, Pedro II lhe concedeu o título de Condessa de Belmonte.

Morreu a Dadama, vítima de cólera, doença que contraiu ajudando a tratar enfermos da epidemia que grassava no Rio de Janeiro. O mordomo do Imperador, Paulo Barbosa, em despacho a D. Pedro II, pergunta se deveriam ser feitas as honras fúnebres, ao que o Imperador respondeu, no mesmo papel “Nem se pergunta.”.

Os filhos, netos, bisnetos e trinetos da Dadama continuaram sempre próximos da família imperial, como antes do golpe de quinze de novembro, continuaram a manter vastíssima correspondência com os exilados, para que estivessem sempre a par das notícias da pátria, compartilhando com eles as mais intensas emoções.

Curiosidade que explica por que Pedro I escolheu Marianna, entre as damas do Paço, é o fato de que certa vez recebeu-o na Chácara do Engenho Novo. Conhecendo seu caráter galante e conquistador, providenciou que alguns criados estivessem sempre por perto e quando D. Pedro lhe pareceu passar um pouco dos limites imperiais, avisou que na sala ao lado havia criados para servi-lo prontamente. Essa atitude, certamente influiu na escolha imperial.

A chácara do Engenho Novo foi loteada, e virou o bairro do mesmo nome. A maioria das ruas tem nomes relativos ao Império e à família da Condessa de Belmonte. A casa principal é, hoje, por feliz coincidência, unidade do Colégio Pedro II, como se a Providência nunca descuidasse da história.