A EFEMÉRIDE DE 1.I.1850 – SESQUICENTENÁRIO DA IMPLANTAÇÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO EM PETRÓPOLIS

Carlos Oliveira Fróes, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 18 – Patrono Gabriel Kopke Fróes, falecido

1. Introdução

Ao despontar o Terceiro Milênio, logo no primeiro dia do ano 2000, comemorou-se uma das mais gratificantes Efemérides Petropolitanas, qual seja o “Sesquicentenário da Implantação do Ensino Secundário e Particular em Petrópolis”, simbolizada pela inauguração do “Collegio de Petrópolis”.

Até 1850, a “povoação-colônia” de Petrópolis só dispunha de estabelecimentos públicos destinados a prover a “Instrução Primária Colonial” aos filhos de colonos alemães e a “Instrução Primária Nacional aos demais alunos.

2. As raízes da instrução secundária na Imperial Colônia de Petrópolis

O ano de 1850 foi bastante positivo para o Ensino Fluminense.

Ficou marcado pela consolidação da aplicação das novas normas para reorganização e atualização da Instrução nas Províncias, baixadas pelo “Regulamento de Instrução Primária” e pelo “Regulamento de Instrução Secundária”, na Província do Rio de Janeiro, promulgados ao apagar das luzes do ano de 1849.

Para a Imperial Colônia de Petrópolis, esse foi um ano muito especial.

Logo ao seu primeiro dia foi inaugurado o “Collegio de Petrópolis”, o estabelecimento pioneiro da Instrução Secundária da “povoação-colônia”.

Outro fato marcante, ocorrido ao final do mesmo ano, foi a inauguração do “Collegio do Professor Callogeras”, também destinado à Instrução Secundária.

Mister se faz adiantar que, da competição travada entre esses colégios recém-inaugurados, desencadear-se-ia um processo que resultou na rápida melhoria do ensino local, colocando-o em posição de destaque junto aos mais evoluídos centros do Império.

Portanto, julgamos que a Efeméride ocorrida a 1.I.1850 deve ser considerada pelos petropolitanos como de maior relevância, merecendo ser apreciada com muito carinho e orgulho.

Os citados educandários foram, no nosso entender, os responsáveis por um processo que vem se mantendo efetivo, em constante desenvolvimento, até os dias de hoje.

Sem desmerecer outros estabelecimentos que, também, concorreram durante os últimos cento e cinqüenta anos para a manutenção desse processo, parece que nesta oportunidade deveríamos, apenas, nos concentrar nos colégios — e seus sucessores — diretamente responsáveis por essa estruturação da sólida base em que ir-se-ia apoiar o Ensino Petropolitano.

O “Collegio de Petrópolis” que funcionou, ininterruptamente, por quase trinta anos, foi notabilizado pelo nome de “Collegio Kopke”.

Construído na periferia da área central da “povoação-colônia”, fazia duplo rumo com o Caminho Colonial de Nassau que, partindo da Praça de Nassau — atual Oswaldo Cruz —, chegava à Praça Koblenz — hoje Palácio de Cristal. Ocupava o prazo 620-A da I. C. P., localizado na esquina das vias atualmente chamadas de Rua Montecaseros e Avenida Piabanha.

O principal critério observado na elaboração do seu projeto — da autoria exclusiva do engenheiro Guilherme Kopke — foi o de adequação do prédio aos requisitos escolares que, na época, seguiam os modernos estabelecimentos de ensino europeus.

O Bloco Principal — por muito tempo o único edifício de três andares da localidade — foi destinado às instalações da direção, biblioteca, laboratórios, salas de aula e acomodações dos alunos internos. Uma grande área coberta — o Apêndice Lateral Esquerdo — foi previsto para ginástica e esportes em dias de chuva. As instalações destinadas aos serviços gerais foram concentradas no Apêndice Lateral Direito. Posteriormente, foi construído outro bloco previsto para salão de baile e concertos.

