CENTENÁRIO DA MORTE DE ARTHUR DE SÁ EARP E TRINTA ANOS DA DE NELSON DE SÁ EARP
Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva
Francisco José Ribeiro de Vasconcellos é Associado Emérito desta casa, por todos os títulos. Apreciado amigo, companheiro de longa jornada.
Obedecendo à intimação que me fez, venho lembrar, na abertura da presente reunião do Instituto Histórico de Petrópolis (13/05/2019), que neste ano de 2019, em dias de junho e outubro, se darão o centenário da morte de Arthur de Sá Earp e os trinta anos do falecimento de Nelson de Sá Earp.
Arthur de Sá Earp morreu nesta cidade a 11 de outubro de 1919. Tinha sessenta e um anos. Nascera a 11 de julho de 1858, em Juazeiro, na Bahia.
Entre os fatos e os feitos de sua passagem pela Terra, há os que não ultrapassaram os limites do conhecimento dos muito próximos.
Vou aqui citar um dado concreto, material, que ajuda a contemplar mais inteiramente o retrato de Sá Earp velho.
Está em minhas mãos um exemplar do Tratado de Medicina Legal, pelo Dr. Agostinho José de Souza Lima (n. em Cuiabá, 11/03/1842 e f. em Petrópolis, 28/12/1921) – Lente jubilado da cadeira de Medicina Legal e Toxicologia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro –, dois volumes em uma só encadernação (Rio de Janeiro, Typographia Hildebrandt, rua dos Ourives n. 8, 1904, 1905).
Na 1ª página do primeiro volume estão lançadas a assinatura Sá Earp e a data 1905.
A maior parte das folhas do livro está marcada com sinais e anotações.
Salta aos olhos que a obra foi atentamente lida, relida, estudada, comparada. O conteúdo foi cuidadosamente analisado e assimilado.
Para demonstrar isto, serve o que consta no pé da página 307, do segundo volume. É uma nota manuscrita, com o seguinte teor:
“(2) – Tivemos occasião de observar no accidente que sofreu o Dr. Alberto Torres”.
A nota se prende a marca acrescentada ao texto impresso, na parte em que Souza Lima descreve as características, em termos da Medicina Legal, da tatuagem produzida por disparo de arma de fogo na pele humana.
Sá Earp estudou o texto e o corroborou com a ferida que pessoalmente vira no colega Alberto Torres (1865-1917).
É acréscimo, à mão, de testemunho da descrição da dita tatuagem.
Folhear o livro conduz a uma afirmação: o valor de alguém brota da persistente procura do aperfeiçoamento do saber e do agir.
A celebração deste centenário poderá constar da íntima acolhida de tal ensinamento.
Nelson de Sá Earp deixou para sempre Petrópolis no dia 2 de junho de 1989.
Aqui nasceu a 3 de maio de 1911.
Dele também se recebe uma lição básica.
O exemplo chegou há pouco tempo e por boca de quem foi centro do acontecido.
Uma pequena criança teve a ponta de dedos das mãos esmigalhada em pesada janela de guilhotina.
A parte móvel, que estava suspensa, se soltou dos suportes verticais e caiu para a posição inferior.
Dor, sofrimento, desespero. Urgência.
O Dr. Nelson, com admirável maestria, reconstituiu cada um daqueles dedos infantis.
Em encontro casual, transcorridos mais de sessenta anos do esmagamento, os dedos perfeitos do hoje aposentado senhor foram exibidos.
O interlocutor, no entanto, não só narrou o episódio, mas insistiu em ressaltar que o Dr. Nelson “… não precisava ser procurado. Era ele quem ligava todo dia para saber como estava o menino…”.
É a lição da cultivada virtude de sempre se preocupar com os outros.
Vale a recordação de uma maneira de vida, para registrar que são passados trinta anos desde o dia em que este petropolitano foi para a eternidade.
Obrigado pela atenção.