A VISITA DO ARQUIDUQUE MAXIMILIANO A PETRÓPOLIS
Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Estanislau Schaette
De 1821 a 1867, o México viveu uma das fases mais conturbadas de sua história, marcada por uma grande instabilidade política, econômica e social.
Sob o governo do General Antônio Lopes de Santa Anna, que por várias vezes ocupou a presidência, o México assistiu a independência do Texas, em 1835 e, com a admissão do mesmo na União estadunidense, envolveu-se numa guerra com os Estados Unidos, que lhe custou a perda da Califórnia e do Novo México, em virtude do Tratado de Guadalupe Hidalgo, em 1848.
Com a queda de Santa Anna, o General Juan Alvarez foi conduzido ao governo, sendo confirmado no cargo pela Assembléia de Cuernavaca, a 4 de outubro de 1855, tendo então início o movimento denominado Reforma, liderado pelos Liberais, elementos da classe média que se tinham levantado contra os privilégios do clero e do exército.
Despontaram no novo governo o General Ignácio Comonfort, na pasta da Guerra, e Benito Juarez, na pasta da Justiça e Negócios Eclesiásticos, que logo se tornariam presidente e vice-presidente da República, respectivamente.
Comonfort, embora moderado, aprovou as leis do Congresso, “secularizando os bens da Igreja e promovendo a venda destas propriedades, avaliadas em trezentos milhões de pesos e que constituíam cerca de metade das terras mexicanas” (1).
1) TAPAJÓS, Vicente. História da América. Rio de Janeiro, Editora Forense, 1968, p. 253.
O descontentamento gerado pela política do governo, levou Comonfort a dar um golpe de Estado, tornando-se ditador, fato que provocou a hostilidade de Benito Juárez, que, intitulando-se guardião da lei, obrigou Comonfort a renunciar.
As feições anticlericais que caracterizavam as reformas econômicas provocaram, de 1858 a 1861, uma revolta social, à qual se deu o nome de guerra dos três anos, verdadeira cruzada do clero, elementos católicos e índios, contra Juárez.
Apesar dos chefes liberais, espoliadores dos bens do clero, terem se enriquecido, o Estado mexicano encontrava-se em péssima situação financeira, sem condições de enfrentar os juros das dívidas contratadas, fato que levou Juárez a suspender o pagamento das dívidas externas.
As nações credoras, Inglaterra, Espanha e França vislumbraram nesta situação um pretexto para intervir no México, assinando em 1861 o “Pacto de Londres”, no qual ficou assentada a ocupação das cidades e fortalezas do litoral mexicano, de modo a pressionar o governo de Juárez.
Após a Conferência de Orizaba, ingleses e espanhóis se retiraram, mas os franceses permaneceram, já que seu imperador Napoleão III, com o apoio de expatriados mexicanos, conservadores e clericais, pensava estabelecer um Império católico no país. Tal plano visava também fazer frente ao avanço norte-americano para o sul.
As tropas francesas invadiram o México, Juárez retirou-se para o norte. Foi adotada, como forma de governo, a monarquia moderada, sendo então convidado o arquiduque Fernando Maximiliano, irmão de Francisco José da Áustria, para chefiar o Império mexicano. Na verdade, os conservadores pensavam, com tal medida, criar um sistema político que lhes era cômodo e que lhes parecia seguro por contar com o apoio da França, Inglaterra e Santa Sé.
Maximiliano chegou ao México em 28 de maio de 1864. Embora fosse um liberal bem intencionado, logo perdeu o apoio dos Clericais, por não querer entregar à Igreja os bens que lhe haviam sido confiscados e não tardou a ser abandonado à própria sorte por Napoleão III, quando este, pressionado pelos Estados Unidos e pelos problemas que estava enfrentando com a Prússia, retirou as tropas francesas do México.
Em conseqüência, Maximiliano foi derrotado em Querétaro e acabou sendo fuzilado, em junho de 1867, em companhia dos Generais Mejía e Miramón, que lhe permaneceram fiéis.
Alguns anos antes de sua trágica aventura no México, o arquiduque Maximiliano e sua esposa a arquiduquesa Maria Carlota, a bordo da corveta austríaca Elizabeth, estiveram em visita ao Brasil.
Maximiliano, que era primo de nosso Imperador D.Pedro II, chegou à Bahia em 11 de janeiro de 1860, dali rumando para o Rio de Janeiro, onde chegou na manhã do dia 27, sendo recebido pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, João Lins Vieira Cansação Sinimbu.
No dia 30 rumou para Petrópolis, viajando até Mauá na galeota imperial a vapor, numa cortesia do governo brasileiro e, em seguida, num trem especial até a Raiz da Serra e, daí, em carruagem até Petrópolis, onde foi recebido na Vila Teresa, por um grande número de famílias que o acompanharam até o Hotel Oriental, onde o ilustre visitante ficou hospedado.
O Hotel Oriental, cumpre lembrar, ficava situado a antiga rua dos Artistas, atual rua Alfredo Pachá, onde hoje se encontra o edifício Príncipe de Nassau e era recomendado pela “elegância e asseio de suas acomodações”.
As princesas D. Isabel e D. Leopoldina, que não haviam acompanhado os pais na viagem ao norte do Império, segundo nos informa Santos, “convidaram o príncipe a jantar no palácio, onde houve, à noite, uma pequena reunião íntima, presidida pela Condessa de Barral” (2).
2) SANTOS, Francisco Marques dos. Viagem do Príncipe Maximiliano ao Brasil, em 1860. Petrópolis, Anuário do Museu Imperial, Vol. XVI, 1955, p. 42.
A Condessa de Barral, em carta ao Imperador, transmite suas impressões sobre o arquiduque: “Ele tem um todo elegante e boas maneiras, fala muito e tem grande uso dessas conversas de salão” (3).
3) Cf. LACOMBE, Lourenço Luiz. Isabel a Princesa Redentora. Petrópolis, Editora Gráfica Serrana, 1989, p. 47.
Maximiliano demorou-se apenas dois dias em Petrópolis, seguindo no dia 2 de janeiro para a província dos Espírito Santo, a fim de se encontrar com D. Pedro II, ali chegando no dia 7 do mesmo mês.
Após avistar-se com D.Pedro II, retornou à Bahia, já que era seu desejo visitar novamente o Recôncavo, que muito o impressionara, de lá rumando para Pernambuco, de onde finalmente retornou à Europa.
Fato sem dúvida curioso é que a passagem do arquiduque por Petrópolis, suscitou em alguns espíritos engenhosos a idéia de que as figuras da águia esganando a cobra, que embelezam o chafariz da Praça Visconde de Mauá, defronte à nossa Câmara Municipal, seria um presente do governo mexicano ao Município, provavelmente do próprio arquiduque.
Tal fato é inteiramente improvável, já a que a visita de Maximiliano a nossa cidade ocorreu em 1860, quando este ainda não era imperador do México e o chafariz da praça foi construído por uma resolução de nossa Câmara Municipal, tomada na sessão de 28 de janeiro de 1899, portanto 39 anos após a referida visita.
Quanto à possibilidade do referido monumento ser uma doação do governo mexicano em época posterior, não há nenhuma referência a respeito, quer nas atas da Câmara Municipal, quer nos jornais da época ou em qualquer outra fonte.
O que se pode afirmar é que o construtor do chafariz foi Heitor Levy, o mesmo que mais tarde construiria o pedestal da estátua de D. Pedro II, que se encontra na praça do mesmo nome e que o mesmo recebeu dois contos de réis por seu trabalho.