Não nos estenderemos nos detalhes do “Collegio Kopke”, tendo em vista a palestra a seu respeito que proferimos, em 1988, neste Instituto.

O “Collegio Callogeras” foi localizado no Caminho Colonial do Palatinato, nas imediações de onde hoje as Ruas Dr. Sá Earp e Buarque de Macedo fazem junção. Ele foi instalado no espaçoso prédio alugado a Honório Hermeto Carneiro Leão Filho que o edificara no Prazo n.o 2.111 da I. F. P., situado à margem direita do Córrego Secco (depois Palatino). A precisa locação desse prédio não fica passível de ser feita no momento, pois tal área passou por grandes mudanças, tais como retificações do curso do Rio Palatino e do Caminho Colonial do Palatinato, bem como a abertura e o desdobramento das Ruas Souza Franco, Buarque de Macedo, Costa Gama — hoje Visconde do Bom Retiro — e Dr. Sá Earp. Confirma-se apenas que fazia testada com o Caminho Colonial do Palatinato o qual se confundia com o trecho do antigo Atalho do Caminho Novo, entre o Alto da Serra e o Marco dos Sete Caminhos. Também pode ser confirmado que ele se situava à margem direita do Córrego Secco (depois Palatino).

Da análise de fotos existentes no Arquivo do Museu Imperial de Petrópolis, foi possível imaginar que, no início, o colégio dispunha de dois blocos, ambos bem simples. Por foto posterior, notou-se que foram realizadas algumas ampliações e melhoramentos durante a gestão do Professor Paixão.

Apesar de não ter sido “ad hoc” projetado, era suficientemente grande para a instalação de um colégio.

Foi curta a duração do “Collegio Callogeras” sob tal nome. Por volta de 1857 ele foi negociado com o Professor Bernardo José Falletti e pouco depois foi rebatizado como “Collegio Santa Thereza”, porém ficou popularmente conhecido como “Collegio Falletti”.

Sua duração foi, também, curta, estimando-se que tenha funcionado por apenas seis anos pois, a partir do início da década de 60, há um hiato nas informações do Almanaque Laemmert a respeito dele.

A instrução ministrada em ambos colégios em pauta, foi reconhecida como de excelente qualidade, igualando-se e, até mesmo, superando a de outros notáveis estabelecimentos nos mais adiantados centros do Império.

Petrópolis, naquela Década de 50, foi responsável pela formação escolar de uma substancial fatia da geração que iria participar intensamente da grande reviravolta político-social que ocorreria no final do século em curso.

Nos seus dois primeiros decênios, o “Collegio Kopke” foi bem sucedido financeiramente, o que permitiu a realização de uma grande reforma para a harmonização arquitetônica dos blocos componentes, a urbanização total da área, a construção de residências para professores e a edificação do Salão de Baile e Concertos. A partir de então, a propriedade passou a ser, por vezes, citada como “Palacete Kopke”.

Na Década de 70 a situação do “Collegio Kopke” passou a declinar. Problemas circulatórios começaram a afligir seu fundador, proprietário e diretor, Dr. Henrique Kopke. Nesse mesmo período seus dois filhos, Henrique Kopke Jr. e João Kopke estavam, respectivamente, em Recife e em São Paulo, cursando Direito.

Além disso, seu melhor auxiliar e professor, José Ferreira da Paixão, deixara seus encargos para assumir a direção do colégio que estava montando nas antigas instalações do “Collegio Callogeras” e do “Collegio Falletti”.

Restaurado sob o nome de “Collegio Paixão”, esse estabelecimento assumiu, em breve, uma posição de destaque no cenário petropolitano.

Concomitantemente, o “Collegio Kopke”, com o agravamento do estado do Dr. Henrique Kopke, decaía sensivelmente e seu diretor substituto Henrique Augusto Kopke esforçava-se para mantê-lo em atividade.

O “Collegio Kopke” ressentia-se da falta de professores competentes e de renome que o seu fundador, mesmo sabendo que não seriam mantidos por longo tempo, fazia questão de trazê-los para Petrópolis.

Caprichosamente, todos os diretores, proprietários e co-proprietários do “Collegio Callogeras” — e seus sucessores —, tais como: João Baptista Callogeras, Barão de Scheneeburg, Barão de Tauptphoens, Bernardo José Falletti e José Ferreira da Paixão, foram contratados, inicialmente, pelo Dr. Henrique Kopke.

No final da década em curso, o “Collegio Kopke” enfrentou sérias dificuldades, a ponto de ter sido necessário alugar o “Palacete Kopke” ao cônego Francisco Bernardino de Souza. Naquele crucial momento, Henrique Augusto Kopke, transferiu o “Collegio Kopke” para o prédio do antigo Hotel Oriental, onde tentou instalá-lo como externato.

Nem o “Collegio do Cônego Bernardino”, nem o “Externato Kopke” obtiveram sucesso.

Em 1881 o Dr. Henrique Kopke Jr., fez uma tentativa também inglória de soerguimento do “Collegio Kopke”, em suas notáveis instalações originais.

O insucesso e a morte do pioneiro Dr. Henrique Kopke, ocorrida em dezembro de 1881, fizeram com que seus herdeiros colocassem à venda o famoso colégio.

Quem o adquiriu foi o abnegado educador Padre José Benedito Moreira que, nele, restabeleceu seus dias de glória.

A partir de então, sob o nome de “Collegio do Pe. Moreira”, foi reiniciada a competição com o seu êmulo, o “Collegio Paixão”.

Tudo isso excelente para Petrópolis.

Lamentavelmente, esses dois fantásticos estabelecimentos sucessores do “Collegio Kopke” e do “Collegio Callogeras”, encerraram suas atividades antes da virada do século.

3. Epílogo

Tendo em vista a proposição inicial a que nos submetemos — apreciar com carinho a Efeméride de 1.I.1850 — julgamos ter alcançado nosso objetivo através da análise, não só do fato histórico propriamente dito, mas também pelas evoluções e interações decorrentes.

Ocorrida antes de completar-se o primeiro qüinqüênio da efetiva colonização de Petrópolis, ela foi responsável pela criação de uma das mais significativas raízes da cultura petropolitana.

Ao invés de termos exibido estatísticas, fatos notáveis ou menções elogiosas, preferimos mostrar apenas a luta que foi travada em busca de um ideal que, caprichosamente, era o mesmo para ambos os contendores.

Luta essa desenvolvida no campo da competição, justamente o processo que, mesmo não surgindo vencedores, eleva a qualidade daquilo que está sendo disputado, espalha benefícios gerais e forma raízes indestrutíveis.

E assim aconteceu quanto a Instrução em Petrópolis.

Não há como deixar de reconhecer o elevado conceito que a Petrópolis de hoje desfruta no que se refere à tradição e ao potencial de ensino local, cujas raízes começaram a aparecer nos primórdios da Imperial Colônia, fortaleceram-se e consolidaram-se em clima de Segunda Corte, no convívio das maiores personalidades dos cenários político, diplomático, social, artístico e cultural do Império, adentrando pela República.

Essa posição que Petrópolis de hoje ocupa no Setor de Ensino é invejável. E o seu potencial, ainda, não está totalmente explorado.

Arriscando emitir uma opinião de leigo — petropolitano orgulhoso e “ufanista” — admitimos ter vislumbrado um futuro, ainda, mais brilhante para o Ensino Petropolitano — quem sabe? — como “cidade universitária”.

Quem sabe, também, se da combinação desta vocação com outras que tiveram suas raízes na feliz amalgamação que se processou nos tempos de Imperial Colônia, poderia Petrópolis, além de nossas excelentes faculdades, abrigar outras tantas, mais condizentes à natureza de cultura de nossa especial terra.

Ao finalizar, acreditamos ter contribuído, ainda que modestamente, para que a Efeméride de 1.I.1850 pudesse ser melhor entendida e que, também, todo aquele distante ano de 1850 fosse entendido como memorável para o Ensino Petropolitano.